O objectivo da arte é criar uma emoção específica na pessoa que a experiencia. Essa emoção será tanto mais específica ou claramente predeterminada quanto melhor for o artista.
Pode ser uma emoção simples e directa, como raiva ou amor transmitidas por uma pintura poderosa, pode ser algo tão complexo como a sequência específica de emoções de excitação, antecipação, suspense, desilusão, medo que estão presentes na narrativa de um livro ou de um filme, ou até numa composição musical.
O meio artístico é importante, a técnica artística também, e podem ser analisados até ao fim dos tempos, mas o que mais importa e o que define a arte é esse produto final da emoção no espectador.
De acordo com esta lógica, a mais flagrante marca de falhanço numa peça de arte é a indiferença do espectador perante a mesma.
Quando alguém olha para um objecto de arte e fica simplesmente a pensar "Meh", então algo falhou. Também pode acontecer que o espectador seja o errado para aquela arte específica, ou que não tenha as suas sensibilidades desenvolvidas.
A arte acompanha-nos desde sempre. A apreciação estética e artística de objectos já existia em pequenas conchas de caracol esculpidas em cavernas sul-africanas há 75 000 anos, e recipientes provavelmente usados para conter tintas com 100 000 anos foram encontrados.
Na Babilónia, um dos berços da civilização, há 4300 anos, eles andavam a imaginar e a esculpir esfinges, que punham à entrada dos templos!
Imaginem, por momentos, que tipo de cultura é que evolui ao ponto de inventar uma coisa tão específica como uma criatura meio leão, meio águia, meio humano, que é inescrutavelmente inteligente e que se diverte a inventar adivinhas para testar as pessoas, e as que não acertarem são comidas.
É inegável o impacto emocional, inescapável e incontornável da Nona Sinfonia do Beethoven
Ou esse génio, brilhante, divinamente inspirado, que foi o Bach, que, lendariamente, compôs a Oferenda Musical de improviso, para impressionar o imperador, e que é quase inatingível na sua complexidade e beleza.
Recentemente, em 2008, um artista achou que a melhor obra de arte que podia fazer era encontrar capas de jornal do New York Post que tivessem a cara do Saddam Hussein, masturbar-se para cima delas, cobrindo-as com o seu esperma, e sobre as quais espalhou depois glitter colorido, criando um padrão interessante quando secasse.
Sim, isto aconteceu.
Inegavelmente é arte. Relutantemente.
Cria uma emoção específica. Pode ser uma emoção de confusão e nojo, mas não obstante, uma emoção. E suficientemente forte para eu não me esquecer disto, anos depois de ter sabido que existia. É essa a sua medida de sucesso.
Recentemente estava no Barreiro (God knows why...) e deparei-me com arte.
Numa parede, em letras grandes, escritas com uma lata de spray branco, e demonstrando alguma displicência técnica, favorecendo um estilo informal, estava o seguinte:
"Quero cona branca"
Foi uma frase que me impressionou. Não só pela sua coragem despudorada, mas pela profundidade da sua mensagem.
É a mensagem de alguém que sabe o que quer e não tem medo de o anunciar ao mundo!
Mensagem essa, aliás, da qual eu nem discordo, estritamente falando. A um nível muito básico, eu e esta pessoa queremos a mesma coisa.
Depois de ter feito estas reflexões todas e sentido estas emoções todas (entre as quais a repulsa era a mais importante) decidi sair rapidamente daquele bairro, e nem sequer foi só por estar no Barreiro.
Eu não fiquei indiferente àquele fulgurante exemplo de escrita urbana. Pelo contrário, marcou-me de uma forma forte, tendo elicitado um conjunto de emoções específicas que eu não costumo sentir.
Não foram necessariamente emoções agradáveis! Mas foram fortes o suficiente para eu estar a escrever sobre elas.
É arte, de acordo com todos os preceitos que já estive onanisticamente a explanar.
Portanto façam sempre um esforço por procurar a arte escondida onde menos a esperam, mesmo que estejam no Barreiro.
Arte é tudo o que nos rodeia e não precisa de ter sido criada pelo homem :)
ResponderEliminarSempre entendi a arte como um acto criativo, e por essa perspectiva fenómenos naturais não seriam considerados arte.
EliminarOu seja. A arte pressupõe alguma intencionalidade na sua criação.
Por muito muito bela ou inspiradora de maravilhamento que seja uma paisagem natural, eu não a consideraria arte.
Na sua perspectiva, de que maneira entende a arte como podendo não ser criada pelo homem?