Esta é uma história sobre macacos, e as histórias e as mentiras que eles contam. :)
Durante milhões de anos, os nossos antepassados macacos andaram de
árvore em árvore, até desenvolverem destreza manual suficiente para gesticular uns para os outros.
Quando desceram das árvores, os macacos que gesticulavam começaram a usar paus e pedras para fazer ferramentas. Os primeiros foram usados para caçar, cortar e preparar o jantar, e não passavam de pedras afiadas.
Muitos anos depois, os macacos começaram a grunhir uns para os outros, tentando transmitir significados. Ao longo de centenas de milhares de anos, os macacos grunhiram uns para os outros, até que lentamente, alguns macacos nalguns sítios, começaram a concordar com alguns significados específicos, para grunhidos específicos.
Muitos anos depois, os macacos começaram a grunhir uns para os outros, tentando transmitir significados. Ao longo de centenas de milhares de anos, os macacos grunhiram uns para os outros, até que lentamente, alguns macacos nalguns sítios, começaram a concordar com alguns significados específicos, para grunhidos específicos.
Isto foi espectacular, e viria a dar imenso jeito. A linguagem melhorou brutalmente a comunicação entre os macacos, e permitiu todo o tipo de coisas novas.
Inclusive, viria a fazer com que os macacos se convencessem uns aos outros que tinham deixado de ser macacos, porque conseguiam falar. Mas nós sabemos a verdade. Os macacos gostam de mentir, neste caso, a eles próprios. :)
Inclusive, viria a fazer com que os macacos se convencessem uns aos outros que tinham deixado de ser macacos, porque conseguiam falar. Mas nós sabemos a verdade. Os macacos gostam de mentir, neste caso, a eles próprios. :)
À medida que os macacos grunhiam uns para os outros a transmitir mensagens cada vez mais bem construídas, alguns macacos aperceberam-se que era extremamente útil transmitir mensagens que não eram verdade. Convencerem que não tinham roubado, ou morto alguém, ou insistir que tinham conseguido caçar um tigre dente-de-sabre do tamanho de um elefante, seria útil para impressionar um amigo, ou intimidar um rival.
Ainda hoje, toda a gente sabe que há 3 tipos de mentirosos. Os pequenos, os grandes, e os caçadores.
Portanto, à medidas que fomos ficando melhores a comunicar uns com os outros, fomos competindo uns com os outros. Sempre dos dois lados da barricada. Umas vezes, somos nós os macacos mentirosos. Outras, somos nós o macaco que desconfia que nos estão a mentir. Isto vem acompanhado de sentimentos de indignação justiceira. 'Como é que ele se atreve?'
Porque é que ficamos zangados, se todos mentimos? Os médicos sabem há muito tempo:
Por exemplo, este estudo da Universidade do Massachusets descobriu que 60% dos inquiridos mentiu 2 a 3 vezes numa conversa de 10 minutos.
Não dizer a verdade. Mentir. Uma das pequenas facada no contrato social que reprovamos nos outros, mas que por vezes somos obrigados pelas circunstâncias a fazer nós próprios. Porquê?
Por vezes o contrato social deixa-nos encurralados.
Uma treta muito comum acontece quando chegamos atrasados, ou faltamos ao emprego ou à escola. Quando falhamos um prazo, E é tão mais fácil inventar um transporte atrasado, um furo no carro, do que admitir que não somos perfeitos. Até porque admitir que não somos perfeitos pode levar a chumbar uma disciplina, ou a perder o emprego.
Porque a alternativa pode ser desnecessariamente cruel. Esta é uma das racionalizações que usamos.
''Eu não podia dizer a verdade, porque não queria que ele ficasse magoado...''
Quando um amigo nos mostra uma música, ou um vídeo, de que não gostamos, ou para o qual não temos paciência, que vamos fazer? Vamos ver o video, ouvir a música. Às vezes fartos, outras contrariados, mas no fim dizemos que gostámos. Que vamos ouvir o álbum. Que vamos ver um episódio da série. Porque a alternativa pode ser o nosso amigo deixar de nos mostrar coisas interessantes. E isso é cruel para ele, e estúpido para nós. Porque queremos que os nossos amigos continuem a mostrar-nos coisas.
