Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Primum Non Nocere

Existe este princípio ético que nos é inculcado durante todo o curso de medicina, que é o primum non nocere, que significa, basicamente "em primeiro lugar, não fazer mal".
É o princípio da não-maleficiência, de acordo com o qual a primeira preocupação para um médico será nunca prejudicar o seu doente.

Se pensarem bem no assunto, há qualquer coisa de perturbador nesta ideia.

Estão a dizer aos alunos de medicina, com muita veemência e muito ênfase, "Não façam mal aos doentes!!! Sobretudo não lhes façam mal! Preocupem-se sempre se não lhes estão a fazer mais mal que bem!"

Não deviam estar a dizer aos alunos de medicina: "Melhorem a vida dos vossos doentes! Ponham-nos melhores ainda do que estavam antes de ficarem doentes!"?

Eu sei que isto pode parecer idealista, mas consegue ser melhor que o realismo deprimente que é "Ao menos tentem não matar os vossos doentes!".

É como se um oficina de mecânicos, em vez de publicitar que "Pomos o seu carro como novo!", anunciasse orgulhosamente, com um sorriso e um piscar de olho, que "Prometemos que tentamos não destruir o seu carro!"

Que um mecânico não nos põe o carro pior do que estava está subentendido. A expectativa básica é que ele o conserte, o ideal é que o deixe melhor do que estava.

Anunciar, à partida, que não nos vão destruir o carro, não me parece uma boa estratégia publicitária.

É como os cartazes publicitários da Câmara Municipal de Lisboa que eu tenho visto pelas ruas ultimamente, que anunciam orgulhosamente que já não há esgotos não-tratados a desaguar directamente para o rio Tejo.

Ora se eu estivesse na Câmara Municipal de Lisboa e tivesse conseguido finalmente fazer com que não houvesse esgotos não-tratados a desaguar para o Tejo, o que eu definitivamente não fazia era anunciá-lo como se isso fosse o melhor do mundo! Calava-me muito bem caladinho com esperança que ninguém notasse que só agora é que isso tinha sido conseguido, e se alguém me perguntasse, respondia que não, nunca tinha havido esgotos não-tratados para o Tejo.

Se sentem necessidade de enfatizar Primum Non Nocere, isso dá a entender que acontece tantas, mas tantas vezes, um médico fazer mais mal que bem a um doente, que de facto se justifica fazer do Primum Non Nocere um dos pricípios éticos da medicina, e não o "Deixem o doente ainda melhor do que estava".

E isto não é especulação...

Read More »

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

On the Road



Eu comecei a ler o On the Road sem saber bem o que esperar. Sabia que era um clássico da literatura americana do séc. XX, mas a verdade é que sabia pouco para além disso.

O livro segue as aventuras do seu narrador, Sal Paradise, enquanto este percorre a América de costa a costa várias vezes, na maioria das vezes acompanhado por Dean Moriarty, no fim dos anos '40.

Dean Moriarty é possivelmente a personagem mais irritante que eu já li até hoje. É irresponsável, inconsequente, impulsivo, incoerente, ininteligível a maior parte do tempo, um sacana cabrão que deixa os amigos apeados, inclusive o narrador, por várias vezes ao longo do livro.

E a história, se é que lhe posso chamar isso, progride bastante da mesma maneira: sem uma linha condutora, sem enredo ou tensão dramática. É só uma sequência aparentemente aleatória de desventuras que o narrador vai vivendo.
Desde andar à boleia, andar em vagões de mercadorias, engatar miúdas, tomar muita droga, meter-se em complicações enormes sempre à custa de Dean Moriarty, apaixonar-se, passar o livro inteiro quase sem dinheiro, e sobretudo viajar pela América profunda, encontrando dezenas de pessoas e histórias pelo caminho.

O livro consegue ter algumas passagens muito interessantes quando descreve as trips de ácido pelas quais o narrador passa, que são ainda mais confusas que o resto do livro.

Mas o livro não tem história, não tem nada que nos faça querer passar à página seguinte. E é enorme, foi quase um sacrifício acabar o raio do livro.

