Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Top 5 de filmes de 2014

5 - Noah - finalmente um filme de fantasia baseado na mitologia cristã. Um excelente filme de fantasia, com óptimas interpretações, uma estética muito característica e uma história muito muito forte.


4 - Guardians of the Galaxy - definitivamente um dos melhores filmes da Marvel até agora, e o meu filme preferido do ano. É extremamente divertido, com personagens invulgares, um ritmo perfeito, diálogos muito engraçados e algum do melhor CGI que tenho visto ultimamente.



3 - Grand Budapest Hotel - o filme mais Wes Anderson que o Wes Anderson já fez. Absolutamente único na sua estética altamente específica e formalizada, com um cast perfeito e interpretações spot-on, numa história bizarra, convoluta e com pormenores hilariantes.


2 - Gone Girl - um dos filmes mais aterradores e bem construídos que já vi. A construção do suspense e do terror opressivo neste filme é genial. As interpretações são quase perfeitas, e a manipulação que o filme consegue das emoções do espectador é assombrosa.



1 - Interstellar - uma obra prima de Christopher Nolan. A mestria do realizador é inegável, num filme que pega no que de melhor há no 2001: A Space Odyssey e no Tree of Life, e cria uma viagem onírica e poderosa sobre ciência, amor e humanidade.




Menções especiais

How to Train Your Dragon 2 - Discutivelmente um dos melhores filmes de animação moderna já feitos. Uma história verdadeiramente épica, uma banda sonora fantástica, personagens gostáveis e verdadeiramente relacionáveis, e excelente animação.



The Lego Movie - Um dos filmes mais originais, peculiares e refrescantes deste ano. Uma história simultâneamente excêntrica e profunda, com um humor espirituoso, 10 piadas por minuto, e a animação mais colorida que eu já vi.


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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

God Rest Ye Merry, Gentlemen

Na realidade a expressão original era "God Rest Ye Merry" no sentido de "Que Deus vos Deixe Felizes", e na canção o sentimento é desejado aos Gentlemen.
Não são os Gentlemen que são Merry.


Um dia destes tenho de fazer um post sobre os Jethro Tull. Ou dois. Ou Cinco.
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domingo, 21 de dezembro de 2014

Solstício de Inverno

É inverno.

Os dias são frios, escuros.
Há menos renas, há menos mamutes, há menos bagas.

A tribo esconde-se na caverna, à volta da fogueira. As noites são longas e ameaçadoras. O uivo de predadores ouve-se à distância.

As estrelas, impossivelmente brilhantes, inatingivelmente misteriosas, induzem espanto e medo que nunca se reduziria realmente.

Mas as noites ficam mais longas. Cada vez mais longas. Primeiro imperceptivelmente, depois obviamente.
O velho sábio mede as estrelas, mede o sol. Não há dúvida. O sol está cada vez menos tempo no céu. Está cada vez mais frio.



E se não voltar? E se os dias continuarem a ficar cada vez mais curtos e frios, até não haver nada a não ser escuridão e frio e morte?
É altura de matar os animais, para que os grãos e bagas sirvam para alimentar a tribo durante o frio e a escuridão. Eram os meses da fome, da doença e da morte.

Mas e se o Sol nunca mais voltar?

É preciso fazer alguma coisa, antes que seja tarde de mais. É preciso fazer alguma coisa para o mundo não acabar e não morrermos todos! É preciso fazer o sol voltar!

Acendem-se fogueiras. Sacrifica-se um animal. Sacrifica-se um de nós.
É preciso fazer qualquer coisa.


Mas funcionou. Passados alguns meses o Sol voltou, as neves regressam para de onde vieram e a relva começa a crescer. As renas e os mamutes voltam.

Para o ano é preciso voltar a acender as fogueiras. Não podemos deixar que o Sol desapareça.


É um dos mitos que temos, actualmente. Que as festividades de inverno, que o acender das fogueiras, os rituais eram isso. Festividades.

Não eram.

Não eram uma festa, não era porque era bonito ou engraçado. Nem sequer era porque fazia parte dos costumes ou rituais.

Era magia. E era magia porque se essa Magia não acontecesse, o mundo parava.

Os povos e culturas do paleolítico, neolítico, e até muito muito tarde, acreditavam num mundo que precisava de Magia para continuar a funcionar. Acreditavam que as suas magias e rituais e sacrifícios e fogueiras eram necessários para que o Sol continuasse a circular no céu, e para que depois do inverno viesse a primavera.

O mundo precisava da ajuda da magia para continuar a rodar.

Superstição, crença, magia, rituais, religião...

