Pataniscas Satânicas

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domingo, 21 de fevereiro de 2016

Dos Romanos à Igreja - Uma história

Qual foi a importância da queda do Império Romano? Quem é que ficou para trás a manter a luz acesa? O monopólio da cultura e conhecimento?

Vamos falar sobre isso.


À medida que fui aprendendo mais sobre história apercebi-me do quanto NÃO sabia sobre história.

Ou melhor, não é que não soubesse, mas não compreendia.

Obviamente que na escola disseram-me que existiam os Romanos, e que os Romanos foram importantes, e que depois os Romanos acabaram. Lembro-me de me dizerem qualquer coisa acerca dos bárbaros, e da Igreja Católica Romana.

Eram uns factos soltos na minha cabeça, sem grande significado.

Vou por isso contar-vos uma história acerca do fim do Império Romano e da Igreja, porque assumo que para vocês isso seja também um conjunto de factos meios soltos.

Se estiver errado ao assumir isto, e perceberem imenso acerca do assunto, talvez queiram escrever para as Pataniscas Satânicas. (não, a sério, mandem-nos um e-mail se quiserem escrever para as Pataniscas Satânicas).


A Civilização Romana foi talvez a segunda Civilização já com contornos modernos a surgir, e definitivamente a que teve mais impacto no nosso modo de vida actual.

Os Romanos expandiram as ideias de Governo, Justiça e Educação dos Gregos (a primeira civilização moderna) e aliaram-nas ao conceito de um Exército profissional associado a uma religião organizada (o Cristianismo).
A estratégia dos Romanos era (de forma simplista) chegar a um lugar, conquistá-lo com as suas tropas extremamente disciplinadas e bem equipadas, dar cargos de chefia aos líderes locais e deixar lá Igrejas Cristãs para irem infiltrando a cultura local.

Desta maneira os Romanos conseguiram construir um Império que no seu auge tinha cerca de 5.000.000 Km2 quadrados de extensão, desde Portugal à Irlanda ao Egipto e acabando no Irão. Roma foi a primeira cidade da história a atingir 1 milhão de habitantes, 100 anos antes de Cristo.


Agora imaginem que eram um cidadão Romano, a viver algures na Britannia, no Século IV.
Moram no vosso palácio, andam de toga o dia todo, cobram impostos aos locais, têm alguns escravos vindos das tribos nativas (provavelmente Anglos ou Saxões), e há vários batalhões de soldados que vos protegem dos bárbaros.

Um dia estão vocês a relaxar nos banhos públicos, quando chega um mensageiro e a seguinte conversa acontece:

Horatius (vocês): Escravo! Mais água quente! Os meus testículos ainda não estão encarquilhados o suficiente!
Mensageiro: Horatius, uma mensagem que chega de Roma!
Horatius: E o que é que diz Roma?
Mensageiro: Roma diz que está com uns problemas...
Horatius: HA! Roma está sempre com problemas! Quem é que os mandou meterem-se com os Visigodos, não é Escravo? Mais uvas!
Mensageiro: pois... eles dizem que não nos vão enviar mais comida.
Horatius: Ah... Não faz mal, nós arranjamo-nos.
Mensageiro: também dizem que vão deixar de fazer manutenção das estradas para cá.
Horatius: para isso é que temos cavalos, não é Escravo?
Mensageiro: e vão chamar os soldados de volta a Roma.
Horatius: ah... e quando é que os soldados regressam?
Mensageiro: não dizem.
Horatius: mas quem é que nos vai proteger das tribos bárbaras?
Mensageiro: também não dizem.
Horatius: pois...
Mensageiro: bem! eu vou voltar para Roma com os soldados! Boa sorte!
Horatius: Isto não há-de ser nada... Escravo, mais água quente! Escravo! Escravo...?


À medida que o Império Romano colapsava debaixo do seu próprio peso, as suas colónias foram sendo abandonadas pelo Império. Sociedades bem estabelecidas, com sistemas de justiça e governo, tribunais e escolas, aquedutos e banhos públicos, que subitamente estavam à mercê das tribos locais que tinham conquistado

Imaginem as luzes da civilização a apagarem-se, uma a uma, pela Europa toda.

Primeiro na Bretanha, depois a Germânia, depois a Ibéria, uma atrás da outra, até não restar quase nada da estrutura governamental que sustinha esses focos de civilização.
Um continente inteiro que em uma ou duas gerações passa do pico civilizacional da humanidade para o caos.

No meio deste caos, desta involução de volta à barbárie, ficou a Igreja, a manter acesa a chama-piloto da civilização.

A Igreja Católica foi o único vestígio do Império Romano que ficou para trás, a tentar desesperadamente providenciar algum tipo de estrutura e segurança às populações.


Dizemos muitas vezes (e não sem razão) que a Igreja foi um dos principais entraves ao desenvolvimento científico, e que se não fosse pelos atrasos provocados pela opressão do pensamento livre, hoje estávamos todos a viver em Marte.

Mas também é verdade que durante mais de 400 anos, desde a queda do Império Romano, até à coroação de Carlos Magno como Imperador Romano (outra vez), durante o período habitualmente apelidado de "A Idade das Trevas", a Igreja foi o único repositório de cultura.

No ano 530, São Bento escreve um manual de vida monástica, a Regra de São Bento, e essencialmente funda o Monasticismo na Europa.

Os Monges enclausurados nestes Mosteiros tornam-se os guardiões da cultura e do conhecimento.

Foram eles que difundiram a agricultura pela europa, ensinando as tribos bárbaras as técnias de arar e plantar os solos. Foram as ordens monásticas que ensinaram as populações técnicas de pastorícia, metalurgia, criação de abelhas, o processo de produzir cerveja, queijo, apicultura e até vinicultura.

Mais importante que isso, os Mosteiros começaram a construir Scriptorium, onde textos clássicos eram mantidos, e dolorosamente copiados e recopiados, para que não se perdessem, preservando-os da humidade e dos insectos.


Claro que isto deu à Igreja um monopólio sobre o conhecimento, e um direito divino ao que era "verdade" ou não.
É impossível sabermos exactamente quantas obras literárias ou textos científicos clássicos foram alterados ou simplesmente deixados no esquecimento porque teriam conhecimentos considerados "hereges".

Isto também dificultava a vida a quem quer que na altura quisesse aprender mais ou fazer investigação científica.
Ou sequer aprender a ler.

A única via para essas coisas era literalmente juntar-se à Igreja, pertencer ao clero. A Igreja, possuindo o monopólio do conhecimento, podia impôr qualquer tipo de exigência a quem quer que quisesse aprender mais.

Podia agora discorrer um bocado sobre as exigências específicas de cada ordem monástica, os tipos de votos que cada uma impunha, mas resumem-se quase todos a impedir as pessoas de fornicarem ou de se masturbarem.

O que poderá eventualmente apontar para as origem do estereótipo de que os nerdzinhos que gostam de ciência não terem sorte nenhuma?

Não sei.

2 comentários:

  1. e é verdade que eles tinham uma sala para vomitar o almoço, para poder almoçar outra vez, ou o vomitorium era só o nome das entradas para o coliseu?

    a igreja quer saber o que tu fazes no teu quarto à noite. o que quer que seja, se te estás a divertir, é melhor parares ou vais para o Inferno!

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  2. A vida está mal escrita, porque se estivesse bem escrita então o Vomitorium era mesmo uma sala onde eles iam vomitar depois dos banquetes e antes das orgias.

    E acho que tenho um rascunho algures guardado com essa premissa de a Igreja não querer que te divirtas contigo mesmo... tenho de lhe tirar o pó e mandá-lo cá para fora.

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