Pataniscas Satânicas

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quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Maternidades da eternidade - Os Pilares da Criação

''And now wonder, Angels, the Infinite has become an infant;
He, upon whose shoulders the universe doth hang,
Hangs at his mothers breast;
He who created all things,
And bears the pillars of creation.''

- Spurgeon, acerca do nascimento de Cristo -


Uma criança de 4 anos pergunta: ''De onde vêm as estrelas?''


E nós não sabemos mais do que balbuciar alguma coisa sobre nuvens de hidrogénio (''o que é o hidrogénio?'), que colapsam sobre si próprias... ah... ''apertam-se'' com ''muita força'', por causa da força da gravidade, até começarem a arder...

Ah... responde a criança. ''E porque é que isso acontece...?''

''Porque há nuvens muito grandes de hidrogénio no espaço. e elas atraem-se pela força da gravidade. A mesma força que nos puxa a todos para o chão.''

''E porque é que há essas nuvens?''

''Porque há muitos, muitos anos, houve uma grande explosão que espalhou essas nuvens por todos o lado. Chamou-se o Big Bangue.''

''Ahhhh... E porque é que houve o Big Bangue?''

''Ninguém sabe....''

''E porque é que ninguém sabe...?''


Sempre gostei da explicação das nuvens moleculares gigantes de hidrogénio e do colapso gravitacional. Nuvens moleculares neste caso significa nuvens que contêm principalmente H2 - 2 átomos de hidrogénio juntos - moléculas de Hidrogénio.


Mas o que é que inicia o processo? O que é que dá o ''empurrão''? O que é que faz com que a estrela se forme hoje e não daqui a 50 milhões de anos?

Ninguém sabe bem... Mas é consensual que alguma coisa tem que agitar e fragmentar as nuvens moleculares gigantes para o colapso gravitacional começar. Com frequência é uma onda de choque, ou grandes alterações na gravidade local.

Ondas de choque que agitam nuvens moleculares gigantes.... Que raio quer isso dizer? Há várias possibilidades, uma sendo as ondas de choque das supernovas (morte e explosão de uma estrela), ou o que os astrónomos chamam ondas de densidade. As ondas de densidade (density waves) fazem parte de uma teoria que tenta explicar porque é que as galáxias têm a forma que têm.

Outra opção são alterações gravitacionais fora do normal. Como quando duas galáxias colidem uma com a outra.


Sim, as galáxias colidem umas com as outras. A nossa galáxia - a Via Láctea - vai colidir com a galáxia de Andrómeda.... daqui a 4 biliões de anos.  Este GIF é uma simulação (mesmo muito acelerada) do que será essa colisão. A matéria que compõe ambas as galáxias será sujeita a fortes alterações gravitacionais.

Essas forças são sem dúvida um forte ''empurrão'' nas nuvens moleculares gigantes que gostam de formar estrelas. As ondas de choque e alterações gravitacionais atingem as nuvens moleculares fora do seu ''centro de massa''. E isso faz com que as coisas comecem a girar.

Isto é fácil de visualizar com um garrafa. Quando atingimos a garrafa fora do seu ''centro de massa'' (no gargalo por exemplo), essa garrafa vai começar a girar sobre si própria.


À medida que as coisas giram mais depressa, ficam mais achatadas. Este fenómeno é observável na própria terra. Os polos terrestres são mais achatados do que o resto do planeta, devido à sua rotação.
Genericamente, tudo o que roda sobre si mesmo, fica mais achatado.


Isto acontece com as nuvens moleculares gigantes e com a pizza, e elas formam ''discos protoplanetários'', ou especiais de pepperoni.


Conseguimos identificar nuvens moleculares gigantes na famosa Nebulosa da Águia.


Durante as observações da nebulosa da águia, os astrónomos que operam o Hubble Space Telescope seleccionaram uma região e tiraram/sobrepuseram 32 fotografias, para criar uma das mais icónicas imagens do espaço (se olharem com atenção, corresponde ao centro da imagem acima).

Trata-se de uma nuvem molecular gigante, com uma organização típica em colunas massivas de gás e poeira, colunas que os astrónomos classificam como ''trombas de elefante''.

A fotografia destas ''trombas de elefante'' específicas, ficou conhecida como os pilares da criação.


O nome pilares da criação foi escolhido porque se reconhece como sendo um local de formação intensa de estrelas, de criação sistemas solares.

Isto significa que a nebulosa da águia tem trombas de elefante com 4 anos luz de altura, uma formações que suportam o nascimento intenso de estrelas e novos sistemas solares.

Aposto que se se soubesse que iriam ser descobertas trombas de elefante na nebulosa da águia, tinham-lhe chamado a nebulosa da tartaruga.


No mundo ficcional criado por Terry Pratchett, a grande tartaruga A'Tuin carrega o Discworld, estabilizado por 4 elefantes, que neste caso poderiam ser comparados literalmente, a ''pilares da criação''.

