Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

sábado, 31 de outubro de 2015

Tunes with Tangerine - Flesh without Blood/Life in the Vivid Dream


Flesh without Blood/Life in the Vivid Dream, Grimes

Chosen by Tangerine.

Read More »

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Parabéns ao Careca que manda bocas!

As Pataniscas não fazem artigos sobre políticos. Porque é vulgar, e vamos dizer, aborrecido. Mas este senhor (não é um homem, é um senhor!), merece uma curta menção honrosa. Porque acho que há algum valor nas intervenções que faz. Em termos de entretenimento.



O Dr Fernando Leal da Costa. O nosso secretário de estado-comediante preferido, recentemente promovido a Ministro da Saúde.

Saltando para a ribalta nacional a gozar com a TVI, depois de uma reportagem em que se mostravam as condições deploráveis em algumas Urgências Hospitalares Portuguesas, o Dr Leal da Costa respondeu com elegância:

''O que nós vimos foram pessoas bem instaladas!''

''É uma reportagem que só vem confirmar a opinião que eu tenho, que os serviços de urgência em Portugal funcionam muito bem, apesar dos picos de afluência, como nós já sabíamos!''

''Os testemunhos dos médicos que eu ouvi, com o devido respeito (...), são reputados e reconhecidos militantes do Partido Comunista e da oposição.''

Há de facto, uma cabala negra contra o governo, para denegrir a imagem das urgências portuguesas. É uma cabala protagonizada pelo ministério da saúde, através de subfinanciamento, mas pronto...

Ficamos também a saber porque é que o governo não cumpriu a promessa de dar um médico de família a todos os portugueses. Basicamente, é porque os médicos reformados não querem trabalhar, e porque os médicos jovens, passam muito tempo em formação.

Assim, numa notícia que passou mais ou menos despercebida, o Dr Leal da Costa voltou a metralhar bojardas, em todas as direcções:

''A formação dos médicos em Portugal é demasiadamente longa.'' (Também me chateia quando os cirurgiões passam muito tempo a lavar as mãos antes das cirurgias.)

''Gostaríamos de ter condições para formar mais médicos.''(Mas criar essas condições é responsabilidade do governo do Botswana, infelizmente...)

''É natural, lógico e desejável, que desde que tenham qualidade, possam vir a aparecer também faculdades de Medicina no Privado.''(Claro! Mas que boa ideia! Há anos que o ensino superior privado dá cartas em Portugal. Perguntem ao Sócrates e ao Relvas!)


Outros êxitos deste senhor:

''A possibilidade dos enfermeiros receitarem medicamentos, e exames complementares de diagnóstico, deve ser estudada sem qualquer limitação.''

(Genial! E porque não os administrativos a fazer pensos?)

“Não basta cobrar impostos, e que é necessário que os cidadãos comecem a ter uma atitude de prevenção de doenças para que não precisem tanto dos serviços de saúde.''

(É uma chatice quando os nossos maus hábitos nos fazem gastar dinheiro em tratamentos. Se ao menos tratar o cancro do pulmão fosse barato! Ia já comprar 2 maços...)

De resto, este senhor anda a granjear amigos em todos os sectores desde há muito tempo!


Vistas na internet:










E agora a melhor parte. O cabelo dele visto de perfil!



Como um zeppelin (ministeriável!) a atravessar uma nuvem. Lindíssimo. Super fashion



Parabéns ao careca que manda bocas! Um mandato curto para ele!
Read More »

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Constantinopla (não Istanbul)

Há lugares destinados a serem cidades.

Quase sempre ao pé do mar ou de um rio, frequentemente lugares férteis, habitualmente com ligações a rotas comerciais importantes, muitas vezes em localizações fáceis de defender.

A cidade grega de Bizâncio era tudo isso ao mesmo tempo.

Para começar estava localizada na foz do Corno de Ouro, um estuário de vários rios e um espaçoso porto, e no clima ameno do Mar Mediterrâneo.

Mais importante que isso, Bizâncio estava localizado na abertura Sul do Bósforo que é o canal mais estreito do mundo usado para comércio internacional, com cerca de 30km de comprimento, que consegue a proeza de não só ligar o Mar Negro ao Mediterrâneo, também é o ponto de passagem mais fácil entre a Europa e a Ásia.


Provavelmente por esses motivos todos, e porque Roma estava cheia de políticos corruptos, longe dos exércitos e demasiado próximo dos bárbaros vindos do norte, o imperador romano Constantino I decide que Bizâncio seria o lugar excelente para a nova capital do Império Romano.

Constantino I estava a planear a oficialização do Cristianismo como religião oficial do Império Romano, e para isso precisava de uma nova capital onde pudesse começar de novo.

Em 324 AD Constantino funda Nova Roma no local da antiga cidade de Bizâncio, ordenando a construção de uma cidade com arquitectura abertamente cristã, com igrejas dentro das muralhas da cidade e, mais importante que tudo isso, sem templos a outros deuses.

A cidade dura 6 anos a ser construída, e é consagrada em 330 AD com o nome Constantinopla, em honra do seu fundador.

O mapa mais antigo de Constantinopla, de 1422 AD
Em 395 AD, depois da morte do Imperador Teodósio I, o Império Romano é dividido em dois, o Império Romano Ocidental, que fica para o seu filho Honório, e o Império Romano Oriental que fica para o seu filho Arcadius.

