Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Melhores de 2015 - Artigos do Ricardo

O que é que eu escrevi que vale a pena relembrar no fim do ano? Pouca coisa...
Vamos lá espremer isto bem!

Escrevi várias Coisas sobre Astronomia. Mas mais concretamente, sobre temas astronómicos abstractos que incluem montes de matemática. Como ninguém gosta de matemática, escolhi ignorar isso tudo e descrever a minha percepção das conclusões a que a astronomia moderna chegou. Não confiem muito nisto. Basta saber que é baseado em vídeos do youtube e artigos da wikipédia!

Fiz isso nos posts sobre a singularidade dos buracos negros e no post sobre o Big Bang, mas também foram incluídas discussões sobre objectos celestes como as estrelas mais próximas de nós, que deram o nome ao padrinho do Harry Potter, e das jóias astronómicas que são as Nebulosas Planetárias.


Como não podia deixar de ser, escrevi Coisas sobre Medicina, apesar de ser um tema que tento evitar, porque astronomia dá para usar imagens mais bonitas! Aqui está uma história parva que inventei (que inventei... certo...), e uns parágrafos de bílis a propósito do saudoso ex ministro da saúde. Terminei o ano com uma coisa sobre estigma nas doenças mentais.


Também gosto de escrever coisas aleatórias que me passam pela cabeça. Dizem-me que fica bem chamar a isso ''Escrita Criativa'', porque 'coisas aleatórias que me passam pela cabeça', não tem o mesmo impacto...
São os textos que não dá para perceber o tema logo ao princípio, e é preciso ler mais para entender que raio é que eu estou práli a inventar. Quais é que gostei mais? Bem, temos um que tenta humanizar uma personagem de um jogo de video daqueles de tiros (first person shooters), e um sobre um velhote que está lentamente a ensandecer enquanto chateia a mulher.


Depois acho que tenho que dividir os posts sobre Coisas da Actualidade a sério, como o post do famoso 'Grexit' ou dos Casamentos Homossexuais, e os que foram pura parvoíce, como o da silly season diagonal, ou ou o dos Vieses eleitorais - a quente, depois das polémicas legislativas de 2015.


Finalmente, temos as ''Coisas em que eu me armo em Engraçadinho'', que podem não ter piada nenhuma, mas que me dão gozo escrever! Dentro do humor observacional, escrevi um texto sobre temas tão ecléticos como ''Tatuagens e Gonorreia existencial'', e fiz um video do youtube, onde tento aglutinar ''Ginásios e a linha de Sintra''.

Temas soltos que acho que tenham valido a pena?

Manhãs ascetas e noite de prazer - Um texto em que defendo que não somos bem escravos dos nossos neurotransmissores, tanto como somos os nossos os nossos neurotransmissores. A metafísica da dialética e tal... Isto além das virtudes de deitar cedo e cedo erguer!!!

A ciência do toque da morte - Onde se discute a ciência do ''five point heart exploding technique'', aperfeiçoado pela Uma Thurman no Kill Bill.


Cat Tax - um texto e um gato!!!


FELIZ 2016!

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domingo, 27 de dezembro de 2015

Melhores de 2015 - Artigos do Gui

Estamos quase no fim do ano, e vocês sabem o que é que isso significa! Listas de melhores do ano!

Toda a gente gosta de listas, e são tão fáceis de escrever que até parece batota! Portanto acompanhem-me numa digressão onanística pelas melhores coisas que eu escrevi este ano!


Bolas, Tubos e Memes
Se lêem este blog com alguma frequência, já repararam de certeza que eu gosto imenso de explorar ideias e conceitos em várias escalas. Diverte-me muito pegar num conceito e ver de que maneira ele existe ou se manifesta desde o muito pequenino ao muito grande.

Faço isso muito literalmente com o Bolas, no qual pego num berlinde como referência para ir saltando entre átomos, bactérias, planetas e galáxias e mostrando realmente quão pequeninos ou grandes eles são.

No Tubos, faço mais ou menos a mesma coisa, só que em vez de berlindes e galáxias são tubos e animais.
Mesmo quando fazia a investigação para este artigo, fiquei fascinado com a forma como, desde o seu início mais primordial há 710 milhões de anos, com a humilde esponja, a estrutura morfológica básica dos animais não se modificou assim tanto como poderíamos pensar.

Faço a mesma coisa, de pegar num conceito em várias escalas, com o meu texto sobre Memes. Só que nesse o que faço é mostrar como qualquer sistema de informação, sejam genes, programas de computador, ou até a linguagem humana, é susceptível de ser infectado por pequenos pedaços de código auto-replicante.
Achei particularmente fascinante a ideia de que os memes, que eu pensava que eram só modas na internet, podem ter manifestações muito maiores, como as histerias de massas do séc XVI, ou até como doenças somáticas, observáveis.


Coisas Médicas e de Consultas
Por mais que me esforce, não consigo evitar que o trabalho acabe por se infiltrar nas coisas que escrevo. Para além disso há toda uma multidão de médicos que se queixam das mesmas coisas que eu, e são um excelente público para aumentar as views do blog, portanto também há isso.

Com o Destruir do Serviço Nacional de Saúde Para Tótós, explico em 6 passos simples como desmantelar a saúde em Portugal e vendê-la às empresas dos amigos.
Este exercício em cinismo e sarcasmo foi seguido em pouco tempo pelo Porque é que os Profissionais de Saúde devem usar os telemóveis pessoais no local de trabalho, escrito numa tarde em que estava particularmente irritado por já não poder ligar à Dona Clotilde para saber como estavam as suas cruzes.

No artigo Ontem fiz uma Consulta, vêem uma coisa que é rara: eu a ser honesto.
Este artigo que descreve uma consulta real que dei um dia, foi escrito de uma assentada só, sem revisões ou muitas edições, e que mexeu comigo de uma forma que não me deixou a sentir-me bem.


