Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Eu não sei espirrar

Não sei espirrar, e isso é uma vergonha

É o tipo de coisa que não imaginariam que fosse possível uma pessoa não saber fazer.
Que fosse uma coisa que tivesse de ser aprendida.

Mas a verdade é que não sei espirrar.

Sinto que nunca realmente lhe apanhei o jeito.
É como se começasse a espirrar mas depois a meio caminho mudasse de ideias.
Eu engulo os meus espirros.



Lembro-me de ser tão tímido em criança que me sentia embaraçado por ter qualquer tipo de atenção virada para mim, e por isso espirrava para dentro para ninguém reparar.

O que era chato, porque eu tinha muitas alergias, então passava o tempo a espirrar.

Mas não me devia parecer tão estranho quanto isso.
Uma vez numa urgência de pediatria vi uma miúda que não sabia tossir.

Se pesquisarem fotografias de pessoas a tossir,
parece sempre que estão a fazer sexo oral a um pénis invisível.
A sério, experimentem
Devia ter cerca de 12 anos, e estava a ser levada à urgência pela mãe, muito assustada, porque a menina estava engripada, e quando ficava engripada ficava sempre sem conseguir respirar.
Algo que do ponto de vista médico não faz assim muito sentido, à partida. Só se houver uma asma muito agravada é que a gripe pode provocar broncoconstrição grave. E nesse caso estes pais estariam há muito tempo capacitados para lidar com crises dessas, e não estariam a vir à urgência em pânico.
Portanto é o tipo de história que a partir do primeiro momento faz disparar alarmes dentro da cabeça médica de que há qualquer coisa de estranho a acontecer, e que a história que nos está a ser contada provavelmente não é bem assim.

Chamou-se a pneumologia.
A pneumologista observou a miúda.
A miúda não sabia tossir.

Experimentem pesquisar pessoas a tossir,
não fazerem sexo oral a um pénis invisível.
A não ser que seja isso que gostem de fazer!
Mas boa sorte a encontrarem um pénis invisível.
Em vez de inspirar e depois contrair a garganta para obrigar o ar a sair com força, ela contraía a glote com tanta força que o ar não saía, e depois voltava a inspirar. Um mecanismo ineficiente que falha em remover o estímulo que o provocou em primeiro lugar.
E ela inspira, e inspira, sem conseguir nunca reduzir o estímulo para a tosse, até desmaiar.

Sempre que tinha uma gripe, ou qualquer coisa que pudesse provocar inflamação ou irritação da garganta, acabava na urgência por não conseguir respirar.

Chamou-se uma enfermeira especialista em ginástica respiratória, Daquelas que ajudam os doentes com doenças neurológicas degenerativas a usarem os poucos músculos respiratórios que ainda lhes restam, e ela ensinou a miúda a tossir.
Passou uma hora com ela a fazer meia dúzia de exercícios. Ensinou-lhe umas ginásticas para ela praticar em casa.
Foi-se embora curada.

Eu nunca tinha pensado que era possível não saber espirrar, mas aparentemente é uma coisa.

Agora que penso nisso, também uma vez encontrei um homem idoso, internado por uma coisa qualquer, que não sabia inspirar.

O Odie também demorou 3 anos a aprender a respirar

Não é que não inspirasse, obviamente que sim, senão não estava vivo.
Mas quando lhe pedíamos para inspirar, ou respirar para dentro, ele em vez disso começava a engolir ar.
Nesta situação acho que é mais porque ele não compreendia bem o sentido da palavra inspirar. O que por si só é um feito razoavelmente impressionante, chegar aos 68 anos sem saber inspirar.

Mas sim, é verdade.
Eu não sei espirrar.



O que é uma pena, porque há um prazer animalesco em espirrar. É como coçar uma comichão difícil de chegar.
Numa época primitiva, dava-se grande valor ao acto de espirrar, e as pessoas carregavam consigo caixinhas, por vezes muito artisticamente elaboradas, que continham rapé, uma forma pulverizada de tabaco, inalavam para ter uma dose rápida de nicotina, e para provocar o espirro.

Naturalmente que espirrar é um mecanismo reflexo e automático, mas aparentemente pode ser aprendido mal. E eu diria que o prazer animalesco associado ao espirro está associado a isso de alguma maneira.

Sinto-me roubado desse prazer, porque não sei espirrar.


É semelhante à fase anal dos bébés, entre os 18 meses e os 3 anos, durante a qual parte do processo de desenvolvimento cognitivo e de consciência do Eu está intimamente relacionado com a aprendizagem do controlo dos esfíncteres, e grande parte disso está associado a sensações de prazer ligadas aos esfíncteres.
Perturbações durante esta fase, que interfiram com esta aprendizagem, podem levar a situações complexas e difíceis de resolver de
Daí a preocupação geral com o ânus, que parece ser razoavelmente transversal à espécie humana.

Pergunto-me se não se poderia estabelecer igualmente uma fase do espirro.
Para mim pelo menos o espirrar era um momento de auto-consciência. Um momento no qual um mecanismo reflexo, protector, fazia com que eu me tornasse mais auto-consciente de mim mesmo, e isso motivava-me a exercer um controlo premeditado sobre esse mesmo mecanismo reflexo.

Uma fase do espirro é uma tolice, naturalmente, mas ainda assim.

Não sei espirrar.


4 comentários:

  1. Essa senhora no fim do post sabe espirrar que é impressionante!

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  2. Entre não saber tossir, e o super homem espirrar sistemas solares inteiros, relebro: https://www.youtube.com/watch?v=GStXJkQx4Fs

    uma excelente ideia para aprender a espirrar!! Será que a enfermeira sabe disto?

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    1. http://i820.photobucket.com/albums/zz125/ava91791_misc/GIFs/GIF40.gif

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