Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

terça-feira, 26 de abril de 2016

O futuro não é o que costumava ser - Uma explosão Cambriana

''The future isn't what it used to be.''
- Paul Valery
Gosto de histórias de ficção científica. Histórias sobre como a vida seria caso a civilização fosse mais avançada, tecnologicamente. Essas histórias nascem do cruzamento entre o fascínio humano com o que a técnica pode um dia vir a ser, e o conflito que os novos problemas éticos/morais/sociais levantam com essas novas possibilidades.

Se tecnologia nos permite fazer coisas novas, vamos ter que nos perguntar e debater se devemos fazer essas coisas. Pensem na clonagem de pessoas, por exemplo.


É interessante que se o passado é indicação de alguma coisa, podemos dizer que o fututo que nos vai bater à porta, vai trazer brinquedos tecnologicamente avançados para os adolescentes usarem durante o jantar, em vez de falarem com os seus parentes.

Esse futuro que irá bater à porta vai também deixar um saco de papel em chamas para nós pisarmos, cheio de problemas sociais/éticos/morais. E problemas práticos, directamente relacionados com a nossa sobrevivência enquanto espécie.


Sei lá... pensem na guerra nuclear há 30 anos... e no aquecimento global actualmente.

Ergo, o futuro é ficção científica. Ou melhor, é ''não-ficção científica''. O H. G. Wells só conseguiu vender livros porque ninguém sabe qual vai ser a narrativa dessa ''não-ficção científica''.

Assim, a ficção científica passa muito pelas nossas esperanças acerca do que o futuro pode trazer.


E pelos nossos medos.


Seja como for, imaginamos um futuro feito à nossa imagem. Desde o fim da pobreza e da fome, até ao fim das liberdades individuais e ao esgotamento dos recursos naturais.  Há pessoas que acham que vai começar a 3ª guerra mundial. Eu acho que é porque estão habituadas a trilogias cinematográficas. E profetizam que o terceiro filme vai ser o pior, e desiludir imenso os fãs.

Os pólos deste espectro antropomórfico são muito parecidos com projecções emocionais nossas. Por um lado temos medo do futuro, por outro, se as coisas vão melhorar, não vai ser ontem.
Todos nós somos pessimistas e optimistas, em proporções variáveis, em alturas diferentes.

Outra coisa: Estão a ver esta imagem acerca de um futuro?


Não é fixe? Uma cidade saída do Blade Runner? Ou esta?


Um paraíso verde auto sustentável.

Estes são os nossos futuros distante. A ideia que nós temos, decalcada na nossa consciência colectiva, do que pode vir a ser, um dia. Estas imagens fazem-nos sonhar, e têm uma ressonância emocional muito própria.

E estas?



Bem, nem tanto. São do inicio do século 20. Como é que vos fazem sentir? Provavelmente da mesma maneira que as nossas imagens vão fazer sentir alguém de uma próxima geração, daqui a 100 anos. Cada geração tem o seu próprio futuro distante, com uma ressonância emocional própria.

Então o que vai ser o futuro? Carreguem neste link para descobrirem!

Não sei o que vai ser. Mas sei o que já é.

A verdade é que se eu viajasse para o passado e mostrasse o meu smartphone a mim próprio, 20 anos mais novo, provavelmente o eu do passado acharia que se tratava de um espelho pequenino, que pertencia a um senhor chamado 'samsung'.

Isto antes de ir para a mesa do telefone, ligar à minha avó, numa coisa destas:


Esperam-se coisas interessantes nos próximos 10 anos.

De acordo com a lei de Moore, a capacidade de processamento dos computadores vai igualar a humana, por volta de 2025. Avanços recentes em 'computação quântica', podem fazer com que isto aconteça ainda mais cedo. A Google está a trabalhar com a NASA num computador cerca de 100 milhões de vezes mais rápido que o vulgar PC de secretária.

Ao ler estas coisas, vem-me à memória uma frase batida:

'Any sufficiently advanced technology is indistinguishable from magic.'
- Arthur C Clarke

Para mim, um computador a funcionar a essa velocidade é magia. Não faço ideia de como é que isso vai ter impacto na nossa vida. Mas provavelmente vai ter. Hoje, eu sou o miúdo a olhar para o espelhinho fosco do senhor 'samsung'.

