Hoje em dia toda a gente tem uma teoria da conspiração. Já
se inventou de tudo. Há pessoas que acreditam que o Papa é um robot travesti,
criado por uma raça de alienígenas parecidos com patos. Há uma seita que manda
os seus acólitos usarem ceroulas de malha para honrar o deus das tampas de
esgoto. E há mesmo aí gente que pensa que o Governo de Portugal é uma cambada
de fantoches do estrangeiro, e que anda empenhado em pôr o país todo na miséria...
Mas malucos, há em todo lado.
A minha teoria da conspiração, é que os semáforos lavam o
cérebro dos condutores. São colocados propositadamente pelo governo para isso. Melhor,
os semáforos de Portugal detectam quem é que só tem porcaria na cabeça, e precisa
de uma boa faxina mental, para tirar as teias de aranha do sotão.
Próxima vez que virem uma fila de trânsito, confirmem se não
acontece.
O sinal fica vermelho, e, lentamente, sob a influência do
semáforo, os condutores que precisam de uma lavagem cerebral, assumem uma
expressão típica, que inclui a boca entreaberta e uma expressão vaga de espanto
misturado com estupidez.
Depois, sob a influência dos poderosos raios mesmerizantes do semáforo, os condutores começam a lavagem, espetando o dedo indicador
no nariz, para tentar alcançar o encéfalo.
Sacar carochas do nariz! É isso que Portugal faz no sinal
luminoso! Enquanto está em animação suspensa, com a cassete do tony carreira à
flor da consciência, num BMW comprado a leasing, olhando de maneira ausente o
horizonte.
Há vários tipos de vítimas:
Temos o casual, com o
polegar. Usa blusão Timberland e calças Sacoor e é descontraído. ‘’eu estou só
a coçar o nariz, só a coçar, só a coçar, Oi, macaquinho, já está! Lança para longe, que nunca aqui esteve!’’. É assim
que o James Bond tira macacos do
nariz. Se for apanhado, diz logo que tem é alergias, por isso é que coça o
nariz. Está em crescente identificaçao, esta doença da modernidade, a
alergia ao macaco do nariz, junto com a fibromialgia ou o sick building sindrome.
Temos também o Mineiro,
que sabe que o instrumento rombo que é o indicador humano foi desenhado por Deus
para escarafunchar a narina. Geralmente tem franja, a boca entreaberta, e os
dentes da frente afastados. Tem olhar manso, mas perdido, e massaja o lobo frontal
com o dedo indicador para facilitar o
fluxo de pensamento. Tem alguma coisa de
contemplação filosófica, e tenho a certeza que grandes progressos, em graves
questões epistemológicas, foram alcançados durante o árduo trabalho do mineiro.
Não sei até que ponto não devemos a Crítica da Razão Pura à congestão nasal de
Immanuel Kant.
Por fim, temos o Cirurgião.
O cirugião é preciso e metódico. O seu dedo mínimo tem anos de experiência a
excisar cagaitas. Trabalha de maneira tenaz, com pequenos movimentos basculantes,
de olhos semi cerrados, enquanto mordisca a língua. Sabemos que a cirurgia está
perto do fim, quando o seu cotovelo sobe, e num movimento brusco, mas exacto, faz
a última incisão. Mede-se a experiência
do cirurgião, pelo grau de hemorragia que ele tem que lidar no fim da
intervenção. Há aí muito cirurgião de 8 anos de idade que desata a chorar e vai
a correr para as saias da mãe, com uma lista vermelha na frente da shirt, que
ameaça complicar-se para as calças.
E vocês, quando virem alguém nesta marmelada, façam o que eu
faço, buzinem ao gajo! Para ver se ele sai do transe, tira o dedo do nariz, vê
que a porra do sinal ja está verde, e anda com aquela merda de carro, antes que
os gajos do banco o venham buscar, porque ele deixou de pagar as prestações em
2010!
