Imaginem:
António está na fila para ir comprar um hamburguer. Já há muito tempo que não come um e hoje está-lhe mesmo a apetecer. Que se lixe a dieta. Vai deleitar-se com uma coisa qualquer com dois bifes, muito queijo, cebola e bacon.
Chega a sua vez, ele pede o seu hamburguer duplo com queijo e extra bacon, e num acesso de loucura, até pede as batatas fritas grandes.
Paga, e aguarda impacientemente que a rapariga com a cara cheia de acne e o olhar vazio lhe traga a sua comida.
Passados alguns minutos, e cada vez mais cheio de fome, António vê chegar a rapariga com o seu pedido. Sem nenhuma cerimónia a rapariga anuncia:
"Burger duplo de queijo, extra bacon e batatas grandes" ao mesmo tempo que deposita na bancada à frente de antónio uma grande bota.
António olha incrédulo para a bota durante uns segundos. Vira-se para a rapariga, mas percebe que do seu olhar vazio não vai obter respostas nenhumas. Volta a observar a bota velha que tem à sua frente, e só consegue pensar "Outra vez...".
António pega na sua bota e leva-a para uma mesa de onde acabaram de se levantar um casal de meia-idade que tinha ido comer sopa.
Fica uns minutos a olhar resignado para a sua bota. É uma velha bota. Não é uma bota da tropa. É uma bota daquelas que as pessoas usam no inverno. Ainda tem um pouco de lama nos atacadores. Não está estragada nem nada, mas vê-se que já foi usada.
António pondera como é que a sua vida chegou a isto.
Ele estava convencido que já tinha passado esta fase. Que já tinha ultrapassado os problemas e as dificuldades, que a sua vida estava finalmente a melhorar.
Mas afinal, ainda lhe trouxeram uma bota quando pediu um hamburguer.
António olhou para o menu iluminado do restaurante, e lá viu, realmente, em letras muito pequeninas, a seguinte mensagem "Todos os pedidos serão automaticamente substituídos por uma bota velha se o cliente não anunciar explicitamente que não quer uma bota".
António tinha-se esquecido, mais uma vez. E agora tinha apenas uma bota à sua frente.
Ponderou gravemente que as coisas tinham de mudar. Que não queria mais botas na sua vida, e que gostava que quando pedisse um hamburguer lhe trouxessem, de facto, um hamburguer.
Porque chega um momento na vida de cada um em que é altura de gritar bem alto "Eu não quero uma bota!". Chega a altura de nos levantarmos, e exigirmos o nosso direito de não ter uma bota velha quando pedimos um hamburguer!
todos chegamos a essa idade...
ResponderEliminarestive a tentar imaginar circunstâncias reais em que o texto se pudesse aplicar como metáfora. sem sucesso.
se bem que acho que é genial como força motriz por detrás de um franchise de livros de auto ajuda:
a idade de deixar de receber botas em restaturantes, vs quem mexeu no meu queijo.
Importante não especificar nos seminários as circunstância em que tamanha epifania se abateu sobre ti.
a propósito, aquela vela na parede é espectacular, por algum motivo...