Feliz Solstício de Inverno


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sábado, 20 de dezembro de 2014

Faz bem

Eu: o que é que estás a comer?
Mãe: Canela!
Eu: porque é que estarias a comer canela?
Mãe: porque faz bem à Diabetes!
Eu: Não faz na-... pera, estás a comer canela misturada com quê?
Mãe: Com mel e sumo de limão.
Eu: Ah, ISSO é que faz bem à Diabetes


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quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

O início dos Calhaus

Eu vejo-vos a falarem da produtividade. E a criticarem esta geração de preguiçosos. Ah, as virtudes do trabalho árduo para aqui, o valor do esforço e da perseverança contra as frustrações profissionais. Enaltecem os jovens empreendedores.
Porque é bom para a sociedade, porque temos todos de contribuir.
Pois...

Houve um dia, há muitos anos (há cerca de 5 mil anos, mais ou menos) um Rei no meio do deserto que disse assim "Olha, a partir de hoje é que é a contar!" e foi assim o início da civilização.
"A partir de agora os calhaus começam a contar".



E porque os calhaus passaram a contar, ele decretou que se iam empilhar uma data deles. Montes de calhaus, uns em cima dos outros! Calhaus enormes e muito pesados. Uma Pirâmide! Sim, é isso que lhe vou chamar, parece-me um bom nome. Uma Pirâmide para mim, porque eu mereço!


Mas para isso ia precisar de imensa gente para trabalhar. Montes de gente para arrastar aqueles calhaus todos.
Há imensa gente que se espanta e demonstra sempre imensa incredulidade acerca de como os Egípcios construíram as pirâmides. Insistem que usaram magia, ou foram ajudados por alienígenas, ou qualquer coisa dessas.

Não.

Querem saber como é que os Egípcios construíram as pirâmides?
Com muita dificuldade.

Não houve truques nenhuns. Foi muito acartar calhau monte acima, a partir costas. Parece que isso desilude as pessoas. Era mais interessante se fosse magia.

E também costumam pensar que estas pessoas todas eram escravos. Não eram. Na realidade eram trabalhadores pagos. Tinham salário, e férias pagas, e podiam pedir baixa por doença.
Eram empregados. Especialistas de relocalização de calhaus. Altamente treinados.


E todos estes trabalhadores precisavam de comida, de uma indústria agrícola que os sustentasse, e de quem partisse as pedras, e as transportasse rio acima, quem construísse as ferramentas. E todos estes negócios podiam ser alvo de impostos, que iam para o Império, que os usava para pagar aos trabalhadores.
Que estavam a construir uma pirâmide.

Um monte enorme de calhaus apontados para o céu.

A pirâmide estava no centro desta espiral de dinheiro e capital. Todo o fluxo económico do império confluía na pirâmide. A cada pedra da pirâmide poderia ser atribuído um valor monetário cumulativo de todo dinheiro e horas de trabalho que tinham acontecido desde o primeiro gajo a partir a pedra, ao último tipo a pô-la em cima das outras.

É toda a economia de um império centrada, suportada e justificada pela construção de uma pirâmide.
O Faraó, que estava sentado em cima da pirâmide, era imensamente poderoso. Àquele nível o conceito de dinheiro nem fazia sentido. Faraó quer, Faraó tem. A distância que o separava dos trabalhadores, as ordens de grandeza de riqueza que o separavam dos cidadãos normais era tão grande tão grande, que mais valia ele ser Deus.



Não é por acaso que era de facto um Deus na terra. O Faraó era um Rei-Deus. Distante, inatingível, perfeito, cujas vontades eram éditos divinos.
Era assim tão longe que ele estava das pessoas normais.

Mas o Faraó chega ao fim da sua vida, quase a morrer, e reparava que a Pirâmide ainda nem sequer ia a meio.
Então olha, tem de ser o meu filho a continuar isto.
E assim se formavam dinastias. Gerações atrás de gerações de Faraós que iam construindo templos e pirâmides, umas atrás das outras, cada vez maiores e com mais calhaus.

E os egípcios iam atrás. Que escolha poderiam ter? Eram Deuses que lhes mandavam construir as Pirâmides, que lhes pagavam e sustentavam. E eram Deuses e Pirâmides que já lá estavam antes de eles nascerem, e que, obviamente, iam continuar lá. Era assim que o mundo funcionava.


E esta ideia de civilização é tão poderosa, tão eficiente, que é a que se mantém até hoje. Por alguma razão ainda hoje falamos dos Egípcios. As pirâmides ainda lá estão, e só foram sendo substituídas por outras.
Ou seja: o egípcio médio não tinha significativamente mais controlo ou compreensão sobre a sua posição na sociedade do que nós temos actualmente.