Entretanto, outro truque de magia em desenvolvimento, chama-se ''deep learning''.

Aparentemente, é uma maneira de um computador simular a capacidade de aprendizagem do cérebro humano, criando uma série de interligações e camadas abstractas, de complexidades crescente. Este truque de magia, tem potencial para permitir ao computador 'aprender' coisas.


Neste caso, aprender o que é uma cara. Se percebo bem, não é reconhecer caras.
É aprender o conceito de cara.
Este vídeo descreve o processo.

O último truque de magia que tenho no saco chama-se 'cloud robotics'. Será uma 'nuvem' que permite uma interligação entre computadores e robots/terminais. Os robots vão poder usar os recursos dessa nuvem, para operarem nos vários ambientes.

Um exemplo: os carros automáticos desenvolvidos pela Google, que tiram partido dos mapas, informação dos satélites, os dados do 'google earth' (streetview), e integram essa informação nos dados do GPS, câmaras e sensores 3D do carro. Essa informação está depois disponível para todos os outros carros, melhorando a performance de todos em conjunto.


Com tantos brinquedos novos, há pessoas que afirmam que pode estar a começar uma ''explosão cambriana da tecnologia''.


A explosão cambriana (no contexto da geologia/biologia) foi um evento desconhecido, há meio bilião de anos, que levou a uma diversificação intensa da vida biológica, e ao aparecimento da maior parte dos antepassados dos animais modernos. Antes da explosão cambriana, a vida na terra era quase toda unicelular, organizada em colónias.

Ninguém sabe o que levou à explosão cambriana. Mas sabemos que levou eventualmente a macacos inteligentes que dão palpites sobre o futuro, e gostam de histórias de ficção científica.

Agora falta perceber: onde é que a explosão cambriana da tecnologia deixa os macacos que gostam de dar palpites sobre o futuro, e de histórias de ficção científica...


Leiam mais palpites sobre isto na segunda parte do artigo:

''O futuro não é o que costumava ser - O fim do emprego''!
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The Road to Civil War - Iron Man

O Iron Man a nascer da Guerra Fria? Nevoeiros de moralidade em tons de cinzento? De que maneira é que o percurso do Tony Stark justifica a sua atitude no Civil War?

Vamos falar sobre isso!


Outra diferença curiosa entre o Captain America: Civil War e o Batman V Superman: Dawn o Justice, é que o BvS põe em conflito duas personagens da Idade de Ouro da Banda-desenhada.

Essa altura idílica que começou no pré-Segunda Guerra Mundial, em que podíamos ter Detectives-Morcegos e Super-Alienígenas a saltar por todo o lado, que ninguém achava isso estranho! Não se esqueçam que o nosso Capitão-[Nação] também nasceu nessa altura em que os Americanos estavam envolvidos na guerra mais paradigmática da luta-do-bem-contra-o-mal de sempre.

O Captain America, quando é criado em 1941, representa os valores dessa América Pós-Guerra, que vê o mundo a preto-e-branco. O Captain America tem sempre a certeza de qual é a coisa certa e justa a fazer.

O Iron Man é criado em 1963, no pico da Guerra fria.


Em Outubro de 1962, durante 13 dias, os Estados Unidos da América e a USSR tiveram mísseis nucleares apontados uns aos outros. Ficou conhecido como a Crise dos Mísseis Cubanos, e considera-se que tenha sido um dos momentos em que estivemos mais próximo de uma Guerra Nuclear global.

Pior que isso, toda a crise, as negociações e as especulações foram mediatizadas e transmitidas nas televisões do mundo todo. Havia medo. Homens crescidos iam cavar abrigos de bomba no quintal para proteger a família. Se havia alguma coisa que a cultura desta altura detestava era a guerra, e tinha imensa desconfiança pelos militares.

O Tony Stark representa tudo o que o público detestava. Era o capitalista perfeito, lucrava com a produção e venda armas ao exército, era absurdamente rico.