Divisão do Império Romano após a morte de Teodósio I em 395
Nas décadas que se seguem, as constantes invasões dos bárbaros do norte, a má gestão económica e uma sucessão de líderes corruptos enfraquecem irreversivelmente Roma, e no ano 476 a sua última capital é capturada por bárbaros germânicos e o seu último líder é morto.

É o fim do Império Romano. As luzes da civilização da Europa apagam-se.

O fim?

Não.

O Império Romano Oriental perdura, com a sua capital em Constantinopla, mantendo-se como o principal foco da Religião Cristã e repositório de cultura e ciência durante mais mil anos.


A cidade repele várias invasões, incluindo Átila o Huno, sendo conquistada apenas duas vezes. A primeira no ano 1206 pela Quarta Crusada, e pela segunda e definitiva vez em 1453 pelo Sultão Otomano Mehmet II.

A partir dessa altura Constantinopla passa a pertencer ao Império Otomano. Em 1922 o Império Otomano é dissolvido após a Guerra da Independência Turca, na qual o Movimento Nacional Turco, liderado por Mustafa Kemal Ataturk, vence.

Em 1930 Ataturk decide mudar oficialmente o nome da cidade para Istanbul, o seu nome grego arcaico, numa tentativa de se desligar das conotações europeias do nome Constantinopla.

Mapa Otomano de Constantinopla, 1493
Eu estive em Constantinopla este fim de semana passado.

Sim, a cidade chama-se Istanbul, e é uma cidade claramente islâmica. Vêem-se bandeiras com o símbolo do Islão por toda a parte, há mesquitas por todo o lado.

Grande Bazaar
Mas foram inúmeras as vezes que eu senti que estive na cidade romana de Constantinopla.

A igreja Hagia Sophia, um dos principais templos cristãos da antiguidade, mandada construir pelo Imperador Justiniano I, domina a cidade.

É um edifício com uma arquitectura fascinante, transportando-nos para um momento tão antigo da cultura europeia que é difícil de imaginar.


Estive ao lado da Coluna de Constantino, no actual bairro de Çemberlitaş. O Imperador Constantino I mandou construir a coluna para celebrar a fundação de Nova Roma em 330 AD.

Ainda lá está a coluna. Eu estive ao lado dela, 1685 anos depois de ter sido construída.


Encontrámos o Milion, o marcador a partir do qual todas as distâncias eram medidas no Império Romano, construído pela mesma altura.


Estive na Cisterna da Basílica, a maior das muitas cisternas subterrâneas de Istanbul, mandada construir pelo imperador Justiniano para guardar a água potável da cidade.

É  um espaço subterrâneo enorme, com um tecto abobadado, suportado por mais de 300 colunas.

Duas dessas colunas têm na sua base cabeças de medusa, provavelmente aproveitadas de outros templos romanos da localidade. 



Já há anos que leio acerca dos romanos, do cristianismo, da importância que estas coisas tiveram na nossa cultura. 

Nunca fui à cidade de Roma, mas sinto que tendo estado em Constantinopla estive mais perto da Roma Antiga do que se tivesse passeado pelo vaticano.

É uma sensação difícil de descrever, estar ao lado desse tipo de antiguidade. É uma mistura de fascínio maravilhado com o peso intimidante de séculos de história a espreitarem atrás de cada pedra. 

Deixo-vos com o grupo musical They Might be Giants, a interpretarem a música tema deste post.

Uma salva de palmas para eles. 

Read More »

domingo, 25 de outubro de 2015

Sometimes when you fall... - Part II

The trepidation of the train and the cold morning light streaming through the window prevent him from sleeping. He went to bed late last night. Again. He keeps promising himself he’s going to bed early, catch some sleep, not be as tired the next day. But he never does. Not for years now.

Going to sleep feels like giving up, to him. Going to sleep rushes the morning, and he doesn’t like mornings.

So now he tries to rest on the train on his way to work, but achieves only a kind of half-slumber which is even more tiresome in its own way.


Read More »

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Peidos Históricos

Já falei do poder da narrativa e dos tropes, esses memes/ferramentas de escrita que perpassam tudo o que tenha uma estrutura narrativa.

Andamos a contar histórias uns aos outros desde que sabemos falar mal.

Apesar de ser impossível saber ao certo sobre o que eram essas histórias primordiais, não devemos andar muito longe da verdade se pensarmos que eram sobre coisas que importavam aos nossos antepassados caçadores -recolectores: quem é que tinha caçado o maior bisonte, os encontros imediatos com tigres dente de sabre, os conflitos com outras tribos, histórias sobre as estrelas, sobre os deuses, etc.

Basta olhar para as pinturas que fazíamos nas paredes das cavernas, antes de sequer aprendermos a escrever.




Há até teorias recentes de acordo com as quais aquilo que parecem ser pernas a mais em alguns desenhos eram na realidade postas lá propositadamente para que, com a luz incerta da fogueira, dessem a impressão de movimento



A certeza que podemos ter acerca do facto de que as nossas histórias primordiais provavelmente eram desta natureza é que quando aprendemos a escrever e começamos a escrever essas mesmas histórias, estas já eram narrativas extremamente complexas.

Uma das obras literárias mais antigas é o poema o Épico de Gilgamesh.

