Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

terça-feira, 31 de maio de 2016

As plantas são estranhas

Algas vermelhas? Plantas que estão sobretudo mortas? Árvores pornográficas?

Vamos falar sobre isso!


As plantas são estranhas.

Não, a sério, já pensaram nas plantas? Estão sempre ali, paradas e verdes. Confundem-se com o cenário. Raios, na maior parte das vezes SÃO o cenário.

Apontar que as plantas são seres vivos parece uma inutilidade, porque todos nós sabemos que são seres vivos. Mas é daqueles factos que registámos nosso cérebro animal quando ainda éramos crianças e que nunca mais voltámos a olhar para ele.

E isso faz com que haja o risco de nos esquecermos realmente de que as plantas não só estão vivas, como são das coisas mais radicalmente diferentes de animais que podemos ver a olho nu.


Claro que a fotossíntese, que toda a gente atribui (não-erradamente) às plantas, não começou com as plantas.

A fotossíntese, esse processo bioquímico mágico pelo qual organismos são capazes de transformar elementos inorgânicos como a água e o dióxido de carbono em elementos orgânicos como açúcares à custa da energia solar provavelmente já existe desde há 3,4 biliões de anos.



Muitos, muitos incontáveis pequeninos seres vivos usaram a luz do sol e a fotossíntese para sintetizarem moléculas orgânicas antes de sequer começarmos a ouvir falar em plantas.

Protistas e cianobactérias compunham tapetes microbianos que flutuavam em cima de poças de água mais do que pré-históricas, e iam lentamente libertando oxigénio para a atmosfera. Muito lentamente, mas tantos e durante tanto tempo (cerca de 1 bilião de anos) que acabaram por levar à Grande Crise do Oxigénio, um dos primeiros e mais importantes eventos de extinção massiva, responsável por estarmos cá hoje.

Eventualmente, dados mais uns bons 2 biliões de anos, esses pequenos organismos começaram a conseguir organizar-se e formaram as primeiras algas.

Rodófitas (algas vermelhas), Glaucófitas (algas que eu vou dizer que são azuis) e Clorófitas (algas verdes)
Para começar todas as plantas que vemos a olho nu evoluíram a partir de algas verdes há cerca de 510-630 milhões de anos atrás, e seriam semelhantes ao seu antecessor comum mais recente, os Charales.


Provavelmente eram, como os Charales, algas filamentosas ramificadas que viviam em poças de água doce que secavam sazonalmente. Estas condições pressionaram evolutivamente estas algas verdes a mudarem-se para terra e iniciarem o que hoje chamamos Plantas.

Isso terá acontecido há cerca de 450 milhões de anos, durante o Ordoviciano. Por essa altura as nossas plantas não passavam de musgos e hepáticas*, e muito certamente limitavam-se às zonas que circundavam essas poças de água pré-históricas.
Ainda tinham muito que aprender, nomeadamente como transportarem água dentro das suas estruturas para não estarem tão dependentes da água ambiental.

Plantas com ar primitivo.
Durante o Devoniano (419 a 358 milhões de anos atrás) vemos uma explosão de diversidade de plantas, acompanhada de perto por uma igual explosão de diversidade dos artrópodes, que as acompanharam na sua conquista da terra.

É durante este período que as plantas evoluem verdadeiras raízes e folhas, sendo extremamente comuns os fetos e outras plantas semelhantes.


É no fim do Devoniano que surgem as primeiras plantas com madeira verdadeira e sementes, e é nesta fase que as relações de cooperação entre plantas e insectos que espalham as suas sementes se forma.

Sobretudo à custa da evolução da capacidade de criar madeira, as plantas espalham-se pelo planeta todo e vão capturando cada vez mais dióxido de carbono atmosférico e aumentando o conteúdo de Oxigénio na atmosfera.

E vocês já sabem que isso leva a baratas gigantes e ao Período Carbonífero.


Esta coisa da madeira é interessante.

Basicamente as plantas precisam de três recursos. Água, dióxido de carbono e luz.
A partir de líquido, gás e radiação as plantas são capazes de gerar toneladas e toneladas e açúcares complexos que as sustentam.