O Iron Man nasce deste nevoeiro moral em que a América estava. Esta já não era uma América que idolatrava o soldado, com um idealismo ingénio na liberdade e justiça.
Não, esta era uma América que já não sabia se podia confiar no seu governo, em que é muito mais difícil apontar os maus-da-fita.


No primeiro Iron Man (2008) o Tony Stark tem uma moralidade perfeitamente cinzenta, não fazendo nenhuma distinção sobre o que está certo ou errado. Vende despreocupadamente armas quer a exércitos ou terroristas, desde que haja lucro nisso. Não está a matar ninguém directamente, mas está a aproveitar-se da guerra para lucrar?

Estes meandros morais, esta incerteza do que está certo ou errado, são a antítese da moralidade preto-e-branco do Captain America. O Iron Man é um herói clássico da Idade Prateada da Banda Desenhada.
Nasceram em alturas diferentes, têm maneiras diferentes de olhar para o mundo.

Um vê-o a preto e branco e o outro em tons de cinzento.

Um vê sempre qual é a direcção certa, o outro está sempre à procura de atalhos.



Por causa dessa sua flexibilidade moral, o Tony Stark acaba muitas vezes por não tomar as melhores decisões.

É a sua arrogância que faz com que seja capturado por terroristas no deserto. É por isso que fica com um buraco no peito e tem de construir uma armadura para escapar.

É essa tecnologia que ele criou que leva o Obadiah Stane a usar essa tecnologia para construir uma armadura só sua para matar o Stark.

O Iron Man cria os seus próprios problemas.

Obadia Stane - Iron Monger
No Iron Man 2 (2010) os principais conflitos continuam a surgir por causa do próprio Tony Stark.

É a sua decisão de anunciar ao mundo que é o Iron Man, e a subsequente fama e publicidade que ele ganha com isso, que desperta a atenção do seu vilão, o Ivan Vanko. Ivan Vanko cujo pai era um cientista que foi roubado por Howard Stark, o pai de Tony Stark.

É a invenção da armadura do Iron Man que despoleta uma corrida às armas; o que leva o Justin Hammer, presidente da empresa concorrente à Stark Industries, a querer construir armaduras e a contratar o Ivan Vanko para o fazer.

É a sua irresponsabilidade, quando se embebeda e destrói metade da casa com a armadura vestida, que faz com que o exército fique com a sua armadura.

Ivan Vanko - Whiplash
Sistematicamente, nas histórias do Iron Man há esta temática de que ele toma as decisões erradas, ou que é ele que está a provocar todos os problemas.

No Iron Man 3 (2013) o Tony Stark está com Stress Pós-Traumático depois de ter decidido juntar-se aos Avengers para lutar contra os alienígenas que estavam a invadir Nova Iorque.

É ele que humilha o Aldrich Killian, empurrando-o para medidas desesperadas, e que o leva a criar toda uma conspiração para transformar pessoas em armas e inventar um terrorista.

É ele que literalmente convida o Mandarin a vir rebentar-lhe com a porta de casa.

Aldrich Killian - poderes Extremis
No Age of Ultron (2015) o Tony Stark toma a mãe de todas as más decisões, e decide criar uma Super-Inteligência Artificial que vai proteger a humanidade. Claro que cinco minutos depois essa AI torna-se genocida e os Avengers têm de ir limpar a porcaria do Tony Stark.

No processo destroem mais uma cidade, Sokovia.


Depois da destruição de Sokovia vem o Governo dizer aos Avengers "Olhem, vocês não podem simplesmente andar por aí a destruir coisas só porque têm poderes! As pessoas têm medo! Quem é que é responsável se alguém se magoar? É preciso que alguém esteja de olho em vocês"

O governo quer controlar os Avengers, e quer que assinem os Acordos de Sokovia, que lhes dará o poder de fazerem exactamente isso.

Por esta altura temos um Iron Man que repetidamente viu que uma única pessoa a controlar muito poder vai inevitavelmente ser corrompido por esse poder.
O Tony Stark está pessoalmente familiarizado com o risco de tomar más decisões e dessas más decisões provocarem ainda mais estragos.

Este Tony Stark está pronto para finalmente admitir que é preciso alguém a regular o poder dos Avengers para impedir que eles causem mais danos colaterais desnecessários.

