Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 3 de maio de 2016

Capitão América: Guerra Civil - a Crítica

Este filme é TÃO BOM!!! >>>SEM SPOILERS<<<

Vamos falar sobre isso.


Vamos fazer uma lista do que é que este filme se propõe fazer:
  • Explicar as consequências do que acontece nos filmes anteriores
  • Pôr o  Marvel Cinematic Universe (MCU) em conflito de maneira a iniciar a Fase 3
  • Pôr 12 (!!!) personagens famosas num filme ao mesmo tempo (duas das quais inéditas)
  • Terminar o arco narrativo da personagem do Captain America
  • Ser um blockbuster de Verão
Não é uma tarefa pequena. Não se esqueçam que o Age of Ultron também tentou fazer muita coisa ao mesmo tempo (mais do que o Civil War) e acabou por sofrer por causa disso.

O que é impressionante neste filme até nem é a qualidade excelente de tantos dos seus elementos, mas o facto de os conseguir fazer todos tão bem e ao mesmo tempo.


Uma das coisas que mais me impressiona neste filme é a qualidade da história que é contada.

A premissa do filme, de que os Avengers andam a agir como vigilantes, sem responsabilidade e provocando danos colaterais, está extremamente bem estabelecida ao início do filme. A história não só pega nos eventos de filmes anteriores como em coisas que acontecem no próprio filme para definir de forma muito clara, e sobretudo imparcial, o problema de que os Avengers precisam de alguém a supervisioná-los.

Esta imparcialidade da forma como o problema é apresentado é extremamente importante porque permite que a personalidade tanto do Steve Rogers (Chris Evans) como do Tony Stark (Robert Downey Jr.), e as suas histórias em filmes anteriores, se expresse de forma orgânica face ao problema, pondo-os num conflito que surge naturalmente.

As várias facetas da temática ideológica/política de liberdade e auto-determinação vs controlo e regulação vão sendo exploradas nas atitudes e decisões das personagens quando confrontadas com a necessidade de escolher um lado do problema. O conflito ideológico manifesta-se nas acções das personagens, e quase nunca é discutido abertamente.


Mas apesar deste conflito político/ideológico subjacente à narrativa, o filme nunca deixa de ser um filme do Captain America. Steve Rogers é mostrado de forma ainda mais humanizada e vêmo-lo cada vez mais perdido, cada vez mais desorientado num mundo que insiste em fazer compromissos morais.

Isto faz com que o Steve Rogers não tome sempre as melhores decisões, apesar de estar sempre a seguir o seu compasso moral. A sua amizade e lealdade para com Bucky Barnes (Sebastian Stan) põem-no em rota de colisão com Tony Stark, e o seu arco narrativo é levado até à sua conclusão lógica e, em retrospectiva, inevitável.

O próprio Tony Stark é muito desenvolvido neste filme. Percebemos imenso das suas motivações e inseguranças, o que justifica perfeitamente as suas atitudes durante o filme. Apesar da na maior parte das vezes ser o antagonista da história, é difícil discordar dele.

Este para-a-frente-e-para-trás de nos dar a perspectiva do Steve Rogers e do Tony Stark mexe com as nossas emoções, obriga-nos a voltar atrás sobre com quem concordamos, e essa manipulação emocional faz com que nos importemos imenso com estas personagens.


Por falar em personagens, este filme tem imensas, e todas tão boas.

É um tributo à capacidade de realização dos Irmãos Russo e dos argumentistas terem conseguido introduzir tantas personagens secundárias, e mesmo assim dar a cada uma delas um momento ao sol.
Todas as personagens têm excelentes momentos memoráveis, nenhuma delas é desperdiçada, a presença de todas é justificada, todas têm algo importante/útil a fazer eou a dizer durante o filme.

A continuação da história do Bucky está muito bem construída, e a sua relação com o Steve Rogers está perfeitamente expressa nas suas interacções durante o filme. Esta história é tanto a conclusão do arco narrativo do Bucky Barnes como do Steve Rogers.

Com tudo o que este filme faz, ainda consegue introduzir duas personagens novas ao MCU.

O Black Panther (Chadwick Boseman) é fantástico. O seu fato é espectacular, o seu estilo de luta é perfeitamente distinto do das outras personagens, tem imenso impacto na história, as suas motivações são fortes, e até possui um curto arco narrativo.

O Spider-Man é talvez uma das melhores coisas do filme, e definitivamente o melhor Spider-Man de sempre. Tom Holland transmite uma mistura de entusiasmo e inexperiência que retratam perfeitamente o que seria um adolescente genial com super-poderes.


Finalmente, temos Helmut Zemo.

Num filme com tanto conflito entre as personagens principais, o papel do vilão é complicado. Se for um vilão demasiado grande, acaba por ofuscar o conflito principal e desfocar a atenção da narrativa que realmente importa. Se for irrelevante, então está lá só a ocupar espaço.