Porque no mundo das plantas, em que todos os recursos estão na atmosfera e no solo, não é preciso andar para os obter. As principais pressões evolutivas são para terem mais raízes (mais água), e serem mais altas (mais luz).

As maiores plantas que existem, as Sequoias Gigantes, crescem a uma altura média de 50-85 metros, podendo pesar até 1,2 milhões Kg.


O que para mim é fascinante é que numa árvore desse género, só cerca de 1% da planta é que está propriamente viva.  Para além das folhas e das raízes, há apenas uma fina camada de células debaixo da casca, chamada Cambium.
Toda a restante madeira que a suporta é matéria orgânica inerte, sem actividade metabólica. São células mortas que deixaram para trás o seu esqueleto de celulose.

Neste aspecto são muito semelhantes aos Corais, que são comunidades de pequenos animais (os pólipos), que vão construindo enormes estruturas de calcário inorgânico que acaba por servir de esqueleto à sua enorme estrutura.


Da próxima vez que olharem para uma árvore, pensem que é um coral terrestre, e vão perceber como as plantas começam a parecer estranhas


Outro problema interessante que as plantas tiveram de resolver, e que os corais resolveram de maneira surpreendentemente semelhante, foi o da reprodução.

Porque se um organismo evoluiu para nunca se mexer do mesmo lugar porque todos os recursos necessários para viver podem ser obtidos sem que ele se mexa, então a reprodução torna-se um bocadinho mais complicada.

A maneira mais simples de as plantas se fertilizarem umas às outras, sem recorrer a insectos itnermediários, é simplesmente lançar as suas células reprodutoras masculinas ao vento e esperar que aterrem numa outra planta fértil.


O Pólen é o equivalente literal dos espermatozóides dos animais.

As árvores e as flores libertam Pólen para o ar, e deixam que o vento espalhe as suas células reprodutoras pela atmosfera.

Espermatozóides de plantas
Isto faz da primavera uma experiência muito mais interessante (para dizer pouco).

Basicamente é a altura em que todas as plantas, árvores e flores, ejaculam em conjunto para o ar, cobrindo-se umas às outras de células reprodutoras, numa grande festa de fertilidade.

Splooge
É basicamente um grande bukkake da natureza.

Nós, os animais, não temos outro remédio senão andar a levar com as células reprodutoras das árvores na cara.


* sim, há um grupo de plantas que em português têm esse nome, eu também só descobri agora.
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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Spider-Man: There and Back Again

Felizes por verem o Spider-Man no filme do Captain America? Têm de agradecer à Coreia do Norte?

Vamos falar sobre isso


No início dos anos '60, depois do sucesso dos Fantastic Four, houve um interesse renovado dos adolescentes em comprar bandas-desenhadas. Para tentar aproveitar esse interesse Stan Lee propõe-se a criar uma nova personagem com a qual esse público adolescente se pudesse identificar.

Assim, Stan Lee cria Spider-Man, uma personagem que estava no secundário, era um geek inseguro, e que tinha de lidar com coisas como raparigas, bullies e bailes de finalistas, para além de ter super-poderes e lutar contra vilões,

Homem-Aranha estreia-se a 15 de Agosto de 1962 no Amazing Fantasy #15, e a personagem do Peter Parker tinha 15 anos nesse primeiro número. Apesar de a maioria das personagens adolescentes dessa altura terem o epíteto de Rapaz-[Qualquer coisa], Stan Lee decidu chamar-lhe Homem-Aranha porque tencionava que a personagem pudesse crescer e amadurecer juntamente com o seu público-alvo.


Terá sido essa fórmula que fez com que o Spider-Man se tornasse um dos mais populares e reconhecíveis heróis da Marvel.

Já teve até agora, para além da longa lista de títulos de banda-desenhada, 9 programas de televisão, 5 jogos de computador, 2 programas de rádio e inclusivamente um musical com música escrita pelos U2.


Apesar de toda a sua popularidade, isso não impediu que a Marvel no início dos anos 90 começasse a perder imenso dinheiro e influência, com a saída de vários artistas importantes, ao ponto em que, em 1996, declaram falência.

Numa tentativa de recuperar algum dinheiro e tornar as suas personagens mais populares a um público maior, a Marvel começa a vender licenças dos seus heróis a várias produtoras de cinema.