E se por acaso, vocês forem hipnotizados pelo semáforo, não
fiquem chateados, aproveitem! É para aproveitar! Eu sei que aproveito! Tirem
aqueles macacos que nunca conseguiram tirar! Aqueles chatos, que estão lá atrás, que só se apanha uma pontinha, e um gajo tem que ir lá com a unha, e sacas,
e iiiih, até trás sangue agarrado! Eeeeeh! Vocês voltam com a mão ao nariz para
ver se sangra e já sentem o sabor a ferro na boca... Esse tipo de macaco é que
é para tirar no sinal!
Claro que depois de tirado o macaco, há a questão do que
fazer com ele. Várias soluções são populares!
Pode-se colar no volante, sempre um clássico, e divertido se
partilharem o carro com outra pessoa que faz o mesmo! Vocês têm de facto de ir
à procura de um espaço na parte de trás do volante que ainda não contenha
macacos de outros semáforos, de outras pessoas, de outras eras! A vossa selva
pessoal! Não contrariem este instinto! Estruturem-no! Organizem os vossos
macacos por semáforos! Juntem-nos em aldeias na parte de trás do volante!! ‘’Esta
é a aldeia dos restauradores, esta é a da rotunda do relógio, e esta aqui,
grandalhona, é do marquês de pombal, que eu agora tenho lá passado em hora de
ponta!
A não ser que sejam do sexo feminino. As senhoras não tiram
macacos do nariz. Nunca tiraram. E se tirassem, não eram macacos, eram póneis
ou unicórnios, cor de rosa, ou com todas as cores do arco íris! Cada senhora
tem um filão de unicórnios dentro de cada narina. Unicórnios de ranho seco em
quantidades industriais, crostas e crostas de muco, agarradas aos cornetos, num
ecossistema que fica imperturbado durante toda uma vida. Prados imensos a
perder de vista, onde unicórnios vivem livres e felizes, nos afazeres mitológicos
que são permitidos dentro de umas fossas nasais.
As senhoras não tiram macacos do nariz. E quando tiram, põem
num lencinho. As senhoras esterilizam todas as funções corporais, através desta
invenção: o lencinho. Tosse para o lencinho. Limpa a boca ao lencinho. Assoa-te
ao lencinho!
Porra, o que é que aconteceu a um gajo assoar-se aos dedos e
limpar às meias? Já ninguém faz? Passou de moda? Sou eu o único?
Mas, mas, digam o que disserem, eu acho que o ser humano
está geneticamente programado para transformar os macacos do nariz em
pequenas esferas!! Ah, que giro. Pequenas bolinhas. E para as atirar pela
janela! Ou tentar… atirar um macaco pela
janela é dificil, porque fica colado ao dedo, e temos que trocar de mão e
tentar outra vez. Frustrados, agitamos a
mão toda sem sucesso, e por fim dizemos: olha mais um para trás do volante.
Existem pessoas que não admitem que tiram macacos do nariz.
Pensam que são melhores do que isso. Pensam que tiram macacos do nariz é coisa
de porcalhão. Pois, eu acho que uma versão de vocês com 12 anos, discorda desse
ponto de vista. Quando vocês eram miúdos, metade do que vocês punham na boca,
vinha do andar de cima. Estavam no recreio e reparavam que a mãe se tinha
esquecido de vos mandar o lanche... Era logo, um macaquinho para acalmar a fome.
E nos dias em que a mãe se lembrava, vocês comiam um macaquinho na mesma, para
acompanhar o leite com chocolate. Por isso deixem-se de puritanismos e não
venham com tretas. Aliás, entre as gomas, os bolicaus, as batatas fritas e os
trinaranjus, um macaco do nariz era a coisa mais saudável que vocês comiam! O
vosso corpo agradecia! Era o mais parecido com um vegetal que vos passou pelo
estreito entre os 5 e os 12 anos!
Ps: Obrigado Elaine pela contribuição inestimável na elaboração deste post. O teu contínuo apoio (chamares-me estúpido muitas vezes), é o vento debaixo das minhas asas.
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