Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

(nós somos) O Público


Em Portugal temos cidadãos de primeira e cidadãos de segunda. E depois temos o público. Ou seja, todas as pessoas que, se cometerem um crime, vão presas. Se quiserem saber a que grupo pertencem, perguntem a vocês mesmos: ‘’se eu cometer um crime vou preso? ou posso fugir para o estrangeiro, pagar a testemunhas e pedir favores a pessoas poderosas?’’ Se a resposta for sim, que vão presos, então é provável que vocês façam parte do público.

O público é constituído pelas pessoas que assistem à destruição progressiva do seu emprego, condições de habitação, sistema de educação, sistema de saúde, futuro do filhos, e outros direitos humanos inalienáveis. O filme já dura há 3 anos e meio, e nós apupamos e pedidos que o projeccionista passe qualquer coisa do Manoel de Oliveira, que é capaz de ser mais divertido. O projeccionista ignora-nos, e manda um arrumador de discurso lentificado e olhos de São Bernardo tirar-nos o resto das pipocas, sentarmos no chão, e estarmos muito caladinhos a ver o filme. Senão, chama a polícia que vem, e corre a sala toda a bastonada, com o bastão da legitimidade democrática pela fuça adentro dos maltrapilhos todos que compraram os óculos 3D a crédito.

E para nossa incredulidade, alguns dos maltrapilhos aplaudem o filme! Gostam da tourada! São estes catequistas que se viram para nós, os ignorantes, e nos explicam o filme, que é falado em alemão. Falam de arrependimento e de contrição, de como vivemos acima das nossas possibilidades e temos que pagar por isso. Dizem-nos que não podemos comer bife todos os dias, e que temos que começar a jejuar. Dizem-nos que é tempo das vacas magras, por isso é melhor comer e calar. Pedem desculpa e reformulam: ‘não comer, e calar’.

Ouvem atentamente os críticos da 7ª arte, enquanto eles falar de produtividade e competitividade, de como as greves só fazem mal à saúde, e as manifestações provocam merecidas dores no lombo. Prometem-nos que  para o ano é que é. Para o ano a economia vai dar a volta por cima, o desemprego vai diminuir. E a sequela vai ser espectacular, com recibos verdes para toda a gente, e subsídio de natal, licença de maternidade e casamento, para ninguém.

Melhor ainda, vai ser o terceiro filme da saga, o fim da trilogia. Nesse vamos poder contracenar todos! Vai ser um porno, uma história de 3 tarados pederastas que sodomizam uma população inteira, com a conivência do governo de chulos escolhido pela população. Infelizmente os papéis de sodomitas já estão atribuídos, mas ainda há muitos papéis para ser sodomizado! Estejam atentos, porque o argumento foi aprovado o mês passado, e o casting começa em Abril de 2014, quando tivermos que pagar IRS.
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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Rabos vs Vaginas

Depois de discussão acessa com colega ginecologista/obstetra, chego a corrente de pensamento sobre age old question.
Eu: ''epa, isso dos partos é nojento, passas os dias com líquido amniótico até às orelhas. E depois as vaginas doentes, todos os dias, não deve ser nada agradável...''
Ela: ''como? como é que isso é pior que um toque rectal? E tirar fecalomas manualmente? e objectos estranhos? O rabo é muito pior do que a vagina!''

Ao que se segue debate acesso e celeuma irresolúvel sobre as várias faces da questão. Incluíndo o busílis. O busílis é aquela parte da questão que fica mais no meio, entre o fulcro e o cerne da questão. Que são duas partes muito importantes, se estivermos a tratar uma questão essencial, como esta é.

Mas esquecendo a epistemologia, que tarda em ser útil, lembrar que, como em tantas àreas disciplinas do conhecimento humano, as expectativas são muito importantes. Quando se imagina uma vagina, uma pessoa imagina uma estrela brilhante, um prado de rosas plantadas a perder de vista, um golo da àgua depois de atravessar o deserto. Pronto, no mínimo, meia hora de actividades lúdicas muito interessantes, para as quais estamos instintivamente vocacionados. Uma pessoa não imagina um carreiro de pús amarelo-esverdeado, com cheiro a bacalhau retardado, numa gorda de curvas parecidas com um animal mitológico que apanhou gonorreia mítica. Uma pessoa não imagina um útero descaído até ao joelho, dando a ideia que a senhora escolheu a pós menopausa para mudar de sexo, e agora, meta-me isto para dentro, sr dr...

