Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 19 de julho de 2016

As Drogas no seu Cérebro

Sal no cérebro? A Consciência é uma coisa física? As moléculas que mandam na nossa cabeça?

Vamos falar sobre isso


Já alguma vez se sentiu triste?

E feliz?

São emoções complexas, difíceis de definir sem ser em termos polarizados de "bom" e "mau". São provocadas por um conjunto igualmente difícil de contabilizar de factores, passando pela nossa infância, as nossas relações inter-pessoais, a nossa situação social, laboral e económica, incluindo aquilo que comemos (ou não) ao pequeno-almoço.

É compreensível que estas emoções sejam entendidas como coisas abstractas, que não existem propriamente num mundo físico, atingível.

É por isso que para muita gente os anti-depressivos e outros psico-fármacos pareçam funcionar como por magia, e induzam tanta desconfiança.


Esta noção deriva do nosso próprio desconhecimento de como funciona a consciência humana.

No geral, continuamos a sentir que a consciência é uma coisa etérea e muito abstracta, que anda a flutuar vagamente relacionada com o nosso cérebro.

Porque se perguntarmos "Onde é que está aquele pensamento sobre patinhos?" não podemos simplesmente apontar para o cérebro e dizer "Está ali!".

Essa pergunta não faz sentido da mesma maneira que não faz sentido apontar para a placa electrónica de uma calculadora e perguntar "Onde é que está o cálculo 2+2=4?".

Está em todo o lado e não está em nenhum.


Porque a consciência é uma qualidade emergente de sistemas extremamente complexos. É maior do que a soma das suas partes. Mas a verdade é que a consciência continua a basear-se em coisas tão concretas, mecânicas e palpáveis como moléculas.

Só para dar um exemplo simples um dos elementos mais fundamentais para a condução impulsos nervosos é o sódio.

Sim, a mesma coisa que pomos em cima das batatas fritas é também uma das moléculas mais fundamentais para o funcionamento da nossa consciência.

Às moléculas que modulam e transmitem informação entre neurónios chamamos neurotransmissores. São moléculas complexas, e conhecemos bem várias delas.

Algumas das mais importantes (que conhecemos) são o Glutamato, o GABA, a Dopamina, a Epinefrina, a Serotonina, a Acetilcolina e as Endorfinas, entre outras.



Se alguma vez se sentiu triste, feliz, zangado, excitado ou desmotivado, isso provavelmente estava relacionado com alguma destas moléculas.

E o que é mais fascinante, e prova definitiva de que a nossa consciência é uma coisa física, é que podemos alterar a consciência recorrendo a outras moléculas igualmente físicas.



Está triste? Tome lá uma molécula que lhe sobe a Serotonina

Está demasiado excitado, tome uma molécula que inibe os efeitos excitatórios da Epinefrina!

Está sem motivação? Dopamina!


A maior parte dos psicofármacos disponíveis em Portugal, sejam antidepressores, ansiolíticos, hipnóticos, antipsicóticos, antiparkinsónicos, antiepiléticos ou analgésicos, actuam sobre estestes neurotransmissores de que temos estado a falar.

O que é interessante, e óbvio em retrospectiva, é que naturalmente não são só estes 6 ou 8 neurotransmissores que fazem a nossa consciência.

Não sabemos quantos são.

Sabemos que são mais de 100, e todos os anos descobrimos mais.

E não sabemos o que fazem a maior parte deles.

Nem como interagem.

