Lembro-me do primeiro jogo de computador que joguei.
A Atari 2600 foi lançada em 1977, e portanto não faço ideia de que maneira é que parecia a coisa mais moderna de sempre quando o meu tio mais novo trouxe uma para casa dos meus pais numa tarde em 1990. Mas se calhar é porque estava numa ilha no meio do atlântico.
Eu tinha uns 5-6 anos, e já compreendia o suficiente acerca da televisão para perceber que isto era uma coisa diferente. Era diferente, era novo, e tinha botões que faziam com que as coisas no ecran nudassem e fizessem barulhos.
Eu fiquei curioso
Tinha um cartucho com dezenas de jogos, que se escolhiam de uma lista.
Lembro-me de jogar o Outlaw.
Eram dois cowboys um de cada lado, com um obstáculo pelo meio, e disparavam um para o outro.
E eu controlava o cowboy.
E nunca nada voltaria a ser tão divertido como jogos de computador.
Depois o meu primo arranjou um computador.
Nem me quero arriscar a tentar adivinhar que tipo de computador seria, e se bem me lembro corria o Windows 3.2 (provavelmente), e tinha um único jogo.
A Roda da Sorte.
Isto foi particularmente importante porque o meu pai ADOROU este jogo.
O meu pai sempre gostou de resolver puzzles. Tinha sido em tempos professor de matemática e resolvia sempre as palavras cruzadas dos jornais.
E agora estava ali à frente dele um brinquedo que aparentemente gerava um número quase infinito de puzzles linguísticos para ele resolver.
Chegávamos a casa da minha tia, que ficava a conversar com a minha mãe, e lá íamos eu e o meu pai para o armário das vassouras onde o meu primo tinha a parafernália informática dele. O meu pai expulsava o meu primo com aquela bonomia de "agora os adultos vão-se divertir com os teus brinquedos" e passava horas a jogar à roda da sorte.
Foi à custa disto que eu aprendi que a letra "E" é a letra mais frequente na língua inglesa, e que os jogos de computador eram uma opção de entretenimento validada pelos adultos.
Claro que passado pouco tempo o meu pai comprou um computador.
Um dos primeiros que joguei foi o Prince of Persia, mas havia outros.
Lembro-me do Gobliins, que era um jogo de puzzles point-and-click com dois goblins feitos de pixel-sprites. O jogo tinha uns puzzles muito parvos, que se resolviam à custa de tentativa e erro.
Havia também o Heart of China, que era um point-and-click de mistério, no qual éramos um aviador no mar da china a tentar salvar uma rapariga. Foi dos primeiros jogos onde me lembro de ter um menu onde tinha de combinar items e escolher as opções de diálogo.
Lembro-me que nunca descobrimos como gravar o jogo, portanto todas as vezes tínhamos de começar do início.
Mas o que ficou para sempre gravado na minha memória foi o Lemmings.
Tantas, tantas noites que eu fiquei acordado com o meu pai a tentarmos resolver puzzles diabolicamente complicados de bonequinhos de corpo azul e cabelo verde que andavam inevitavelmente para a sua morte.
O jogo ia passando por cenários cada vez mais bizarros e difíceis de resolver, mas o meu pai tinha uma paciência infinita para o jogo. Ele costumava desligar o som do computador e punha a banda-sonora do Twin Peaks a tocar por trás.
Nunca mais consegui pensar no Lemmings sem me lembrar do Twin Peaks.
O primeiro jogo que eu me lembro propriamente de jogar foi o Commander Keen.
Era um jogo de plataformas acerca de um miúdo de oito anos que construía uma nave espacial com o motor do corta-relva e outras velharias que estavam no jardim, e ia para um planeta alienígena.
Os controlos eram péssimos, os saltos eram dificílimos, mas era a melhor coisa de sempre.
Também por esta altura joguei o Wolfenstein 3D, que era uma espécie de clone do Doom, mas com um bocadinho (?) mais de história, que basicamente era matar o Hitler.
O jogo era difícil (eu também não sabia gravar portanto começava sempre do início) e era surpreendentemente violento. Não sei como é que me deixaram jogar tanto.
