When the zombie apocalypse starts, go to the graveyard to play the best game of whack-a-mole ever!
Pataniscas Satânicas
terça-feira, 10 de abril de 2012
L'Apollonide (Souvenirs de la maison close)
Tinham-me recomendado este filme já há algum tempo e eu tive-o no computador durante mais algum tempo ainda antes de o ver.
O filme conta a história de uma casa de prostituição em Paris no início do Séc. XX, no último ano em que esteve aberta.
Se bem que "conta a história" não é particularmente preciso.
O filme não tem propriamente uma história com princípio meio e fim. É, tal como o título indica, uma colecção de lembranças, pequenos fragmentos de histórias, de episódios à volta das prostitutas que habitam a casa.
O filme nunca sai muito do seu caminho para nos apresentar cada uma das suas personagens. Pelo contrário, contenta-se em mostrar-nos pormenores e elementos das suas vidas diárias a partir dos quais somos livres de inferir a sua personalidade e vidas passadas.
Em termos formais o filme é uma representação de um aspecto social que estava em decadência e extinção: o da casa de prostitutas de alta sociedade. Estabelecimentos de luxo no qual os membros mais abastados da sociedade podiam ir para satisfazer a sua luxúria. Uma vez que a prostituição de rua era proibida, as mulheres não tinham autorização para saírem sem acompanhante, vivendo assim num regime de quase clausura.
O filme é, desse modo, filmado quase exclusivamente em interiores. E que interiores. Os sofás de veludo, as cortinas com padrões, os candelabros e os candeeiros de gás com luz riquíssima. Todo o filme tem um ambiente de meia-luz abafada que cria uma atmosfera ao mesmo tempo íntima e opressiva.
Há uma única cena de exterior, quando todas as mulheres e raparigas da casa vão dar um passeio ao campo, e somos presenteados finalmente com luz solar aberta e vento livre. Depois de todas as cenas de interiores, essa cena de exterior parece um fôlego de ar fresco para nos preparar para a segunda metade do filme.
Outra coisa extremamente interessante é a forma como o filme aborda as suas personagens.
As mulheres no filme, as prostitutas, não são mostradas como sendo vítimas oprimidas de uma sociedade machista. Mas também não são mostradas como devassas de baixa moral, ou nifomaníacas, nem tão pouco como heroínas do feminismo usando o sexo como arma para controlar os homens.
É dado a entender que a maioria delas escolheu a sua profissão voluntariamente como meio de obter independência financeira. Algumas são ingénuas, algumas são calculistas e frias, algumas são gentis e adoráveis. Todas são personagens credíveis e profundas.
De igual modo, os homens não são mostrados como monstros abusadores ou violentos, não são mostrados como sendo fracos de espírito que cedem aos seus impulsos mais baixos, ou sequer como pervertidos sexuais que têm de recorrer à prostituição para satisfazer os seus desejos mais bizarros.
São só elementos da sociedade, a maioria deles razoavelmente normal, alguns dos quais vão à Casa só para passar a noite.
E no entanto o filme é extremamente violento.
Há uma violência emocional que perpassa todo o filme, do início ao fim, que é subtil mas inescapável.
Está, obviamente, relacionada com a natureza da própria prostituição. Com a quebra e comercialização da intimidade, com a exposição e venda do próprio corpo, com a perda e cedência voluntária de controlo, a aceitação do risco da violência física e sexual.
Como me fez notar uma amiga minha (a mesma que me recomendou um filme) este é um aspecto emocional do filme que nenhum homem será capaz de completamente compreender, porque nenhum homem é uma mulher.
Uma nota final para a banda-sonora que é na sua maioria composta por música clássica, mas que por vezes, em surtos de anacronismo chocante, recorre a música dos anos '70, de alguma forma transmitindo de uma forma muito mais forte a intensidade emocional de determinadas cenas do que a música clássica alguma vez conseguiria.
Publicada por
Gui
às
15:12:00
Etiquetas:
Cinema,
L'Apollonide
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Não conhecia este teu cantinho Gui. Sem dúvida! Boa review. Diria que é um filme muito feminino, de uma beleza muito sublime mas ao mesmo tempo violento e perturbador. Eu depois de o ver fiquei com algumas cenas a passarem-me na cabeça durante dias.
ResponderEliminarComo bem disseste, é um retrato da rotina das prostitutas num bordel, mas também dos laços que se criam entre elas, as relações com os clientes, os perigos a que estão sujeitas, e as suas expectativas e sonhos quanto futuro. Um filme muito bem conseguido. *