Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Pendurar o Abajur nos Tropos

O que são Tropes? Abusar do código da linguagem? Pendurar Abajurs? Mais uma desculpa para falar da Marvel?

Vamos falar sobre isso!



A semana passada falei de como a Marvel usava os seus Heróis para comentar acerca do seu próprio mundo, e falei de Lampshading, mas não expliquei exactamente o que era.

Para falar de Lampshading tenho primeiro de explicar o que são Tropes.

Contrariamente ao que possam ter lido, um Trope não é exactamente a unidade narrativa da consciência humana.

Isto abre-nos a porta para um buraco sem fundo na qual nos podíamos perder durante dias, mas vou tentar não fazer demasiadas tangentes e mesmo assim mostrar-vos quão funda é esta toca-do-coelho.


Portanto, para começar, e para verem quando eu digo que o buraco é fundo, temos de começar por perceber o que é a Linguagem!

Linguagem pode ser definida como um sistema formal de sinais, governados por regras gramaticais de combinação para comunicar significados.

Por outras palavras, quando surgem ideias neste aglomerado de neurónios que está preso dentro do meu crânio, é complicado fazer com que essas ideias surjam dentro do crânio de outra pessoa. 
Para isso precisamos de um código que traduza essas ideias de uma maneira que faça sentido, e depois usar esse código para atravessar o espaço entre dois crânios e transportar com ele uma ideia que se vá implantar no aglomerado de neurónios de outra pessoa, para que ela possa pensar o que eu estou a pensar.

Linguagem não é uma língua. Língua é só um código para a linguagem, como o português ou o código morse.
Linguagem é uma estrutura, a ferramenta que permite que os conceitos possam ser codificados e combinados de maneira a fazerem sentido, e a comunicarem significados ou ideias específicas.


A linguagem é uma excelente ferramenta para descrevermos o mundo à nossa volta.
Se eu quiser descrever um tomate digo que é "vermelho" dado que essa é a palavra que define a sua cor. Se eu quero transmitir que uma coisa tem a cor do tomate, uso a palavra "vermelho", porque é esse o seu significado. Não posso usar "verde" ou "telefone".

É Linguagem Literal, na qual cada palavra é usada exactamente de acordo com o seu significado e definição. "Vermelho" significa vermelho independentemente do contexto.


Mas nós somos Macacos Espertos, e quando temos ferramentas à mão vamos experimentar com elas e ver se as conseguimos descobrir-lhes outros usos.

Se eu disser "um nariz de tomate" não estou a dizer que o nariz é um fruto com uma rama verde. Estou a dizer que o nariz é vermelho, como a cor do tomate. No entanto não usei a palavra vermelho.
O significado foi transmitido apesar de usar palavras para um sentido que não o da sua definição estrita.

Nariz de Tomate Literal
É Linguagem Figurativa, na qual as palavras são usadas fora das suas definições próprias de maneira a atingir uma compreensão mais complicada ou um efeito aumentado. Na Linguagem Figurativa as palavras são apresentadas de forma a serem equacionadas, comparadas ou associadas a outras palavras ou significados normalmente não relacionados.

Linguagem Figurativa não é necessariamente verbal.
Qualquer código, mesmo de imagens, pode criar um conceito para lá do seu sentido literal.
Quando os Macacos Espertos descobrem que não precisam de estar presos ao sentido literal da linguagem, e que podem abusar das suas regras para construir ideias irreais mas igualmente (ou ainda mais) significativas, abrem-se as portas a todo um mundo de Arte.

Um Tropo define-se como o uso da Linguagem Figurativa com um fim artístico.

Ou seja, quando brincamos com as regras da linguagem para construir um significado não-literal, essa estrutura que usámos é um Tropo.

Melhor ainda, as figuras de estilo que aprendemos na escola são Tropos.

Uma Metáfora, por exemplo, é a caracterização de uma coisa por associação a outra coisa, com uma comparação implícita

"Amor é fogo que arde sem se ver" - Camões

Aqui o que interessa é a estrutura de que [coisa] = [coisa semelhante]. 

