Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 26 de abril de 2016

The Road to Civil War - Iron Man

O Iron Man a nascer da Guerra Fria? Nevoeiros de moralidade em tons de cinzento? De que maneira é que o percurso do Tony Stark justifica a sua atitude no Civil War?

Vamos falar sobre isso!


Outra diferença curiosa entre o Captain America: Civil War e o Batman V Superman: Dawn o Justice, é que o BvS põe em conflito duas personagens da Idade de Ouro da Banda-desenhada.

Essa altura idílica que começou no pré-Segunda Guerra Mundial, em que podíamos ter Detectives-Morcegos e Super-Alienígenas a saltar por todo o lado, que ninguém achava isso estranho! Não se esqueçam que o nosso Capitão-[Nação] também nasceu nessa altura em que os Americanos estavam envolvidos na guerra mais paradigmática da luta-do-bem-contra-o-mal de sempre.

O Captain America, quando é criado em 1941, representa os valores dessa América Pós-Guerra, que vê o mundo a preto-e-branco. O Captain America tem sempre a certeza de qual é a coisa certa e justa a fazer.

O Iron Man é criado em 1963, no pico da Guerra fria.


Em Outubro de 1962, durante 13 dias, os Estados Unidos da América e a USSR tiveram mísseis nucleares apontados uns aos outros. Ficou conhecido como a Crise dos Mísseis Cubanos, e considera-se que tenha sido um dos momentos em que estivemos mais próximo de uma Guerra Nuclear global.

Pior que isso, toda a crise, as negociações e as especulações foram mediatizadas e transmitidas nas televisões do mundo todo. Havia medo. Homens crescidos iam cavar abrigos de bomba no quintal para proteger a família. Se havia alguma coisa que a cultura desta altura detestava era a guerra, e tinha imensa desconfiança pelos militares.

O Tony Stark representa tudo o que o público detestava. Era o capitalista perfeito, lucrava com a produção e venda armas ao exército, era absurdamente rico.

O Iron Man nasce deste nevoeiro moral em que a América estava. Esta já não era uma América que idolatrava o soldado, com um idealismo ingénio na liberdade e justiça.
Não, esta era uma América que já não sabia se podia confiar no seu governo, em que é muito mais difícil apontar os maus-da-fita.


No primeiro Iron Man (2008) o Tony Stark tem uma moralidade perfeitamente cinzenta, não fazendo nenhuma distinção sobre o que está certo ou errado. Vende despreocupadamente armas quer a exércitos ou terroristas, desde que haja lucro nisso. Não está a matar ninguém directamente, mas está a aproveitar-se da guerra para lucrar?

Estes meandros morais, esta incerteza do que está certo ou errado, são a antítese da moralidade preto-e-branco do Captain America. O Iron Man é um herói clássico da Idade Prateada da Banda Desenhada.
Nasceram em alturas diferentes, têm maneiras diferentes de olhar para o mundo.

Um vê-o a preto e branco e o outro em tons de cinzento.

Um vê sempre qual é a direcção certa, o outro está sempre à procura de atalhos.



Por causa dessa sua flexibilidade moral, o Tony Stark acaba muitas vezes por não tomar as melhores decisões.

É a sua arrogância que faz com que seja capturado por terroristas no deserto. É por isso que fica com um buraco no peito e tem de construir uma armadura para escapar.

É essa tecnologia que ele criou que leva o Obadiah Stane a usar essa tecnologia para construir uma armadura só sua para matar o Stark.

O Iron Man cria os seus próprios problemas.

Obadia Stane - Iron Monger
No Iron Man 2 (2010) os principais conflitos continuam a surgir por causa do próprio Tony Stark.

É a sua decisão de anunciar ao mundo que é o Iron Man, e a subsequente fama e publicidade que ele ganha com isso, que desperta a atenção do seu vilão, o Ivan Vanko. Ivan Vanko cujo pai era um cientista que foi roubado por Howard Stark, o pai de Tony Stark.

É a invenção da armadura do Iron Man que despoleta uma corrida às armas; o que leva o Justin Hammer, presidente da empresa concorrente à Stark Industries, a querer construir armaduras e a contratar o Ivan Vanko para o fazer.