Os X-Men e o Daredevil são vendidos à Fox, o Blade é vendido à New Line Cinema, e o Spider-Man é vendido à Sony.

A Sony não perde tempo e produz três filmes do Spider-Man (Spider-Man, 2002, Spider-Man 2, 2004, e Spider-Man 3, 2007) realizados por Sam Raimi e protagonizados por Tobey Maguire, qualquer um dos quais se torna extremamente popular, com o terceiro filme a render mais de 890 milhões de dólares.


Entretanto a Marvel, parcialmente à custa da venda destas licenças, consegue recuperar-se financeiramente para fundar os seus próprios estúdios e começar a produzir os seus próprios filmes com os Marvel Studios.

O seu primeiro filme, Iron Man, em 2008 é um enorme sucesso para surpresa de toda a gente, e permite aos Marvel Studios continuarem a expandir o seu Universo, produzindo filmes dos seus outros heróis mais famosos como o Hulk, o Thor e o Captain America, culminando no Avengers em 2012, que junta todos os heróis num único filme e que viria a render uns impressionantes 1,5 BILIÕES de dólares.


Com todo este dinheiro, a Marvel começa a recuperar as licenças dos seus heróis, o Daredevil, por exemplo, e os fãs começam a sonhar em ver o Spider-Man juntar-se aos Avengers (como acontece na banda-desenhada).

No entanto esses sonhos são deitados por terra quando, no mesmo ano do Avengers, a Sony produz o The Amazing Spider-Man (2012), agora protagonizado por Andrew Garfield, e em 2014 o The Amazing Spider-Man 2.


Este último foi globalmente rejeitado pelos fãs por ter uma história que fazia pouco sentido e demasiados personagens, tendo uma pontuação de apenas 53% no Rotten Tomatoes.

Parecia que os fãs do Spider-Man iam ficar presos a filmes medíocres durante muito tempo, porque apesar das más críticas, a Sony não parecia querer largar a licença do Spider-Man.

No entanto, em 2014 acontece uma coisa de que ninguém estava à espera.


Seth Rogen e James Franco escrevem e protagonizam The Interview (2014), uma comédia na qual dois jornalistas são convidados a entrevistarem o ditador Norte Coreano Kim Jong-Un, mas são recrutados pela CIA para o assassinar. O filme é produzido e distribuído pela Sony.

A Coreia do Norte é mais conhecida pela sua Ditadura Hereditária, Culto de Personalidade do Grande Líder, e frequentes ameaças de ataques nucleares do que pelo seu sentido de humor, e portanto não acharam grande piada ao filme.

Em Dezembro de 2014 um grupo de hackers chamado Guardians of Peace, que o FBI confirmou estar ligado ao governo Norte Coreano, ameaçou ataques terroristas aos cinemas que exibissem o filme.
Quando vários cinemas começam a anunciar que não vão exibir o filme nas suas salas, a Sony decide cancelar a estreia do filme, e distribuí-lo directamente na internet.

O grupo Guardians of Peace consegue também invadir os servidores da Sony e tornam públicos vários terabytes de informação confidencial dos estúdios, incluindo várias trocas de e-mails relacionadas com os filmes do Spider-Man.


Esses e-mails revelaram várias coisas interessantes. Descobrimos que uma das coisas que preocupava a Sony era garantir que o Peter Parker era branco e heterossexual, grandes dúvidas e discussões sobre se o Spider-Man devia ter teias mecânicas ou orgânicas, as sugestões do guru dos Marvel Studios, Kevin Feige, sobre o que deveria ter sido feito para melhorar o Amazing Spider-Man 2, e até discussões sobre tornar o Spider-Man num millenial, vegano que usa o snap-chat e tem uma comunidade de seguidores.

Apesar de os e-mails mostrarem que já estavam abertas as discussões entre a Marvel e a Sony sobre o destino do Spider-Man, foram estes e-mails que revelaram a dificuldade que a Sony estava a ter em lidar com a personagem do Spider-Man e a capacidade que a Marvel tinha para o fazer muito melhor.