Mas entretanto o meu primo constinuava a arranjar novos jogos. Ele tinha sempre as movidades, que nunca funcionavam no meu computador eternamente obsoleto.
A determinada altura arranjou o Warcraft II.
Tanto, tanto cigarro em segunda mão eu fumei durante as horas intermináveis que passei com o meu primo no armário das vassouras, iluminados apenas pela luz azulada do CRT que nos magoava os olhos, com o cheiro de peças eléctricas e plásticos sobre-aquecidos, misturado com o som do tabaco, enquanto ele arranjava exércitos de cavaleiros e paladinos para irem lutar contra orcos e goblins.
Olhando para estes screencaps hoje não fico espantado porque é que o jogo me capturou tanto a imaginação.
Cada unidade tem tanto pormenor, tanta personalidade. Cada edifício tem imensos pormenorzinhos curiosos. As vozes das unidades eram incrivelmente divertidas, porque iam sempre dizendo coisas diferentes quantas mais vezes carregássemos nelas.
Claro que EU só joguei este jogo muito mais tarde, porque quem jogava era o meu primo. Mas eu não me importava, queria era ver o jogo, e fazia uma fita quando a minha mãe dizia que era hora de irmos para casa.
O último grande jogo da minha infância, e o que marcou a definitiva entrada para a adolescência foi o Half-Life.
O Half-Life mudou tudo. Tinha um mundo imersivo com excelente som e iluminação, sem cut-scenes, com monstros que se comportavam de maneiras muito diferentes, uma narrativa verdadeiramente interessante que punha o protagonista numa luta entre uma força de invasão alienígena e forças militares com segundas intenções.
O Half-Life conseguia mudar de tom de um survival-horror para jogo de acção para jogo de puzzles com uma facilidade tremenda, e a ser (e continua a ser) o padrão pelo qual eu julgo qualquer jogo que me apareça.
Agora dizem-me que vem aí um jogo com 18 quintiliões de planetas, proceduralmente gerados, para explorar e eu sinto-me como se tivesse 8 anos outra vez.
Weeeeee!
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A Atari 2600 foi lançada em 1977, e portanto não faço ideia de que maneira é que parecia a coisa mais moderna de sempre quando o meu tio mais novo trouxe uma para casa dos meus pais numa tarde em 1990. Mas se calhar é porque estava numa ilha no meio do atlântico.
Eu tinha uns 5-6 anos, e já compreendia o suficiente acerca da televisão para perceber que isto era uma coisa diferente. Era diferente, era novo, e tinha botões que faziam com que as coisas no ecran nudassem e fizessem barulhos.
Eu fiquei curioso
Lembro-me de jogar o Outlaw.
Eram dois cowboys um de cada lado, com um obstáculo pelo meio, e disparavam um para o outro.
E eu controlava o cowboy.
E nunca nada voltaria a ser tão divertido como jogos de computador.
Depois o meu primo arranjou um computador.
Nem me quero arriscar a tentar adivinhar que tipo de computador seria, e se bem me lembro corria o Windows 3.2 (provavelmente), e tinha um único jogo.
A Roda da Sorte.
Isto foi particularmente importante porque o meu pai ADOROU este jogo.
O meu pai sempre gostou de resolver puzzles. Tinha sido em tempos professor de matemática e resolvia sempre as palavras cruzadas dos jornais.
E agora estava ali à frente dele um brinquedo que aparentemente gerava um número quase infinito de puzzles linguísticos para ele resolver.
Chegávamos a casa da minha tia, que ficava a conversar com a minha mãe, e lá íamos eu e o meu pai para o armário das vassouras onde o meu primo tinha a parafernália informática dele. O meu pai expulsava o meu primo com aquela bonomia de "agora os adultos vão-se divertir com os teus brinquedos" e passava horas a jogar à roda da sorte.
Foi à custa disto que eu aprendi que a letra "E" é a letra mais frequente na língua inglesa, e que os jogos de computador eram uma opção de entretenimento validada pelos adultos.
Claro que passado pouco tempo o meu pai comprou um computador.