A Realidade Está Mal Escrita
Eu sou viciado em narrativas, e no Reality is Just Bad Writing, passo um grande bocado a explicar de que forma a narrativa é ainda mais importante do que possamos pensar..
Passando por religiões e mitos, descrições matemáticas do caos e do clima, a Capela Sistina, e heróis de banda-desenhada, mostro de que maneira a narrativa foi instrumental não só em estruturar a nossa consciência, mas foi também a base de grande parte da nossa civilização.


Assassinos de Massas e Aquecimento de Estufa
Gosto particularmente do Gengis Khan e os Amigos da Natureza, porque não só mistura várias das minhas coisas preferidas (extinções de massa, os mongóis, e teoria de aquecimento global), mas porque introduzo esta ideia bizarra de que uma só pessoa, o Gengis Khan, possa ter tido um impacto POSITIVO no ambiente e na redução do aquecimento global.
Também me deu a oportunidade de meter a cara do Gengis Khan no corpo do Capitão Planeta.


A Existência da Alma
No artigo intitulado simplesmente "42" começo por fazer uma afirmação audaz que é a de que temos uma alma.
Depois ando a deambular por conceitos como informação, neurónios, consciência, e átomos para chegar a uma das ideias mais poderosas de sempre, que é a de que somos o Universo a experienciar-se a si mesmo.
Este é um dos artigos de que mais me orgulho, um dos que me saiu com mais facilidade (foi escrito de uma só vez, de seguida, quase sem edição), e um dos que me deu mais gozo a escrever.
O título "42" é uma referência à resposta ao sentido da vida, do universo e de tudo o resto, de Douglas Adams.


Sobre Heróis e Vilões
Adoro o que a Marvel está a fazer com o seu Universo Cinematográfico, e adoro análises narrativas, portanto estes artigos eram inevitáveis.
Apesar de ter escrito várias coisas sobre os filmes e os heróis da Marvel ao longo dos tempos, acho que estes são os dois melhores artigos sobre o assunto que já escrevi até agora.
Com A Construção de um Herói e A Construção de um Vilão, analiso de que forma a Marvel desenvolve duas personagens desde o seu início razoavelmente neutro até dois extremos diametralmente opostos (o Herói e o Vilão) de uma forma orgânica e quase despercebida por detrás de toda a acção e explosões.


Porque é que há uma crise? Por causa do Papão!
No início deste ano comecei a ouvir os podcasts Hardcore History do Dan Carlin, e estes artigos foram inspirados em coisas que eu aprendi lá.
Quando comecei a escrever sobre como a crise sócio económica actual podia ser explicada recorrendo a ideologias históricas e a tropes, pensava que isso podia ser feito num único artigo.
Obviamente que o texto foi crescendo e crescendo e eu vi-me obrigado a dividi-lo em dois, e depois em três partes.
No fim, o Papão vem do Norte Parte I, Parte II e Parte III resulta numa explicação histórica, narrativa, divertida e sobretudo simplista dos problemas económicos que definem o nosso presente.


As Aventuras Malucas de Rasputin
Também inspirados nos podcasts do Hardcore History, especificamente a série Blueprint for Armageddon sobre a Primeira Guerra Mundial, são estes artigos sobre o Rasputin.
No meio de toda a riqueza de informação e conhecimento sobre a Grande Guerra, o Dan Carlin fala um bocadinho sobre a influência do Rasputin na monarquia russa. , e conjectura sobre várias teorias que explicam porque é que ele ganhou a influência que ganhou.
Quando comecei a pesquisar mais acerca de Rasputin, e porque é que ele teria ganho tanta influência com os Tzares, passei umas boas 3 semanas obcecado com o assunto, e daí saíram O Monge Louco Parte I e O Monge Louco Parte II.


Tudo o que somos
Por falar em obsessões e em perder-me a pesquisar em tocas de coelho, houve aqueles dois MESES em que eu só conseguia ler e pensar sobre a Consciência Humana.
Eu originalmente ia escrever sobre Inteligência Artificial, mas quando comecei a pesquisar acerca do assunto, comecei a perceber que para compreender e explicar a Inteligência Artificial tinha primeiro de compreender a Inteligência Humana. Depois percebi que o interesse da questão não era realmente a Inteligência (que é só uma ferramenta), mas sim a Consciência ela própria.
Acho que nunca li tanto sobre um assunto, nem investiguei tantas fontes diferentes, durante tanto tempo. Mas o resultado final, O que é a Consciência Parte I, Parte II e Parte III, são provavelmente das melhores e mais complexas coisas que eu já escrevi em termos de exploração de conceitos científicos



Espero que tenham gostado de ler estes artigos tanto quanto eu me diverti a escrevê-los, porque podem ter a certeza que não o faço por mais motivo nenhum.

Feliz Natal!

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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Io, Saturnalia!

O burburinho de pessoas bem-dispostas.



O grande templo de Saturno está cheio de cidadãos até às portas. As colunas do templo estão decoradas com ramos verdejantes e símbolos dourados do Sol Invictus.

Ao centro, um sacerdote de Saturno sacrifica o grande touro em honra do Deus da Agricultura e da Abundância. As pessoas que apinham o templo parecem não conseguir conter o riso perante a visão da careca do sacerdote, com apenas alguns cabelos desgrenhados.
O próprio sacerdote não se parece importar. A cor das suas bochecas e o facto de já se ter enganado três vezes nos rituais indicam que terá começado as celebrações mais cedo do que toda a gente.


Aléria sai do templo no fim do ritual sagrado.
Agradece a Saturno a sua boa fortuna de ter sido trazida para a grande cidade romana, e não enviada para os campos, onde seria sujeita ao trabalho árduo da agricultura.

Por todo o lado, nas ruas da cidade, grupos de homens e, surpreendentemente, mulheres, passeiam de barraca em barraca, bebendo vinho quente, rindo de forma livre e gritando "Io Saturnalia!" uns aos outros.
Até as suas togas brancas e austeras foram substituídas pelos synthesis, roupas garridamente coloridas, guardadas para épocas de celebração.



