Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

terça-feira, 15 de março de 2016

O Papão vive dentro da sua cabeça

O que é que se passa dentro da sua cabeça? Técnicas de manipulação social? Outra vez o Papão?

Vamos falar sobre isso!



Alguma vez pararam e ouviram o que se passa dentro da vossa cabeça?

Aquelas ideias e pensamentos aleatórios e semi-inconscientes que andam constantemente por aqui a saltar dentro. 

Há coisas muito estranhas a passarem-se dentro da sua cabeça, e você sabe que sim. 

Eu sei que sim porque isso também se passa dentro da minha cabeça.

E não estou a falar daquelas ideias idiotas e semi-aleatórias que temos todos, que representam o barulho de fundo das roldanas da nossa consciência.


Estou a falar daquelas ideias desagradáveis que lhe surgem na cabeça.

Você sabe quais são. 

São aquelas ideias que você nunca conta nas histórias que começam por "No outro dia pensei numa coisa mesmo estranha".

Estou a falar daquelas ideias mesquinhas e más. Daquilo que gostávamos de dizer às pessoas de quem não gostamos, aquilo que gostávamos de fazer às pessoas que nos fizeram mal, ou que estão à nossa frente na fila do supermercado.

Aquelas ideias que nos fazem pensar "o que RAIO é que me está a passar pela cabeça?" e se isso significa que há alguma coisa de errado connosco.

Há algumas coisas bem horrorosas a passarem-se na sua cabeça. 

Eu sei.



Eu sei, porque isso também me acontece.

E se me acontece a mim acontece-lhe a si também, porque nem eu nem você somos especiais, e porque é razoável assumir que partilhamos a mesma experiência humana.

As nossas consciências funcionam todas da mesma maneira, é natural que tenham todas os mesmos defeitos. 

Sabendo isso, a atitude mais razoável é pensar que se toda a gente tem estas experiências e estas ideias horríveis na cabeça, então isso provavelmente não é assim nada especial, e mais vale não lhes dar demasiada importância.



Mas agora imagine que dizemos a uma criança, ainda numa idade em que tudo o que é dito pelos adultos é uma verdade inabalável, que essas ideias más eram postas na sua cabeça pelo Diabo.

A violação! Convencer uma criança de que há ideias dentro da sua mente que são lá colocadas por uma entidade externa, contra a vontade dela, e sem que ela possa fazer o que quer que seja para se defender, que está completamente à mercê dessa invasão.

Dizer a uma criança que ela não pode estar segura dentro da sua própria mente.

E esses pensamentos intrusivos, essas ideias mesquinhas que às vezes nos passam pela cabeça, que são normais e inevitáveis, subitamente transformam-se em ideias que foram lá colocadas maliciosamente.

Isso é uma das características da esquizofrenia. Os esquizofrénicos frequentemente acreditam que as suas ideias podem ser roubadas por outros, que conseguem pôr ideias nas cabeças dos outros, o que os outros lhes podem pôr ideias na sua própria cabeça.

Ha! Those wacky christians!


Não, melhor ainda!

Imagine que dizíamos à criança que Deus era capaz de ler os seus pensamentos! Que Deus estava sempre a observar e a ver e a ouvir TUDO, que sabe TUDO.


Lá se vai qualquer possível noção de privacidade. Não há nenhum espaço seguro. Nenhum lugar onde se possa pensar em segurança, nem sequer dentro da nossa cabeça.

Com todas as restrições que aqueles tipos punham no pensamento, até poderíamos pensar que não queriam que as pessoas o fizessem?

Sim? Talvez?


Mas podemos fazer ainda melhor!

Dizemos à criança que ideias e impulsos geneticamente programados, martelados no comportamento por centenas de milhões de anos de evolução, completamente inevitáveis, também são pecado!


Até lhe podemos dizer que ela consegue suprimir esses impulsos se se esforçar o suficiente. Se for boa pessoa vai conseguir não ter ideias más. Que ela é tanto melhor pessoa quanto mais eficaz for a impedir os pensamentos perigosos.

Mas que se não conseguir a culpa é dela. Se falhar isso foi um pecado, porque não se esforçou o suficiente.

Que até pode não dizer a ninguém, mas Deus sabe.


E não faz bem à cabeça de uma pessoa. Passar a vida toda, desde a mais pequena infância, a pensar "não posso, não posso, não posso, não posso, não posso".

Porque qualquer governo ou ditador de meia tigela pode encher as pessoas de propaganda, e ter polícias secretas, ou leis para impor bons costumes, e censura e tortura e isso tudo.

Mas quando começamos a falar de mudar as ideias dentro da cabeça das pessoas, de convencer as pessoas a auto-censurarem os próprios pensamentos, aí estamos claramente no jogo das religiões.

Esse é um jogo que o Papão sabe trabalhar bem.


Porque não é preciso ser-se um crente da religião.

Basta crescer numa cultura moldada e estabelecida em séculos de tradição cristã.
Vão ser esses os valores que as pessoas partilham, quer vão rezar aos domingos ou não. Essas ideias e conceitos vão ser transversais a toda a população, vão compôr o fundo memético de todas as conversas e interacções.

Nunca fui religioso na minha vida, e no entanto, em alguns aspectos muito importantes, não sou menos cristão do que alguns desses comedores de hóstias.

É assim tão eficiente que o Papão é.


2 comentários:

  1. Se me debruçar numa varanda de um predio muito alto, oiço sempre um vozinha na minha cabeça a dizer baixinho: "salta...."... se issk é amostra das ideias que o meu cerebro se lembra espontaneamente, nao fico surpreendido por ficar nervoso quando falo em publico.

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    1. Sim, é disso exactamente que estou a falar!

      Essas ideias que surgem contra a nossa vontade! Imagina que alguém te convencia que essa voz de facto não te pertencia! Que essa voz tinha um intuito malévolo e que te queria magoar.

      Já imaginaste o que é? Perder esse tipo de controlo sobre a tua própria consciência? Acreditares que há influências externas nas tuas ideias.

      Deve ser das coisas mais assustadoras de sempre. E crescer a acreditar com isso?
      Como raio é que a a religião não é considerada uma doença mental, é coisa que nunca vou perceber.

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