Não interessa realmente que [coisa] seja, desde que esta estrutura seja cumprida estaremos a usar o Tropo Metáfora.

Metáfora Visual
Ou por exemplo, Ironia define-se como dizer o oposto do que se pretende deixar entender.

A estrutura da Ironia é [coisa] = [oposto de coisa].

"Today was a very cold and bitter day, as cold and bitter as a cup of hot chocolate" - Lemony Snicket


Ou seja, Tropos são estas formas específicas de organizar ideias que criam uma expressão artística.

De acordo com Kenneth Burke, um dos mais importantes teóricos literários do século XX, a Metáfora, a Ironia, a Metonímia e a Sinédoque são os quatro Tropos Mestre.

Naturalmente que existem mais.

Todos os artifícios narrativos, como por exemplo os Flashbacks (Analepse) que são uma sequência narrativa cinematográfica ou literária relativa a uma acção ou facto passado em relação à narração, não deixam de ser apenas formas específicas de organizar ideias para criar uma expressão artística, e por isso são também Tropos.

Entendidos desta forma, os Tropos são muitos, mas mesmo muitos.



Os Tropos são tão variados como divertidos, incluindo (escolhidos aleatoriamente) o Caranguejo Inimigo Gigante, a Vigília Contínua, ou a Descompressão Explosiva.

Todos estes Tropos têm funções narrativas próprias e a maior parte deles são tão prevalentes e transversais a todas as obras, que quando se começarem a aperceber deles, não conseguem deixar de os ver em todo o lado.


Um dos meus Tropos preferidos é o Lampshading, ou Lampshade Hanging.

Imaginem que estão a escrever uma história, e na vossa história há um elemento que é particularmente exagerado, ridículo, forçado ou improvável mas que não podem excluir para que o enredo funcione.

O problema destes elementos exagerados ou improváveis é que fazem com que a audiência repare neles e pense que não fazem sentido. Isso é mau porque não só gera uma quebra da suspensão da descrença, e porque a audiência fica a pensar que você escreve mal.

Uma excelente solução para este problema é pôr as suas personagens a chamarem a atenção para o facto de que as coisas são improváveis ou exageradas, ou, dentro deste tipo de linguagem, a Pendurar um Abajur no problema (Hanging a Lampshade).


É um reconhecimento de que esse elemento é improvável e exagerado mesmo dentro do mundo ficcional no qual as personagens estão inseridas. 
Adicionalmente, fazer as personagens ecoarem o que a audiência está a pensar é uma excelente maneira de as tornar mais relacionáveis, e se for bem executado resulta numa boa piada.


Poderiam até pensar que este é um Tropo recente, para uma audiência mais calejada e que conhece os truques todos, mas não. O próprio Shakespeare já reconhecia a utilidade do Lampshading

Sir Toby Belch: Is it possible?
Fabian: If this were played upon a stage now, I could condemn it as an improbable fiction.
— Shakespeare, Twelfth Night, Act 3, Scene IV

Para terminar, deixo-vos agora com uma selecção dos meus Lampshadings preferidos do Universo Marvel!

O vilão Obadiah Stane faz lampshading de quão irrealista é o facto de que o Tony Stark tenha conseguido construir o Arc Reactor, uma tecnologia incrivelmente avançada, sem meios nenhuns

Para que o enredo funcione, o filme precisa que o Thor seja retirado de cena, e o vilão Loki engana-o com um mesmo truque de ilusão que já tinha usado no primeiro Thor, e depois faz lampshading de quão improvável seria que ele caísse na mesma armadilha duas vezes.



Guardians of the Galaxy (2014)
Grande parte do enredo anda à volta de tomar possessão de um objecto (a Orb), sem que este tenha qualquer outra função para além de fazer o enredo andar para a frente, o que faz dele um MacGuffin. O protagonista Peter Quill faz Lampshading deste facto, comparando a Orb a outros Macguffins famosos do cinema.

Peter: So this Orb has a real shiny blue suitcase/Ark of the Covenant/Maltese Falcon sort of vibe, what is it?