É a sua irresponsabilidade, quando se embebeda e destrói metade da casa com a armadura vestida, que faz com que o exército fique com a sua armadura.

Ivan Vanko - Whiplash
Sistematicamente, nas histórias do Iron Man há esta temática de que ele toma as decisões erradas, ou que é ele que está a provocar todos os problemas.

No Iron Man 3 (2013) o Tony Stark está com Stress Pós-Traumático depois de ter decidido juntar-se aos Avengers para lutar contra os alienígenas que estavam a invadir Nova Iorque.

É ele que humilha o Aldrich Killian, empurrando-o para medidas desesperadas, e que o leva a criar toda uma conspiração para transformar pessoas em armas e inventar um terrorista.

É ele que literalmente convida o Mandarin a vir rebentar-lhe com a porta de casa.

Aldrich Killian - poderes Extremis
No Age of Ultron (2015) o Tony Stark toma a mãe de todas as más decisões, e decide criar uma Super-Inteligência Artificial que vai proteger a humanidade. Claro que cinco minutos depois essa AI torna-se genocida e os Avengers têm de ir limpar a porcaria do Tony Stark.

No processo destroem mais uma cidade, Sokovia.


Depois da destruição de Sokovia vem o Governo dizer aos Avengers "Olhem, vocês não podem simplesmente andar por aí a destruir coisas só porque têm poderes! As pessoas têm medo! Quem é que é responsável se alguém se magoar? É preciso que alguém esteja de olho em vocês"

O governo quer controlar os Avengers, e quer que assinem os Acordos de Sokovia, que lhes dará o poder de fazerem exactamente isso.

Por esta altura temos um Iron Man que repetidamente viu que uma única pessoa a controlar muito poder vai inevitavelmente ser corrompido por esse poder.
O Tony Stark está pessoalmente familiarizado com o risco de tomar más decisões e dessas más decisões provocarem ainda mais estragos.

Este Tony Stark está pronto para finalmente admitir que é preciso alguém a regular o poder dos Avengers para impedir que eles causem mais danos colaterais desnecessários.

É claro que ele vai ver a razão nos Acordos de Sokovia, e lutar contra o Captain America a favor deles.


Portanto por um lado temos o Captain America, que começa aliado ao governo, mas à custa da sua moralidade branco-e-preto acredita que é mais seguro ter indivíduos a tomar decisões morais do que confiar em organizações que podem ser corrompidas, e que acaba a lutar contra o governo.

Por outro lado temos o Iron Man, que começa como um rebelde contra o governo, mas à custa da sua moralidade cinzenta acaba por ver que os indivíduos são demasiado falíveis para controlarem tanto poder e que inevitavelmente vão usá-lo mal, e que acaba a agir a favor do governo.

Venha daí a Guerra Civil, para vermos como é que isto se resolve!


5 comentários:

  1. regular os poderes dos avengers, para eles não destruirem cidades... isso é todo o motivo pelo qual as pessoas vêm os filmes! Eu acho que esse esforço vai falhar, e muito betão vai voar!

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    1. Se o filme não incluir pelo menos uma cena de 30 minutos em que um advogado fala directamente para a câmara e explica os detalhes dos Acordos, vou ficar desiludido.

      Muito provavelmente o filme acaba por ser uma metáfora da discussão do Totalitarianismo vs Libertarianismo, sobre quem é que deve controlar quem.
      Ao mesmo tempo que é uma história sobre amizade.
      Ao mesmo tempo que dá uma conclusão aos arcos narrativos tanto do Steve Rogers como do Bucky Barnes.

      E sim, muitas, muitas explosões. Já há vários críticos a dizerem que a última sequência de acção do filme é a melhor coisa de sempre.

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    2. Isso da cena final deve ser o culminar de uma batalha nos tribunais, com os argumentos finais centrados na polemica privacidade ou seguranca. Iron man: "you can't handle the truth!" Role credits :)

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    3. Isso da cena final deve ser o culminar de uma batalha nos tribunais, com os argumentos finais centrados na polemica privacidade ou seguranca. Iron man: "you can't handle the truth!" Role credits :)

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    4. Pronto, já vi o filme e não tem nenhuma cena passada em tribunais, mas posso confirmar que as sequências de acção finais (há duas) são de facto a melhor coisa de sempre!

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