Um dos primeiros que joguei foi o Prince of Persia, mas havia outros.
Lembro-me do Gobliins, que era um jogo de puzzles point-and-click com dois goblins feitos de pixel-sprites. O jogo tinha uns puzzles muito parvos, que se resolviam à custa de tentativa e erro.
Havia também o Heart of China, que era um point-and-click de mistério, no qual éramos um aviador no mar da china a tentar salvar uma rapariga. Foi dos primeiros jogos onde me lembro de ter um menu onde tinha de combinar items e escolher as opções de diálogo.
Lembro-me que nunca descobrimos como gravar o jogo, portanto todas as vezes tínhamos de começar do início.
Mas o que ficou para sempre gravado na minha memória foi o Lemmings.
Tantas, tantas noites que eu fiquei acordado com o meu pai a tentarmos resolver puzzles diabolicamente complicados de bonequinhos de corpo azul e cabelo verde que andavam inevitavelmente para a sua morte.
O jogo ia passando por cenários cada vez mais bizarros e difíceis de resolver, mas o meu pai tinha uma paciência infinita para o jogo. Ele costumava desligar o som do computador e punha a banda-sonora do Twin Peaks a tocar por trás.
Nunca mais consegui pensar no Lemmings sem me lembrar do Twin Peaks.
O primeiro jogo que eu me lembro propriamente de jogar foi o Commander Keen.
Era um jogo de plataformas acerca de um miúdo de oito anos que construía uma nave espacial com o motor do corta-relva e outras velharias que estavam no jardim, e ia para um planeta alienígena.
Os controlos eram péssimos, os saltos eram dificílimos, mas era a melhor coisa de sempre.
Também por esta altura joguei o Wolfenstein 3D, que era uma espécie de clone do Doom, mas com um bocadinho (?) mais de história, que basicamente era matar o Hitler.
O jogo era difícil (eu também não sabia gravar portanto começava sempre do início) e era surpreendentemente violento. Não sei como é que me deixaram jogar tanto.
Mas entretanto o meu primo constinuava a arranjar novos jogos. Ele tinha sempre as movidades, que nunca funcionavam no meu computador eternamente obsoleto.
A determinada altura arranjou o Warcraft II.
Tanto, tanto cigarro em segunda mão eu fumei durante as horas intermináveis que passei com o meu primo no armário das vassouras, iluminados apenas pela luz azulada do CRT que nos magoava os olhos, com o cheiro de peças eléctricas e plásticos sobre-aquecidos, misturado com o som do tabaco, enquanto ele arranjava exércitos de cavaleiros e paladinos para irem lutar contra orcos e goblins.
Olhando para estes screencaps hoje não fico espantado porque é que o jogo me capturou tanto a imaginação.
Cada unidade tem tanto pormenor, tanta personalidade. Cada edifício tem imensos pormenorzinhos curiosos. As vozes das unidades eram incrivelmente divertidas, porque iam sempre dizendo coisas diferentes quantas mais vezes carregássemos nelas.
Claro que EU só joguei este jogo muito mais tarde, porque quem jogava era o meu primo. Mas eu não me importava, queria era ver o jogo, e fazia uma fita quando a minha mãe dizia que era hora de irmos para casa.
O último grande jogo da minha infância, e o que marcou a definitiva entrada para a adolescência foi o Half-Life.
O Half-Life mudou tudo. Tinha um mundo imersivo com excelente som e iluminação, sem cut-scenes, com monstros que se comportavam de maneiras muito diferentes, uma narrativa verdadeiramente interessante que punha o protagonista numa luta entre uma força de invasão alienígena e forças militares com segundas intenções.
O Half-Life conseguia mudar de tom de um survival-horror para jogo de acção para jogo de puzzles com uma facilidade tremenda, e a ser (e continua a ser) o padrão pelo qual eu julgo qualquer jogo que me apareça.
Agora dizem-me que vem aí um jogo com 18 quintiliões de planetas, proceduralmente gerados, para explorar e eu sinto-me como se tivesse 8 anos outra vez.
Weeeeee!