A ideia de um destino final para a espécie humana é intimidante e hipnotizante ao mesmo tempo. É aquele tipo de abismo para o qual não conseguimos deixar de olhar colectivamente com um alternar entre curiosidade mórbida e cepticismo irritado.
Como uma criança que ainda tem dificuldade em apagar a luz antes de dormir, sem antes ver se há ou não monstros debaixo da cama.
A verdade é que já ouvimos esta história antes. Já sabemos que o calendário Maia não matou ninguém, que os cometas são só bolas de gelo espaciais, e que os extraterrestres não estão à esquina esperando o melhor momento para nos invadir e escravizar.
Temos olhado para debaixo da cama à procura de monstros, mas só temos visto rodapé e bolas de cotão. Ainda bem.
Mas para morrer basta estar vivo. É o tipo de coisa que só precisa (só pode) acontecer uma vez. Sabemos que um dia, (esperemos que daqui a muito tempo), o último dos nossos descendentes vai desaparecer.
As variações católicas desta história ainda tem um impacto grande sobre a nossa psique colectiva, mas há muitas maneiras de contar esta história. Talvez porque ser humano é muito identificar padrões e desenvolver cogitações acerca do futuro - ponderar factos conhecidos, e extrapolar consequências e cenários especulativos sobre o que vai acontecer. Esta é a nossa grande força, mas a nossa reacção aos cenários que projectamos pode ser uma fraqueza importante.
O Apocalipse é a história que contamos a nós próprios sobre o fim dos tempos, assim como o Genesis é a história sobre o início.
Será que podemos perceber alguma coisa sobre o fim, se pensarmos sobre as histórias que contamos a nós próprios sobre o princípio?
Bem, no princípio, Deus Criou a Terra.
E o que é que criou Deus? Deus sempre existiu, claro...
Pois.... em relação a isso, há uma história que está na moda agora com o livro do John Green.
Um dia, uma senhora de idade assistia atentamente a uma palestra de um cientista conceituado, sobre o nosso Sistema Solar e a Via Láctea.
No fim da palestra, a senhora levantou-se e pediu respeitosamente a palavra: ''Isso que nos disse são tudo tretas e histórias para adormecer crianças. Na realidade, o mundo é como um prato raso, que está às costas de uma tartaruga gigante!''
O cientista perguntou, um pouco condescendente: ''Muito bem. Mas então a tartaruga está em cima do quê?''
Ao que a senhora retorquiu sem pestanejar: ''Você é muito arguto, jovem, muito inteligente....
Mas é tartarugas até lá abaixo!''
Bom, por aqui a história acaba rápido. Tentando de outra maneira:
O que é que veio primeiro? O ovo ou a galinha?
Aristóteles acreditava que ambos existiram sempre.
O que é uma ideia estranha, para seres humanos habituados a um mundo de causas e efeitos.
O ''princípio de todas as coisas'' tinha que ser um ''efeito sem causa''. Um ''mobilizador sem mobilização''.
Novamente, ''Tartaruras até lá abaixo''.
Sei lá, um ''deus galinha eterno'' que pôs o primeiro ovo, ou um ''ovo eterno'' que se pôs a si próprio.
Os Creacionistas, baseados no Genesis, mantêm que a galinha veio primeiro. Deus criou os animais e as plantas, galinhas incluídas. Depois é que as galinhas começaram a pôr ovos.
Não sei qual é problema em pensar na hipótese que Deus punha ovos, nem porque é que isso é mais estranho que ''criar'' uma galinha. No entanto, acho que a comunidade religiosa ainda tem outro paradoxo para resolver que gera ainda mais perplexidade.
(Se os coelhos põem ovos na Páscoa, porque é que Deus não fez o mesmo no Genesis?)
Para aqueles com pensamento mais literal (e que gostam do rótulo 'científico'), os ovos apareceram há muito mais tempo que as galinhas, basta ver o Jurassic Park, para perceber que os dinossauros punham ovos em barda.
Já encontramos ovos de dinossauro fossilizados com 190 milhões de anos, e o Archaeopterix (uma espécie de dinossauro que foi ''avô'' de muitos pássaros) tem 150 milhões de anos.
Os dinossauros punham ovos, e os pássaros vieram dos dinossauros.
Resolvido. Pois. Mas estávamos a falar de ovos de galinha exclusivamente, ou de ovos de dinossauro? Basta mudar um pouco a pergunta e estamos de volta ao ponto de partida.
''O que veio primeiro? O ovo de galinha ou a galinha?''
Para complicar ainda mais, se os ovos de dinossauro apareceram antes do que os ovos de galinha, muitos dinossauros como actualmente os conhecemos, pareciam galinhas (tinham penas).
(PAPAPA.....PA-CÁÁÀÀ)
As penas não servem só para voar. Muitas têm cores vivas que são exibidas na escolha de parceiro sexual. A qualidade das penas define se aquele pássaro (ou dinossauro), vai ou não ter hipótese de produzir ovos. Sabe-se hoje que os dinossauros tinham penas e faziam ninhos. E dançavam, a abanar as suas bonitas plumas para atrair as fêmeas dinossauras.