É claro que ele vai ver a razão nos Acordos de Sokovia, e lutar contra o Captain America a favor deles.


Portanto por um lado temos o Captain America, que começa aliado ao governo, mas à custa da sua moralidade branco-e-preto acredita que é mais seguro ter indivíduos a tomar decisões morais do que confiar em organizações que podem ser corrompidas, e que acaba a lutar contra o governo.

Por outro lado temos o Iron Man, que começa como um rebelde contra o governo, mas à custa da sua moralidade cinzenta acaba por ver que os indivíduos são demasiado falíveis para controlarem tanto poder e que inevitavelmente vão usá-lo mal, e que acaba a agir a favor do governo.

Venha daí a Guerra Civil, para vermos como é que isto se resolve!


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quinta-feira, 21 de abril de 2016

The Road to Civil War - Captain America

A origem do Captain America? Porque é que ele tem uma moralidade preto-e-branco? De que maneira é que o percurso dele justifica a sua atitude no Civil War?

Vamos falar disso!

Como eu já disse, o Captain America é um produto da propaganda da Segunda Guerra Mundial, foi criado por Joe Simon e Jack Kirby, com a sua primeira banda desenhada a surgir em Março de 1941.

É claro que a Segunda Guerra Mundial começou a 1 de Setembro de 1939, mais de um ano antes do aparecimento do Captain America, mas não se esqueçam que a América não entrou logo para a guerra. Lembram-se quando é que a América entra oficialmente na Segunda Guerra Mundial?

A 7 de Dezembro de 1941 os Japoneses lançam o ataque ao porto americano de Pearl Harbour, que impulsiona os EUA a juntarem-se aos Aliados na luta contra os poderes do Eixo.

Ou seja, o Captain America esmurra o Hitler no queixo cerca de 6 meses antes da entrada da América na Guerra.

O Captain America é um produto do conflito mais preto-e-branco da nossa história. Temos os representantes da liberdade a lutarem contra os Nazis! 


Apropriadamente, no seu primeiro filme, o Captain America: The First Avenger (2011), Steve Rogers é um tipo magrinho mas que quer lutar contra os Nazis porque acredita que é esse o seu dever. Não porque quer lutar, não porque quer ser um herói, simplesmente porque essa é a coisa certa a fazer.

Convenientemente há um programa do exército que está à procura de recrutas a quem aplicar os Vita-Rays que juntamente com Soro do Super-Soldado inventado pelo Dr. Erskine, é capaz de dar a qualquer pessoa capacidades sobre-humanas de força, agilidade e durabilidade.

O Steve Rogers não é escolhido para ser o Captain America porque é um soldado perfeito, capaz de seguir ordens obedientemente e eficazmente, ele é escolhido porque é um homem BOM, porque tem um fortíssimo sentido de moralidade.

O Captain America nunca tem dúvida nenhuma acerca do que está certo e errado. Para ele todos os problemas são preto-e-branco. Foi aí que ele nasceu.


No seu primeiro filme não só está a lutar contra os Nazis, mas descobre que os próprios Nazis são uma espécie de incubadora à organização ainda mais sinistra que é a Hydra.

A Hydra está a usar o poder do Tesseract, uma das Infinity Stones, para criar um exército imparável que vai conquistar o mundo.

No fim é o Captain America que, contra todas as probabilidades, consegue desmantelar a organização maléfica e no fim sacrifica-se para destruir o Tesseract.


Como costuma acontecer neste tipo de histórias, obviamente, o Captain America fica melhor e é descongelado mesmo a tempo para poder participar em mais aventuras no Avengers (2012)

No Avengers o Captain America não tem propriamente um papel muito central, mas apesar de tudo há detalhes que nos dizem muito acerca da sua personagem.

No início do filme vêmo-lo desorientado, sem um lugar no mundo, até que o Nick Fury o convence a voltar a juntar-se à SHIELD para os ajudar a lutar contra uma invasão de alienígenas.

No entanto, a meio do filme, o Captain America descobre que afinal a SHIELD estava a investigar e a desenvolver as mesmas armas que a HYDRA tinha usado na Segunda Guerra Mundial.

