Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

domingo, 30 de agosto de 2015

Cat Tax

O meu gato tem uma atitude para comigo e com a minha comida, de alguém que está a jantar com outra pessoa, e lhe tira qualquer coisa do prato.
Ele olha para mim a desempenhar uma tarefa, com uma sandes ao lado, e pensa: ''Ele não está a comer aquilo. Posso ficar com a sandes.''
Eu sei isto, porque quando lhe dou qualquer coisa que ele gosta para comer, ele come-o imediatamente. Devora, antes que fuja.

Se eu tiver um prato com um hambúrguer ao lado, enquanto faço outra coisa qualquer, ele pensa que é um desperdício. Ele vai tentar todas as estratégias até chegar à sandes. Aborda a questão cada vez mais lentamente, à medida que eu o impeço. Com uma atitude quase surpreendida e inocente. ''Olha, já que tu estás ai tão compenetrado a escrever no computador, de certeza que não te importas que eu.... o quê... não? não posso comer a sandes...?  Mas tu não estás a comê-la? Posso cheirá-la só? Só cheirar?... ''
É o que ele pensa enquanto tenta. E não é agressivo. Aliás, ronrona, enquanto se aproxima da sandes, e tenta roçar-se na minha mão.

Eu empurro-o vezes sem conta, devagar e com paciência, e faço-lhe festas e digo: ''Não....''. Mas ele não desiste. Tenta de outro ângulo, depois de miar meia dúzia de vezes.
Eu empurro-o mais duas ou três vezes com a mão, mas agora ele já me dá dentadas amistosas, e patatas com as patas traseiras. Com pouca convicção. Depois levanta-se a ronronar, e vai tentar comer a sandes.

Ele continua a tentar, porque sabe que ser chato, no passado, já deu frutos. E por isso, persevera. E tenta de várias maneiras diferentes, interagindo comigo de maneira cada vez mais refinada.

Até me fartar, interromper o que estava a fazer, e comer a sandes de uma vez. Ele mia alto e fica lixado quando faço isto. Porque de alguma maneira sabe que eu não a teria comido daquela maneira, se não fosse ele. E pior, ele desenvolveu uma expectativa, que eu frustrei.

Se não comer a sandes imediatamente, não consigo fazer mais nada, senão defendê-la do gato.
E tenho que despachar tudo, porque o gato vai tentar beber do meu copo, se me distrair.

Por isso tenho que pagar imposto ao gato, cada vez que quero comer com calma! Tenho que lhe dar um bocado do que está no meu prato! Porque já tentei dar-lhe wiskas dos especiais, e ele prefere o meu arroz com atum.


Aliás, acho que o atum é cocaína para gatos. O gato perde as estribeiras com o atum. Se eu conseguisse comunicar melhor com ele, acho que conseguia que ele lavasse a loiça, se lhe prometesse uma lata de atum ramirez, ou mesmo da marca e. Se bem que ele prefere tenório. Foi assim que descobri a minha marca de atum. Tenório. Aprovada pelo gato.

Tenho é que o comer logo... ou então pagar imposto.


Read More »

sábado, 29 de agosto de 2015

Tunes with Tangerine - High By The Beach, Lana Del Rey


High By The Beach, by Lana Del Rey

Chosen by Tangerine.

Read More »

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O que é a Consciência - Parte III

Bem vindos à terceira e última parte da nossa viagem pela toca do coelho que é a consciência humana!

Sugiro que leiam a Parte I e a Parte II uma vez que lá introduzo muitos dos conceitos necessários para compreender a Parte III.

Se forem preguiçosos, algo com que eu me identifico muito, basicamente na Parte I concordamos em definir a Consciência como o estado mental que permite não só percepcionar subjectivamente a informação que nos chega do exterior através dos sentidos, mas também percepcionar estados internos como emoções e ideias, e integrar toda essa informação numa experiência fluida de pensamento interior caracterizada por um sentimento de "eu" que permite interpretar, aprender e interagir com o mundo.