Aléria passa em frente ao Senado, de onde ouve vozes masculinas a cantarem desafinadamente em coro. O cheiro de vários javalis assados atravessa as portas, e por esta altura os Senadores já estarão no seu quinto ou sexto brinde ao Deus Saturno, cuja estátua certamente está sentada entre eles.

"Io Saturnalia!" grita um grupo de nobres romanos ao passarem por Aléria.

Aléria tem um breve momento de pânico, e só consegue responder "Io Saturnalia" já depois dos nobres terem passado.
Não está habituada a que os nobres reparem nela, sendo uma escrava.
Mas hoje, nesta noite do ano, Aléria tem direito a usar o pilleus, o chapéu cónico usado pelos cidadãos livres.
Todos as pessoas usam o pilleus, e Aléria sente um entusiasmo quase assustador por poder andar na rua como uma mulher livre, indistinguível de qualquer outro cidadão.



Todo o dia foi um de festa. As escolas fecharam, os tribunais não trabalharam. Por uma vez não foi declarada guerra a ninguém. Aléria pensa, não pela primeira vez, que os romanos são excelentes a construir banhos públicos e aquedutos e estradas, mas não conseguem passar mais do que 10 minutos sem declararem guerra a alguém.

Aléria aproxima-se da casa do seu Mestre. A árvore no pátio interior está decorada com fitas púrpura, e um sol dourado está pendurado no topo. As crianças rodeiam a árvore, excitadas, à procura de moedas penduradas nos ramos.

Os outros escravos já estão sentados à grande mesa, lado a lado com a família do mestre. Aquila, a esposa do Mestre, serve a comida alegremente a todos, membros da família e escravos de igual forma.
O grande salão está iluminado por centenas de velas, criando um ambiente etéreo. Coroas de folhas verdes estão penduradas sobre todas as janelas e portas. O riso das crianças mistura-se com as gargalhadas fartas dos adultos, aquecidas pelo vinho.


Aléria come um pouco do porco assado, frutos secos e queijos. No fim da refeição deleita-se com biscoitos de especiarias, e repara no seu Mestre embrulhado num casaco de peles, sentado sozinho a uma mesa, a observar a sua família com um sorriso.

"Ah, Aléria..." diz o homem idoso e rotundo, com o nariz vermelho e um cálice de vinho na mão "Não te juntas a mim?" convida ele, apontando para os dados em cima da mesa.

Aléria aproxima-se da sua mesa, e senta-se ao seu lado, como igual.

"Na minha juventude livrei-me de muitos turnos de guarda durante a noite, jogando aos dados com os meus camaradas no exército" diz ele, rolando os dados sobre a mesa, e bebendo mais um gole de vinho.

"Sim, Mestre Ignatius" responde Aléria, com os olhos baixos.

"Qual 'mestre'? Não hoje, Aléria, hoje sou só Ignatius!" ri ele "Não queremos ofender os deuses, pois não? Vá, rapariga, relaxa!"

"Sim... Ignatius" diz Aléria hesitando.

"Vá, vá, faz a vontade a um velho, e joga comigo, heheh"


As crianças, cada vez mais excitadas, começam a trocar prendas entre si. Até os adultos, nobres e escravos, trocam pequenas estatuetas de barro, pentes, chapéus, perfumes, cachimbos entre si.

"Aléria, não andaste a praticar às escondidas, pois não?" pergunta Ignatius maliciosamente.

"Sorte de principiante, suponho" responde ela, com um sorriso furtivo.

"Aposto que sim, hehe" Ignatius vasculha no seu grande casaco de peles "Aléria, isto é para ti" entregando-lhe uma pequena caixa de madeira esculpida, com um fecho em bronze "Para guardares os teus ganhos aos dados".

"Mestre Ignatius, não tinha de -" começa Aléria.

"Se insistes em me chamares Mestre hoje, então tenho de insistir em que aceites a minha prenda sem queixumes! É uma ordem"

"Bem... também tenho aqui uma coisa para si..."

"Oh?"

Aléria tira de dentro das suas vestes um pequeno objecto, que lhe entrega às escondidas.

Ignatius pega no pequeno objecto e examina-o. Trata-se de um pequeno pénis erecto, forjado em latão.



"Aléria!?"

"Para lhe dar sorte!" responde Aléria com um sorriso, e olha na direcção de Aquila.

Ignatius segue o seu olhar, vê Aquila à distância, a tentar acalmar as crianças. Aquila repara nele, e sorri-lhe também à distância.
Ignatius parece não saber se há-de parecer chocado, ou embaraçado.

"Io Saturnalia, Aléria!"

"Io Saturnalia, Ignatius."
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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Top 5 de filmes de 2015

Toda a gente gosta de listas, e nós precisamos de conteúdo fácil de criar porque também merecemos umas férias. Vejam agora os filmes de que eu mais gostei este ano.

Houve vários que eu não vi, como o Bridge of Spies, que supostamente é também muito bom, e portanto não entram nesta lista..

Estes representam só os que eu gostei mais, dos que vi.

5- Mad Max: Fury Road
George Miller volta a pegar no mundo que criou em 1979 com o original Mad Max, e agora, finalmente, com dinheiro e recursos, completa a sua visão.
Fica-se com a impressão que Mad Max: Fury Road é o filme que George Miller queria ter feito desde o início, mas simplesmente não havia efeitos especiais para o fazer.
Mad Max: Fury Road resulta numa aventura de acção intensa, sem remorsos nenhuns acerca dos exageros em que cai. O enredo e os diálogos são minimalistas, e em vez disso o filme suporta-se pelos seus visuais.
São exactamente esses exageros visuais (dos quais o meu preferido é aquele tipo em cima do camião a tocar uma guitarra eléctrica/lança chamas) que tornam o filme tão característico e envolvente.