CategoryNameAbbreviationMetabotropicIonotropic
Small: Amino acids (Arg)Agmatineα2 adrenergic receptorImidazoline receptorNMDA receptor
Small: Amino acidsAspartateAspNMDA receptor
Small: Amino acidsGlutamate (glutamic acid)GluMetabotropic glutamate receptorNMDA receptor (co-agonist),Kainate receptorAMPA receptor
Small: Amino acidsGamma-aminobutyric acidGABAGABAB receptorGABAAGABAA-ρ receptor
Small: Amino acidsGlycineGlyGlycine receptorNMDA receptor (co-agonist)
Small: Amino acidsD-serineSerNMDA receptor (co-agonist)
Small: AcetylcholineAcetylcholineAchMuscarinic acetylcholine receptorNicotinic acetylcholine receptor
Small: Monoamine (Phe/Tyr)DopamineDADopamine receptor
Small: Monoamine (Phe/Tyr)Norepinephrine(noradrenaline)NE, NAdAdrenergic receptor
Small: Monoamine (Phe/Tyr)Epinephrine(adrenaline)Epi, AdAdrenergic receptor
Small: Monoamine (Trp)Serotonin (5-hydroxytryptamine)5-HTSerotonin receptor, all but 5-HT35-HT3
Small: Monoamine (Trp)MelatoninMelMelatonin receptor
Small: Monoamine (His)HistamineHHistamine receptor
Small: Trace amine (Phe)PhenethylaminePEATrace amine-associated receptorshTAAR1hTAAR2
Small: Trace amine (Phe)N-methylphenethylamineNMPEAhTAAR1
Small: Trace amine (Phe/Tyr)TyramineTYRhTAAR1hTAAR2
Small: Trace amine (Phe/Tyr)OctopamineOcthTAAR1
Small: Trace amine (Phe/Tyr)SynephrineSynhTAAR1
Small: Trace amine (Phe/Tyr)3-methoxytyramine3-MThTAAR1
Small: Trace amine (Trp)TryptaminehTAAR1, various 5-HT receptors
Small: Trace amine (Trp)N-methyltryptamineNMThTAAR1, various 5-HT receptors,
NeuropeptidesN-AcetylaspartylglutamateNAAGMetabotropic glutamate receptors; selective agonist of mGluR3
PP: GastrinsGastrin
PP: GastrinsCholecystokininCCKCholecystokinin receptor
PP: NeurohypophysealsVasopressinAVPVasopressin receptor
PP: NeurohypophysealsOxytocinOTOxytocin receptor
PP: NeurohypophysealsNeurophysin I
PP: NeurohypophysealsNeurophysin II
PP: Neuropeptide YNeuropeptide YNYNeuropeptide Y receptor
PP: Neuropeptide YPancreatic polypeptidePP
PP: Neuropeptide YPeptide YYPYY
PP: OpioidsCorticotropin(adrenocorticotropic hormone)ACTHCorticotropin receptor
PP: OpioidsEnkephalineδ-opioid receptor
PP: OpioidsDynorphinκ-opioid receptor
PP: OpioidsEndorphinμ-opioid receptor
PP: OrexinsOrexin AOX-AOrexin receptor
PP: OrexinsOrexin BOX-BOrexin receptor
PP: SecretinsSecretinSecretin receptor
PP: SecretinsMotilinMotilin receptor
PP: SecretinsGlucagonGlucagon receptor
PP: SecretinsVasoactive intestinal peptideVIPVasoactive intestinal peptide receptor
PP: SecretinsGrowth hormone-releasing factorGRF
PP: SomatostatinsSomatostatinSomatostatin receptor
SS: TachykininsNeurokinin A
SS: TachykininsNeurokinin B
SS: TachykininsSubstance P
PP: OtherCocaine and amphetamine regulated transcriptCARTUnknown Gi/Go-coupled receptor[12]
PP: OtherBombesin
PP: OtherGastrin releasing peptideGRP
GasNitric oxideNOSoluble guanylyl cyclase
GasCarbon monoxideCOHeme bound to potassium channels
Small: EndocannabinoidAnandamideAEACannabinoid receptor
Small: Endocannabinoid2-Arachidonoylglycerol2-AGCannabinoid receptor
Small: Endocannabinoid2-Arachidonyl glyceryl ether2-AGECannabinoid receptor
Small: EndocannabinoidN-Arachidonoyl dopamineNADACannabinoid receptorTRPV1
Small: EndocannabinoidVirodhamineCannabinoid receptor
PurineAdenosine triphosphateATPP2YP2X
PurineAdenosineAdoAdenosine receptor
(esta lista está incompleta, btw)

Sim, porque não basta saber o que cada um dos neurotransmissores fazem individualmente.
Todos eles interagem uns com os outros, modulando e alterando as suas funções reciprocamente, em cadeias de acção complexas e ainda razoavelmente desconhecidas para nós.

Portanto, por um lado, é extremamente impressionante que consigamos ter um entendimento da nossa consciência e de como funciona o nosso cérebro para não só ultrapassar a ideia de que a consciência é algo etéreo e abstrato, mas também para conseguirmos artificialmente interferir na maneira como a consciência funciona, através de moléculas sintéticas.

Por outro lado, a maneira como o fazemos é ainda tão simples e básica, que dar um antidepressivo a uma pessoa é mais ou menos o equivalente a derramar um café por cima de um computador e esperar que haja um resultado diferente de 2+2=4.

2 comentários:

  1. eu gosto da analogia entre tomar psicofarmacos para o funcionamento intrinseco do cerebro, e um principiante de piano, a tocar vendado e com luvas de forno.

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    1. A psicofarmacologia, à semelhança da quimioterapia, vai valer muitas gargalhadas no futuro quando começarmos a perceber melhor como as coisas funcionam, e provavelmente vai cair no mesmo saco das sanguessugas

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