O Épico de Gilgamesh foi escrito na Mesopotâmia, a região entre o Tigre e o Eufrates, correspondendo vagamente ao Iraque, Síria e Kuwait, incluindo regiões ao longo da Turquia e Irão.
Foi o berço da civilização, tendo incluído os impérios da Suméria, Acádia, Babilónia e Assíria, e foi conquistada por Alexandre o Grande em 332 antes de Cristo.

O Épico de Gilgamesh, escrito em 2100 antes de Cristo, é a história de um Rei, cheia de sexo, violência, roubo, desafio, angústia e retribuição divina. É o primeiro filme de amigalhaços, a primeira representação literária de um submundo, e o precursor à história da Arca de Noé.



Portanto quando há 4100 anos se escreviam coisas destas, já quase tão complexas como o melhor que se faz actualmente, não tinham sido inventadas há pouco tempo. Este tipo de narrativas já andavam a crescer e a evoluir desde há centenas de anos.

Existem tropes que são mais velhos do que cuspir na sopa, mais velhos do que a própria escrita, como evidenciado pelo facto de que quando se começa a escrever, eles já aparecem perfeitamente desenvolvidos.

Outra coisa que também já fazemos há muito tempo é contar piadas.

E poderiam pensar que, à semelhança do texto literário mais antigo do mundo, cheio de aventura épica, a primeira piada do mundo fosse igualmente elevada.

Não.

Escrita Suméria
A piada mais antiga do mundo, escrita pelos Sumérios (os tipos que inventaram a escrita) há 3900 anos, foi a seguinte:

"Coisa que nunca aconteceu desde tempos imemoriais: uma jovem mulher não se peidou no colo do seu marido"

Ou seja, é uma piada sobre o facto de as mulheres se peidarem quando estão no colo do marido.

Ou seja, a piada mais antiga do mundo é uma piada de peidos.


Há qualquer coisa de reconfortante no facto de as pessoas há tanto tanto tempo rirem-se basicamente das mesmas coisas de que nos rimos hoje.

Pessoas que, para a maioria dos outros aspectos práticos e culturais, estão tão longe de nós que mais valia serem alienígenas, apesar de tudo ainda eram dolorosamente semelhantes a nós.

Diz-nos o quanto não mudámos durante este tempo todo.

Deixo-vos com uma lista de piadas sobre peidos.
Read More »

domingo, 18 de outubro de 2015

Sometimes when you fall... - Part I

The freshness of elder pines.

His hearing strains as he walks through the path. The pines stretch above on either side of him. His slippers softly crush the needles beneath his feet.

He can hear them. There are six of them. Hiding in the branches.

He does not slow his steady pace, but instead adjusts his Katana nearer to him. When he needs to unsheathe it, it will be over quickly.

Almost painfully he remembers the night in the Shögun’s keep. Her name was Misako, and she was First Geisha to Homori-kun.

As one of his Samurai, he had been invited for the victory feast, and in honour of his feats in battle, Misako had performed a dance for him.

She had danced in the rain, to the sound of a single Koto, and it was poetry in motion. As he sipped at his impeccably made green tea, he realized she was the most beautiful thing he had ever seen in his life.

That same night he went to her room, and proclaimed his undying love for her. She raised a single, slender, white finger to her painted lips, pointing to the mark of her servitude. She was Geisha, a living work of art, a symbol of status, property of the Shögun. Not to be loved, but admired.

He did what he had to do.

They were closing in, now. He could feel the woods breathing closer.


He catches an arrow mid-flight with his left hand, quivering inches from his neck. The shooter had exhaled as he released it, giving himself away. They were either nervous or over-confident. 
He might yet survive this.


Read More »

sábado, 17 de outubro de 2015

Tunes with Tangerine - Shakin' All Over


Shakin' All Over, The Who

Chosen by Tangerine.

Read More »

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Vírus Gigantes Congelados!

Estaremos a desafiar as leis da natureza com o nosso crescimento desgovernado, e a chamar sobre nós um apocalipse de vírus gigantes?

Provavelmente não, mas esta é uma frase dramática o suficiente para servir de cabeçalho a mais um post sobre vírus e bactérias.

Pandoravirus
São pequeninos pedaços de código genético, que codifica apenas alguns genes, que contêm pouco mais do que as instruções para "faz mais cópias de mim".

Dado que não codificam mais nada, nem metabolismo energético, ou respostas a estímulos, nem sequer se considera que estejam bem vivos.

E são pequeninos.


Muito pequeninos.

Tão pequeninos que não podem ser vistos num microscópio normal, só conseguem ser observados num microscópio electrónico.

Vírus de Hepatite B
Pensem um vírus da Hepatite B.

Os vírus da Hepatite B têm 3200 pares de bases e codificam 4 genes (sim, só 4 genes), enquanto que uma bactéria Escherichia coli tem 4 639 221 pares de bases e 4000 genes.

Um vírus da Hepatite B têm em média 40 nanómetros de diâmetro. 40x10^-9 metros.

Ou seja 40 bilionésimos de metro.

Uma bola de ping-pong tem 4 cm de diâmetro. (Sim! Eu fui buscar um artigo científico para referenciar o tamanho de uma bola de ping-pong!)


Um Vírus da Hepatite B está para uma bola de Ping-Pong como uma bola de Ping Pong está para a Escócia.