4- Chappie
Neill Blomkamp este ano dá-nos o seu melhor filme até à data com Chappie, um filme sobre inteligência artificial (ou será consciência artificial? tenho de escrever acerca disso).
Tive imensa dificuldade em decidir entre o Ex Machina e o Chappie, uma vez que a premissa de ambos é muito semelhante: o que aconteceria se alguém conseguisse criar uma verdadeira super-inteligência artificial?
Apesar de Ex Machina ser a melhor representação científica de uma inteligência/consciência artificial, acaba por ser um filme muito cerebral (o que não é uma coisa má), ao passo que Chappie nos mostra uma história extremamente emocional. Isso faz dele um melhor filme, mesmo que não seja a melhor representação de uma IA.
Chappie tem um visual hiper-realista, personagens muito características e credíveis com boas motivações, e consegue variar entre o enternecedor e o dolorosamente violento. Nunca me importei tanto com uma personagem robótica quanto me importei com Chappie.


3- The Martian
Provavelmente o melhor filme de ficção científica do ano, The Martian é um filme extremamente inteligente, muito cómico, dramático, com momentos de tensão maravilhosamente construídos.
A progressão da narrativa é incensurável, e as interpretações, sobretudo a de Matt Damon, carregam o filme de um humanismo que já não se via há muito tempo.
A ciência apresentada no filme é rigorosamente correcta e as vistas de Marte são suficientes para emocionar qualquer amante de ciência.
Num panorama de cinema em que as sequelas e as franchises dominam, dá gosto ver um filme independente assim tão bom.


2- Avengers: Age of Ultron
Todas as vezes que vejo este filme fico impressionado com a quantidade de coisas que consegue fazer. É um excelente filme de super-heróis, tem sequências de acção fantásticas, a dinâmica da equipa é extremamente divertida, a progressão das personagens, sobretudo a de Tony Stark é muito apelativa de se ver, o vilão, Ultron, é melhor cada vez que o vejo.
O enredo central, da tentativa de Ultron de destruir a Terra e os Avengers, progride de forma entusiasmante, e para além disso o filme consegue ainda fazer mais uma dúzia de coisas (pegar em pontas de filmes anteriores, introduzir personagens novas, lançar enredos para os próximos filme) de uma forma largamente coerente. É um tributo a Joss Whedon e Kevin Feige que este filme consiga fazer tantas coisas ao mesmo tempo, tão bem.


1- Star Wars: The Force Awakens
Já o disse, e continuo a dizê-lo, este filme é TÃO BOM!
A primeira coisa que faz extremamente bem, é pegar em todo o Universo do Star Wars e ser-lhe fiel da melhor maneira possível. Não só os ambientes, a fotografia, os efeitos especiais, a história em si é muito reminiscente do A New Hope, como as novas personagens e as dinâmicas entre elas são um reflexo das dinâmicas que adorávamos nos filmes antigos.
As personagens estão soberbamente bem escritas. Rey, Finn, Poe Dameron, Kylo Ren são ao mesmo tempo heróis e vilões fantásticos, com motivações fortes e actos de coragem ou maldade maiores que a vida, e simultâneamente humanos, frágeis, com conflitos.
Mais do que tudo isso, The Force Awakens é um fantástico filme de aventura, muito muito entusiasmante de ver, e uma lição sobre como fazer bons filmes.


Menções Honrosas

Inside Out
A Pixar traz-nos mais uma das suas obras primas, desta vez com uma representação visual do mundo interior de uma menina de 12 anos.
Representando cada uma das suas emoções básicas (alegria, tristeza, medo, raiva e repulsa) por personagens, o filme leva-nos por cada uma das crises de vida desta rapariga.
Apesar desta premissa que tinha tudo para ser um filme superficial sobre sermos felizes, o filme torna-se surpreendentemente profundo na sua representação da consciência, brincando com a ideia de memórias formadoras da personalidade, a necessidade da tristeza e a saúde mental.
O filme é muito muito divertido e cómico, com excelentes interpretações de voz e é visualmente deslumbrante.


Home
Home, da Dreamworks, corre o risco de passar despercebido, o que é uma pena.
O filme conta a história da invasão alienígena mais simpática de sempre, por parte de uma espécie de criaturas, os Boov, cuja vantagem evolutiva é serem cobardes e fugirem à primeira dificuldade,
A representação dos Boov é muito específica e invulgar, cheia de pormenorezinhos muito muito cómicos.
A interpretação de Jim Parsons da personagem principal, Oh, é hilariante e mostra realmente que Jim Parsons faz o que quiser.
Não é um filme perfeito, mas tem tantos, tantos detalhes deliciosos que é uma pena ser esquecido no meio de outras produções mais espalhafatosas.

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domingo, 20 de dezembro de 2015

O Poder do Monomito - mais Star Wars!

Luke Skywalker e Jesus Cristo são a mesma personagem? Já notou que as aventuras são todas muito parecidas? Ainda não nos cansámos de falar de Star Wars?

Vamos falar sobre isso!


Um dia, quando Jesus Cristo rezava, os céus abriram-se, e o Espírito Santo, sob a forma de uma pomba, informa-o de que ele é o filho de Deus, iniciando assim o seu ministério terreno.
Um dia, quando Luke Skywalker reparava um pequeno dróide, encontra acidentalmente uma mensagem de uma princesa pedindo ajuda para derrotar o maléfico Império.

Jesus Cristo recebe a ajuda de João Baptista, e de outros discípulos na sua tentativa de espalhar a mensagem de Deus
Luke Skywalker recebe a ajuda de Obi-Wan Kenobi, e de outros companheiros, na sua demanda contra o Império.

Jesus Cristo passa por várias dificuldades e ultrapassa vários obstáculos, sendo inclusivamente tentado pelo Diabo no deserto
Luke Skywalker passa por várias dificuldades e ultrapassa vários obtáculos, sendo inclusivamente tentado pelo Lado Negro da Força numa gruta em Dagobah.