Quem de nós realmente percebe o que é que se passa com a economia? Sabemos papaguear algumas palavras, apontar algumas das pessoas que tomam decisões.
Mas uma compreensão completa e precisa da situação é rara.
Eu não a tenho. Se vocês a têm, bom para vocês, mas estatisticamente é provável que estejam enganados.

E também temos pouco ou nenhum controlo sobre o que se passa connosco.

Ou seja: estamos nós, também, todos os dias, a arrastar calhaus monte a cima, a levantar-nos cedo, a preencher papéis, a atender telefones, a resolver problemas, a ser produtivos, para pôr pedras umas em cima das outras.


Para ajudar a construir este grande monolito que é a sociedade. A pirâmide só se tornou um pouco mais abstracta, mais invisível, mas continua lá.



Sabem como é que eu sei?

Porque continuo a ver os Reis-Deuses lá sentados em cima. A tomarem decisões, a mandarem bocas sobre a produtividade e sobre a virtude do trabalho. Numa pirâmide de administratividade corporativista e capitalista (whew!, try saying that three-times fast! My my! Don't we use fancy words!! We must know a lot about this, if we use such big fancy words!)



A produtividade e o trabalho árduo são coisas boas, sem dúvida que são. Mas para quem?

Lá porque nos fizeram acreditar nestas coisas, quem nos disse que éramos NÓS que íamos beneficiar disso?



Estas ideias e crenças não surgiram de forma benévola. Não se implantaram para o nosso bem.
Fizeram-nos acreditar nisto porque rapidamente se aperceberam que cansa arrastar calhaus, e que se houver outros papalvos que os arrastem, melhor.

Portanto vá, larguem a internet e vão trabalhar. É importante.
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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Pão

Vocês vêem-nos por aí.

São os filhos da revolução de '74, que nasceram no pós-ditadura, de pais que passaram dificuldades e trabalharam imenso e tiveram fome e sofreram a repressão.
Crianças que cresceram com a afluência de uma economia revitalizada, com o influxo dos subsídios da europa nos anos '80.
São aqueles que nos anos '90 no fim da adolescência, viriam a ser apelidados de Geração Rasca, simplesmente porque não tiveram de ultrapassar as mesmas dificuldades que a geração anterior teve de viver. Preguiçosos simplesmente porque a geração anterior não reconhecia os seus objectivos como válidos.

Cresceram bem, o retrato de uma classe média que estava bem na vida. Quase invariavelmente vestiram trajes pretos na faculdade, embebedaram-se muito, tocaram nas tunas, demoraram mais do que deviam a terminar o curso e ainda mais a arranjarem emprego. Mas no fim dos anos '90 e início de '00 ainda era relativamente fácil arranjar emprego. Posições administrativas, vendedores, paper-pushers. Mas com ilusões de grandeza e influência e eloquência.
São estes que vocês mais vêem a mandar bitaites sobre as políticas de direita e o socialismo e como isto é tudo uma vergonha.

Barrigas de cerveja e comezainas a ver futebol, de que sabem muito. Gordos.
Daqueles gordos que não tinham corpo para serem gordos, que parecem que engordaram demasiado depressa e ficaram tufados, sem pescoço.
Nunca foram ao médico. A obsessão com a saúde e o natural e o detox ainda não era como é hoje.
Mas a família chateia-os, as mulheres insistem, e agora que começam a chegar aos 40 e a sentir-se cansados quando sobem um lanço de escadas, decidem ir ao médico.

"Pois é Dr. não percebo como é que estou assim. Eu até tenho cuidado com o que como"

"Ah, sim, estou a perceber"

"Não como muitos fritos, corto sempre as gorduras da entremeada. Como peixe..."

"Peixe?"

"Sim, como muito bacalhau. Não percebo mesmo, não consigo perder peso"

"Pois, eu percebo que isto é uma coisa que o preocupa. E compreendo que sente dificuldade em perder peso"

"É isso mesmo Dr, você parece que lê a minha mente!"

"Deixe-me perguntar-lhe uma coisa... Você come pão à refeição?"

"Sim, um pãozinho"

"Um?"

"Bem, um ou dois"

"A todas as refeições?"

"Não, em todas não..."

"Você come muito pão?"

"Sim, eu como muito pão"

"Hmmmm... curioso! E será que há alguma relação entre esta coisa que você come imenso, todos os dias, durante os últimos 20 anos, e o facto de não conseguir perder peso?"

"Mas eu não como gorduras! Ponho pouca manteiga no pão!"

"Estranho como isso não parece ter funcionado sistematicamente durante estes anos todos..."

"Mas eu até faço exercício"

"Que exercício é que faz?"

"Quer dizer, eu mexo-me muito"

"Ah?"

