Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 27 de setembro de 2016

Quem vê Caras

Porque é que temos cara? Porque é que os presidente são bonitos? O que fazer para fugir ao Big Brother?

Vamos falar sobre isso!


Todos os dias estamos rodeados por pessoas, olhamos para elas, olhamos para as suas caras, mas para além dos mínimos essenciais para a comunicação, não olhamos realmente para elas.

Da próxima vez que estiverem com alguém que conhecem bem (os vossos pais, os vossos irmãos ou irmãs, namorados ou namoradas) olhem para as caras dessas pessoas como se fosse a primeira vez que a vêem. Reparem na forma do nariz, no arco das sobrancelhas. Desconstruam a cara.

É estranho.

Cria uma sensação de jamais-vu muito desconfortável.


Porque é que sequer temos caras?

As plantas não têm caras e safam-se bem. As esponjas, que não se esqueçam que são animais, também não têm caras e são dos animais que sobrevivem inalterados há mais tempo.

Então porque é que temos caras?

Basicamente porque a determinada altura os animais conseguiram dar o grande passo em frente de ter uma boca e um rabo que não fossem a mesma coisa.

Lembram-se quando falei das alforrecas e expliquei que o único simples orifício por onde entrava a comida era também o mesmo orifício por onde saíam os dejectos? Foi um grande avanço evolutivo ter dois buracos separados para comer e para cagar.


Se somos essencialmente tubos com dentes, com um buraco por onde entra comida, então faz sentido pôr os orgãos dos sentidos perto desse buraco por onde entra comida.

E se os orgãos dos sentidos estão lá, então mais vale pôr o cérebro lá perto para a informação dos sentidos não ter de viajar muito.

Depois o facto de sermos mamíferos e termos de mamar deu-nos músculos faciais fortes e ágeis que permitem uma enorme variedade de expressões faciais.

As principais zonas do cérebro responsáveis por reconhecer caras são a Área Facial Fusiforme, a Área Facial Occipital e o Sulco Temporal Superior.

Área Facial Fusiforme

São estas zonas as responsáveis pela Pareidolia, aquele fenómeno que nos faz ver caras nas nuvens, nas carpetes e nas torradas.


Quando há lesões nestas zonas, ocorre uma condição chamada Prosopagnosia, que é a incapacidade de reconhecer caras.

Crianças com Prosopagnosia frequentemente confundem membros da família, preferem desenhos animados porque as personagens vestem sempre as mesmas coisas, e têm dificuldade em reconhecer pessoas conhecidas em contextos diferentes (a professora na mercearia).

Crianças com doenças do espectro do Autismo também frequentemente têm dificuldade em reconhecer caras ou expressões faciais.

Pessoas famosas com Prosopagnosia são o Stephen Wozniak (co-fundador da Apple) o Stephen Fry (comediante) e a Jane Goodal (a que estudava macacos).


Por sua vez, a diminuição da expressividade facial é um sintoma típico de várias doenças.

Não só várias lesões directas ao Sistema Nervoso Central podem provocar vários tipos de paralisia facial, mas também doenças neurodegenerativas como o Parkinson levam a redução da expressividade.


Uma expressividade facial diminuída também está frequentemente presente em doenças do espectro do Autismo, na Esquizofrenia e na Psicopatia.


A expressividade facial é dos aspectos mais importantes na comunicação não-verbal humana. O contacto visual e micro-expressões conduzem imensa informação acerca das intenções, emoções e até mesmo o sentido daquilo que está a ser dito verbalmente.


Mais interessante ainda do que isso, bébés de 2-3 e 6-8 meses já demonstram um interesse inato por caras atraentes, demonstrando que os nossos padrões de beleza e atractividade são pelo menos em parte determinados evolutivamente.


A atractividade facial pode ser medida, e determinou-se que as características consideradas mais atraentes nas caras femininas são a simetria, lábios cheios, uma testa alta, cara larga, nariz pequeno, queixo pequeno, mandíbula estreita e recta, maçãs do rosto elevadas e olhos grandes ligeiramente afastados. 
Para os homens as características consideradas mais atraentes são a simetria, uma testa larga, parte inferior da cara relativamente mais longa, sobrancelhas e queixo proeminente, mandíbula forte e maçãs do rosto bem definidas.



Isto da atractividade não é só importante para nos ajudar a escolher com quem é que vamos fazer os bébés mais saudáveis.

Sistematicamente votamos nos líderes com as mesmas características faciais. Mandíbulas grandes, sobrancelhas e maçãs de rosto pronunciadas e testas altas são prevalentes em líderes eleitos.

Isto provavelmente terá mais uma vez a ver com robustez e saúde física. Em distritos com maior incidência de doença, os candidatos atraentes tinham o dobro da probabilidade de ganhar do que os candidatos menos atraentres.

Só como exemplo, o último presidente americano careca foi Dwight D. Eisenhower. Depois dele, e começando com o debate entre Nixon e Kennedy, todos os principais debates presidenciais foram filmados para a televisão, e desde então não houve mais nenhum presidente careca.



A tecnologia de reconhecimento facial tem evoluído imenso, e usa exactamente estas características faciais de que temos falado.

As distâncias entre os dois olhos, entre os olhos e o nariz, o comprimento do nariz, a relação do nariz com a boca, e outras características podem ser medidas automaticamente por software programado para o fazer, e depois comparadas a uma base de dados biométricos, possibilitando o reconhecimento automático e eficaz de caras.

Esta tecnologia têm evoluído imenso nos últimos anos e actualmente já são usadas técnicas de reconhecimento tridimensional (não é afectado por diferenças de luz nem pelo ângulo em que a cara é vista) e reconhecimento térmico (ignora óculos ou outros adereços)



Já usaram filtros do Snapchat, certo? Claro que sim. Aqueles que vos põem a parecer um cãozinho ou a chorar, ou o que seja. Horas e horas de divertimento.

O que o programa faz é essencialmente mapear a vossa cara e depois sobre esse mapa aplicar os filtros pré-definidos.


Então e aquela teoria de conspiração, de acordo com a qual o Snapchat estaria na realidade a criar uma base de dados gigantesca de caras de gente de todo o mundo (criminosos ou não) que depois pode vender ou dar a quem quiser que esteja interessado em seguir pessoas?

Uma boa maneira de escapar ao software de reconhecimento de caras é usar tatuagens, que interferem com o processo.

Até já existem tipos de tatuagens específicos foram desenhados para disromper o mais possível os programas de reconhecimento facial.

Futuro cyberpunk distópico, aqui vamos nós!






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