Para onde A'Tuin se dirige, ninguém sabe. Os teóricos do Discworld acreditam que viaja do ''birthplace'', para o ''time of mating'', quando vai acasalar com outras grandes tartarugas. Desta união vão nascer novas tartarugas com discos às costas, uma nova geração de mundos.

Terry Pratchett faleceu em 2015, escrevia com humor sem tabus e gostava de incluir gatos que matam vampiros nas suas histórias. Greebo era um gato de temperamento maléfico, que a sua dona Nanny Ogg garantia ser o mais inofensivo dos bichanos.


A verdade é que a ideia de que o mundo está em cima de uma tartaruga que viaja pelo universo é muito antiga.

Uma história (possivelmente apócrifa circa séculos 18 - 19), descreve uma senhora de idade que assistia atentamente a uma palestra científica de Bertrand Russell, um cientista conceituado, sobre o nosso Sistema Solar e a Via Láctea.

No fim da palestra, a senhora levantou-se e pediu respeitosamente a palavra: ''Isso que nos disse são tudo tretas e histórias para adormecer crianças. Na realidade, o mundo é como um prato raso, que está às costas de uma tartaruga gigante!''

O cientista não desarmou, e perguntou de maneira um pouco condescendente: ''Muito bem. Mas então a tartaruga está em cima do quê?''

Ao que a senhora retorquiu sem pestanejar: ''Você é muito arguto, jovem, muito inteligente....

Mas é tartarugas até lá abaixo!''


A tartaruga que suporta o mundo é um mitema, uma partícula irredutível de uma mito, que emerge de uma maneira ou de outra na mitologia indiana, nativo americana e chinesa.

Em 1622 na América do Norte, uma criança de 4 anos, jovem membro de uma das tribos dos Índios Iroquois pergunta ao pai, ''De onde vêm as estrelas?''.

E o pai, responde-lhe: ''Há muitos anos, o povo do céu vivia numa ilha que voava por cima das nuvens. Um dia, o chefe do povo do céu chamou todos os seus habitantes para uma reunião muito grande debaixo da árvore da luz.''

E a criança volta: ''E porque é que ele chamou toda a gente?''

''Porque estava na altura de criar uma nova terra, onde outras pessoas pudessem viver. O chefe do povo do céu mandou arrancar a árvore da luz, e todos ouviram o barulho da água e das nuvens lá em baixo, pelo buraco...''

''E depois?''

''Depois, o chefe enviou Ata-En-Sic, uma mulher grávida pelo buraco que a árvore deixou. Os animais viram Ata-En-Sic cair na água, ficaram muito assustados e foram ajudá-la.


O Castor disse ao Pato: ''Onde é que a vamos deixar descansar?'' O Rato foi buscar terra ao fundo do mar, e espalhou-a nas costas da Tartaruga, para Ata-En-Sic poder ter um sítio para viver e ter os seus filhos.''

''E depois, e depois???''

''Depois, Ata-En-Sic atirou poeira ao ar, muito alto, e fez as estrelas. Depois fez o sol e a lua, para os filhos dela encontrarem sempre o caminho para casa durante o dia e a noite.''


''Ahhhh.... e porquê que ela fez isso?''

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Os pilares da criação estão a uma distância de 7000 anos luz, e aparentemente já não existem.

Há indícios que foram desestruturados há 6000 anos pela onda de choque produzida por uma supernova. Conseguimos ver indícios disso pelo telescópio espacial que vê radiação infravermelha - o Spitzer - e estima a temperatura das diferentes partes da nebulosa da águia.

Neste momento, é visível a luz que os pilares emitiram há 7000 anos. A onda de choque produzida pela supernova viaja mais lentamente do que a luz, e por isso só daqui a 1000 anos vamos ver o seu efeito sobre os pilares da criação.

A notícia de que os pilares da criação já não existem foi recebida nos meios de comunicação social como sendo desanimadora.

Mas é tudo menos isso! Como vimos, as supernovas desempenham um papel fundamental no processo de formação de novas estrelas.

A onda de choque vai fragmentar a matéria que constitui os pilares, e atingi-la ''fora do seu centro de massa''. Isto vai fazer com que comece a girar sobre si própria, à medida que colapsa e fica achatada.

Até começar a brilhar.

A supernova não é mais do que um empurrão no nascimento de novas estrelas.

Porque nada é eterno, e o universo é uma maternidade onde trombas de elefante são os pilares que suportam as estrelas recém nascidas.

2 comentários:

  1. Se bem que haja termos e conceitos que não entendemos bem,conseguimos perceber que é um texto excelente.

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  2. O aparentemente nada, vazio, oco, espaço, eterno, infinito cósmico, inexplicável, para além da compreensão humana, mistura-se aqui com a antropologia, a astronomia, a mitologia, a poesia, a história, a natividade, o crescimento, o desenvolvimento, a morte, a fabulização e, ainda as emoções do desconhecido silencioso, colorido, esmagador e, simultaneamente atraente e apelativo.
    Integra a história da humanidade no seu frenesim interactivo na compreensão e aceitação das suas vulnerabilidades, instinto de sobrevivência e valores.

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