Ainda na Parte I compreendemos que a consciência é composta por ferramentas cognitivas, onde é que essas ferramentas se localizam no cérebro e como interagem entre si; na Parte II compreendemos de que maneira essas interacções dão origem a uma Consciência Primária, e de que maneria os estímulos externos ganham estas qualidades subjectivas que lhes atribuímos, como o vermelho e o calor.

No entanto, até agora estamos só a falar de sensações e percepções subjectivas. Elementos que, apesar de complexos, continuam a ser bastante distintos uns dos outros, e que mesmo unidos levam apenas a uma consciência episódica, momentânea, sensorial e Primária.

Como é que todas estas ferramentas cognitivas, percepções sensoriais e sensações subjectivas se organizam para criar isto que parece ser o filme fluido que vemos e sentimos e pensamos sempre que estamos acordados?

Imaginem a seguinte metáfora:

No "Teatro da Consciência" há um foco de luz que ilumina uma zona no palco. Essa zona iluminada revela os conteúdos da consciência, os actores a entrarem e a saírem, a fazerem discursos ou a interagirem uns com os outros.
Os espectadores deste teatro não estão iluminados - estão no escuro (inconscientes) a ver a peça.
Atrás do cenário, também no escuro, estão os encenadores, escritores, carpinteiros, maquilhadores, etc. Eles ajudam a construir as actividades visíveis na zona iluminada, mas são eles próprios invisíveis.


Por outras palavras, o foco da nossa atenção/consciência é reduzido e limitado a uma porção muito pequena do que realmente é percepcionado. Há inúmeras ferramentas cognitivas inconscientes que constantemente ajudam a construir/interpretar essas percepções que são o foco da atenção.

O foco da atenção muda constantemente de lugar, as coisas que se tornam conscientes vão sendo diferentes à medida que aspectos entram e saem da nossa consciência (sem no entanto deixarem de existir - simplesmente vão para a zona escurecida).

Esta Teoria do Global Workspace é muito adequadamente suportada pela Teoria do Núcleo Dinâmico (complexo Córtico-Talâmico) de que falámos na Parte I.
Quando dirigimos a nossa atenção para determinado aspecto da realidade, inúmeras zonas do cérebro, responsáveis por codificarem ferramentas cognitivas, são todas activadas em conjunto para interpretarem o que está a ser percepcionado em determinado momento.
No momento seguinte, quando a atenção mudar o seu foco, outras zonas do cérebro com outras ferramentas cognitivas serão activadas para tornar consciente o que quer que seja que esteja no foco da atenção.



Este processo acontece constantemente, muito rapidamente, com integração de sinais dentro do Núcleo Dinâmico a ocorrer com uma frequência de 10Hz.
A utilização de diferentes ferramentas cognitivas inconscientes de forma sequencial e muito rápida, para traduzir conscientemente uma pequena porção do que se passa à nossa volta, cria este Fluxo de Consciência que é a nossa experiência do mundo.


Portanto já conseguimos explicar de que maneira as estruturas do cérebro, contendo ferramentas cognitivas, interagem para produzir este fluxo de consciência que é a base do que entendemos como consciência.

Mas quem é que está a percepcionar este fluxo de consciência? Exactamente "quem" é que está a sentir os qualia num determinado corpo?
Melhor ainda, o que é o "eu"? (self)

Como temos estado a dizer até agora, a Consciência evoluiu de maneira a permitir aos organismos terem respostas mais adaptadas ao seu ambiente.
A diferenciação do "eu" desta sopa de sensações, emerge das respostas cerebrais aos sinais sensoriomotores do corpo.
Ou seja, as ordens motoras que o cérebro envia aos músculos em resposta ao que está a ser percepcionado servem para distinguir o próprio do ambiente. Esta capacidade de agir, e os modelos internos que comparam essa vontade de acção com os movimentos do corpo, geram a noção de individualidade, de "eu sou diferente do mundo", "eu existo".