No entanto, o que o livro faz, e muito bem, é caracterizar a geração beat que anos depois viria a dar origem ao movimento hippy.
Vemos um conjunto de personagens que representam os beatnicks, que está a tentar descobrir-se, que está a encontrar uma identidade própria, e essa identidade é completamente diferente do resto da sociedade. As ideias de flexibilidade, hedonismo, paz com o mundo e muita muita droga estão presentes, bem como uma inocência que por vezes parece ingénua, mas que seria essencial à geração hippy.

Gostei do livro, mas definitivamente não o quero ler outra vez.

Read More »

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Japão

Passado aproximadamente um mês da viagem ao Japão, e continuo sem conseguir sumarizar a experiência.
Estava à espera de ter um laivo de inspiração que me permitisse escrever um texto todo bonito e espirituoso, para me gabar de ter ido ao Japão.
Isso não aconteceu.

Penso na viagem, e imediatamente vem-me à cabeça Tokyo, com 10 milhões de pessoas embaraçadas por terem de viver tão próximas umas das outras. Lembro-me de Shibuya, com os néons e os prédios com fachadas que passam vídeos e as meninas a gritarem "Sumimasen!" incessantemente. O mercado de peixe de Tsukiji, com mais peixe do que eu conseguia imaginar que existia, e de comer sushi às 8:30 da manhã num restaurante de rua. O parque de Hana Rinkyu, com os pinheiros manicurados e as paisagens planeadas. Fazer karaoke em Roppongi. Ir a um banho público em Asakusa.

Depois Nikko, que é do mais diferente de Tokyo que se pode imaginar, com pontes sagradas, o mausoléu do Tokugawa com um gato sobre-valorizado e embriagar-me com Sake

Kyoto, andar de bicicleta pelo bairro das geishas com casas centenárias, ser entrevistado por miúdos japoneses da primária, e um dos momentos mais perfeitos da minha vida quando estive no templo Shoren-In, com o sol a pôr-se.

Ir ao Monte Koya, e passear por um cemitério cheio de campas cobertas por musgo, até anoitecer.
Miyajima, onde estive num hostel gerido exclusivamente por homossexuais, vi um Torii flutuante, subi a uma montanha e aprendi caligrafia.

Lembro-me de estar em Hiroshima, na fachada de um dos poucos edifícios a sobreviver à bomba, e de sentir um genuíno, literal, arrepio pelas costas abaixo.

Um vulcão activo, no Monte Aso, e comer bolos e ver anime noite dentro com um japonês bêbedo.

Conversar com um monge budista em Nagasaki, fazer festas a tubarões em Osaka, apanhar chuva e neve em Kanazawa, fazer snowboard em Hakuba.

Todos estes momentos aglomeram-se na minha cabeça, a acotovelarem-se, a tentarem vir à superfície.
Mas são demasiados, são todos demasiado bons, demasiado deliciosos para ter na cabeça ao mesmo tempo. Surgem-me desorganizadamente e provavelmente nunca os vou conseguir digerir todos.

O que significa que o Japão vai ficar sempre à beira da minha consciência. Como quando nos lembramos de algo que sonhámos na noite anterior e tentamos lembrar-nos do sonho, apenas para ele se escapar por entre os dedos, e ficarmos apenas com imagens soltas e o eco emocional que deixou.

Este não é um texto bonito ou espirituoso.
Mas eu tinha de escrever alguma coisa acerca do Japão e, sinceramente, acho que isto é o melhor que consigo fazer.

Read More »

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Mammuth

Este filme foi só estranho... Ainda não sei o que pensar dele. Talvez nunca venha a saber.

Read More »

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

First Day

Hoje um dia começou outra vez. Segundo muitos um dia importante. O primeiro dia de trabalho. Por isso, levantei-me e pus-me a caminho para Torres Vedras. Somos um grupo de 24 de recem-graduados, que foram recebidos como heróis locais pelo pessoal hospitalar.

Depois de uma recepcção calorosa da direcção hospitalar, dei por mim a receber um cafesito distribuido pela Directora clínica e a comer bolinhos que ela lá tinha. Tirámos a bela da foto de grupo e levaram-nos a conhecer o hospital.

Às 15h estava a caminho de casa. Feliz e contente. Hoje durmo em frente ao mar, amanhã entro às 9h e … os meus bancos são só em dias uteis. ;)

Read More »