Escócia: cerca de 400 km de norte a sul
Pronto, agora que já estabelecemos quão pequenino é um vírus.

Lá para cima, para o Norte, no topo do planeta, há lugares onde está tanto frio durante o ano topo, que o solo está permanentemente congelado.
Chama-se a isso o Permafrost.

Permafrost siberiano
Como é natural, as coisas que ficam congeladas neste tipo de solo, tendem a ficar lá durante muito tempo.

Volta e meia desenterram Mamutes de 40 000 anos estupendamente bem conservados, e recentemente encontraram o corpo de uma mulher com 2500 anos, tão bem conservado que as suas tatuagens estavam perfeitamente visíveis.


Uma das coisas mais interessantes que eles encontraram no gelo recentemente foi isto:


Que coisa é esta? Com cerca de 1200 nanómetros, ou 1,2 microns de tamanho?
Com este tamanho seria razoável pensar numa bactéria. Mas estariam errados.

É um vírus.

Um vírus gigante.

Encontraram vírus gigantes congelados no Permafrost Siberiano.

Quero voltar a chamar a atenção para o tamanho deste monstro, dizendo que é maior do que as bactérias S. aureus e tem cerca de metade do tamanho de uma bactéria E. coli.

Staphylococcus aureus
Escherichia coli
Na realidade estes vírus gigantes já são conhecidos há cerca de 2003 anos, quando o Mimivírus foi identificado, e desde então já foram idenficadas pelo menos mais 7 espécies diferentes.

O maior de todos, o Pithovirus sibericum, pode chegar a ter 1,5 microns de tamanho.

Lembram-se lá em cima quando comparámos um vírus da Hepatite B a uma bola de ping-pong?

Se um vírus da Hepatite B fosse do tamanho de uma bola de ping-pong, um Pithovirus sibericum seria do tamanho de uma televisão de 60 polegadas.

Do tamanho de uma televisão de 60 polegadas, ou de uma senhora asiática
Não, a sério, estes vírus são grandes o suficiente para serem vistos em microscópios ópticos!

Mimivirus ao lado de uma bactéria de Ricketsia conorii

Estes vírus não são só gigantes em tamanho, são também gigantes em código genético.

Lembram-se quando eu disse que o vírus da Hepatite B 3 200 pares de bases? O Pandoravirus pode chegar a ter 2 500 000 pares de bases!

Estes vírus desafiam as classificações para a vida como a conhecíamos até agora, até porque as proteínas que os seus genes codificam são mais semelhantes das células eucarióticas (nós) do que das procarióticas (bactérias) e provavelmente representam um ramo primitivo na evolução da vida que nunca vingou.

O mais impressionante disto tudo é que quando eles pegaram nestes vírus gigantes, presos no permafrost siberiano há 30 000 anos, e os descongelaram, eles VOLTARAM À VIDA!

Molivirus sibericum
Claro que dizer que voltaram à vida é um bocado de abuso, porque como nos fartamos de dizer, os vírus não estão bem vivos para começar.

É mais o equivalente de pegar numa máquina de lavar enterrada no chão gelado há trinta mil anos, ligá-la à corrente e descobrir que ainda funciona.
Não deixa de ser impressionante.

Felizmente estes vírus não são infecciosos para os seres humanos, e contentam-se em infectar amebas.

Indústria petrolífera na Sibéria
Mas à medida que a indústria petrolífera siberiana continua a expandir-se, e o aquecimento global continua a fazer aumentar as temperaturas no mundo todo, o Permafrost começa a derreter.

Encontrámos duas espécies de vírus gigantes com genes bizarros congelados no gelo, capazes de recuperar a sua infectividade.

Duas.

Quantas mais continuam enterradas no gelo?

E será que quando descongelarem não nos vão querer comer?
Read More »

sábado, 10 de outubro de 2015

Tunes with Tangerine - Crystal Ball, Grimes


Crystal Ball, Grimes

Chosen by Tangerine.

Read More »

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Manhãs Ascetas e Noites de Prazer

Gosto de manhã. Não gosto de sair da cama, mas depois de sair já não voltava atrás.

Gosto de andar pela rua enquanto está, como o meu avô dizia, ''fresco''.

Lembro-me de há poucos anos, gostar da noite. A noite era expectativa de um ambiente diferente, novo, eventualmente pessoas novas. Coisas novas.
Há menos coisas novas pelo ''fresco'' da manhã. Há mais calma. Expectativa também, e planificação. ''Tenho que me ir deitar, tenho muitas coisas para fazer amanhã.'' Temos que acordar cedo porque há coisas importantes e oficiais que acontecem de manhã.

Talvez seja que é por isso que os adolescentes gostam da noite. A noite tem maior expectativa de entretenimento, mais potencial para novidade, é mais excitante.
Uma faixa etária jovem o suficiente para não ter responsabilidades de adultos, como trabalhar, mas que já têm acesso à maior parte dos prazeres e divertimentos.
Não parece estranho que essa faixa etária prefira a noite, e a molécula do prazer, a dopamina.

A noite é da dopamina. 

Alguns receptores de dopamina estão muito ligados ao mecanismo do comportamento motivado pela recompensa. Outros geram um efeito pró-social e melhoram o humor. Muitas substâncias aditivas (drogas) fazem efeito por aumento da actividade dopaminérgica neuronal. Outras alteram-no.



