Estou a ter um curso de epidemiologia.
Eu devia gostar de epidemiologia.
Gosto de ciência, e a epidemiologia é uma meta-ciência.
É uma ciência que estuda ciência. Procura padrões, sistemas, erros.
Devia ser interessante.
No entanto quando estou a ter aulas de epidemiologia sinto que alguém pôs a minha alma numa prensa e está lentamente a esmagá-la enquanto me falam de reversões lineares qui-quadráticas em testes de wald com valores-p pouco significativos.
Porque, e isto é interessante, a Epidemiologia não devia existir.
E não digo que não deva existir, acho muito bem que exista. Mas é estranho que continue a existir.
Um tema, à medida que sabemos mais acerca dele, à medida que o estudamos, tende a suscitar mais interesse acerca dele mesmo. O interesse que gera é uma medida de sobrevivência da ideia.
Uma ideia mais interessogénica tem mais probabilidade de sobreviver ao longo do tempo do que uma ideia menos interessogénica.
A Epidemiologia é interessolítica.
Não me interpretem mal! Eu acho que a Epidemiologia é de suprema importância, extremamente útil e essencial para o avanço do conhecimento humano.
Mas existe um limiar de interesse que qualquer ideia tem de ultrapassar para se manter viva. E a maioria das ideias tem tendência a aumentar lentamente o seu interesse e assim manter-se acima desse limiar.
A Epidemiologia é das poucas ideias que de facto activamente diminui o seu próprio interesse abaixo do limiar de interesse.
É uma ideia auto-destrutiva.
Daí surpreender-me que continue a existir.
E existem pessoas que gostam!!! Como!?
Mais uma vez, estas pessoas são extremamente inteligentes, determinadas, zelosas do seu trabalho, investidas. Tenho a certeza que se as conhecesse melhor ia descobrir que são pessoas maravilhosas e de todo não tão aborrecidas como imagino que só possam ser.
Mas o problema é que a Epidemiologia É interessante...
Tenho uma relação de amor/tédio-destruidor-da-mente com a Epidemiologia.
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