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terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Eleições nos EUA2016 - Bush, Austeridade e Crise Migratória

Quero escrever sobre um tema que me tem interessado nas últimas semanas, e que tem tido desenvolvimentos recentes interessantes.

Começou como curiosidade mórbida sobre a personalidade pomposa e estravagante de Donald Trump, misturada com um receio de recrudescimento da xenofobia, do militarismo e da desregulação do sistema financeiro Americano.

Who is Donald Trump?

E confesso que me diverti no youtube, com as palhaçadas do homem. Faço o resumo deste meu prazer culpado, comparável a ver a ''Quinta'' na TVI:

- Ele insulta toda a gente: Bush é mole, Rubio transpira muito, Carson mente sobre a sua infância, Clinton usa peruca, Obama é estúpido, Sanders é maluco, Kerry é fraco e negligente, McCain é um falhado, Rand Paul é feio, Rosie O'Donnell é uma porca desleixada (!).

- Ele acusa toda a imprensa de mentir, e quando uma entrevistadora lhe fez uma pergunta que ele não gostou, ele acusou-a de estar menstruada.  :O

Vejam, se tiverem paciência para tanta parvoíce:


- Ele disse que ia construir um muro entre os EUA e o México. Na Fronteira. Para parar os migrantes hispânicos que tentam entrar nos EUA. Porque os hispânicos andavam a trazer droga e eram violadores. Whaaat...?



- Ele acha que um livro ('Art of the deal') que ele próprio escreveu é: ''o melhor livro do mundo, depois da Bíblia''.

A sério. O homem é espectacular como entertainer.

Fiquei um pouco... viciado. E agora tenho acompanhado a corrida às presidenciais Americanas de 2016, que vão decidir quem vai substituir Barack Obama.

E vocês perguntam:

''Mas porque é que o próximo presidente Americano nos interessa???''

Bem... é complicado. Mas a resposta curta é: por causa da Globalização.

A comprida?

Provavelmente não repararam mas durante o seu mandato, que começou em 2001, George W Bush foi o impulsionador de legislação para desregular os mercados financeiros. Também baixou impostos sobre lucros e dividendos e cortou o orçamento aos supervisores dos bancos.


Sem supervisão nem regulação, os bancos começaram a conceder empréstimos cada vez mais arriscados, o que contribuiu na medida grande para o crash de Wall Street em 2008.


Do qual resultou a crise do Euro.
Da qual resultou a austeridade que vivemos hoje.

Simplificando de maneira um pouco abusiva: Nós hoje temos menos dinheiro no bolso porque na década passada, o presidente Americano foi o George W. Bush.

O mesmo George W. Bush resolveu que era uma ideia espectacular invadir o Iraque, remover do poder Saddam Hussein, e criar uma democracia na região.


Esta ideia genial criou um vazio de poder no médio oriente, que foi preenchido pelos amigos do Estado Islâmico.


Agora, os militantes do Estado Islâmico têm um hobby, que é cortar a cabeça às pessoas quando não está a dar nada de jeito na televisão.


E esse hobby tende a deixar a população das regiões circundantes... um pouco ansiosa.

A guerra na Síria foi o fósforo, mas a presença do Estado Islâmico mesmo ao lado fez com que só um destino fosse possível para os migrantes: a Turquia ou o Mediterrâneo, e depois a Europa. Os migrantes estão um bocado entre a 'espada e a parede'...


O ano passado vimos notícias nos jornais em Abril, a dar conta da intenção do Estado Islâmico usar a crise dos refugiados para infiltrar a Europa com terroristas. 

Em Novembro, bombistas suicidas e tiroteios em massa vitimaram 130 pessoas em Paris

(Neste cartoon o Jeb! é o irmão mais novo do outro Bush, e candidato presidencial este ano)

Sem a Guerra do Iraque, não havia estado Islâmico, acha o ex-primeiro ministro inglês, Tony Blair

Simplificando de maneira um pouco abusiva: Nós hoje temos uma crise migratória da dimensão que temos, e o terrorismo a entrar Europa dentro, porque na década passada, o presidente Americano foi o George Bush.

Na altura chamaram-lhe estúpido muitas vezes.