Por exemplo, há pessoas com potencial dopaminérgico para responder de maneira diferente ao álcool. Isso pode fazer com que seja mais provável que se tornem alcoólicos.      (resumo do artigo em Português)

A vida de alguém pode ser completamente diferente, porque o seu cérebro responde de maneira azarada ao álcool...
E ainda hoje o alcoolismo é visto como uma falha moral, que pode dever-se a uma personalidade predisposta, com uma resposta dopaminérgica diferente ao álcool. Azar.


Estas pessoas não estão a tomar o pequeno almoço...

Vocês já viram a dopamina a funcionar... está em cada conversa pontuada por gargalhadas gerais, em cada grito de excitação que se ouve perto de locais de entretenimento nocturno. Está em cada grupo da amigos a cantar no restaurante, depois de alguns copos.
A falta dela está em cada manhã que acordamos surpreendidos connosco próprios, pelos comportamentos que tivemos na noite anterior. Mais uma dor de cabeça jeitosa e aversão a sons estridentes.

À noite tentamos gerar dopamina, gerar recompensa, prazer. A dopamina guia o comportamento exploratório em ambientes novos. A dopamina orienta o ''novelty seeking behaviour'', e está também ligada ao humor, e a falta dela está ligada a depressão.

Acho isto interessante, porque sublinha a importância de aprendermos a divertir-nos. É importante sabermos do que gostamos, do que nos dá prazer. É importante aprendermos a relacionar-nos com a libertação de dopamina no nosso cérebro. Porque a vida não é só trabalho, e o trabalho é melhor desempenhado por pessoas equilibradas. Que descansam, e se divertem.

Para fundamentar isto, fui à procura de algum alguma coisa que ligue a produtividade ao descanso, e demorei 60 segundos a encontrar.  Aparentemente a produtividade sobe depois das férias.

Olha um estudo científico a relacionar o descanso com maior capacidade de concentração.

Olha uma empresa que deixou cada empregado tirar as férias que bem entendesse, e teve um aumento enorme de produtividade.

Olha um artigo de uma revista económica a dizer a mesma coisa.

This stuff is everywhere...

Sei que o assunto está longe de ser resolvido, que os artigos são americanos, que a nossa realidade pode ser diferente.

Mas acho que vale a pena perguntar se faz sentido colocar a população a tirar menos férias, com maus contratos, baixos salários e corte efectivo de dias feriados, se for verdade que isso baixa a produtividade...

Por exemplo, os alemães e os franceses trabalham bem menos que nós. Toda a gente diz que isso acontece porque eles são mais produtivos.
E se não for só a maior produtividade a permitir trabalhar menos?
Será que a maior produtividade Alemã e Francesa tem alguma coisa a ver com eles trabalharem menos horas do que nós? Será que isso é parte da resposta? Será que têm mais motivação para serem mais produtivos?

Porque é que fazemos as coisas que fazemos? Porque é que estamos motivados ou não?
Se vieram aqui directamente do facebook, então sabem o que são imagens motivacionais.


A dopamina não está só ligada ao prazer. Está também ligada à motivação. Fundamentalmente, nós fazemos o que quer que seja, pela expectativa que temos de eventual libertação de dopamina no nosso cérebro. Se o nosso trabalho libertar muita dopamina no nosso cérebro, tanto melhor. Se não for esse o caso, talvez a expectativa de vir para casa ver imagens motivacionais no facebook, seja um motor para nos fazer desempenhar as nossas tarefas laborais de maneira mais eficaz e produtiva.

Mas para isso temos que ter tempo. Tempo de lazer, que nos permita libertar dopamina.

Falta uma peça neste puzzle. Este é o mecanismo que justifica os modernos salários dependentes de objectivos. Se trabalharmos muito e bem, então ganhamos mais dinheiro. Atingimos os nossos objectivos e somos recompensados financeiramente. Pela empresa, chefe, o que seja.

Mas para que é que serve o dinheiro extra? Para pagar contas, comprar coisas, e atingir objectivos materiais. Submeto-vos, o dinheiro serve para obter ferramentas (materiais ou não) que permitam ao nosso cérebro libertar dopamina. De onde é que pensam que vem a sensação agradável de velocidade que um carro novo provoca? Ou o sentimento de conseguirmos manter e ajudar a nossa família a manter-se e desenvolver-se?

Mas não existe nenhuma noite, sem uma manhã seguinte...

A manhã poderá estar mais relacionada com o cortisol, que tem um efeito menos claro sobre o humor, mas que pode também estar relacionado com reforçar comportamentos dirigidos a um objectivo.

O cortisol é a molécula que nos prepara para um dia em cheio! (Juntamente com os corn flakes). Ajuda o corpo a aumentar o açúcar no sangue, diminui a excreção de sódio, aumenta a tensão arterial. Mas também trabalha com a epinefrina para ajudar a criar memórias de curto prazo.

Pensem nos vossos pais a defenderem o trabalho árduo e a debitar aforismos, como ''deitar cedo e cedo erguer''.
Pensem em ir trabalhar de manhã cedo.... No valor da perseverança e dedicação, dos impulsos refreados, do planeamento e do ''subir a pulso''.

As variações do cortisol encaixam no que é a  narrativa moral dos valores ascetas, a valorização profissional, o ''trabalho, trabalho''. O contexto de julgamento moral que nos arranca da cama de manhã. Ou pensavam que era o despertador?