Já no que toca ao rabo, na prática, a pessoa já sabe para o que vai. Sabe o que esperar.
O rabo não engana. Não promete maravilhas. Promete cócó. E, salvo variações na consistência, raramente desaponta. Claro que temos que estar preparados para as coisas que se podem alojar no rabo, garrafas de plástico, lanternas, vegetais cilíndricos, leitores de mp3... Porquê estes objectos, não sei especificar... mas não são piores de encontrar do que fezes, no exame objectivo. Porque as fezes são tão desagradáveis, e as expectativas partem de tão baixo, o rabo pode ser menos desagradável do que algumas vaginas... Aliás, algumas pessoas até podem querer dar uma pequena gratificação aos desgraçados que as têm que observar.... ''olha o doutor está sempre a falar em comer vegetais, vou levar esta cenoura escondida, para ver se ele encontra o brinde...''...
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sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Lamento entre dentes

Deu-me vontade de escrever sobre o ambiente que sinto fazer pesar o ar que se respira em Portugal . Todos os dias pela televisão, rádio, jornais, newsfeeds na internet, mas infelizmente, não só. Todas as conversas de café, cochichos com o colega do cubículo do lado, desabafos com o funcionário que está atrás do balcão da repartição cada vez mais kafkiana. O País inteiro resigna-se, entre dentes, impotente. Dizem que a azia cresce, que já se queimaram sofás e mostraram-se rabos em frente ao parlamento.  Os mais esperançosos dizem que isto precisa de uma revolução, de uma vaga de fundo.

A sociologia diz-nos que o ambiente define os seres humanos. Mas nós não precisamos dessa racionalização para saber o que sentir. Os salários baixam, os preços sobem, as pessoas trabalham mais, ou são despedidas. Os pais vêem os filhos sem emprego. Com uma vida à frente deles que se perspectiva pior do que a da geração anterior. Sem trabalho, nem rendimentos para ajudar a família. Aqueles que trabalham, não têm certezas sobre o dia de amanhã. A única certeza que têm é que o esforço que sai do corpo, não é, não pode ser igual, a tão pouco dinheiro ao fim do mês. Mais horas a trabalhar, também significa menos horas a ajudar a família. Quer seja apoiar os seu idosos, ou educar as suas crianças.
Mandam-nos emigrar. Os filhos, o seu maior investimento do seu afecto, do seu tempo, e também do seu dinheiro, saem do país, para procurar trabalho. Quem sabe, fixarem-se noutra terra, construírem outra família, num lugar melhor. Os filhos não vão estar aqui durante a velhice dos pais.
E depois dizem-nos que há dezenas de milhar de idosos a morar sozinhos, e  que este é um flagelo que temos que combater. Nem dá vontade de levantar os braços.

Não é só o dinheiro que mingua. São as relações entre as pessoas que se degradam. É o chefe que quer o seu negócio parecido com uma sweatshop chinesa, é o empregado que pensa, 'por estes tostões, para que é que me hei de dar ao trabalho?', e mede constantemente o trabalho do colega, do conhecido, e se perde numa espiral de crítica, inveja e intriga, que só gera azia e indigestão. Porque o ambiente favorece isso. Para quê ser ambicioso, procurar o mérito? Isso tudo paga impostos. E se não paga, deixa, espera, que eles ainda se vão lembrar.

Podem deixar de estar atentos aos dias de nevoeiro... Não vai haver nenhuma revolução....e vocês sabe-no. Sabem-no.
E sabem o que vai acontecer. É isto: O PSD/CDS vão destruir o estado e baixar salários, até ninguém os aguentar mais, e depois são demitidos, a malta vota toda no PS, que com PDS/CDS ou sem ele, continua a fazer exactamente o mesmo. Com a cassete da troika, dos mercados, da situação internacional, da Carochinha e do João Ratão.
É tão óbvio que nem merece que se fale mais nisso. Se a democracia subitamente começasse a defender os interesses da generalidade da população, em vez dos interesses dos ricos, deixava de ser necessária, e era substituída por um sistema que o fizesse.

Portanto, é comer e calar. E de vez em quando ir a umas manifestações, lembrar aos representantes dos filhos da puta que hoje podemos estar na mó de baixo, mas a História está do nosso lado, e podemos ainda não ter percebido como acabar com à miséria que nos querem impôr, mas os anos vão passando, e a necessidade aguça o engenho.
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