Para mim, Daniel Brühl faz uma interpretação perfeita de um vilão que ocupa um papel narrativo complicado. Zemo acaba por funcionar como um desencadeador de eventos que mexem a narrativa para a frente de forma quase despercebida ao início, e cujas consequências vão crescendo.
Tem pouco tempo de ecrãn, e talvez pouco tempo para Daniel Brühl nos dar um vilão realmente carismático, mas eu diria que este filme tem exactamente o único vilão que poderia ter.

No meio de um enredo que consegue fazer malabarismo entre o conflito de ideologias políticas, crescimento de personagens, um mistério que se vai desvendando, a narrativa nunca se perde. Nunca perdemos noção de qual é o fio-narrativo que devemos seguir, e a história avança de forma entusiasmante e apelativa.

Resulta, no fim, numa história incrivelmente poderosa e emocional, que nos faz importar tanto com ideologias como com as decisões pessoais de personagens levadas ao limite.


Finalmente, e apesar de o filme conseguir ter momentos verdadeiramente pesados e emocionalmente intensos, nunca deixa de ser fantásticamente divertido.

As sequências de acção estão muito bem filmadas, apenas com alguns momentos de shaky-cam que ocasionalmente são confusos, mas com uma coreografia de lutas muito intensa e reminiscente do Winter Soldier. Há piadas na proporção perfeita, e que constroem as relações entre as personagens.

A sequência de acção no Aeroporto é das melhores cenas de acção que já vi no cinema, e a sua montagem parece música.

É um dos filmes mais entusiasmantes e divertidos que eu já vi.
Não é só o melhor filme de super-heróis já feito até hoje, é um dos melhores filmes que eu já vi.

É muito provável que, à semelhança do The Dark Knight (2008), o Captain America: Civil War venha a ser considerado a fasquia a partir do qual todos os outros filmes de super-heróis passam a ser julgados

Se gostam de filmes da Marvel vão adorar este filme. Se gostam de filmes de Super-heróis ou filmes de acção vão adorar este filme. Se são cinéfilos e apreciam boa escrita, boa realização e boa montagem vão adorar este filme!

Vão mas é ver o filme!

5 comentários:

  1. fui ver o filme ontem, e é de facto muito bom. acho que o vilão ocupa pouco espaço, é um vilão mais manipulador das circunstâncias do que activo a gerar conflito. Parece-me um vilão com um plano maquiavélico, com uma motivação (a morte da familia dele em sokovia) que normalmente justifica uma vingança mais agressiva, mas esta acaba por ser mais 'verossímil' .


    o tony stark parece uma personagem credível, em vez de simplesmente parecer o jack sparrow da tecnologia, a disparar 'quips' em todas as direções.

    e a cena do aeroporto é de facto muito boa. o ant man a lutar com o spider man, vale a pena só por si!

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    1. Eu também gostei muito do vilão, apesar de isso que tu dizes de ele ocupar pouco espaço ser das críticas ao filme que eu mais vejo na net.

      O que eu acho de mais interessante no vilão é que, como tu dizes, a motivação dele é perfeitamente verossímil. Tão verossímil e compreensível que chega a justificar-se questionarmos se ele é sequer um vilão e não uma vítima desesperada levada a um extremo.

      Para além disso, o Zemo representa o primeiro vilão humano sem nenhuma capacidade sobre-humana. Não tem super-poderes nem tecnologia que lhe dê habilidades.

      Ao mesmo tempo é o primeiro vilão que consegue realmente obter uma vitória sobre os avengers.

      Dá que pensar!

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    2. É verdade, nao tinha pensado nisso, ele nao tem super poderes!o ultron tb era espirituoso e tinha piada. Este é mais sério. Será que isso tem alguma ligaçao com o facto dele obter um tipo de 'vitoria' sobre os avengers? A cena que o tony stark descobre que ele matou os pais dele fez-me lembrar o brad pitt/kevin spacey na cena final do seven

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    3. Ainda não analisei a fundo a questão, mas eu diria que terá mais a ver com o facto de ele ser um humano normal.

      O Zemo não quer conquistar o mundo. Quer vingar a morte da família. É uma motivação humana para uma personagem humana.
      Contrariamente a estes semi-deuses para quem estes shenanigans são normais, o Zemo é um ser-humano normal em sofrimento para quem não há comicidade nenhuma na situação.
      Neste filme em particular é ele o substituto da audiência, por ser o mais normal e ter as motivações mais próximas das nossas. Dessa forma faz sentido que a reacção dele seja semelhante à nossa, em não andar a fazer piadas espirituosas depois de lhe matarem a família.
      Mais interessante que isso é que ele, como substituto da audiência e representante do humano normal, é o primeiro a obter uma vitória sobre os vingadores.

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    4. Hey, alguém achou a mesma coisa que tu!

      http://imgur.com/S18vlAd

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