Pensem no governo e na troika a julgar-nos moralmente a tirar-nos férias e feriados. A baixar-nos o salário. Querem o nosso cortisol no máximo, a trabalhar, a pagar impostos, para depois o governo ter dinheiro para fazer o serviço da dívida. Porque, segundo a narrativa da direita, andámos muitos anos a libertar dopamina em regabofe, e agora está na altura de fazer ''sacrifícios''.

A verdade não é dual, é holística. Não temos pessoas exclusivamente trabalhadoras ou preguiçosas. A realidade é mais complexa do que os nossos estereótipos e preconceitos, e toda a gente tem dopamina e cortisol no cérebro. E suspeito que, se queremos aproveitar os nossos picos produtivos de cortisol, é essencial conseguir libertar dopamina no trabalho e ter expectativa de libertação de dopamina, pelo lazer.

Acho que se queremos produzir mais é melhor sabermos divertir-nos mais!
Read More »

Como perguntar a alguém sobre a sua urina

Comunicar com os doentes é notoriamente difícil.

É difícil porque basicamente eu e os doentes falamos línguas diferentes. O doente sabe o que sente subjectivamente, e interpreta o que sente a partir do seu próprio ponto de vista com base na sua própria narrativa fluida, misturando sensações com emoções.

Eu falo em medicalês, que é uma linguagem exageradamente precisa, com cinco nomes diferentes para caracterizar cada sintoma, distinções precisas entre sinais e sintomas, com necessidade de provar ou negar pormenores que parecem irrelevantes, tudo numa linha de tempo muito exacta.

É difícil...

Desta vez consegui uma coisa rara, que foi uma conversa que tive com um amigo meu através de chat, e na qual, sem qualquer tipo de planeamento, este tipo de dificuldades se demonstraram de forma muito clara.



Só para terem um bocadinho de contexto, ele estava com queixas urinárias. Uma das coisas importantes a perceber nas infecções urinárias nos homens é a dificuldade de começar a urinar, que pode estar relacionado com patologia da próstata.
Se a próstata estiver aumentada de tamanho, como numa prostatite, bloqueia a uretra, e isso é sentido como dificuldade em começar a urinar porque é preciso primeiro vencer a pressão que a próstata aumentada provoca.

Ele é um tipo muito inteligente, de engenharia informática, que em qualquer outra situação consegue sempre explicar-se de forma extremamente clara.

Eu estava a perguntar-lhe acerca de uma data de sintomas, entre eles a dificuldade em iniciar a micção.

Eu: Tens dificuldade em começar a urinar?

Ele: Desde que comecei a usar o medicamento (Flavoxato, um medicamento para aliviar sintomas urinários) tenho alguma dificuldade.

Eu: E antes do medicamento?

Ele: Antes do medicamento não sentia tanto assim.

Eu: Isso quer dizer que sentias?

Ele: Não era significativo o suficiente para notar diferença.

Eu: Mas sentias ou não?

Ele: Era capaz de sentir alguma diferença mas não era uma dificuldade notória. Agora é notório. Tenho de contrair os abdominais.

Eu: Sentias mas não notavas? Não percebo.

Ele: Ok, quando vais urinar, começas imediatamente a urinar? Eu não. Demoro um bocado a começar, 1 segundo se tanto. Antes da medicação seria 1,5 segundos; não notava nada que me impedia e que necessitasse de contrair o que fosse.

Eu: Portanto, antes da medicação, o iniciar da micção era igual ao que sempre era?

Ele: Sim, simplesmente viria ao momento que viesse.

Eu: Pronto.

Ele: Demora um bocado mais mas nada de significativo

Eu: Demorava um bocado mais do que o normal?

Ele: Sim, os tais 0,5 segundos se tanto.

Eu: Mas isso não é o normal?

Ele: Normal seria 1 segundo. Como eu disse, a diferença não era significativa.

Eu: Mas havia uma diferença em relação ao normal ou não?

Ele: Havia diferença de tempo, mas não tinha de me contrair para urinar. A diferença de tempo era mínima, mas existia.

Eu: Então não era igual ao normal?

Ele: É igual ao normal mas demorava um bocado mais a sair.

Eu: Então era igual ou não?

Ele: Aaaaaaaah! Meu, eu sei o que tás a fazer, por isso vou-te responder à informática:
normal: standby de 1 segundo -> piss
com sintomas, sem medicação: standby de 1,5-2 segundos -> piss
com sinstomas, com medicação: standby de whatever -> contrair para mijar -> piss

Eu: Pronto! Então quando eu te perguntei se antes da medicação, se o iniciar da micção era igual ao normal, a resposta seria não. Correcto?

Ele: Exacto!

Eu: Pronto! Chiça que isto foi difícil!


Ainda neste momento, ao reler a conversa, tenho dificuldade em perceber porque é que foi tão difícil.

Na minha cabeça eu estava a perguntar uma coisa extremamente simples, uma pergunta de sim ou não.
Ele estava a tentar ajudar-me, a dar-me pormenores que me clarificassem o diálogo, mas na minha cabeça esses pormenores só tornavam a coisa mais ambígua ainda.
Eu não consegui fazê-lo perceber que só queria uma resposta de sim ou não.