O "eu" nasce da experiência de que o corpo consegue agir de forma independente do meio, sobre o meio e em resposta ao meio.


Esta noção de que a vontade consciente, o "eu", possa surgir DEPOIS de as acções acontecerem parece estranha. Parece ser um caso de pôr a carroça à frente dos bois, as acções antes da vontade de as fazer.

No entanto está perfeitamente de acordo com a teoria do Global Workspace, na qual a nossa consciência é de facto uma coisa razoavelmente limitada, com imensos processos a acontecerem inconscientemente.
Existe até um Modelo de Consciência que põe em causa grande parte da nossa capacidade de tomada de decisão, remetendo-a para estes processos que acontecem atrás das cortinas.

Esta capacidade de avaliar e reavaliar as acções, mesmo depois de elas terem acontecido tem por base o mecanismo dos Neurónios Espelho.
Neurónios espelho são neurónios que se activam quando uma acção é tomada mas também quando a mesma acção é meramente observada, mesmo que o observador esteja a observar a acção a acontecer noutra pessoa.
Ao permitirem um playback dos processos mentais mesmo depois de estes acontecerem. permitem um fenómeno de introspecção e de "pensar sobre pensar" ou aquilo que sentimos como auto-consciência.


Acredita-se que estes Neurónios Espelho são igualmente importantes no desenvolvimento da linguagem.

É a organização do pensamento sob a forma de linguagem que permitiu aos humanos atingir um grau mais elevado de consciência.
Recorrendo à semântica e a unidades linguísticas, a consciência humana é capaz de organizar o pensamento de uma forma narrativa, interpretando experiências passadas e planeando para o futuro, bem como a abilidade de se tornar consciente de ser consciente (mais uma vez o fenómeno da auto-consciência).
É através da linguagem e da auto-consciência que a Consciência Humana se liberta das Presente Lembrado da Consciência Primária, e consegue começar a fazer coisas muito mais complexas.

Desta forma atingimos aquilo a que se pode chamar uma Consciência Secundária, que finalmente é aquilo que reconhecemos como sendo a nossa Consciência Humana, e que corresponde à nossa definição inicial de Consciência.


Resumindo e concluindo:

A Consciência Humana é composta por ferramentas cognitivas individuais que estão presentes em zonas distintas do cérebro.
Quando somos expostos a um estímulo novo, essas ferramentas cognitivas são usadas para interpretar o estímulo. Isso é possível porque as zonas distintas do cérebro, onde estão essas ferramentas cognitivas, são todas activadas de forma síncrona, tendo por base a estrutura do Núcleo Dinâmico, composto pelo Córtex-Tálamo.
Os estímulos tornam-se conscientes em tempo real devido à interação entre o Córtex-Tálamo e o Límbico-Tronco Cerebral, gerando uma forma de Presente Lembrado.
As características subjectivas desses estímulos (como o azul do céu, ou o calor do quente, chamados qualia) não são mais do que uma forma da Consciência discriminar entre os vários estímulos que lhe são apresentados.
Esta Consciência Primária, sensorial e emocional, é toda unificada através da Teoria do Global Workspace, de acordo com a qual existem imensas ferramentas cognitivas inconsciente todas a trabalharem em conjunto para tornar apenas uma pequenina porção de todos os estímulos consciente e facilmente interpretáveis.
Isto é possível porque, em tempo real, várias zonas diferentes do cérebro vão sendo recrutadas sequencialmente, através do Núcleo Dinâmico, para gerarem um único Fluxo de Consciência fluido e coerente.
O "Eu" que experiencia este Fluxo de Consciência emerge a partir da capacidade que a Consciência tem de actuar sobre o meio, criando a distinção entre o próprio e o resto do mundo.
Este "Eu", ou sensação de auto-consciência, têm por base o fenómeno do Neurónios Espelho, que permitem uma espécie de "pensar sobre pensar" que por sua vez facilita a aprendizagem da Linguagem.
O código semântico da linguagem permite por sua vez organizar o pensamento de forma lógica e assim fugir ao Presente Lembrado da Consciência Primária, permitindo uma Consciência Secundária muito mais complexa, que é a que conhecemos.