Mas continuamos (e bem) a ensinar às crianças que mentir é muito feio. Esta teoria pode ter uma confrontação divertida com a realidade.
Quando chegamos a adolescência, e descobrimos que o mundo dos adultos, que julgávamos perfeito, está cheio de políticos mentirosos, corrupção, escândalos financeiros, ficamos zangados, e com um sentimento de que fomos traídos. Estivemos a respeitar regras que pessoas com mais experiência que nós, não respeitaram. E retiraram benefícios disso. Pensamos que somos macacos espertos por descobrir, e sentimos a indignação justiceira. Alguns de nós querem endireitar todos os males do mundo nesta fase da nossa vida. E ainda bem. A intervenção cívica deve ser incentivada.
Quando somos jovens, é fácil sentir que o mundo não presta. Ou pelo menos que não era aquilo que nos venderam quando fomos crianças. Isto pode ajudar a explicar a atitude cínica de muitos adolescentes. Que pode ser absolutamente superficial também. Está brilhantemente ridicularizada neste clip do Family Guy.
(No it's lame. Everything is lame...)
Esta ideia de lame - foleiro, piroso, fatela - aparece na adolescência, por oposição ao que é cool - fixe, porreiro, com nível. Cenas, tipo, boa onda.
Não é necessariamente uma mentira, mas é alguma coisa não original, pouco autêntica. Por oposição ao fixe, original, verdadeiro.
Ao genuinamente fixe. :)
Cool (fixe) quer dizer por definição, fresco. Não muito quente, nem muito frio. Just right.
E é completamente subjectivo, como não podia deixar de ser.
Tem muito a ver com identidade de grupo. E com seguir tendências de artistas de referência.
Queremos ser fixes e não foleiros. Para os nossos amigos gostarem de nós. Mas não conseguimos ser fixes só por querermos muito. Aliás, esta é uma maneira muito fácil de ser foleiro. Não há nada mais foleiro do que alguém que tenta muito ser fixe. Passar agressivamente a impressão do que somos mais fixes do que na realidade somos. É uma maneira de mentir, de manipular. Isso é foleiro.
E se ser foleiro é mau (por algum motivo), ser lamechas ou piegas é pior. Cool, não quer dizer só autêntico, quer também dizer distante emocionalmente.
Mas os seres humanos têm emoções fortes. Muitas. Como vimos antes, são dos principais motivos que levam as pessoas a mentir. Não querer perturbar o nosso autoconceito. Não querer magoar as emoções dos outros. Mas não queremos criar um meio onde seja sempre inapropriado expressar certas emoções. Agora, como expressar emoções da maneira cool - distante emocionalmente?
Porra, a vida na adolescência não é nada fácil...
Uma das coisas a que somos todos sensíveis, é à lisonja. Alguém que diz bem de nós, deve ser esperto. Deve ser cool :). Mas desde que somos adolescentes ouvimos a nossa mãe a dizer bem de nós, e sabemos que ela definitivamente não é cool. Alguém que expressa emoções fortes acerca do nós é facilmente catalogado como inautêntico, não original, foleiro, piegas.
Alguém que está a tentar demasiado.
Provavelmente está a manipular-nos cinicamente...
Because it's lame, everything is lame. Like totally, whatever. :)
Que se conclui daqui? Nada. It's an ongoing debate. Uma luta entre mentirosos e mentidos, entre adolescentes cool e lame, uma luta entre piroso e autêntico. E estamos todos, à vez, de ambos os lados da barricada, sendo que a definição dos conceitos é sempre participada pelos dois lados envolvidos na comunicação. E todos os dias os conceitos aperfeiçoam-se.
Os macacos continuam a mentir, a lisonjear, a desconfiar e a dissimular. E também a expressar emoções verdadeiras, a comunicar de maneira pungente, a desenvolver cumplicidade e vínculos significativos.
Finalmente, em relação às emoções fortes, suponho
que um ''boa regra de polegar'' é procuramos dentro de nós próprios porque é
que estamos a expressá-las.
Se nascem de um lugar de insegurança, de raiva ou de necessidade de fazer mover os
outros numa certa direcção através das nossas palavras bonitas, então se calhar é melhor ter cuidado
Se nascem de um momento positivo, de euforia
desinteressada, porque não?
O que é o pior que pode acontecer? Sermos vistos como lame?
Oh, grow up.
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