Pataniscas Satânicas

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segunda-feira, 22 de setembro de 2014

SUPER

Portanto acabei de ver um dos melhores e mais estranhos filmes que já vi ultimamente.


Basicamente adorei o Guardians of the Galaxy, que, incidentalmente ja fez 700 milhões de dólares em receitas worldwide, e fui à procura de outros filmes do mesmo realizador, o James Gunn.

O James Gunn começou a sua carreira cinematográfica com a Troma Pictures, que nos anos 80 e 90 fez vários filmes gore, nomeadamente a saga do super herói Toxic Avenger.


Depois realizou algumas coisas que eu ainda não vi mas que supostamente são muito boas, como o Tromeo and Juliet e o Specials.

O que eu vi de facto foi o Super.



Ora é razoavelmente difícil descrever o Super porque há imensa coisa a acontecer ao mesmo tempo.
De certa forma é um filme de desconstrução do conceito de super-heróis, no qual um homem normal decide vestir um fato de super-herói e combater o crime, a lá Kick-Ass, com o qual tem muitas semelhanças. 

Tem simultaneamente aspectos estilísticos de filme indie de baixo orçamento e de filme gore com baixo orçamento e com uma violência física muito, muito agressiva que provavelmente não é para toda a gente. E o filme tem todos os actores. O Kevin Bacon, a Liv Tyler, o Michael Rooker, até tem o Nathan Fillion FFS!

A narrativa não é nada de estupendamente inovador ou original, está lá só para permitir que as personagem centrais se revelem e cresçam. 
O tema central destas personagens é a insanidade, mais especificamente insanidade mental face a uma sociedade injusta e cruel.


O personagem principal é o Frank Darbo, aka o Crimson Bolt, maravilhosamente interpretado pelo Rainn Wilson do The Office americano.
Mas apesar de o personagem principal ser claramente doido, muito violento e mesmo homicida o filme não tenta desculpá-lo ou redimi-lo. No entanto as suas motivações são tão claras e compreensíveis que é difícil não empatizar com ele, mesmo quando está a partir a cabeça de pessoas que se metem à frente em filas. O facto de empatizarmos com este personagem torna-nos cúmplices dele. Ele faz aquilo que nós gostaríamos de fazer: sair e combater o crime, corrigir as coisas erradas na sociedade. Nós não o fazemos porque não somos doidos, mas ele fá-lo!


Depois há a personagem secundária, a Libby, aka Boltie, que é a geek que é demasiado intensa a gostar de banda desenhada. Se o Frank é quem gostaríamos de ser mas não somos, a Libby é quem somos, mas preferíamos não ser. 
A Libby é uma espectadora, é obcecada com banda-desenhada e super-heróis. Passa a vida a ler banda-desenhada e a desejar estar dentro das aventuras, com uma obsessão quase doentia. Naturalmente quando a oportunidade surge para participar de facto nisso, enlouquece um bocadinho e as piores partes vêem ao de cima.
Enquanto que para o Frank a motivação para combater o crime passa por um sentido de justiça e moralidade (mesmo que deturpado) para a Libby é uma coisa catártica, fetichista quase-sexual que vem da sua obsessão por super-heróis. É a sublimação do voyeur subitamente estar directamente envolvido nas suas fantasias. É desconfortável...

Sobretudo porque ela é a substituta do espectador, de nós. Nós somos os voyeurs. Somos os espectadores tanto das bandas-desenhadas como do próprio filme no qual a metáfora é apresentada.
E, como nós naquela situação, a vida corre-lhe mal. Ela não tem um colete à prova de balas feito de protecção narrativa. O Frank tem porque é o herói, ela não tem porque é a observadora.



De qualquer modo, e porque já não sei bem para onde é que ia com isto, o James Gunn é um grande realizador, muito subestimado.
O filme Super está extremamente bem construído, tem um excelente ritmo, todas as cenas o empurram para a frente e nunca são repetitivas.
Nota-se o mesmo tipo de técnica e domínio da narrativa e cinematografia que depois se viria a ver no Guardians of the Galaxy.

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