Whew!!!

Conseguimos explicar a Consciência Humana!

Obviamente que cada um destes mecanismos de que estivemos imenso tempo a falar é extremamente interessante por si mesmo, e espero que daqui tenham conseguido pelo menos ficar com a ideia de como a Consciência Humana surge.

Para mim, pessoalmente, o mais enriquecedor disto tudo foi ter percebido que a minha própria consciência não era uma coisa impenetrável, mas que em vez disso é sim composta por uma data de ferramentas pequeninas todas a interagirem, e que isto que eu sinto como uma experiência fluida é na realidade composta por muitas pecinhas pequeninas.

A vasta maioria das coisas que eu escrevi são baseadas em teorias de Gerald Edelman que desenvolveu a Teoria do Núcleo Dinâmico, e Bernard Baars que desenvolveu a Teoria do Global Workspace.
Em 2011 juntaram-se e escreveram um artigo que une ambas as teorias, e no qual eu me baseei fortemente para escrever isto que acabaram de ler.

Se tiverem dúvidas não hesitem em escrever nos comentários e farei o meu melhor por tentar responder!

Obrigado!




Ps: no meio disto tudo li ainda imensas coisas sobre Consciência Animal e Consciência Artificial, sobre as quais hei-de escrever quando me conseguir recompor deste empreendimento épico!
Read More »

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Praias Galácticas

Sabemos os números e os números são impressionantes.

100 a 400 biliões de estrelas na galáxia.
Pelo menos 100 biliões de planetas na galáxia.
170 biliões de galáxias no universo observável.

Os números são incompreensíveis.


Eles tentam dar exemplos para tornar os números mais identificáveis, mais relativamente quantificáveis na nossa cabeça.

Dizem-nos que existem tantos planetas no Universo como grãos de areia em todas as praias da Terra.

Isso impressiona! 

Temos claramente a noção que existem milhões de grãos areia numa praia, e isso é definitivamente mais do que o número incerto que tínhamos imaginado para os planetas.

Até podemos ler mais um bocadinho e perceber que não são milhões, são milhões de milhões de milhões de milhões de milhões de milhões. Um sextilião!


E aí pensamos que agora sim, sei realmente quantos planetas existem por aí. É um número gigantesco! Maior do que o que eu consigo compreender, mas ao menos tenho um número na cabeça.

Mas depois chego a uma praia. E lembro-me que existem mais planetas no Universo quantos grãos de areia numa praia.

E a praia é imensa e os grãos de areia são incontáveis.
Não são milhões ou biliões, são incontáveis.


Há incontáveis planetas na galáxia. Como é que eu queria compreender o número se nem quando ele está representado sob a forma de grãos de areia debaixo dos meus pés eu consigo começar a encaixá-lo na minha cabeça.

Há ASSIM tantos planetas na galáxia.

Mas o número torna-se real quando me apercebo do seguinte:

No meio de incontáveis planetas, há outro que tem uma praia como esta.


Read More »

domingo, 23 de agosto de 2015

Painel MCE - Super-Heróis: da BD ao Cinema

Portanto fui convidado pelas excelentes pessoas do Cubo Geek, para onde às vezes também escrevo, a participar com eles num painel organizado no Manga and Comic Event 2015.
Foi com imenso gosto que aceitei, porque estavam a dar-me a oportunidade de explicar em público estas tolices todas pelas quais eu me entusiasmo imenso, e isso é uma oportunidade que não aparece muitas vezes na vida de uma pessoa.

Pediram-me para fazer um resumo interessante da evolução ao longo dos anos dos filmes de super-heróis da Marvel e da DC.