Finalmente, no momento mais crítico, Jesus Cristo é traído e crucificado, e no seu momento mais difícil, tudo aquilo em que acredita é posto à prova, e a sua fé é testada.
Finalmente, no momento mais crítico, Luke Skywalker é capturado e trazido frente ao Imperador, e no seu momento mais difícil, tudo aquilo em que acredita é posto à prova, e tem de lutar contra o seu Pai.

Vencida a sua prova mais dura, Jesus Cristo atinge o seu potencial máximo, e ascende à sua divindade plena, atingindo a imortalidade.
Vencida a sua prova mais dura, Luke Skywalker ating o seu potencial máximo, transformando-se finalmente num Cavaleiro Jedi.


Naturalmente que o Luke Skywalker não é o Jesus Cristo, mas os paralelismos nas suas histórias são demasiados para serem apenas uma coincidência.

O que é que explica então que a história de Jesus Cristo seja tão semelhante à de Luke Skywalker, apesar de estarem separadas por milénios?

Em 1949, Joseph Campbell publica o seu livro "The Hero with a Thousand Faces" no qual formaliza a sua teoria do Monomito.

De acordo com Campbell, (quase) todas as histórias têm por base uma estrutura comum, um conjunto de estadios pelos quais todos os heróis passam nas suas aventuras. Ou seja, um mito único, a partir do qual todas as histórias e narrativas derivam.

A teoria de Campbell já foi reformulada várias vezes, e a versão mais actual e mais consensual é a que contém 12 passos, e foi compilada em 1985 por Christopher Vogler, um executivo de Hollywood.

Os 12 passos são (resumidamente):

1 - O Mundo Comum - o Herói é apresentado no seu ambiente natural, habitualmente com algum tipo de desconforto, ambiguidade ou insatisfação acerca desse ambiente.
2 - O Chamamento à Aventura - alguma coisa altera a situação do Herói, seja um estímulo externo ou um conflito interno, com a qual o herói tem de lidar.
3 - Recusa do Chamamento - o Herói sente medo ou incerteza e tenta evitar a Aventura, mesmo que temporariamente.
4 - Encontro com o Mentor - o Herói encontra uma personagem viajada, experiente, que o treina ou lhe dá ferramentas ou conselhos que o ajudam na sua Aventura.
5 - Atravessar do Limiar - o Herói fica comprometido com o seu abandono do Mundo Comum, e entra num novo Mundo Especial ou condição com regras e valores desconhecidos.
6 - Testes, Aliados e Inimigos - o Herói é testado e define alianças ou inimizades no Mundo Especial.
7 - Aproximação - o Herói e os seus Aliados preparam-se para o principal desafio no Mundo Especial.
8 - A Prova - o Herói atinge o centro do Mundo Especial e confronta a morte ou enfrenta o seu maior medo. Desse momento com a morte vem uma nova vida.
9 - A Recompensa - o Herói toma possessão de um Tesouro ganho por enfrentar a morte. Pode haver celebração, mas há também o risco de perder o Tesouro de novo.
10 - O Caminho de Regresso - o Herói é compelido a terminar a Aventura, abandonando o Mundo Especial, e habitualmente uma perseguição mostra a urgência de trazer o Tesouro de volta ao Mundo Comum.
11 - A Ressurreição - no clímax, o Herói é severamente testado mais uma vez no limiar do Regresso. É purificado por outro sacrifício, outro momento de morte e renascimento, mas agora num nível mais completo. Pelas acções do Herói, as ambiguidades ou conflitos do início são finalmente resolvidas.
12 - Regresso com o Elixir - O Herói agora transformado pela sua viagem, usa o Elixir para mudar o Mundo Comum.


A estrutura narrativa do Monomito está presente de forma fiel em muitas das narrativas espirituais do mundo, no xamanismo, rituais de iniciação, e nas mitologias das principais religiões, incluindo as histórias de Gautama Buddha, Moisés ou Jesus Cristo.

Não significa que todos os passos tenham obrigatoriamente de estar presentes em todas as narrativas, ou que as narrativas tenham de ser construídas com base nesta estrutura, mas a inclusão destes passos numa narrativa quase que garante uma aventura satisfatória e divertida.

De tal maneira que, se começarmos a procurar este padrão, vêmo-lo por todo o lado!

Está presente na Odisseia de Ulisses, no Neo a descobrir que é o Escolhido e a lutar contra a Matrix, no Harry Potter a descobrir que é um feiticeiro, no Frodo Baggins e a sua demanda por destruir o Anel, e tantos, tantos outros.


Porque é que o Monomito é tão transversal a todas as culturas e uma ferramenta narrativa tão poderosa?

Essencialmente porque reflecte um fenómeno universal a todos os seres humanos, que é a maturação.

A nossa infância é reflectida pelo Mundo Comum, onde estabelecemos a nossa identidade, mas com a qual inevitavelmente nos sentimos insatisfeitos.

A adolescência é uma coisa assustadora, mas pela qual inevitavelmente todos passamos, são descobertas amizades e inimizades, e onde ocorre a luta para nos tornamos adultos, lidando com a autoridade dos adultos, a aceitação de responsabilidades, a exploração da sexualidade e encontramos um lugar no mundo.

Finalmente assentamos na idade adulta, com a construção de uma família e a tornando-nos pais nós mesmos.

O Monomito é extremamente apelativo à consciência humana porque inevitavelmente revemo-nos no percurso formativo do Herói.

É um caso de galinha e ovo, no qual o Monomito se torna tão prevalente por reflectir o crescimento por que todos passamos, e depois gostamos imenso do Monomito porque nos revemos nele.

Portanto o que é que acontece no Star Wars: The Force Awakens?