Não estou a dizer que ele se expressou mal, não estou a dizer que eu fui picuinhas com as perguntas, estou a dizer que este tipo de comunicação é muito difícil de fazer bem.


Agora imaginem tentar arrancar informação medicamente relevante a uma velhinha de 78 anos, meio surda e a caminhar para a demência.


Deviam definitivamente pagar-me mais.


Ps: sim, sim, tenho o consentimento informado dele para postar esta conversa online!
Read More »

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Iron Man, ou a construção de um Vilão

Há poucas coisas melhores do que um herói que se transforma num vilão

Vamos falar sobre isso.


Toda a gente adora o Underdog. Como não?
Identificamo-nos com ele, revemo-nos na sua luta e inevitavelmente torcemos por ele.

É fácil gostarmos do Herói. É para isso que ele lá está.

Um herói bem escrito pode tornar-se uma personagem verdadeiramente cativante e inspiradora, com fãs!


Mas um vilão? Um vilão serve essencialmente como antagonista do herói. Está lá muitas vezes só para motivar o conflito da história e para criar complicações ao percurso do herói.
Para isso, um vilão pode bem não ser mais do que um vilão da semana. Útil mas esquecível.

Mas quando um vilão é bem escrito, pode tornar-se ainda mais interessante e cativante do que um herói.

Eu gosto de vilões, e a Marvel tem alguns excelentes vilões.
Dois dos meus preferidos são o Wilson Fisk, que é um vilão do tipo The Chessmaster, e o Loki, que é um vilão do tipo Manipulative Bastard.



Mas o meu tipo preferido de vilão tem de ser o Fallen Hero. Sobretudo quando conhecemos a personagem enquanto ainda era um herói.

Depois de tanto investimento emocional no herói, depois de nos identificarmos com o herói, poucas coisas são mais emocionalmente intensas e cativantes do que ver esse herói transformar-se lentamente num vilão.

Poucas personagens são tão trágicas e fascinantes quanto o Darth Vader, antigo Jedi virado para o Lado Negro da Força, o Two-Face, antigo promotor público Harvey Dent, ou até Lúcifer, ex-arcanjo divino.

E é isso que a Marvel está a fazer com o Iron Man!

Estão, lentamente, a transformá-lo num vilão!

Não nos esqueçamos que para se tornar um vilão, Tony Stark tem primeiro que se transformar num herói.

Iron Man (2008)
No primeiro filme a personagem do Tony Stark é mostrada como uma criança crescida, arrogante, fanfarrona, petulante e orgulhosa.
É um vendedor de armas, um comerciante de morte! Um bilionário à custa de guerras e conflitos e morte.


Num acaso fatídico, o Tony Stark acaba por ser atacado e capturado por terroristas armados com as suas próprias armas, e um estilhaço de uma bomba produzida pela sua própria companhia aloja-se demasiado próximo do seu coração.

Para se salvar, Tony Stark usa o seu impressionante intelecto para inventar uma nova forma de energia numa caverna terrorista no meio do deserto, a partir de partes das suas próprias bombas.

Essa fonte de energia é poderosa o suficiente não só para alimentar um iman que impede que os estilhaços se afundem no seu coração, matando-o, mas também para fornecer energia a uma armadura robótica muito poderosa.
Ele depois usa essa armadura para lutar contra os terroristas e salvar-se.



Portanto, o Tony Stark é quase morto pelas armas que cria e isso motiva-o a proteger-se. Para isso transforma as suas próprias armas numa armadura que o salva.

Claro que depois ele sente-se compelido a usar a armadura para resolver problemas no mundo, o exército apercebe-se dele, o Big Bad constrói uma armadura para si, mas o Tony Stark consegue derrotá-lo.

É nesse processo de assumir responsabilidade pelo seu poder, que a personagem do Tony Stark aceita, nada relutantemente, o papel de Herói.


Iron Man 2 (2010)
No segundo filme, O Tony Stark parece estar na maior, gabando-se de ter "privatizado a paz mundial", e aproveitando tudo o que a armadura lhe traz de bom.


Mas na realidade a armadura, aquilo que ele criou a partir de ferramentas de destruição para lhe salvar a vida, está lentamente e literalmente a envenená-lo. É uma metáfora mais ou menos subtil para "o poder corrompe".


O Tony Stark transforma-se do espertalhão adorável para o fanfarrão detestável, e é ele que, pela sua própria arrogância e vaidade, causa todos os problemas.
Passa o tempo a humilhar o Justin Hammer que é o comerciante de armas mais inepto do mundo até sentir que tem de superar o Tony Stark, e é a gabarolice e auto-exposição do Tony Stark que no fim levam o Ivan Vanko a construir chicotes-laser e a tentar matar uma data de gente.



Ou seja, aquilo que o Tony Stark inicialmente criou com o intuito de proteger-se a si mesmo e aos outros está a matá-lo aos poucos e a corrompê-lo.
No fim, para se curar, tem de recorrer à figura do seu pai morto, que representava tudo o que ele detestava acerca do comércio de armas em primeiro lugar.

The Avengers (2012)
No The Avengers, num dos diálogos mais significativos do filme, o Tony Stark está a conversar com o Bruce Banner (que também tem dificuldade em lidar com a sua natureza dualística), e diz o seguinte:

Tony Stark: You know, I've got a cluster of shrapnel, trying every second to crawl its way into my heart.
[Stark points at the mini-arc reactor in his chest]
Tony Stark: This stops it. This little circle of light. It's part of me now, not just armor. It's a... terrible privilege.
Bruce Banner: But you can control it.
Tony Stark: Because I learned how.

