Deu-me vontade de escrever sobre o ambiente que sinto fazer pesar o ar que se respira em Portugal . Todos os dias pela televisão, rádio, jornais, newsfeeds na internet, mas infelizmente, não só. Todas as conversas de café, cochichos com o colega do cubículo do lado, desabafos com o funcionário que está atrás do balcão da repartição cada vez mais kafkiana. O País inteiro resigna-se, entre dentes, impotente. Dizem que a azia cresce, que já se queimaram sofás e mostraram-se rabos em frente ao parlamento. Os mais esperançosos dizem que isto precisa de uma revolução, de uma vaga de fundo.
A sociologia diz-nos que o ambiente define os seres humanos. Mas nós não precisamos dessa racionalização para saber o que sentir. Os salários baixam, os preços sobem, as pessoas trabalham mais, ou são despedidas. Os pais vêem os filhos sem emprego. Com uma vida à frente deles que se perspectiva pior do que a da geração anterior. Sem trabalho, nem rendimentos para ajudar a família. Aqueles que trabalham, não têm certezas sobre o dia de amanhã. A única certeza que têm é que o esforço que sai do corpo, não é, não pode ser igual, a tão pouco dinheiro ao fim do mês. Mais horas a trabalhar, também significa menos horas a ajudar a família. Quer seja apoiar os seu idosos, ou educar as suas crianças.
Mandam-nos emigrar. Os filhos, o seu maior investimento do seu afecto, do seu tempo, e também do seu dinheiro, saem do país, para procurar trabalho. Quem sabe, fixarem-se noutra terra, construírem outra família, num lugar melhor. Os filhos não vão estar aqui durante a velhice dos pais.
E depois dizem-nos que há dezenas de milhar de idosos a morar sozinhos, e que este é um flagelo que temos que combater. Nem dá vontade de levantar os braços.
Não é só o dinheiro que mingua. São as relações entre as pessoas que se degradam. É o chefe que quer o seu negócio parecido com uma sweatshop chinesa, é o empregado que pensa, 'por estes tostões, para que é que me hei de dar ao trabalho?', e mede constantemente o trabalho do colega, do conhecido, e se perde numa espiral de crítica, inveja e intriga, que só gera azia e indigestão. Porque o ambiente favorece isso. Para quê ser ambicioso, procurar o mérito? Isso tudo paga impostos. E se não paga, deixa, espera, que eles ainda se vão lembrar.
Podem deixar de estar atentos aos dias de nevoeiro... Não vai haver nenhuma revolução....e vocês sabe-no. Sabem-no.
E sabem o que vai acontecer. É isto: O PSD/CDS vão destruir o estado e baixar salários, até ninguém os aguentar mais, e depois são demitidos, a malta vota toda no PS, que com PDS/CDS ou sem ele, continua a fazer exactamente o mesmo. Com a cassete da troika, dos mercados, da situação internacional, da Carochinha e do João Ratão.
É tão óbvio que nem merece que se fale mais nisso. Se a democracia subitamente começasse a defender os interesses da generalidade da população, em vez dos interesses dos ricos, deixava de ser necessária, e era substituída por um sistema que o fizesse.
Portanto, é comer e calar. E de vez em quando ir a umas manifestações, lembrar aos representantes dos filhos da puta que hoje podemos estar na mó de baixo, mas a História está do nosso lado, e podemos ainda não ter percebido como acabar com à miséria que nos querem impôr, mas os anos vão passando, e a necessidade aguça o engenho.
"Se a democracia subitamente começasse a defender os interesses da generalidade da população, em vez dos interesses dos ricos, deixava de ser necessária, e era substituída por um sistema que o fizesse."
ResponderEliminarAcho que isso ja comecou e foi debaixo dos nossos pes!
Algo para reflectir se tiveres oportunidade:
http://auditoriacidada.info/article/n%C3%A3o-h%C3%A1-dinheiro