Foi uma das coisas que aprendemos a fazer bem, foi o açúcar. Fazemos açúcar com mestria e requinte. Poucas coisas na nossa sociedade evoluíram tanto como a comida.
Quando éramos todos macacos nas árvores, os macacos que comiam alimentos com mais calorias, conseguiam ter mais energia para procriar mais. Ou seja, a procura de alimentos com muitas calorias era uma vantagem evolutiva.
E como é que se escolhe, de entre todos os frutos da floresta, quais são os mais calóricos? Geralmente são aqueles que têm mais glucose e ácidos gordos, porque essas moléculas são as que produzem mais calorias quando digeridas.
Mas agora qual é uma boa maneira de escolher quais é que têm mais açúcar? Olha, vamos transformar as células especializadas da língua para detectarem moléculas de açúcar e gordura nos alimentos, e dizer ao cérebro "ISTO É BOM! COME MAIS!!!"
As nossas papilas gustativas são sensores de densidade calórica. Quando há muitas calorias acendem-se alarmes químicos que nos dizem para comer mais daquilo.
Portanto é normal que gostemos tanto de açúcar.
Na savana africana não se vivia lá muito bem. Havia pouca comida, pouca água e poucos lugares para uma pessoa se esconder dos tigres dentes de sabre. Os primeiros humanídeos passaram um mau bocado nessa altura.
Na savana africana não se vivia lá muito bem. Havia pouca comida, pouca água e poucos lugares para uma pessoa se esconder dos tigres dentes de sabre. Os primeiros humanídeos passaram um mau bocado nessa altura.
Isolados da floresta tropical tiveram de reaprender a sobreviver na savana. Não haviam ramos ou árvores, então tiveram de aprender a andar e a correr com a cabeça por cima das ervas para ver predadores.
Na savana as frutas e bagas são raras e espinhosas, as ervas altas e fibrosas dominam planícies como ervas daninhas que só os grandes ruminantes conseguem digerir.
Então os humanídeos, nada se não adaptáveis, viraram-se para a única outra coisa que podem comer: carne. A carne é rica em proteínas e gorduras, tem muitas calorias.
O problema é que a carne por aqueles lados tem dentes, e cornos e corre muito depressa.
Mais vale deixar outros apanhá-la primeiro. Então os humanideos tornaram-se necrófagos. A comer os restos dos animais que os predadores já não queriam.
Mas estavam no fundo da cadeia alimentar. Comiam o que os leões tinha deixado, depois das hienas lá têm ido e dos abutres terem ido bicar os restos. Já não restava muito. Cadáveres com uma semana.
O que restava era o que os outros animais não tinham conseguido tirar. Aquilo que estava preso dentro dos ossos que eles não conseguiam partir. A medula óssea.
Altamente calórica, extremamente nutritiva, cheia de gordura e vitaminas. Um tesouro fechado dentro dos ossos.
Os humanídeos, que aproveitaram o facto de já saberem andar sobre duas pernas para usar as mãos, começaram a usar ferramentas para partir os ossos. Começaram a evoluir para aprender a usar e criar ferramentas.
Ora isto necessita de um cérebro maior que necessita de mais energia. Que por sorte já lá estava na medula muito calórica que eles estavam a comer!
Estes proto-seres-humanos tiveram sucesso evolutivo devido a uma relação benéfica entre usar ferramentas para obter uma fonte de calorias que permite mais cérebro para aprender a melhor essas ferramentas.
A comida levou à tecnologia que influenciou a biologia a favorecer a tecnologia.
Atalhando, a determinada altura decidimos que não queremos andar sempre a depender de fontes de comida inconstantes e começamos a plantar coisas. Ficamos no mesmo lugar, deixamos de ser nómadas, plantamos coisas e começamos a empilhar calhaus.
O problema das plantinhas, sobretudo aquelas que plantávamos, era que tinham pouca densidade calórica.
Comíamos nabos. Provavelmente os nabos até teriam sido considerados uma iguaria, mas neste momento é o pior que consigo imaginar. Isso ou inhames.
Gerações e gerações de civilizações agrícolas cuja principal fonte nutritiva eram os nabos e as couves.
Mas da mesma forma como nas savanas africanas a fome impeliu humanídeos a usarem as mãos para criar ferramentas para melhorar a qualidade das calorias que ingeríamos, também nas sociedades agrícolas a tecnologia foi parcialmente motivada pela comida.
Começámos a concentrar essas calorias. A refinar os hidratos de carbono e as gorduras que comíamos. Pão, cerveja, queijo. Maneiras de transformar os recursos alimentares brutos em formas mais transportáveis e sobretudo saborosas! Porque gostamos de açúcar! Porque é bom porque tem muitas calorias que dão uma vantagem evolutiva!
Mais um argumento para ilustrar como viemos de tubos gananciosos na sopa primordial. Como disseste, o sistema nervoso central serve apenas para direccionar o tubo na direcção das bolachas de chocolate.
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Ainda vou escrever esse texto dos tubos com dentes!
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