No longo prazo, mostrou-se estúpido e perigoso.

Para nós, George Bush Junior contribuiu de maneira indirecta mas significativa (se bem que não intencional), para a austeridade e a crise migratória que vivemos hoje na Europa. Piorou a nossa vida. É o que dá ter uma pessoa estúpida num dos cargos mais importantes do mundo.



São coisas da Globalização.
Portanto, suspeito que para vislumbrar um pouco da década de 2020-2030, vamos ter que saber quem é que os Americanos vão eleger este ano.

Acabaram de ler um post sobre política internacional. Parabéns! Vocês merecem um rebuçado de internet.

Escolha a sua recompensa!

Um site para curar a má disposição.

Um gorducho sapudo que deita raios dos olhos e dos ouvidos.

Um gato a lamber um cão.

Uma jovem a mostrar os seios à internet através do Imgur (NSFW).

Uma jovem e um gato... se se sentirem indulgentes.
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domingo, 24 de janeiro de 2016

Alone in kyoto


Quando visitámos Kyoto era Dezembro, e estava frio.


Depois da azáfama de Tokyo, o ambiente pacífico de Kyoto foi hipnotizante.

Kyoto é uma cidade de templos e bairros antigos, famosa pelas Geishas.


Não vimos de facto nenhuma Geisha. Essas continuam a ser raras e escondidas do olho público, mas andámos pelos antigos bairros de madeira onde elas era populares.


Visitámos Agarashyama, a floresta de bambu.


É o tipo de lugar onde no meio do Santuário de Yakasa...


...podemos encontrar gatos a dormir em cima de carros vintage de marcas de que eu nunca ouvi falar.


Kyoto é um dos poucos lugares que eu já visitei onde os templos religiosos são de facto acolhedores e inspiram tranquilidade.


É também onde podemos ver o Tommy Lee Jones a fazer publicidade a máquinas automáticas de café em lata.


Em Kyoto podemos visitar lugares que aparecem no Lost in Translation, como o Templo Heian.



Onde tanto podemos comer coisas tão bizarras como Okonomiyaki ou pastéis de ovo (?).



Ah, Kyoto.

Havemos de lá voltar.


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quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Presidenciais 2016 - Os Candidatos

Desculpas antecipadas aos ofendidos, mas vamos abandalhar isto um bocado...

Chegamos à meta da corrida presidencial no domingo!!

Marcelo Está-No-Papo Sousa, tenta dizer o mínimo possível e desmentir o máximo o outro Marcelo, o comentador, que aparentemente disse umas coisas com as quais Marcelo Está-No-Papo não concorda. José Mourinho diz que ''Marcelo é um vencedor!'', e de facto, Marcelo fartou-se de vencer. Venceu as eleições para líder do PSD em 1996, e depois... ahhh... pois... Acho que ganhou uma medalha em 2005, no triatlo do dormir-pouco, recomendar livros e falar para o público da TVI, assim tipo, mesmo bué.

''Se não ganhar à primeira faço um 'lifting' facial! Fico mais jovem mas tenho que dizer coisas de esquerda.... Não me façam uma coisa dessas... ''

Maria de Belém diz que vai ganhar certamente, porque:'' fui embalsamada na mesma mortuária que o Cavaco. Não é isso que os portugueses querem num presidente?''. A candidata de quem quer transformar a cerimónia de tomada de posse numa transladação, diz ainda que até abdica de ganhar as eleições, caso lhe paguem umas subvenções jeitosas. O formaldeído anda caro, o que é que pensam?

Yes we can! (But we don't tan...)

Sampaio da Nóvoa, quer ser um género de Ramalho Eanes II. Full of SNAP!, mas com semelhanças com Cavaco. Quem diz que Sampaio da Nóvoa é parecido com Cavaco não sou eu! É o próprio Ramalho Eanes nesta notícia! A realidade é mais estranha que a ficção.
Nesta notícia, Ramalho Eanes diz também que Sampaio da Nóvoa é ''um General''. Ainda Bem!... Assim ficamos com 133 generais, o que dá jeito quando formos invadidos pela Gronelândia.