No entanto, continua a haver a invasão de alienígenas, e o Captain America, com a sua moralidade preto-e-branco, sabe exactamente para onde dirigir a sua atenção, e as armas da HYDRA ficam um pouco esquecidas.


Mas será que um herói da Segunda Guerra Mundial, com uma bandeira no peito e com esse tipo de morais fixas na pedra consegue continuar a ser uma personagem actual e apelativa?

Como qualquer escritor vos dirá, uma das melhores ferramentas narrativas para dar interesse a uma personagem é dar-lhe um conflito interno. Um problema em que os valores pessoais da personagem chocam entre si, e isso cria angústia e sofrimento à personagem. Faz com que ela tenha dúvidas e hesitações e cometa erros, faz com que a interacção dela com o enredo seja mais complexa, e torna-a muito mais relacionável (porque todos nós temos conflitos internos também).

Mas o Captain America não tem conflitos internos. O Captain America tem sempre a certeza de qual é a decisão certa em qualquer situação.

Como é que se escreve uma história interessante para uma personagem que tem uma moralidade estritamente preto-e-branco?

É fácil. Basta metê-la num ambiente em que a moralidade seja o mais cinzenta possível.


No Captain America: The Winter Soldier (2014), Steve Rogers está completamente desenquadrado do mundo em que vive, sem referências, sem amigos, e muito deprimido. É um homem perdido no tempo. Passa os seus dias a visitar os amigos mortos nos museus e as antigas namoradas demenciadas nos lares de terceira idade.

Ao mesmo tempo, a organização para quem sempre trabalhou, a SHIELD, está a tentar implementar um programa de vigilância dos cidadãos para eliminar ameaças antes de elas sequer se manifestarem, algo que está em directa contradição com os seus valores rígidos de liberdade.

No filme o Captain America acaba por descobrir que a HYDRA infiltrou a SHIELD e que está a planear usar esse programa de vigilância para controlar o mundo, e que o seu amigo de infância, o Bucky Barnes, sofreu uma lavagem cerebral pela HYDRA e anda a assassinar pessoas.

O Captain America acaba a ser perseguido pela SHIELD/HYDRA ao mesmo tempo que tenta recuperar o seu amigo. A única coisa que o ajuda a manter-se são e a não perder o rumo no meio de todos estes problemas é o seu compasso moral sólido e estritamente branco-e-preto.


Depois do Age of Ultron (2015), e depois de uma data de filmes em que os Avengers se fartam de destruir coisas e provocar estragos a uma escala global, chega o governo e diz "Olhem, as pessoas estão a ficar assustadas com vocês, têm de parar de destruir coisas. É preciso ter alguém a regular-vos"

O governo quer controlar o poder dos Avengers, e quer que assinem os Acordos de Sokovia, que lhes dará o poder de fazerem exactamente isso.

Por esta altura temos um Captain America que repetidamente viu que as instituições organizadas podem ser corrompidas e que o governo não é de confiança.

Este Captain America aprendeu à sua custa que a única coisa em que pode confiar é em si mesmo e no seu próprio sentido de bem e mal.
Aprendeu que é mais seguro ter pessoas individuais a tomarem decisões morais, do que confiar em organizações para assumirem o poder e decidirem o que fazer com ele, porque inevitavelmente vão ser corrompidas.

É claro que ele vai rejeitar os Acordos de Sokovia e lutar contra o Tony Stark a favor deles.

Venha daí a Guerra Civil.

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terça-feira, 19 de abril de 2016

A arte perdida da Copromancia

Nostalgia pela altura em que estudávamos o Harrison? Mistérios de natureza escatológica?
O Papão a respirar-nos no pescoço outra vez?

Vamos falar sobre isso!



Portanto o ano era 2010, e estávamos nós, eu e o Ricardo, em Évora a estudar para o Harrison.

(não te preocupes, Ricardo, não é ESSA história que eu vou contar).

Estávamos a estudar para o Harrison, porque era isso que o Papão queria na altura, da mesma maneira que agora quer que façamos outra tarefa igualmente inútil e esmagadoramente aborrecida.

De qualquer maneira passávamos muito do nosso tempo a estudar na Universidade de Évora.

