Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Gatos

Vou agora explicar porque é que gosto tanto de gatos.

Para isso vou começar por falar de cães.



De todas as coisas que os seres humanos inventaram, os cães são definitivamente uma das mais impressionantes. 

Há toda uma discussão mais ou menos razoável sobre organismos geneticamente modificados, que geralmente esquece o facto de que os humanos andam a modificar geneticamente organismos há milhares de anos.



Há cerca de trinta mil anos (30 000) anos os humanos roubaram as primeiras crias de lobos e criaram-nas no seio da tribo. Educaram-nas, ensinaram-nas e fizeram criações. Iam escolhendo que lobos iam procriar com quais, seleccionando as crias que eram mais dóceis, inteligentes e cooperantes.
Ou seja, foram domesticados. Pegámos neles e à custa de selecção artificial mudámos o padrão genético e fenotípico destes animais de maneira a que se adaptassem melhor às nossas necessidades.

Os cães foram provavelmente dos primeiros organismos geneticamente modificados. Muito antes das plantas, que só começámos a domesticar há cerca de dez mil anos (10 000).



As pessoas dizem que os cães são os melhores amigos dos homens, como se sequer pudesse haver uma alternativa. Nós fizemos com que os cães fossem os nossos melhores amigos. Domesticámo-los e fomo-los seleccionando ao longo dos milénios de maneira a que fossem mais semelhantes a nós.

É claro que quando fazemos testes à inteligência dos cães, eles são tão inteligentes. A única inteligência a sério que conhecemos é a nossa, e quando pegamos em ferramentas criadas para avaliar a inteligência humana e usamo-las para avaliar a inteligência animal, não devia ser nenhuma surpresa que os animais que nós manipulámos durante mais tempo tenham os melhores resultados.



Também existe a discussão típica sobre qual é que é mais inteligente, os cães ou os gatos.
A verdade é que é quase impossível avaliar a inteligência dos gatos, porque eles simplesmente não cooperam com os testes.
Ou seja, não é que os gatos sejam mais ou menos inteligentes, simplesmente têm um tipo de inteligência que nós não sabemos avaliar.

Mas temos a certeza que são inteligentes.
Os gatos têm um entendimento rudimentar do mecanismo de apontar (ou seja, quando apontamos para alguma coisa, eles olham para ver para o que é que estamos a apontar). Isto é um indicador provável da presença de teoria de mente, e consequentemente de consciência. Os chimpanzés têm mais dificuldade em compreender o apontar do que os gatos.



Porquê estas diferenças?

Basicamente porque os gatos só foram domesticados muito recentemente. Estima-se que a domesticação dos gatos tenha acontecido há cerca de sete mil e quinhentos anos (7 500), por contraste com os trinta mil anos dos cães (30 000).
Os gatos domésticos (Felis domesticus) são praticamente idênticos aos gatos selvagens (Felis silvestrus), enquanto que os cães são significativamente diferentes dos lobos.

Nenhum humano foi roubar crias do gato selvagem para criar. Os gatos não foram alvo de selecção artificial humana. Foram os próprios gatos selvagens que evoluíram para aproveitar a vantagem evolutiva de estarem próximo de comunidades humanas, provavelmente para se alimentarem dos ratos que comiam as reservas daquelas outras plantas que também domesticámos e cultivámos.



Os gatos domesticaram-se a si mesmos, porque isso lhes era vantajoso.
Ou seja, sofreram uma selecção natural, que lhes permitiu adaptarem-se melhor aos seres humanos, serem cada vez mais tolerados, e até apreciados pelos seres humanos, para poderem continuar a aproveitarem-se de nós.

É por isso que há pessoas que não gostam de gatos. Os gatos não evoluíram de maneira a reflectir as nossas emoções e a nossa inteligência, como os cães. Os gatos não foram seleccionados com base na sua empatia, mas sim na sua capacidade de serem espertos e aproveitarem-se de nós.

Os cães ficam genuinamente felizes por nos verem, porque nós garantimos através da selecção aritificial que fizémos que assim fosse.
Os gatos se são queridos e fofinhos isso não é mais do que camuflagem para nos enganar.
Evoluíram para aproveitar este nicho evolutivo que são os seres humanos. Aproveitaram-se deste recurso fácil, que somos nós. Quase como se fossem parasitas.

Hot damn, os egípcios adoravam gatos, you KNOW i'm gonna write about that!

Quando um cão brinca connosco, está genuinamente a brincar e a interagir. Quando um gato caça as nossas pernas e as nossas mãos, está literalmente a caçar-nos. Nós somos a presa dele.
Só que ele descobriu que matar-nos logo dava muito trabalho, então vai-se aproveitando durante anos a fio, até morrermos, altura em que nos come.

Ah, sim, porque aquelas histórias muito bonitas e sentimentais, que dão filmes lamechas, do cãozinho que gostava muito do dono e que quando o dono morre o cãozinho vai todos os dias esperar por ele à estação, não acontecem com os gatos.
Se o dono do gato morrer em casa e o gato ficar com fome, o gato vai comê-lo. E nem sequer perde muito tempo. Provavelmente nem o deixa arrefecer.



Portanto fico um bocado na dúvida sobre porque é que gosto tanto de gatos, agora que penso nisso.

Mas pronto, e porque este post já está vago o suficiente.

Acho fascinante partilhar a casa com o que é, essencialmente uma inteligência/proto-consciência alienígena à minha que evoluiu quase sem influência humana e com a qual consigo estabelecer algum tipo de comunicação.
Com cães sinto sempre que estão ali para me servir e para agradar.
Com o meu gato sinto que há uma relação de respeito mútuo, ou pelo menos respeito da minha parte e condescendência/desdém da parte dele...

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