Foi pressão criada pelos fãs depois de perceberem que afinal os seus sonhos podiam ser concretizados, e quão mal representada a sua personagem preferida poderia ficar se isso não acontecesse, que no fim provavelmente fez pender a balança no sentido de a Marvel poder incluir o Spider-Man no Captain America: Civil War.


Portanto todos os fãs que tiveram dificuldade em manter as calças secas durante o Civil War, podem agradecer ao Grande Líder Kim Jong-Un e à sua falta de sentido de humor o facto de termos aquela hero-landing espectacular depois de roubar o escudo ao Captain America.


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terça-feira, 24 de maio de 2016

Where to invade next?

O novo documentário de Michael Moore, 'Where to invade next', passou despercebido em Portugal, e acho que não devia. O facto é que o filme foi um flop nas bilheteiras, e isso também dificultou a divulgação.



É verdade é que Michael Moore já não tem a mesma projeção internacional que da altura de Bowling for Columbine, Fahrenheit 9/11 ou Sicko, mas não perdeu nenhuma das qualidades que o tornaram numa referência do documentário. A abordagem bem humorada, a temas sensíveis e fraturantes, a presença do senso comum e por vezes o sentimentalismo são as armas que o realizador sabe manejar com mais habilidade.

O título do filme: ''Where to invade next?'', é uma referência à apetência dos EUA para invadirem países de 3º mundo, para ganhar alguma vantagem política, ou em acesso a recursos naturais. Neste caso, Moore, propõe que os EUA invadam países desenvolvidos, para lhes 'roubar' ideias e políticas que estão bem concebidas e implementadas.

Vejam o Trailer no youtube.


É um filme sobre as coisas positivas que um Americano viu noutras sociedades mundiais, as boas ideias que outras  nações colocaram em prática. Muitas delas foram ideias de Americanos...

O filme visita o sistema prisional da Noruega, onde os guardas prisionais estão investidos na reabilitação dos presos, o que gerou gargalhadas nos EUA, o país com a maior população prisional do mundo (sim, mais do que a China), pena de morte, leis repressivas e prisões privadas.

Também visita a Europa central, onde pergunta a estudantes quanto é que eles se endividaram para pagar a Universidade, sendo os EUA um país sem acesso a educação superior gratuita.


O que me chamou à atenção neste filme, foi que Moore chega mesmo a ''invadir'' Portugal, para falar com dois polícias sobre a nossa política de Toxicodependência.

Se clicarem no link acima, vão ver o realizador falar com dois polícias portugueses, e a confessar-lhes que tem ''a bunch of cocaine in my pocket'', depois de confirmar que eles não o irão prender por posse de estupefacientes. A expressão dos polícias depois de Moore confessar que tem cocaína no bolso é impagável.

Em Portugal, desde há mais de 15 anos que ninguém é preso por consumo de drogas. Desde que essa alteração política foi posta em prática, muito pela influência do director do SICAD (serviço de intervenção nos comportamentos aditivos e dependências), o Dr João Goulão.

Como resultado desta nova política, o consumo de drogas estabilizou, as doenças atribuíveis ao consumo diminuíram e os crimes relacionados com drogas também. Embora o próprio João Goulão admita que é difícil identificar uma relação causal entre os dois factores, em questões sociais e legislativas, isso é sempre verdade.


O que identifica relações causais é o método científico, e nestas coisas não há grupo de controlo, e somos todos cobaias. Por isso é que perguntam a nossa opinião (de 4 em 4 anos), sobre quem queremos no parlamento.

No entanto, voltando ao tema, fiz uma curta pesquisa sobre porque é que Michael Moore não é tão popular como na década passada.

Bem, com opiniões liberais e progressistas vêm críticos conservadores. Procurei algumas críticas a Michael Moore na Internet, e dividem-se entre pessoas que lhe chamam gordo, pessoas que lhe chamam hipócrita, e pessoas que lhe chamam um ''gordo hipócrita''.

O ponto em que tocam é este:


Deve ser um argumento excepcionalmente poderoso, porque está por toda a parte. O argumento é mais ou menos este:
''Achas que a sociedade é injusta, mas beneficias dessa injustiça. Por isso cala-te.''

Tem graça que este argumento colhe. Até em Portugal. Se Michael Moore é um ''liberal de limousine'', em Portugal, há muita gente que  faz parte da ''esquerda caviar''.