O que se segue são as notas que eu escrevi com base na investigação que fiz, e que usei para me guiar na minha apresentação:


Painel DC vs Marvel - Filmes
MCE 2015 - 22 de Agosto, 14:00

A história dos filmes de super-heróis começa não com filmes mas com Serials, que eram uma espécie de filmes episódicos que passavam nos cinemas aos Sábados, e que tinham como público alvo as crianças.

Pelo interesse histórico não posso deixar de mencionar que o primeiro Super-Herói a aparecer o grande ecran foi o Mandrake, no seu serial chamado Mandrake the Magician, em 1939.
Foi seguido no ano seguinte pelo Adventures of Captain Marvel em 1941.

O primeiro super-herói da DC a aparecer no grande ecrân foi o Batman em 1943. Este The Batman and The Electrical Brain teve a particularidade de introduzir a ideia da Bat-Caverna, que só depois seria adoptada pela banda desenhada.


Quando a Marvel ainda não era a Marvel mas sim a Timely Comics, a personagem do Capitão América foi licenciada em 1944 à Republic Pictures só pela publicidade de borla, para fazerem o filme intitulado simplesmente Captain America.
Como a Timely não entregou à Republic Pictures nenhum desenho do Capitão América com o seu escudo e nem sequer nenhum tipo de background da personagem, a Republic simplesmente inventou o que lhe apeteceu e deu uma pistola à personagem.

Este seria o primeiro e único filme da Marvel durante cerca de 40 anos.




Depois durante os anos 50 a DC lança dois filmes do Super-Homem.

O primeiro, chamado Superman and the Mole Men de 1951, foi filmado inteiramente em 12 dias, e conta a história de como o Super-Homem impediu o conflito entre a população de uma pequena aldeia onde o poço de petróleo mais fundo do mundo foi inaugurado, e atingiu a casa subterrânea dos Homens Toupeira, que quando saem para explorar a superficie, matam um guarda de susto.




O segundo, Stamp Day for Superman, de 1954, conta a história de como o Super-Homem impede um roubo de um homem que rouba porque nunca se deu ao trabalho de poupar comida.
Era assim tão moralista!


Em 1966 é lançado o primeiro filme do Batman, Batman: The Movie, que se viria a tornar um filme de culto. O seu estilo deliciosamente camp, um Batman interpretado pelo inimitável Adam West (que se viria a tornar um meme ele próprio) e um conjunto de vilões extremamente bem interpretados fariam deste filme um marco na história do cinema de super-heróis, para o bem e para o mal.



Em 1978 viria o filme que realmente cria o género de filme de super-heróis que conhecemos hoje, Superman.
Foi o filme mais caro feito até essa altura, com um orçamento de 55 milhões de dólares. Tinha também um cast de estrelas, incluindo Christopher Reeve, Marlon Branco, Gene Hackman como o vilão Lex Luthor, Terence Stamp e Ned Beatty.
O filme viria a receber 3 nomeações para os óscares, e ganhar o Óscar para melhor montagem.



Os anos 80 foram definitivamente os anos do Super-Homem, com mais três sequelas, Superman II (1980), que teve uma produção muito complicada e que acabaria por ter um Director's Cut lançado em 2006, Superman III (1983) com o Comediante Richard Pryor, Superman IV (1987) que foi um falhanço de bilheteiras de tão mau que era, e até um filme da Supergirl (1984), com a Helen Slater e a Faye Dunaway.



Em 1986 a Marvel lança o seu primeiro filme em mais de 40 anos, Howard the Duck.
Baseado numa personagem original da marvel cujas histórias eram habitualmente sátiras sociais, misturando paródias de ficção científica e mostrando sempre uma auto-consciência do género, em aventuras quase existenciais.


O filme foi produzido pela Lucasfilm, mas em vez da paródia satírica que se poderia esperar, o filme conta a história de um pato alienígena que está a tentar voltar a casa, com muita bebedeira e ordinarice pelo meio. Este filme foi o Ted antes de haver o Ted e com um pato.
Foi criticado por ter pouca piada, ser aborrecido, más interpretações e maus efeitos especiais, foi um flop comercial e o filme com menos lucro da Lucasfilm.

