Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O que é a Consciência Animal - Parte II

Não temos a certeza de as outras pessoas serem conscientes? O que é que pensam as rãs e os lagartos? Os polvos pensam de todo?

Vamos falar sobre isso!

Se não leram os artigos anteriores sobre Consciência Humana, e especialmente a Parte I da Consciência Animal, sugiro que o façam agora.
Se não se importarem com picuinhices como "sequência lógica de ideias" então podem começar por aqui.

O que é importante saberem é o seguinte.

O cérebro dos Humanos (que temos bastante certeza de alojar algum tipo de Consciência) funciona e é estruturalmente muito semelhante ao da maioria dos outros Vertebrados.
Isto não prova que todos os Vertebrados possuam Consciência, mas pelo menos as peças necessárias à Consciência parecem estar presentes em quase todos os Vertebrados.

A Consciência terá evoluído inicialmente como resposta ao problema de organizar o movimento e os sentidos de organismos com corpos complexos.

Ou seja, inicialmente quando éramos todos tubos com dentes, e pouco mais fazíamos do que andar para a frente e comer o que aparecesse pelo caminho, bastava que as redes nervosas dos corpos tivessem meia dúzia de instruções pré-programadas para que não morressem.
Quando os corpos evoluíram para uma maior complexidade estrutural e sensorial, tornou-se muito mais complicado gerir toda essa complexidade.
Foi da junção de todas essas instruções neurológicas pré-programadas a serem pressionadas evolutivamente para gerir um organismo capaz de se adaptar ao seu meio de forma dinâmica, que emergiu a proto-Consciência.
Uma espécie de programa para organizar um conjunto de problemas neuro-logísticos, flexível o suficiente e com potencial o suficiente para evoluir para o que hoje reconhecemos como Consciência.

Esta forma de proto-consciência é observável nos peixes, os vertebrados mais evolutivamente afastados de nós (com a possível excepção das enguias), que já apresentam comportamentos que demonstram memória de longo prazo, conceitos abstractos do seu ambiente, e capacidade para inferirem a sua posição social.


Uma objecção razoável a toda esta argumentação, e um problema de que não falei no artigo anterior, é que todos estes comportamentos que observamos nos animais podem ser perfeitamente mecânicos e não implicam necessariamente a existência de uma consciência, por mais primitiva que seja.

Este é o Problema das Outras Mentes, e se no caso dos Humanos habitualmente simplesmente assumimos que se as outras pessoas nos dizem que são conscientes é porque o são, a verdade é que é mais difícil os animais dizerem-nos como é o seu mundo interior.

Em última análise, não existe nenhum teste científico que possa definitivamente provar que os animais possuem consciência e que não são meramente zombies filosóficos, e isso também se aplica aos seres humanos.


Os Anfíbios são um caso específico e interessante porque representam tetrápodes (animais com pernas) não-amniotas (põem o seus ovos dentro de água) que são os mais semelhantes ao antecessor comum aos répteis, pássaros e mamíferos.

Quase tudo o que sabemos sobre a consciência dos anfíbios vem de estudos feitos ao cérebro de rãs, e para ser honesto, aparentemente sabemos muito pouco.

Apesar de se ter demonstrado que as rãs são capazes de aprender de forma muito rudimentar a evitar estímulos negativos e a preferir o odor de presas que já comeram antes, não se provar que demonstrassem qualquer tipo de reacção "emocional" a esses estímulos negativos (acelerar do batimento cardíaco, por ex).

No entanto isto é mais um caso de ausência de evidência do que de evidência de ausência, e a estrutura do sistema nervoso dos anfíbios, nomeadamente a presença de componentes do telencéfalo associadas à representação de emoções, sugerem que é possível a presença de alguma forma de Consciência Primária.


Os Reptéis são ainda mais interessantes na medida em que representam o antecessor comum entre os Pássaros e os Mamíferos, e é lógico assumir que quaisquer características de consciência que possuam fossem passadas aos seus descendentes.
De igual forma, qualquer característica de consciência que seja partilhada entre pássaros e mamíferos que não esteja presente nos répteis, teria necessariamente de ter resultado de evolução independente mas convergente.

Apesar de terem um cérebro com o dobro do tamanho do dos anfíbios (proporcionalmente), a evidência de consciência nos répteis é igualmente escassa.

Apesar de os répteis serem marginalmente melhores do que os anfíbios a evitarem sabores desagradáveis, as diferenças cognitivas entre anfíbios e répteis não são particularmente pronunciadas.


Agora, antes de passarmos aos pássaros e mamíferos, quero primeiro falar um bocadinho sobre Invertebrados.

Os invertebrados estão muito longe de nós, evolutivamente e geneticamente falando, para além do facto de serem esquisitos no geral.
A nossa evolução divergiu da deles há 525 milhões de anos, o que justifica que sejamos tão diferentes, e por conseguinte tão difícil de especular acerca de consciência nos invertebrados.

Os seus sistemas nervosos são radicalmente diferentes dos vertebrados. Não só não têm esta organização cerebral que descrevemos, os seus sistemas nervosos nem são centralizados, sendo compostos em vez disso por vários gânglios nervosos dispersos por todo o corpo.


Dito isto, e como dissemos inicialmente um dos possíveis motivos evolutivos para o desenvolvimento de uma consciência é o controlo espacial de um corpo complexo e de acordo com isso, alguns invertebrados definitivamente encaixam na descrição, e faria sentido que desenvolvessem alguma forma de proto-consciência.
  • Os caranguejos-ermitas são capazes de aprender com estímulos negativos (choques) e usar essa memória para decisões futuras.
  • As aranhas-saltadoras aparentam ser capazes de planificar as suas trajectórias, adaptar os seus comportamentos predatórios de forma flexível de acordo com a sua presa, e usar tácticas para enganar as suas presas.
  • As abelhas parecem ser capazes de reconhecer padrões, ter conceitos de "parecido" e "diferente", navegação, comunicação, memória visual, e vieses cognitivos.
O que é mais fascinante nesta ideia de proto-consciências em invertebrados, é que representariam consciências com uma evolução completamente independente da nossa.




E pronto, por hoje já chega também.

Na próxima parte falaremos (agora sim) de pássaros e mamíferos! Não percam!

4 comentários:

  1. achei interessante a ideia de um polvo a brincar. a experiência era com legos certo? um polvo deve conseguir montar a esquadra da polícia mais depressa do que eu!....

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    1. Sim, é com Legos! Os polvos são conhecidos por acharem os sets da cidade aborrecidos, mas mostram uma preferência estranha por sets espaciais.

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  2. E se for a Consciência a produzir a realidade?

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  3. E se for a Consciência a produzir a realidade?

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