>>>>>>>>>>>>>> CUIDADO: HERE BE SPOILERS <<<<<<<<<<<<<<<<<<<


O Mundo Comum
Temos a Rey a viver em Jakku, insatisfeita com a sua situação, a sobreviver à custa da sua esperteza e habilidade, num ambiente hostil e agressivo.
É claramente demonstrado que apesar de Rey sonhar com sair de Jakku, está à espera de alguma coisa que a prende ao planeta.



O Chamamento à Aventura
Rey é abordada pelo BB-.8 e pelo Finn que lhe pedem ajuda para se esconderem da First Order.
BB-8 transporta consigo um mapa para a localização do mítico Luke Skywalker, desaparecido há décadas. Esse mapa deve ser devolvido à Resistência com toda a urgência.
Antes que possa aceitar o Chamamento à Aventura, a First Order ataca-os e Rey e Finn conseguem fazer o Millenium Falcon voar, e fogem de Jakku.



A Recusa do Chamamento
Após conseguirem escapar de Jakku e da First Order, Finn apela a Rey que fujam para fora do sistema, para escaparem à First Order.
Rey revela-se relutante em partir, dizendo que tem de ficar em Jakku à espera de algo ou alguém.

O Encontro com o Mentor
Felizmente surge Han Solo, que os ajuda a escaparem a mais algumas situações difíceis, e começa a guiá-los e a aconselhá-los.
Han Solo desenvolve uma relação particularmente próxima com Rey, que revela um conhecimento e aptidão para as reparações do Millenium Falcon, semelhante ao de Solo.
É particularmente ver Han Solo no papel de Mentor, que é a personagem sábia e experiente, quando antes Han Solo era o Rogue, impulsivo e irresponsável.
É Han Solo que leva Rey a Maz Kanata, que também a tenta guiar para o caminho da Força.



Atravessar do Limiar
Rey é capturada por Kylo Ren, e tenta ler a sua mente recorrendo à Força. À custa do contacto forçado com a Força, os poderes de Rey despertam e começa a experimentar com a Força.
O desenvolvimento dos seus poderes culmina na sua batalha de sabres de luz contra Kylo Ren. Rey, contra todas as expectativas, e recorrendo aos seus poderes nascentes na Força, consegue derrotar Kylo Ren, e é esse acto que representa o Limiar.


A partir desse momento, Rey aceita o seu destino, e compromete-se com a sua viagem de aventura. Mete-se numa nave e vai ao encontro de Luke Skywalker, para começar o seu treino e Testes na Força.

Estou extremamente curioso para saber como vão ser os próximos passos da Viagem do Herói de Rey, nos próximos episódios da Saga Star Wars

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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Estigmas Mentais

Sabiam que Portugal têm uma taxa de doença mental das mais elevadas da Europa?

Já que abordamos recentemente a psicologia positiva, hoje vou escrever sobre explicações simplistas para assuntos complexos. Um dos motivos pelos quais a psicologia positiva me irrita tanto, é que é interpretada como solução para a depressão.  Isto manifesta-se através de uma confusão acidental entre tristeza e depressão. Não é a única confusão...

Enquanto população, sabemos pouco sobre doença mental. Não entendemos a depressão como uma doença a sério, da mesma maneira que entendemos uma perna partida, por exemplo. Muitos de nós acham que a esquizofrenia é ter dupla personalidade.


Quantas vezes já ouvi: ''tinha umas dores no peito há um mês, fui ao médico e afinal não tinha nada, era tudo só ansiedade.'' Ainda bem! Quem é que quer ter uma cartilagem inflamada na caixa torácica, quando pode potencialmente ter uma perturbação de ansiedade grave o suficiente para dar dores no peito?


Pareceu-me importante, verificar que em Portugal há mesmo muita gente assim meio lelé da cuca. Pessoal avariado da caixa dos pirulitos, e que não bate bem da bola.

Porque é que temos tantas maneiras de dizer a coisa? O que é que alguém com esquizofrenia pensa, quando ouve dizer que não joga com o baralho todo? Que é chanfrado dos cornos? Que tem um parafuso a menos?

Como é que a população geral pensa quando lê notícias como esta? E como esta?

Ah, e sabiam que os gatos podem causar esquizofrenia? Ah pois! Cuidado quando saírem de casa, porque a vizinha de 80 anos no 3º esquerdo, pode começar a atirar gatos da janela, por medo de ficar chalupa.


E quando há um deprimida que mete baixa? Aí é que a porca torce o rabo! Ainda pior quando é um homem! Toda a gente sabe que os homens não ficam deprimidos. E que o estigma não existe...

''Está deprimida, sim, deve estar mesmo. Também eu! Estou muito deprimida, e também quero ficar em casa a dormir até ao meio dia!''

Há muita depressão em Portugal. É o segundo país do mundo nas taxas da doença. O que é interessante, é que toda a gente fica muito surpreendida quando as baixas disparam, sempre que as condições de trabalho se degradam. Começam logo a gritar fraude, e publicam notícias como esta:

''As medidas de austeridade anunciadas pelo Governo, combinadas com a ameaça de perder o posto de trabalho, numa altura em que a taxa de desemprego bate recordes e vai subir, pelo menos, até 2013, tem provocado um pico no número de trabalhadores que metem baixa por depressão.... A Segurança Social tem-se empenhado em detectar falsas baixas. Em 2010, foram detectados mais de 70 mil casos irregulares que, se não tivessem sido corrigidos, teriam custado 4,3 milhões aos cofres do Estado.''

Em 2010, 70.000 aldrabões, a quem o Médico de Família que as conhece há anos, passou baixa, foram postos a trabalhar pelas juntas médicas que os entrevistaram durante 15-20 minutos. Fez-se justiça! Os deprimidos são é preguiçosos que, à mínima contrariedade laboral querem ficar em casa no laréu! 
As pessoas que comem gelados com a testa são uns chupistas que faz impressão. Andam a fingir que têm a tampa mal fechada, para não trabalhar.

Não deixa de ser verdade que há países que tratam a doença mental pior do que nós... Como arma para retirar direitos à população.

