Vocês vêem-nos por aí.
São os filhos da revolução de '74, que nasceram no pós-ditadura, de pais que passaram dificuldades e trabalharam imenso e tiveram fome e sofreram a repressão.
Crianças que cresceram com a afluência de uma economia revitalizada, com o influxo dos subsídios da europa nos anos '80.
São aqueles que nos anos '90 no fim da adolescência, viriam a ser apelidados de Geração Rasca, simplesmente porque não tiveram de ultrapassar as mesmas dificuldades que a geração anterior teve de viver. Preguiçosos simplesmente porque a geração anterior não reconhecia os seus objectivos como válidos.
Cresceram bem, o retrato de uma classe média que estava bem na vida. Quase invariavelmente vestiram trajes pretos na faculdade, embebedaram-se muito, tocaram nas tunas, demoraram mais do que deviam a terminar o curso e ainda mais a arranjarem emprego. Mas no fim dos anos '90 e início de '00 ainda era relativamente fácil arranjar emprego. Posições administrativas, vendedores, paper-pushers. Mas com ilusões de grandeza e influência e eloquência.
São estes que vocês mais vêem a mandar bitaites sobre as políticas de direita e o socialismo e como isto é tudo uma vergonha.
Barrigas de cerveja e comezainas a ver futebol, de que sabem muito. Gordos.
Daqueles gordos que não tinham corpo para serem gordos, que parecem que engordaram demasiado depressa e ficaram tufados, sem pescoço.
Nunca foram ao médico. A obsessão com a saúde e o natural e o detox ainda não era como é hoje.
Mas a família chateia-os, as mulheres insistem, e agora que começam a chegar aos 40 e a sentir-se cansados quando sobem um lanço de escadas, decidem ir ao médico.
"Pois é Dr. não percebo como é que estou assim. Eu até tenho cuidado com o que como"
"Ah, sim, estou a perceber"
"Não como muitos fritos, corto sempre as gorduras da entremeada. Como peixe..."
"Peixe?"
"Sim, como muito bacalhau. Não percebo mesmo, não consigo perder peso"
"Pois, eu percebo que isto é uma coisa que o preocupa. E compreendo que sente dificuldade em perder peso"
"É isso mesmo Dr, você parece que lê a minha mente!"
"Deixe-me perguntar-lhe uma coisa... Você come pão à refeição?"
"Sim, um pãozinho"
"Um?"
"Bem, um ou dois"
"A todas as refeições?"
"Não, em todas não..."
"Você come muito pão?"
"Sim, eu como muito pão"
"Hmmmm... curioso! E será que há alguma relação entre esta coisa que você come imenso, todos os dias, durante os últimos 20 anos, e o facto de não conseguir perder peso?"
"Mas eu não como gorduras! Ponho pouca manteiga no pão!"
"Estranho como isso não parece ter funcionado sistematicamente durante estes anos todos..."
"Mas eu até faço exercício"
"Que exercício é que faz?"
"Quer dizer, eu mexo-me muito"
"Ah?"
"Sim, no trabalho... estou sempre a mexer-me de um lado para o outro"
"Estou positivamente boquiaberto de espanto e surpresa em como isso não tenha sido suficiente!"
"Pois, eu também não percebo"
"Vou sugerir-lhe uma coisa... Vai parar de comer pão, parar de beber coca-cola-"
"Como é que você sabe que eu bebo coca-col-"
"Xiu. E não é só coca-cola, é também os outros sumos todos"
"Mas o sumo de laranja é natural! Então o que é que bebo?"
"Água"
"..."
"E vai passar a fazer exercício. Qualquer coisa. Não importa o quê. Tem é de se mexer"
"E vou cortar nas gorduras!"
" >suspiro< Sim, está bem, pode ser..."
Sem comentários:
Enviar um comentário