Basicamente, são pessoas de esquerda que têm um nível de vida acima da média. E ainda têm a lata de dizer que acham que a sociedade é injusta, e que a riqueza está mal distribuída. Às vezes publicam coisas no facebook com essas tretas. Ás vezes têm iphones para mandar propaganda de esquerda!

É o velho argumento ad hominem, que ataca um ponto de vista com base em características da pessoas que o enuncia.

Neste caso:
Michael Moore ganhou dinheiro com os filmes que fez, logo não tem razão quando critica uma sociedade com base na distribuição de recursos económicos dessa sociedade.

Faz tanto sentido como:
Você é pobre, e nunca ninguém o ajudou, por isso não pode ser monárquico.
Você é branco, e beneficiou disso, logo é um hipócrita se defender ideias anti racistas.
Você é um homem e tem um pénis e tudo, logo não tem nada que defender os direitos das mulheres.
Você é gordo, por isso não pode defender estilos de vida saudáveis.

Mas fundamentalmente é isto:


Fundamentalmente é, não faças barulho, fica feliz com o que tens, há alguém que está pior do que tu.
Não tens dinheiro para começar uma família? Podias não ter dinheiro para comer.

Por isso, não chateies as pessoas que têm conta no Panamá, enquanto tiveres um iPhone.
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terça-feira, 17 de maio de 2016

O Futuro É o que costumava ser - ou pelo menos tenta

Homens crescidos vestidos de pijamas? Motores impossíveis? Warp speed, Mr. Sulu!?

Vamos falar sobre isso


Lembro-me perfeitamente de ter 6 anos e de ver Star Trek, e de isso ser a melhor coisa de sempre!

Naves espaciais! Armas Laser! Alienígenas! Estrelas, planetas e buracos negros! Viagens inter-galácticas! Exploração espacial!



Era o tipo de coisa que me estimulava imenso a imaginação, e que começou a criar-me curiosidade pelo espaço, por ciência e tecnologia.

O Star Trek representava um futuro no qual a tecnologia tinha resolvido todos os problemas da humanidade. A pobreza, a fome e a doença eram coisas do passado, e a humanidade podia agora dar-se ao luxo de se aventurar no espaço, and boldly go where no man has gone before.

O futuro estava cheio de entusiasmo e aventura, tecnologia imensamente avançada como phasers e tricorders, e teleportação e, por alguma razão, homens crescidos vestidos de pijama



Claro que depois cresci, e comecei a achar estranhos os pijamas, e os adereços de plástico, e um dia reparei que a música do génerico do Star Trek era extremamente parecida à do Love Boat.

Desiludi-me eu, e desiludiu-se o resto do mundo com a exploração espacial, e o Star Trek perdeu alguma da sua popularidade, mantendo-se forte à custa de alguns fãs ferrenhos.

No entanto essas ideias de tecnologia que me ficaram na cabeça acabaram por ficar na cabeça de muita outra gente, e estabelecendo a ideia de como o futuro DEVIA ser.

E algumas pessoas não iam deixar que o futuro se tornasse uma desilusão.





A verdade é que entre tablets, tradutores universais, phasers, intercomunicadores e aparentemente até raios de tracção, já há uma data de tecnologia que parece tirada dos nossos mais fantasiosos sonhos de ficção científica.

É uma situação de galinha e ovo, e é difícil dizer se o Star Trek foi capaz de prever estas inovações tecnológicas, ou se foram os cientistas/engenheiros que se inspiraram nos desenhos e ideias do Star Trek para inovar.

Mas do que nós gostamos mesmo é de naves espaciais


Infelizmente, como já vimos antes, as naves espaciais são muito caras porque basicamente temos de construir uma de novo cada vez que vamos ao espaço.

Tem sobretudo a ver com a dificuldade em reutilizar os foguetões que transportam o combustível que faz mover a nave espacial propriamente dita.

Entretanto temos o Elon Musk a conseguir aterrar foguetões reutilizáveis no meio do mar. O que, não duvidem, é um feito de engenharia incrivelmente impressionante, e extremamente útil para pôr coisas em órbita de forma barata.


Mas quem é que fica satisfeito em chegar à órbita da terra e ficar lá?