Outra verdade, é que este estigma cria medo e desconfiança nas pessoas que sofrem de depressão. Se a depressão é vista como uma indulgência, um sinal de fraqueza de carácter, a resposta adaptativa de quem tem a doença, vai ser tentar manter a situação em segredo. E todos sabemos como isso ajuda imenso... 


Pior do que isso, as pessoas com depressão começam a sentir-se culpadas (o que é típico) de terem a doença! Acreditam com muita facilidade que é mesmo uma falha de carácter, e que não conseguirem sair da cama de manhã é sinal de preguiça.


As pessoas com depressão são vistas como manipuladoras do sistema, desconfiam que elas estão a fingir, são alvo de pena e coscuvilhice. São vistas como frágeis e dissimuladas. Afinal, hoje em dia toda a gente tem a mania que tem uma doença qualquer, certo?


Realmente, fingir uma depressão e ficar sujeito aos estereótipos, parece ser muito agradável.

O Last Week Tonight teve um segmento há uns meses sobre a situação nos EUA.


E quem podia esquecer, êxitos como:

- Tu comes merda às colheres;
- Uns morrem, outros ficam assim...;  :D
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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Fantasia e Star Wars

O Star Wars é mais fantasia do que ficção-científica? Estão fartos de saber isto? Toda a gente anda a capitalizar no novo Star Wars e nós não queremos ficar atrás?
Vamos falar sobre isso!


A saga (merecedora desse nome) do Star Wars já domina a imaginação de legiões de fãs desde 1977, e por vários motivos diferentes. 
É verdade que os efeitos especiais eram acima da média para a altura, foi um dos primeiros filmes de ficção científica a atingir notoriedade entre os críticos, e o George Lucas basicamente inventou o conceito de merchandising com os filmes.

Mas apesar disso tudo eu acho que a narrativa do filme é um dos principais factores que levou ao sucesso do filme.

Isto porque apesar das viagens interestelares, naves espaciais, robots falantes, os alienígenas, e os lasers, a narrativa do Star Wars é essencialmente uma história de fantasia clássica.

A literatura clássica está cheia de exemplos de Fantasia, mas o mais óbvio de todos é o Senhor dos Anéis, escrito pelo J.R.R. Tolkien, publicado em 1954, que usa abundantemente todos os tropes de fantasia.



Portanto vamos pegar nos tropes que definem a Fantasia e ver se o Star Wars encaixa (vamos analisar só os Episódios IV, V e VI).


Narrativa - O Bem contra o Mal (Black and White Morality)

O conflito do Bem contra o Mal é o tema principal da maioria das formas populares de fantasia.

É difícil que isto seja mais explícito: há os Jedi que são bons contra os Sith que são maus.


Temos também o Império contra os Rebeldes, num conflito que não é nada subtil, e ajuda que a maior parte dos vilões sejam Obviamente Maus.



Em muitas obras de Fantasia, sobretudo no estilo Sword and Sorcery, o Mal não é contrariado pelos inequivocamente bons, mas sim pelos moralmente incertos. Este trope está presente no Star Wars com a personagem do Han Solo, que é um rogue está do lado dos bons, mas teve de ser conquistado porque no início andava a disparar primeiro.

O Herói (The Hero)

Personagens heróicas são centrais às histórias de Fantasia, sobretudo em High Fantasy e Sword and Sorcery. Estas personagens são tipicamente mais capazes do que o humano comum, tanto fisicamente, moralmente, ou ambos.

O Luke Skywalker é o arquétipo do herói.



Ele é literalmente o Poster Boy da página do Tv Tropes do Herói,

Na Fantasia, o Herói ou outros protagonistas podem ser, apesar de o desconhecerem, de Sangue Real.

O Luke durante imenso tempo não sabe que pertence a uma família particularmente forte na Força, e que o seu Pai era um poderoso Jedi.
Com a sua irmã, Leia, há uma subversão do trope, na medida em que a Leia já é uma princesa ao início, mas ainda assim desconhece que afinal pertence à dinastia dos Jedi.


Tipicamente, na Fantasia, o Herói tem de crescer para assumir o papel que lhe é destinado. Este crescimento pode tomar a forma de maturação, que leva a personagem desde a sua infância ou adolescência até um estado de maior maturidade.

Luke Skywalker, destinado a ser um poderoso Jedi por causa do seu Pai, tem de fazer uma viagem de maturação, aprendendo e treinando os seus poderes na Força, até se tornar num verdadeiro Cavaleiro Jedi, para cumprir o seu papel e trazer equilíbrio de volta à Força


O Senhor das Trevas (Evil overlord)

Do lado das forças do mal está quase sempre o Senhor das Trevas.

Para além de possuir vastas habilidades mágicas, o Senhor das Trevas frequentemente controla grandes exércitos e pode ser representado com qualidades diabólicas. O Senhor das Trevas é habitualmente mostrado como sendo a derradeira personificação do Mal, como acontece com o Sauron, do Senhor dos Anéis.


A figura do Imperador Palpatine é o paradigma do Senhor das Trevas. É o derradeiro Big Bad de Star Wars, extremamente poderoso no lado negro da Força, maléfico e manipulador, Imperador do Império Galáctico, comandando forças militares capazes de esmagar qualquer voz discordante.


O seu aprendiz, Darth Vader, também encaixa quase perfeitamente na descrição do Senhor das Trevas, mas a sua relação com o Herói, a sua redenção final, e as suas intenções que até podem não ser tão maléficas quanto isso, põem-no mais no papel de Anti-Vilão Trágico.


A Demanda (The Quest)

A viagem em busca de um objectivo (descrita no Monomito), é o motor narrativo de muita da literatura clássica, e está proeminentemente representado na literatura de Fantasia.

A Demanda do Herói começa quase invariavelmente com o Herói a viver num mundo normal, e a ser chamado para partir em aventura. O Herói frequentemente está relutante em partir, mas é ajudado por um mentor místico.

