Pataniscas Satânicas

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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Vírus Gigantes Congelados!

Estaremos a desafiar as leis da natureza com o nosso crescimento desgovernado, e a chamar sobre nós um apocalipse de vírus gigantes?

Provavelmente não, mas esta é uma frase dramática o suficiente para servir de cabeçalho a mais um post sobre vírus e bactérias.

Pandoravirus
São pequeninos pedaços de código genético, que codifica apenas alguns genes, que contêm pouco mais do que as instruções para "faz mais cópias de mim".

Dado que não codificam mais nada, nem metabolismo energético, ou respostas a estímulos, nem sequer se considera que estejam bem vivos.

E são pequeninos.


Muito pequeninos.

Tão pequeninos que não podem ser vistos num microscópio normal, só conseguem ser observados num microscópio electrónico.

Vírus de Hepatite B
Pensem um vírus da Hepatite B.

Os vírus da Hepatite B têm 3200 pares de bases e codificam 4 genes (sim, só 4 genes), enquanto que uma bactéria Escherichia coli tem 4 639 221 pares de bases e 4000 genes.

Um vírus da Hepatite B têm em média 40 nanómetros de diâmetro. 40x10^-9 metros.

Ou seja 40 bilionésimos de metro.

Uma bola de ping-pong tem 4 cm de diâmetro. (Sim! Eu fui buscar um artigo científico para referenciar o tamanho de uma bola de ping-pong!)


Um Vírus da Hepatite B está para uma bola de Ping-Pong como uma bola de Ping Pong está para a Escócia.

Escócia: cerca de 400 km de norte a sul
Pronto, agora que já estabelecemos quão pequenino é um vírus.

Lá para cima, para o Norte, no topo do planeta, há lugares onde está tanto frio durante o ano topo, que o solo está permanentemente congelado.
Chama-se a isso o Permafrost.

Permafrost siberiano
Como é natural, as coisas que ficam congeladas neste tipo de solo, tendem a ficar lá durante muito tempo.

Volta e meia desenterram Mamutes de 40 000 anos estupendamente bem conservados, e recentemente encontraram o corpo de uma mulher com 2500 anos, tão bem conservado que as suas tatuagens estavam perfeitamente visíveis.


Uma das coisas mais interessantes que eles encontraram no gelo recentemente foi isto:


Que coisa é esta? Com cerca de 1200 nanómetros, ou 1,2 microns de tamanho?
Com este tamanho seria razoável pensar numa bactéria. Mas estariam errados.

É um vírus.

Um vírus gigante.

Encontraram vírus gigantes congelados no Permafrost Siberiano.

Quero voltar a chamar a atenção para o tamanho deste monstro, dizendo que é maior do que as bactérias S. aureus e tem cerca de metade do tamanho de uma bactéria E. coli.

Staphylococcus aureus
Escherichia coli
Na realidade estes vírus gigantes já são conhecidos há cerca de 2003 anos, quando o Mimivírus foi identificado, e desde então já foram idenficadas pelo menos mais 7 espécies diferentes.

O maior de todos, o Pithovirus sibericum, pode chegar a ter 1,5 microns de tamanho.

Lembram-se lá em cima quando comparámos um vírus da Hepatite B a uma bola de ping-pong?

Se um vírus da Hepatite B fosse do tamanho de uma bola de ping-pong, um Pithovirus sibericum seria do tamanho de uma televisão de 60 polegadas.

Do tamanho de uma televisão de 60 polegadas, ou de uma senhora asiática
Não, a sério, estes vírus são grandes o suficiente para serem vistos em microscópios ópticos!

Mimivirus ao lado de uma bactéria de Ricketsia conorii

Estes vírus não são só gigantes em tamanho, são também gigantes em código genético.

Lembram-se quando eu disse que o vírus da Hepatite B 3 200 pares de bases? O Pandoravirus pode chegar a ter 2 500 000 pares de bases!

Estes vírus desafiam as classificações para a vida como a conhecíamos até agora, até porque as proteínas que os seus genes codificam são mais semelhantes das células eucarióticas (nós) do que das procarióticas (bactérias) e provavelmente representam um ramo primitivo na evolução da vida que nunca vingou.

O mais impressionante disto tudo é que quando eles pegaram nestes vírus gigantes, presos no permafrost siberiano há 30 000 anos, e os descongelaram, eles VOLTARAM À VIDA!

Molivirus sibericum
Claro que dizer que voltaram à vida é um bocado de abuso, porque como nos fartamos de dizer, os vírus não estão bem vivos para começar.

É mais o equivalente de pegar numa máquina de lavar enterrada no chão gelado há trinta mil anos, ligá-la à corrente e descobrir que ainda funciona.
Não deixa de ser impressionante.

Felizmente estes vírus não são infecciosos para os seres humanos, e contentam-se em infectar amebas.

Indústria petrolífera na Sibéria
Mas à medida que a indústria petrolífera siberiana continua a expandir-se, e o aquecimento global continua a fazer aumentar as temperaturas no mundo todo, o Permafrost começa a derreter.

Encontrámos duas espécies de vírus gigantes com genes bizarros congelados no gelo, capazes de recuperar a sua infectividade.

Duas.

Quantas mais continuam enterradas no gelo?

E será que quando descongelarem não nos vão querer comer?

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