Ainda foram 6 semanas em Évora, a estudar para o Harrison.



E durante esse tempo reparámos numa coisa que nos deixou curiosos.
Dado que passávamos tantas horas seguidas dos nossos dias a estudar lá na faculdade, inevitavelmente tínhamos de usar as casas de banho.

E fomos reparando que sistematicamente havia alguém, nunca percebemos quem, que quando ia usar a casa de banho deixava sempre lá um pequeno submarino castanho, grande e volumoso.

Sempre.

Era talvez um tipo 3
Quase todos os dias quando lá íamos, lá víamos os indícios do nosso amigo.

Não sei o que é que ele comia, em que é que consistia a sua dieta. Certamente muita fibra porque... aquilo era impressionante.

Mas há aqui um detalhe, que se calhar já repararam se ainda estiverem a ler, que é: como é que nós éramos capazes de ver o presente que o nosso amigo nos deixava todos os dias, como se de um cartão de visita se tratasse.

Nós éramos capazes de o ver, porque não havia papel higiénico na sanita.



Lá estava ele, ali a flutuar, grande e imponente, e nem um vestígio de papel higiénico à vista.

Isto deixou-nos intrigados, e passámos muitas boas horas a discutir o mistério da ausência do papel higiénico (o que por si só vos deve dar uma ideia do estado da nossa mente depois de meses a estudar o Harrison).

Será que o nosso amigo usava alguma forma de papel higiénico biodegradável que se desfazia?

Será que sempre que ele ia matricular o robinho na natação, vinham alienígenas que recolhiam o papel, e não o resto, para analisar?



Não. Nada disso.

Sabem como na antiguidade os sacerdotes ou xamãs de variadíssimas religiões e crenças tinham o método de ler o futuro nos órgãos dos animais, ou no voo dos pássaros?

E como actualmente ainda há muita gente que tenta ler o futuro nas cartas, que se chama Cartomância, e nas palmas das mãos, que se chama Quirologia?

Pois bem, o nosso amigo da Universidade de Évora andava a consultar não uma Cartomante, não uma Quiróloga, mas sim uma Copromante!

Chegámos à conclusão, depois de muito pensar sobre o assunto, que o nosso amigo de Évora, sempre que acabava o que tinha a fazer na casa de banho, recolhia muito bem o papel higiénico usado, dobrava-o cuidadosamente e guardava-o na carteira, para depois o ir mostrar à Copromante.


A Copromante pegava no papel higiénico usado, desdobrava-o cuidadosamente, fazendo gestos místicos e olhares preocupados, e uns "Hmmmmmmmmmmm" e "Ahhhhhh" muito longos e pensativos.

Depois ia analisar o odor, e o padrão de dispersão no papel higiénico.

Um padrão mais espalhado e raiado é indicativo de sorte no amor. Um padrão mais linear, com mudanças na cor significa que é uma má altura para investir acções.

Uma maior granularidade significa que está na altura de agir instintivamente, ao passo que uma textura mais delicada significa que há problemas no casamento.

Nem preciso de vos dizer o que é que grãos de milho significam.


Surpreendentemente, ou não, uma pesquisa de 30 segundos na internet que fiz agora mesmo diz-me que esta parvoíce afinal existe mesmo.

Chama-se Escatomancia, que é um nome quase tão bom como Copromancia, e que há gente que tenta levar isto a sério.

Não sei.

Sei que o Papão anda a espreitar-me por cima do ombro com muita força.

Juro que quando pesquisei "Scatomancy" no Google esta foi uma das imagens que apareceu
Não precisam de agradecer eu não ter usado nenhuma das outras
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quinta-feira, 14 de abril de 2016

Psicadélia com o Dr. Estranho

Mágicos foleiros dos anos 30? Trips psicadélicas alimentadas a drogas? Contra-cultura dos anos 60? Hype e mais hype acerca do Dr. Strange?

Vamos falar sobre isso!


Portanto com o Captain America: Civil War aqui mesmo à porta, a Marvel decidiu aproveitar a atenção e o entusiasmo dos fãs para nos largar o trailer do seu próximo filme, o Doctor Strange.