É o Howard the Duck que aparece na cena pós-créditos do Guardiões da Galáxia.



Durante os anos 80 a DC lança ainda mais dois filmes razoavelmente desconhecidos baseados noutra personagem razoavelmente desconhecida. Swamp Thing (1982) é baseado na personagem do mesmo nome, e é o primeiro filme de ficçã/científica do realizador Wes Craven, clássico realizador de filmes de terror, conhecido pelos filmes do Freddy Krueger.
O filme tem boas críticas, mas provavelmente por ter sido lançado no meio de tantos filmes do Super-Homem não conseguiu ser mais conhecido.
Foi seguido em 1987 por uma sequela muito pobrezinha.





1989 é outro ano decisivo na corrida entre a Marvel e a DC.

A DC lança o primeiro Batman (1989).
Realizado pelo Tim Burton, o filme é gótico, icónico, apresenta um Batman com uma caracterização interessante feita pelo Michael Keaton (até então associado a filmes de comédia), um vilão fantástico com o Joker do Jack Nicholson. O papel de Joker tinha sido originalmente oferecido a Robin Williams.
O filme vai buscar o tom pesado e temas sérios a bandas desenhadas como a Killing Joke do Alan Moore e o Dark Knight Returns do Frank Miller.
Um filme que viria a ganhar um óscar e tornar-se um filme de culto.

A New World Pictures, nessa altura dona da Marvel, lança o The Punisher (1989), um filme australiano, thriller de acção com o canastrão do Dolph Lundgren convencido que é o Exterminador Implacável, a matar pessoas e a fazer explodir coisas, com maus efeitos especiais.
O Punisher não tem a típica caveira branca na t-shirt
A Marvel não voltaria a ter nenhum filme outra vez durante quase mais 10 anos.



A DC, aproveitando o sucesso e popularidade de Batman, domina os anos 90 e lança 3 sequelas do Batman.
Batman Returns (1992), volta a ser realizado por Tim Burton que desta vez tem muito mais controlo criativo e isso nota-se. Gotham está mais gótica que nunca e o Penguin é completamente creepy. O filme é nomeado para 2 óscares.

Exactamente por causa disso o filme não tem assim tanto sucesso nas bilheteiras, e a sequela Batman Forever (1995) é muito mais colorida e amigável, e é nomeado para 3 óscares. O papel de Riddler interpretado pelo Jim Carrey foi oferecido a Robin Williams que recusou por não ter sido aceite no primeiro filme.

Com o sucesso de Batman Forever, a Warner Bros decide que quer uma sequela rapidamente e volta a contratar Joel Shumacher para realizar. Batman and Robin (1997) tenta capturar o mesmo estilo camp dos anos 60, mas falha redondamente e arrasado pela crítica.


Durante os anos 90 a Marvel tenta refazer o Capitão América (1990), e apesar de um suposto bom guião, a produção do filme é extremamente complicada e o resultado final é péssimo, e o filme acaba por ser lançado directamente para vídeo.
Um filme dos Fantastic Four (1994), produzido pelo lendário Roger Corman é filmado, mas de acordo com os rumores, os executivos da Marvel não gostam do resultado final e fazem força para o filme não ser lançado, com medo que isso fosse estragar a franchise.


Em 1997 a DC ainda tenta lançar um herói obscuro da Marvel, John Henry Irons um herói de suporte do Super-Homem, interpretado pelo Shaquille O’Neil, e acho que todos percebemos que isso nunca iria funcionar. Steel (1997) recebe péssimas críticas, sendo comparado a um "desenho animado de sábado de manhã".


O que aconteceu foi que durante a década desgraçada para a Marvel que foram os anos 90, eles ficaram quase à beira da falência imensas vezes, e então começaram a vender licenças dos seus superheróis a outras companhias.
É neste momento que os heróis Marvel começam realmente a chegar aos ecrâns, se bem que ainda não pela mão da Marvel, e a DC começa a ficar para trás na corrida.