''Não lhe digam que o Cândido Ferreira está a tentar pregar-lhe uma partida! LOL''

A milionária Marisa Matias promete que: ''Se eu ganhar, prometo ir queimar o circo lá prá Europa! Eu parto aquilo tudo!''
A candidata que, segundo a notícia do Expresso foi a vila nova de Famalicão ''Pôr a carne toda no assador'', diz que não se candidata por interesse, mas sim por Amor, deixou-me preocupado. Não se deve fazer Amor com o nosso sistema eleitoral, ainda se apanha uma doença chata daquelas da comichão na virilha. Marisa, olha que o nosso sistema eleitoral é um javardo, e não te merece.

Olha o tipo de pessoas que o sistema eleitoral atrai...



ah, ah, ah.... eu gostava de ti. Agora vou votar no Tino de Rans, e espero que sejam felizes os dois a coçarem-se.

Por falar em comichões, Edgar Silva diz que: ''repôr salários cria urticária (!) às instituições Europeias''. O candidato Padre-Comunista-Madeirense propõe anti histamínicos genéricos para acalmar os pruridos europeus, e ''que se dane a dívida, que a prioridade é a saúde''. O facto é que este foi o candidato com os maiores comícios da campanha, segundo o DN.  Provavelmente autocarros e autocarros da CGTP transportaram Católicos do CDS e Comunistas do PCP, que assistiram confusos ao candidato defender uma candidatura inteira ''sem castrações'' aos ideais de Abril. Católicos e Comunistas assistiram à segunda metade do comício com as mãos nas algibeiras a trocar olhares.

O cabelo deste homem é presidenciável

Paulo de Morais diz que os candidatos são todos uns aldrabões e provavelmente tem razão. 
O povo português diz: ''Quem é Paulo de Morais?''

''aahhh... quem é que atura estas parvoíces.... a sério...''

As pataniscas estão a seguir com atenção as eleições nos EUA, e estão previstos artigos sobre os parvalhões do outro lado do Atlântico. 

Vota Tino de Rans. Vamos fazer os Tubarões morrerem à fome. Out.



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terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Sorri!

Pressão social para sorrir? Experiências perigosas com cadeiras? A ansiedade como mecanismo de protecção? Bitter, much?

Vamos falar sobre isso!



Toda a minha vida ouvi frases como "Sorrir não custa!"

Ou "Ser simpático não custa nada!"

Ou ainda "Não olhes para os pés, sorri às pessoas".

Também vemos uma data de frases inspiradoras por cima de imagens bonitas a pulular o Facebook, a apelar ao sorriso.

Peço desculpa por vos expôr a esta pirosice nauseante
>suspiro<

Primeiro vamos falar da dor.

Não da dor que sentimos quando olhamos para aquela imagem ali em cima, mas sim dor como sensação física, como quando nos picamos numa agulha ou nos queimamos no fogão.

Quando uma bactéria é exposta a estímulos que lhe são nocivos, como oxigénio, ou calor, ou um glóbulo branco gigante a tentar comê-la, foge desses estímulos.


Agora, uma bactéria, como já vimos, é pouco mais do que um robot molecular. Não é mais do que rodas dentadas e engrenagens proteicas a rodarem umas sobre as outras.
Podemos todos concordar que uma bactéria não sente dor.

Mas apesar disso tem mecanismos que lhe permitem fugir de estímulos que estão correlacionados com a sua própria destruição. A bactéria tem percepção de estímulos nocivos.

A nocicepção (a percepção de estímulos nocivos) é das coisas mais basais à sobrevivência e dos aspectos mais importantemente seleccionados na evolução.

Por isso é que quando nos queimamos no fogão puxamos a mão à bruta. É um mecanismo reflexo do nosso corpo para nos proteger dos danos aos tecidos da nossa mão.

A dor é um alarme. Serve para nos avisar que alguma coisa não está bem e para nos protegermos do que quer que nos esteja fazer mal.

Felizmente temos cérebros muito grandes com uma consciência muito complexa que nos permite sofrer e aprender com esses estímulos nocivos.

A dor existe para nos ensinar a não metermos a mão no fogo.


