Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O país das alforrecas

À medida que o tempo passa fico mais surpreendido com os adultos. Os seniores, if you will. Estou cansado de ouvir conversas de café sobre o quão mal isto está. Porque não haja dúvidas, o quão mal isto está já destronou há anos a meteorologia como tema mais debatido em ascensores, cafés, e à mesa do jantar. O quão mal isto está, ou o já viste onde isto chegou.

Isto realmente já chegou a um ponto que... estou farto desta treta. Parece moda andarem de um lado para o outro a lamuriarem-se sobre coisas. Porra. Calem-se. Isto está mal. Já sei. O governo não presta. Vem aí o FMI. A oposição é pior. Estão a cortar-nos o salário. Estão a cortar-nos os apoios. Os impostos estão a subir. O desemprego está a aumentar. Não há condições de trabalho. estão a destruir a saúde e a educação. As crianças estão mais estúpidas. O Benfica não está a jogar nada.

Esta é uma excelente época para lamúrias.
Eu não tenho problema nenhum com lamurientos. Tenho problemas com frustrados lamurientos. É verdade que muitas coisas não estão brilhantes... Por exemplo, no barreiro, hospital distrital, não há hemoculturas para anaeróbios. Por exemplo. É uma coisa básica que falta. Mas isto não incomoda muita gente, excepto os desgraçados que tiverem sepsis por anaeróbios. E esses normalmente estão calados. E depois é só uma questão de uma pessoa ter sepsis pelo bicho certo. Também não é assim tão dificil...
O que incomoda, e com toda a justiça, é a baixa de salários, a desvalorização das horas extraordinárias, é a carga de trabalho para lá do razoável, são os bancos de 24 h sem saída de banco, é a falta de comodidade no trabalho.

Isso é que mobiliza as pessoas para fazer reuniões para discutir maneiras de lutar contra a situação. Foi isso que aconteceu a semana passada, no meu local de trabalho. Fez-se a reunião, e decidiu-se que era melhor não fazer nada. Porque as horas extraordinárias podiam estar a ser mal pagas, mas as pessoas têm que pagar contas... e manter um determinado estilo de vida. Por isso é melhor não enfrentar administrações. Greves então, nem pensar. Fazem azia. Sindicatos, vade retro. Nunca na vida. Que nojo. Esses charlatões não querem é trabalhar.

Assim, ontem tive o prazer de ver as coisas voltarem ao que deviam ser. Fomos todos almoçar, e dizer mal do governo, da administração, dos MGF's, dos doentes e do vizinho do lado. Bandidos. Querem é roubar. Chupistas.

Fazer alguma coisa... epa, o que é que nós podemos fazer?
Nada, claro. Nós somos alforrecas. As alforrecas não reclamam. As alforrecas ficam na areia a secar ao sol, até que vem um puto de 5 anos, obeso, espetá-las com canivetes que apanhou da areia.
As alforrecas são bichos simpáticos que habitam em cada um de nós.

Lembro-me de duas frases: ''a democracia é o único sistema que garante que nenhum povo tenha um governo melhor do que merece'', e outra, dita por um espanhol radicado em Portugal, que trabalha comigo: ''Mijam-nos em cima, e temos que acreditar que chove.''

Vivam as lamúrias.

2 comentários:

  1. MUITO BOM RICARDO!
    Dá-me autorização para divulgar o seu texto pelos meus contactos do hotmail? Com a devida identificação, claro.
    Abraço
    Sérgio Paixão

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