(só numa nota aparte: no momento em que escrevo isto, o Captain America: Civil War tem uma pontuação de 100% no Rotten Tomatoes! Eu sei que é cedo, é de uma pool de só 15 críticas, mas ainda assim weeeeeeeee!!!)

Acho que nunca li nenhuma banda-desenhada do Dr. Strange. Li muitas bandas-desenhadas onde ele aparece, sempre como personagem secundária, sempre a aconselhar as outras personagens, mas acho que nunca de facto li nenhuma história só dele.

Mas aquilo que me ficou sempre na cabeça é que o Dr. Strange é uma personagem estranha.


É um tipo com uma capa vermelha (coisa que não se vê assim tanto quanto isso na Marvel) que mais parece saído de uma banda desenhada dos anos 30, como o Mandrake The Magician.

Parece um bocado vistoso. A palavra "foleiro" vem à cabeça.


A personagem do Dr. Strange no entanto foi inventada em 1963, pelo artista Steve Ditko, famoso colaborador de Stan Lee.

O Dr. Strange é verdadeiramente uma personagem que usa magia negra para resolver os seus problemas, ao passo que no resto do universo marvel a maior parte dos poderes e habilidades das personagens estão habitualmente associadas a origens científicas.

O Captain America é fruto de um super-soro, o Bruce Banner é resultado de radiação gama, o Iron Man (também de 1963) é um homem dentro de um fato mecânico.

O Dr. Strange usa magia. É atípico.


No entanto, exactamente por causa dessa atipia, as narrativas do Dr. Strange começaram a expandir o universo da Marvel, construindo uma cosmologia coesa que incluia elementos de mitos egípcios, deuses sumérios e arquétipos Jungianos.

Steve Ditko teve dessa maneira liberdade para fazer o que lhe passasse pela cabeça, e criou cenários e ambientes verdadeiramente surreais.


Esta personagem, com as suas ideias de misticismo e cenários psicadélicos, apelou especialmente a um público mais velho, aos estudantes de universidade, que começaram a ver significados escondidos em tudo.



Não se esqueçam igualmente que os anos '60 na América foi a época em que a cultura das drogas e do LSD começaram realmente a fazer parte da cultura da juventude.


As bandas desenhadas do Dr. Strange conseguiram antever a fascinação que a contra-cultura dos anos '60 viria a ter com tudo o que estivesse relacionado com o misticismo oriental, e de antecipar-se às tendências artísticas psicadélicas do fim dos anos '60 antes destas se começarem a estabelecer.


Steve Ditko levou a personagem ainda mais longe ao começar a introduzir entidades abstractas como personagens contra as quais o Dr. Strange se defrontaria.

Por exemplo a Eternidade, uma personificação do Universo, representada como uma silhueta cheia de estrelas.



Apesar de o Dr. Strange nunca ter estado entre as personagens mais populares ou acessíveis da Marvel, conseguiu encontrar um nicho numa audiência que procurava uma alternativa mais desafiadora do que os super-heróis habituais.


Compreendem por isso que eu tenha ficado muito entusiasmado quando no ano passado quando li a notícia que o Director de Fotografia do Guardians of the Galaxy, Ben Davis, ia também fazer a fotografia do filme do Dr. Strange.

Fiquei ainda mais entusiasmado quando o próprio Ben Davis disse que o Dr. Strange iria ser o Fantasia da Marvel, inspirando-se nas perspectivas impossíveis de M.C. Escher.



Mais entusiasmado fiquei ainda (é tanto entusiasmo que estou prestes a rebentar uma veia) quando recentemente o produtor dos estúdios Marvel vei anunciar que o filme iria usar a tecnologia do 3D para aumentar ainda mais o efeito dos ambientes surreais do filme.


Até agora o 3D tem sido sempre algo que é distractivo ou inútil ao filme onde é usado.
Vai ser extremamente interessante ver de que maneira o 3D de facto é útil para contribuir e aumentar o efeito do filme e da narrativa.


Olhando para o trailer que saiu há poucos dias, eu diria que o meu entusiasmo e expectativas por este filme foram bem investidas, e que o filme vai mesmo ser a trip psicadélica que eu quero imenso que seja.

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