"Sim, no trabalho... estou sempre a mexer-me de um lado para o outro"

"Estou positivamente boquiaberto de espanto e surpresa em como isso não tenha sido suficiente!"

"Pois, eu também não percebo"

"Vou sugerir-lhe uma coisa... Vai parar de comer pão, parar de beber coca-cola-"

"Como é que você sabe que eu bebo coca-col-"

"Xiu. E não é só coca-cola, é também os outros sumos todos"

"Mas o sumo de laranja é natural! Então o que é que bebo?"

"Água"

"..."

"E vai passar a fazer exercício. Qualquer coisa. Não importa o quê. Tem é de se mexer"

"E vou cortar nas gorduras!"

" >suspiro< Sim, está bem, pode ser..."


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quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

O Papão

Somos crianças, estamos  geneticamente programados para acreditarmos nos nossos pais. Para lhes obedecermos. Faz sentido. Todas as crianças que não acreditaram à primeira que não deviam comer as bagas vermelhas ou fazer festas ao tigre dentes-de-sabre não viveram para passar os seus genes de descrença à geração seguinte. Estamos geneticamente programados para acreditar numa autoridade superior. E porque quando desobedecemos, levamos porrada. Há isso.

Mas um dia crescemos e percebemos que os pais são humanos e falíveis. E deixamos de acreditar. Pomos em causa. O medo diminui. A autoridade dilui-se.

Então surge o Papão ele próprio, a coca, o Homem do Saco. Qualquer figura com a qual se mete medo às crianças para que estas se portem bem. A criança provavelmente nem sabia que essa figura existia até ao momento em que os pais, em tons sussurrados, apelam a uma entidade externa ameaçadora que lhes fará mal de forma indefinida, se elas não se portarem bem e obedecerem.
Eventualmente deixamos de acreditar também nesses.

O Papão precisa de evoluir, de crescer. Então cresce. O Papão passa a ser uma figura cósmica, por definição para além da compreensão humana. Uma entidade mal-definida, muito poderosa, razoavelmente omnisciente, ameaçadora, vingativa, punitiva e eternamente reprovadora.
Sabe o que se passa dentro dos pensamentos privados de cada um. Não há lugares seguros. O Papão internaliza-se. Há pessoas que não sabem viver sem o Papão a dizer-lhes o que é que não podem fazer.

Mas há pessoas que se conseguem libertar. Ou em quem o Papão não pegou. Mas o Papão perdura.

Perdura porque que queiramos quer não crescemos rodeados do Papão. O Papão integra a nossa cultura e a das pessoas à nossa volta. Respiramos e comemos o Papão a vida toda. Mesmo que não se acredite, a essência do Papão persiste. É a crença no valor do trabalho árduo e na privação do prazer,  na necessidade de ajudar sempre os outros em detrimento do próprio. O valor de aguentar o sofrimento e de se ser estóico frente às adversidades.
Quando nos sentimos culpados porque passamos o fim de semana sem fazer nada, sem nenhuma produtividade. Quando sentimos vergonha por admitir que não fizemos aquele esforço extra no trabalho. 

Isso é o Papão implantado na nossa mente, a sussurrar que temos de trabalhar mais, descansar menos.
Mas mesmo assim há pessoas que se libertam do Papão. Que conseguem ver as mentiras e manipulações do Papão e aproveitar o fim de semana. 

Mas ainda assim o Papão perdura.

Perdura em todas as outrad pessoas que acreditam no Papão. Mesmo que não saibam que acreditam. Não podemos rir muito alto, não fica bem criticar as pessoas, não devemos gozar com coisas sérias, há palavras que é feio dizer em público. É a convenção social, é o politicamente correcto, são as boas maneiras, são as regras arbitrárias. E neste Papão não é preciso acreditar, basta que todos os outros acreditem. 

E pode parecer que o podemos ignorar, pode parecer que podemos quebrar estas convenções, mas a longo prazo as consequências acumulam-se e tornam-se notórias. O sarcasmo é criticado, não é produtivo, as eminências devem ser respeitadas, por ridículas ou incoerentes que sejam.
Todos os chefes estão bem barbeados e têm crocodilos na camisa. Todas as chefes de serviço acreditam na virtude do trabalho árduo e no valor do sacrifício pessoal.

O Papão persiste nas estruturas de poder e autoridade. Onde mais poderia estar?
A vida não corre bem a quem desafia o Papão. Até podemos gozar com ele, chamar a atenção à sua existência, mas desafiá-lo é arriscado. 

Não há muito tempo o Papão queimava na fogueira quem discordava dele, ou arrancava as unhas a quem dizia coisas  desagradáveis.

É saudável ter medo do Papão.
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