(a internet é um sítio fabuloso)
Sendo prático, a conversa do ovo-galinha é uma pergunta estúpida se não for colocada para fins puramente retóricos. Estamos a usar definições humanas, construções teóricas, enxertados na natureza. Para pensar sobre a realidade e comunicar uns com os outros, é preciso definir limites, unidades de medida, classificar e catalogar os nossos conceitos. É importante lembrar que estas ferramentas que encontramos para representar a realidade, não são a realidade.
E o que é que isto interessa?
Not much by itself...
Mas as divagações sobre qual o preciso momento em que a vida ''começa'', ainda não deixaram calar muitos manifestantes pró e contra o aborto, por exemplo.
(estes senhores ''pró-vida'' claramente acham que o ovo existe antes da galinha)
O que é que veio primeiro? O ovo ou a galinha?
Quando é que a vida começa?
A vida na Terra é um processo contínuo que começou há biliões de anos, e neste caso está a ser representada com as ferramentas humanas para contar uma história, em que uma personagem aparece antes da outra. A pergunta faz-nos confusão porque pensamos no ovo e na galinha como entidades distintas, mas na realidade, o ovo e a galinha são a mesma personagem, a mesma entidade, em fases diferentes de uma existência contínua desde a sopa primordial.
(Se Deus é omnisciente, porque é que não convoca as pessoas por email, em vez de por relâmpago?)
Portanto, o que é que a maneira como nós contamos histórias sobre o príncipio da existência nos diz sobre a maneira como vemos o fim do mundo?
Diz-nos que temos tendência para simplificar as coisas, e a ser levados por argumentos baseados na autoridade/antiguidade. A arte da profecia vive de vieses de confirmação, e que depois de sabermos o que foi o Big Bang, é fácil dizer que era a isso que o Genesis se referia quando Deus disse ''Faça-se Luz''.
O mesmo fenómeno está na base desta notícia de um jornal inglês, que defende que o Nostradamus previu a vitória de Donald Trump, e que isso vai levar ao fim do Mundo.
No entanto, porque é que o Nostradamus a prever o Donald Trump é inferior ao capítulo das Revelações da Bíblia, na arte da profecia?
A citação de Nostradamus é: "The great shameless, audacious bawler. He will be elected governor of the army: The boldness of his contention. The bridge broken, the city faint from fear.”
Parece-me tão críptico como o epílogo da Bíblia, com os selos do cordeiro de Deus, a sequela do Jesus Christ Superstar e os parceiros de equitação - morte, fome, guerra e conquista.
Como com a história dos ovos, das galinhas, e dos dinossauros, a ciência tenta substituir o nicho de explicação da realidade antes ocupados pela religião e pela filosofia. Não quer dizer que tenha respostas definitivas, ou sequer que as profecias científicas sejam mais precisas que as religiosas.
Mas as narrativas do apocalipse com base científica têm o apelo de descrever improbabilidades verossímeis, e não só criar alegorias vagas para o futuro interpretar.
Por muito estúpidas que algumas delas pareçam.
Asteróides a colidir com a Terra, guerra nuclear, inversões geomagnéticas rápidas, invasões alienígenas, buracos negros ocultos a engolir o sistema solar, vírus que transportam doenças neurodegenerativas que transformam as pessoas em zombies! bUHHHH BuHH BUUh! :P
A ciência tem vindo a misturar-se nas narrativas que criamos sobre o fim do mundo, o que provoca estados emocionais antes reservados a quem escutava sacerdotes em sermões exaltados.
E é isso que acho interessante. Desde os cultos dos cometas e a cientologia, passando pelo impacto destas histórias nos filmes de Hollywood sobre o fim do mundo, até à narrativa cientificamente validada sobre o aquecimento global e a depleção de recursos.
O fim do mundo é cá uma história!
Comecem a juntar latas de atum no vosso Bunker improvisado, porque vamos continuar a falar sobre isso em Pataniscas próximas!
Mas as narrativas do apocalipse com base científica têm o apelo de descrever improbabilidades verossímeis, e não só criar alegorias vagas para o futuro interpretar.
Por muito estúpidas que algumas delas pareçam.
Asteróides a colidir com a Terra, guerra nuclear, inversões geomagnéticas rápidas, invasões alienígenas, buracos negros ocultos a engolir o sistema solar, vírus que transportam doenças neurodegenerativas que transformam as pessoas em zombies! bUHHHH BuHH BUUh! :P
A ciência tem vindo a misturar-se nas narrativas que criamos sobre o fim do mundo, o que provoca estados emocionais antes reservados a quem escutava sacerdotes em sermões exaltados.
E é isso que acho interessante. Desde os cultos dos cometas e a cientologia, passando pelo impacto destas histórias nos filmes de Hollywood sobre o fim do mundo, até à narrativa cientificamente validada sobre o aquecimento global e a depleção de recursos.
O fim do mundo é cá uma história!
Comecem a juntar latas de atum no vosso Bunker improvisado, porque vamos continuar a falar sobre isso em Pataniscas próximas!
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