Pela New Line Cinema temos a adaptação do Blade, com duas sequelas.
O Blade (1998) sofreu atrasos no lançamento devido ao guião ter de ser reescrito e várias cenas refilmadas por más reacções de audiências teste, mas depois viria a ter um bom resultado nas bilheteiras.
O Blade II (2002) foi realizado por Guilermo del Toro, que tentou fazê-lo parecer-se mais às suas origens de banda desenhada, mas com tons de anime, e o filme viria a ser o mais bem sucedido da trilogia.
Blade Trinity (2004) teve vários problemas durante a produção, com o actor principal Wesley Snipes a recusar-se a filmar cenas, e o filme seria aquele com menos sucesso e piores críticas.


A 20th Century Fox tinha comprado a licença dos X-Men e pegando num guião que já andava a ser escrito e reescrito desde 1984, escolhe o realizador Bryan Singer que inicialmente recusa realizar o filme. A primeira escolha do realizador para a personagem de Wolverine teria sido o actor Russel Crowe, mas numa decisão de última hora, escolhem Hugh Jackman, nessa altura um novato em Hollywood.
X-Men (2000) viria a ter excelentes resultados nas bilheteiras e boas críticas, o que permitiu à Fox lançar as suas outras franchises.

A sequela, X2 (2003), começaria produção quase depois da estreia do primeiro filme, e conseguiu reunir um cast de personagens ainda maior que o primeiro filme e ainda assim ter mais sucesso do que o primeiro filme.

O realizador Bryan Singer deixa a franchise para realizar o Superman Returns, e X-Men: The Last Stand (2006) é realizado por Brett Ratner. O filme viria a ser o filme mais caro de 2006, e apesar de uma história que tem dificuldade em gerir as explosões e a trama política, o filme teria imenso sucesso nas bilheteiras.


A 20th Century Fox tenta ainda lançar as personagens do Daredevil e da Elektra.

Ben Affleck, o actor principal de Daredevil (2003), apesar de ser um fã da personagem, não gostou da experiência de retratar um super-herói, e terá afirmado que não queria voltar a fazê-lo, o que agora sabemos que não é verdade. Apesar de críticas mistas que critivacam o filme pala sua falta de originalidade e de desenvolvimento de personagens o filme teria um sucesso razoável de bilheteiras.

Apesar de tudo o filme tem sucesso suficiente para justificar o spinoff Elektra (2005). Este filme teve péssimas críticas e foi o pior flop comercial da Marvel desde o Howard the Duck.

Ambas as personagens já foram resgatadas pela Marvel, e a Elektra supostamente será uma personagem na próxoma temporada de Daredevil.


A 20th Century Fox também tenta lançar os Fantastic Four. O Fantastic Four (2005) sofre imensos rewrites do guião, e apesar de ter sucesso nas bilheteiras, recebe más críticas. O 4: Rise of the Silver Surfer (2007) foca-se no Silver Surfer e no Galactus (que não chega a aparecer) e tem ligeiramente mais sucesso nas bilheteiras, apesar de continuar a ser arrasado pelos críticos.


A Sony compra a licença do Spiderman e escolhe o realizador Sam Raimi para pegar num guião com 25 anos de revisões.

Spider-Man (2002), com um cast de estrelas incluindo Tobey Maguire, Willem Dafoe e Kirsten Dunst, teria dificuldades durante as filmagens porque cenas contendo as Torres Gémeas tiveram de ser refilmadas depois dos ataques terroristas de 11 de Setembro.
O filme teria imenso sucesso, sendo o primeiro filme a atingir 100 milhões de dólares no primeiro fim de semana, a interpretação de Tobey maguire seria comparada à de Christopher Reed no Super-homem de 1978 e o filme seria nomeado para 2 óscares.