O Tony Stark está a falar do pedaço de estilhaço, mas bem que podia estar a falar da dificuldade que tem em lidar com o poder destrutivo da arma que construiu, que ameaça constantemente penetrar o seu coração e corrompê-lo
Ele diz que a fonte de energia que construiu impede o estilhaço de o matar, e que ambos fazem parte dele. Um está a tentar matá-lo, o outro salva-lhe a vida, e ele criou ambos, e tem de manter controlo para não ser corrompido.

No fim do filme, o Tony Stark pega numa bomba nuclear e transporta-a através de um Buraco de Minhoca de onde estão a sair alienígenas. Tanto quanto ele sabe pode morrer, pode não voltar, mas mesmo assim decide que o sacrifício vale a pena para proteger os outros.


Este encontro imediato com a sua própria mortalidade, cortesia das habilidades que a armadura lhe confere, deixa Tony Stark mais uma vez inseguro e incerto.

Iron Man 3 (2013)
Durante o terceiro filme vemos que o controlo de que Tony se gabava está a enfraquecer. Vemo-lo com ansiedade e ataques de pânico. Há até um momento no qual a armadura o ataca e à Pepper Potts durante o sono, por causa dos pesadelos que o Tony está a ter.


Mais uma vez é o próprio Tony Stark a motivar os ataques do vilão, que desta vez não o afectam só a ele mas também as pessoas que lhe são queridas, e que ele não consegue proteger apesar da armadura.

A separação entre o Tony Stark e o Iron Man é acentuada neste filme. É mostrado lado a lado com a armadura, a arrastá-lá como um fardo literal e figurativo, e, no fim, a desenvencilhar-se sozinho sem ela.


No fim do filme o Tony Stark percebe que as armaduras  começam a ser uma ameaça às pessoas de quem gosta, e destrói a maior parte delas.
Decide também remover o pedaço de estilhaço no coração que ameaçava matá-lo, como se de um exorcismo se tratasse.


Portanto o Tony Stark, percebendo a influência negativa da armadura, sobretudo porque ameaça as pessoas de quem ele gosta, tenta libertar-se da sua influência, e aparentemente consegue.

Avengers: Age of Ultron (2015)
No Age of Ultron o Tony Stark é enfeitiçado e vê uma visão do futuro na qual os seus amigos e companheiros estão mortos, e acusam-no de não os ter salvo.


Para Tony isto é traumático e um momento transformador.
Uma das suas principais motivações foi sempre a sua protecção e das pessoas de quem gosta, e esta visão vai motivá-lo a recorrer de novo às armas e armadura para resolver o problema, apesar de saber da sua influência nefasta.

Tony assume esta decisão ao agarrar triunfantemente no Ceptro de Loki, que depois se descobre conter uma Infinity Gem. Em todos os filmes, até agora, os detentores das Infinity Gems são invariavelmente os vilões (Loki, Malekith e Ronan).

É significativo o pormenor que ele usa a luva do Iron Man para pegar no Ceptro.


O que vemos a seguir é, mais uma vez, o Tony Stark com a melhor das intenções a recorrer ao poder corrupto das armas/armadura para proteger toda a gente. 

"I see a suit of armour around the world" diz ele. 

O que ele inventa é um Homem de Ferro literal, sob a forma do Ultron, uma super-inteligência artificial modelada a partir da sua própria personalidade, com o objectivo de manter a paz global e proteger o planeta.


O Ultron torna-se quase imediatamente homicida, e o seu primeiro acto é matar o Jarvis. O seu segundo e último acto é tentar matar os Avengers e toda a humanidade. 

Um robot baseado na personalidade do Capitão América não teria esta compulsão homicida. O que é o facto de o Ultron ter essa compulsão homicida diz acerca do Tony Stark?

Pour esta altura, no entanto, o Tony Stark já não tem crítica acerca das suas acções, nem nunca admite que ter criado o Ultron tenha sido um erro.

"We're the mad scientists! We're monters! We gotta own it!"

Portanto temos um herói cujo poder está progressivamente a corromper as suas boas intenções e cujas acções são cada vez mais destrutivas. Em vez de criticar as suas acções, exulta-as e defende-as.

O que será que o Tony Stark vai fazer a seguir, com as melhores intenções? 


Claro que a personagem do Tony Stark não é ainda um vilão, e é improvável que se venha a tornar um Big Bad de capa preta, a cofiar o bigode e atar donzelas a carris de comboio. 

Mas provavelmente vai ser um antagonista importante com características de vilão. O mais certo é que no fim do Infinity Wars o Tony Stark vá morrer ao sacrificar-se pelos seus amigos, redimindo-se da sua vilanice e completando o círculo da sua narrativa. 

Para mim o mais fascinante é mesmo o facto de que a construção desta personagem já dura há 5 filmes e provavelmente vai continuar até ao fim da Fase 3. Não é de todo comum vermos tanto investimento cinematográfico no crescimento e desenvolvimento de uma única personagem.

De qualquer forma as expectativas são grandes para o Captain America: Civil War, onde provavelmente vamos ver se eu tenho razão ou não.


Read More »