Agora faça comigo uma experiência, caro leitor:

Sente-se (se não estiver já sentado).

Incline-se para trás na sua cadeira, levantando os pés da frente da cadeira.

Mais um bocadinho.

Mais um bocadinho.

Ainda mais um bocadinho.

Maaaaaaaaais - já está


Sabe essa sensação que teve? Um medo súbito de cair, o coração a acelerar de repente, o calafrio pelas costas abaixo, se calhar até começou a transpirar?

Isso é ansiedade.

Você não chegou a cair, não se magoou. Mas o medo de cair, a antecipação de se magoar, provocaram-lhe sensações desagradáveis. Mesmo que não tenha acontecido nada.

Mas de uma forma muito simplista, o que você sentiu foi ansiedade.



Agora imaginem um macaco, que no seu passeio diário em busca de bagas e frutos, se cruza com um tigre.

O macaco estúpido pensa "Olha, que coisa tão grande e fofinha, acho que lhe vou fazer festinhas".
Esse macaco estúpido não vive tempo suficiente para passar os seus genes da estupidez à geração seguinte.

Por outro lado macacos espertos que pensaram "Olha, está ali uma coisa enorme com dentes, é melhor fugir" sobreviveram.

Sobreviveram porque essa cognição que tiveram acerca do seu ambiente lhes causou ansiedade.

A ansiedade é um mecanismo neuroquímico que transforma percepções cognitivas em reacções físicas.

O cérebro daquele macaco esperto, quando viu o tigre e o entendeu como uma ameaça, libertou uma data de neurotransmissores que fizeram com que a sua tensão arterial subisse, com que o seu coração batesse mais depressa, com que os seus músculos se contraíssem, para ele poder fugir dali o mais depressa possível.


A ansiedade, à semelhança da dor, é um mecanismo de alarme fisiológico que nos protege de coisas que nos podem fazer mal.

Há um estudo de 2012 que demonstra que a ansiedade é processada pelas mesmas zonas do cérebro que lidam com a dor física.

Portanto a ansiedade é equivalente à dor do ponto de vista neurológico, e ambas servem para condicionar comportamentos.

Por exemplo, para o ensinar a não se inclinar para trás na cadeira como um macaco estúpido.


Muito à semelhança das alergias que não são mais do que um exagero do nosso sistema imunitário a estímulos que não são nocivos, também a Ansiedade, que é um mecanismo protector do nosso organismo, pode reagir exageradamente a estímulos que não são nocivos.

É normalíssimo sentirmos ansiedade quando damos de caras com um tigre.

Não é normal sentirmos ansiedade quando vemos um botão.

As Perturbações Associadas à Ansiedade são muitas, passando pela ansiedade generalizadafobias, perturbação obsessivo-compulsivaperturbação de pânico, entre outras, e são muito comuns, com uma prevalência de 18,1% na população adulta Americana e de 23,3% na população adulta Portuguesa.

A maior parte das pessoas não reconhece a ansiedade como uma doença.


A Ansiedade Social é particularmente tramada.

Define-se como uma sensação significativa de ansiedade ou medo provocados por interacções sociais ou pela atenção real ou percepcionada de outros, provocando habitualmente sintomas como corar, transpirar, tremer, palpitações, náuseas, gaguejar ou até ataques de pânico.

Não é assim tão descabido acreditar que o simples facto de alguém olhar para nós possa provocar ansiedade se soubermos que com muitos animais o contacto visual é entendido como um acto de agressão.

Não devem nunca fazer contacto visual com um gorila, por exemplo.


Agora,

Imagine que sempre que alguém interage consigo o seu cérebro interpreta isso como um estímulo nocivo, semelhante à dor física.

Imagine que sempre que alguém fala consigo você sente subitamente o coração a palpitar, os seus músculos contraem-se, fica sem fôlego, a transpirar, a gaguejar, não muito longe do pânico.

Imagine que sempre que alguém lhe diz "Bom dia!" você sente um pico de ansiedade, como o que sentiu lá em cima quando se inclinou para trás na cadeira.

....

"Sorri!"


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