Isso nem sequer é chegar ao nosso quintal, isso mal é passar da ombreira da porta.

O problema é que qualquer viagem espacial para a Lua, para Marte, ou para mais longe, está sempre dependente do combustível. Quanto mais longe quisermos ir, mais combustível temos de levar.

E o combustível é pesado, e ocupa espaço, o que significa naves espaciais maiores e com mais foguetões para se poderem pôr em órbita, o que significa gastarem mais combustível, o que significa...
Vocês percebem...


Isto tudo por causa daquela Lei chata que o Newton inventou da Conservação do Momento Linear, que diz que para cada acção há uma reacção igual e oposta.

Ou seja, para movermos uma nave espacial para a frente, temos de queimar combustível para trás.

Parece uma daquelas frases motivacionais do Facebook,
mas na realidade é uma lei da física!

Mas e se fosse possível fazer uma coisa andar para a frente, sem ficar nada para trás?

Em 2001 um engenheiro aeroespacial chamado Roger Shawyer desenhou e construiu um motor que seria capaz de fazer reflectir micro-ondas dentro de uma cavidade de ressonância assimétrica, gerando assim momento linear numa direcção sem que nenhuma forma de momento linear igual e oposto fosse criado.

Este motor, chamado EM-Drive, seria capaz de gerar aceleração e movimento sem consumir combustível, gastando apenas electricidade que se obtém com facilidade através de energia solar.

Se funcionasse, seria uma revolução na indústria aeronáutica e sobretudo nas viagens espaciais. As naves espaciais ficariam livres da necessidade de carregar consigo toneladas e toneladas de combustível, podendo, teoricamente, viajar a velocidades próximas da velocidade da luz e durante um período de tempo quase infinito.


Isto seria fantástico não fosse pelo facto de que é expressamente proibido pelo nosso amigo Newton e a sua Terceira Lei.

Não pode haver reacção sem acção, é uma violação directa das leis da física como as conhecemos, e portanto ninguém levou o EM-Drive a sério.

E, no entanto, depois de 10 anos a chatear pessoas com o seu EM-Drive, Shawyer conseguiu começar a convencer pessoas a testá-lo.

E não é que quando o seu motor começou a ser testado por outros, conseguiram comprovar os seus resultados preliminares!


E não só quaisquer outros.

O Advanced Propulsion Physics Laboratory da NASA, o Chinese Northwestern Polytechnical University, e a Dresden University of Technology, todos conseguiram resultados preliminares que verificam que o modelo proposto por Shawyer parece produzir movimento!

As teorias explicativas para o porquê de isto funcionar são todas preliminares e não me vou dar ao trabalho de as explicar aqui, porque honestamente ninguém tem a certeza, e não são particularmente divertidas de explicar (não tem nada a ver com o facto de serem muito difíceis e eu ser preguiçoso).

O que aparentemente está a acontecer é que, contra tudo o que conhecíamos da física, aparentemente é de facto possível quebrar a Terceira Lei de Newton.


Se isto não fosse futurista o suficiente para vocês, e se acham que viajens interestelares quase à velocidade da luz são pouco impressionates, então tenho mais uma notícia para vocês.

Num verdadeiro momento de inspiração tirada directamente do Star Trek, Harold White, engenheiro aeroespacial líder da equipa de Propulsão Avançada, propôs a construção de uma nave espacial capaz de viajar mais depressa do que a luz.

Ou seja um literal motor de Warp.

Este motor funcionaria não através da geração de movimento propriamente dito, mas sim através da distorção do espaço-tempo à frente e atrás da nave, movendo-a literalmente através do espaço-tempo


Este motor, mais propriamente chamado de Alcubierre Drive, está a ser investigado pela NASA, como uma potencial forma de viagem intergaláctica.

Até já existem imaginações artísticas para o possível aspecto desta nave espacial, e mesmo que isto nunca venha a funcionar, a sua semelhança com o Star Trek é demasiado próxima para ignorar.



Portanto o futuro por bizarro que possa parecer, vai ser simultâneamente reminiscente daqueles homens crescidos que exploravam a galáxia vestidos de pijama!

Entretanto, aqui fica um vídeo a explicar como funciona o Alcubierre Drive.


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