No Star Wars o Luke Skywalker inicialmente sente que não pode partir em busca de aventura porque tem de ajudar com a colheita, mas Obi-Wan Kenobi, o Mestre Jedi vai ajudá-lo.


O Herói tem então de passar por várias complicações e dificuldades, sozinho ou com a assistência de outras personagens. Eventualmente chega ao fim da sua Demanda, na crise central da sua aventura, onde tem de ultrapassar "a prova", onde vence o principal obstáculo ou inimigo, e sofre uma apoteose, ganhando a sua recompensa e finalizando o seu crescimento.

O Objectivo da Demanda de Luke é muito obviamente o fim do Império Galáctico, para o qual ele tem de lutar em várias batalhas, sozinho ou acompanhado por Han Solo ou Leia, e finalmente confronta Darth Vader e o Imperador, vencendo-os, acabando com o Império e finalmente transformando-se num Mestre Cavaleiro Jedi.


Menos obviamente, podemos interpretar o Objectivo final da Demanda de Luke como sendo encontrar o seu Pai, resgatando-o do Lado negro da Força.


Em Fantasia, a Magia frequentemente tem uma presença preponderante, sendo muito mais decisiva na resolução de conflitos, do que outras ferramentas mais mundanas. Outra característica comum é que a habilidade de usar a magia é não só inata como também é rara.

A Força é a Magia em Star Wars.


A Força é definida como um campo de energia criado por todos os seres vivos, que rodeia e permeia os seres vivos e que mantém a galáxia coesa.
Nem todas as pessoas são sensíveis à Força, e só alguns nascem com essa habilidade.

Pela adesão a um conjunto de práticas e crenças espirituais e religiosas, aqueles que são sensíveis à força podem usá-la para realizarem feitos sobre-humanos, como a telecinese, telepatia, levitação, hipnose, empatia, reflexos e velocidade aumentados, e até precognição.


Outro aspecto típico na Magia em Fantasia é o Objecto Mágico, que proporciona ou aumenta as habilidades mágicas de quem o usa. Os mais comuns são os anéis e as espadas.

An elegant weapon, for a more civilized age
O Sabre de Luz é a arma preferida pelos Jedi. Tem um estatuto mítico mesmo dentro do universo de Star Wars, é capaz de cortar a maior parte dos materiais sem qualquer resistência, e é tão perigosa que só alguém com os reflexos aumentados pela Força seria capaz de a usar sem suster ferimentos graves.

Medievalismo (Medieval European Fantasy)

Muitas obras de fantasia históricas, desde "The Well at the World's End" de William Morris no século 19, até ao Lord of The Rings, estabelecem as suas histórias em mundos claramente inspirados em fontes medievais.

Apesar de no Star Wars o ambiente ser claramente um de Ficção Científica, há todo um léxico que nos reporta para esse ambiente Medieval Europeu.



Para começar temos toda  Ordem dos Cavaleiros Jedi, extremamente reminiscente dos Cavaleiros errantes medievais, frequentemente religiosos e que deambulavam pelo mundo a corrigir injustiças e a libertar os oprimidos, guiados por um código de honra rigoroso.

Há Imperadores, Lordes e Princesas por todo o lado, e toda a história é extremamente reminiscente da Lenda Arturiana.

Tanto Luke Skywalker como o Rei Artur são orfãos que se tornam heróis, ambos têm um mentor muito mais velho que os treina (Obi Wan, Merlin), Darth Vader, pai de Luke Skywalker, tem o seu equivalente no Uther Pendragon, pai de Artur. Até mesmo o triângulo amoroso que se forma entre Luke, Leia e Han Solo é reminiscente do triângulo amoroso entre Artur, Guinevere e Lancelot.


    Raças (Loads and Loads of Races)

    Um tema recorrente na literatura de fantasia é a existência de várias espécies de criaturas fantásticas, que podem ou não ser conscientes. Habitualmente quando são conscientes, são chamadas de Raças, e não Espécies.

    Tolkien estabeleceu firmemente o padrão dos Elfos, Anões, Orcos, Hobbits e Ents, e depois o Dungeons and Dragons expandiu grandemente essa lista.



    No Star Wars, temos espécies alienígenas.


    Muitas, muitas espécies diferentes de alienígenas.


    Desde o Chewbacca até ao Jabba the Hutt, o universo de Star Wars está populado por uma quantidade enorme de espécies alienígenas para todos os gostos, habitualmente com uma disposição orientação moral perfeitamente revelada pelo seu aspecto físico.

    Fofinho, bom
    Peganhento, mau
     Conclusão

    Portanto Star Wars é Ficção Científica ou Fantasia?

    Apesar de ser uma discussão que vai inflamar os geeks até ao fim dos tempos, a única resposta possível é que não importa na realidade.

    Star Wars conseguiu estabelecer o formato da Space Opera exactamente porque construiu um mundo de Ficção Científica com uma estrutura e regras vindas da Fantasia clássica, e isso tornou o género altamente reconhecível e apelativo para um público muito maior.


    O que me interessa imenso agora, com o Star Wars: The Force Awakens, é ver se alguns destes elementos de fantasia se transportam para o novo filme.

    Tenho especialmente curiosidade em ver de que maneira a estrutura narrativa deste novo Star Wars vai encaixar no Monomito (a Aventura clássica do Herói).

    A minha previsão é a seguinte:

    O Finn vai ser o Leader e a Rey vai ser o Lancer, o Han Solo vai ser o Mentor (que morre no fim deste primeiro filme), e o Luke Skywalker vai ser o Evil Overlord.

    Vou ver o Force Awakens depois de amanhã, portanto podem esperar qualquer coisa de mim na sexta provavelmente (porque tenho outras coisas para escrever entretanto, e este filme merece ser digerido com calma).


    PS: Podem encontrar uma análise muito engraçada e detalhada do Star Wars de acordo com o Monomito aqui.

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