Spider-Man 2 (2004) consegue superar o primeiro filme em lucros de bilheteiras, introduz o vilão Doctor Octopus e volta a ter excelentes críticas, ganhando o óscar para melhores efeitos especiais.

O Spider-Man 3 (2007) começa a ser filmado imediatamente depois do segundo, e introduz o vilão Venom. Apesar de ser o filme com mais sucesso financeiro dos 3, este teve piores críticas, talvez pela tolice do Emo Tobey Maguire.


A Sony tenta também lançar o Ghost Rider (2007), que já estava em vias de ser feito desde 1992, e são considerados para o papel principal Johnny Depp e Eric Bana, sendo escolhido no fim o Nicholas Cage. O filme é um fracasso tanto nas bilheteiras como nas críticas. O Ghost Rider: Spirit of Vengeance (2011) teria críticas ainda piores, apesar de ter mais sucesso nas bilheteiras.


A universal por sua vez lança o Hulk (2003) do Ang Lee, com Eric Bana a fazer de Bruce Banner. O realizador Ang Le faria várias alterações ao guião original, o que pareceu ter bons resultados dado que as melhroes críticas ao filme focaram-se nos aspectos psicológicos da personagem. Por estranho que possa parecer os efeitos especiais do filme não têm bom aspecto e foram um dos principais motivos pelos quais o filme não teve assim tanto sucesso.

A Artisan pictures lança outra tentativa do Punisher (2004), inspirada em filmes clássicos de policial/acção como Dirty Harry e Bonnie and Clyde. O filme tem pouco sucesso nas bilheteiras e é arrasado pela crítica.


Entretanto a DC esforça-se por acompanhar, quanto mais fazer filmes bons.

Depois do filme Batman Forever, a Warner Brothers tinha planeado um spinoff da Catwoman com a Michelle Pfeiffer, mas o filme esteve no Inferno de Desenvolvimento durante anos, até que  um projecto completamente novo é iniciado, com uma personagem que nem é a Catwoman original.
Catwoman (2004) é famosamente considerado um dos piores filmes de sempre.

Superman Returns (2006) é realizado por Bryan Singer, que tinha deixado a franchise dos X-Men para filmar o Superman. Inspirando-se fortemente nos filmes dos anos 80, o filme obtém bom sucesso comercial, mas críticas mistas, sendo por um lado considerado uma excelente adaptação do Herói para audiências modernas, mas com uma má história a suportá-lo.


Quando pensávamos que a DC estava a perder a batalha, surge com um peso pesado.
Um reboot do Batman, pelo realizador Christopher Nolan. 

Com Batman Begins (2005) Nolan conseguiu criar um ambiente realista, noir, muito mais pesado e introspectivo, com uma paleta de cores escuras, um Bruce Wayne interessante com Christian Bale, e um vilão apelativo com o Scarecrow.
O filme tem uma boa recepção por parte do público e sucesso nas bilheteiras, estabelecendo um padrão de filme de Super-Heróis mais realista do que antes, e sendo nomeado


A DC aposta na personagem do Batman, e em 2008 lança o The Dark Knight (2008), mais uma vez realizado pelo Christopher Nolan e que pelo seu ambiente pesado, paleta de cores escuras, urbanamente gótico e com o que deve ser o melhor vilão do Batman até agora, o Joker interpretado pelo Heath Ledger, o filme mostra ao público que os filmes de Super-Heróis podem ser sérios, maduros e extremamente artísticos.


Em 2008 os Estúdios Marvel propriamente ditos são fundados, e é neste momento que a Marvel começa a ter mais controlo sobre os filmes que saem e sobre a maneira como as suas personagens são representadas.

Em resposta ao sucesso que a DC está a ter com o Batman, a Marvel lança a sua própria versão do Playboy milionário que quer salvar o mundo, mas na personagem diametralmente oposta do Iron Man (2008).
Enquanto que o Bruce Wayne é soturno e torturado, o Tony Stark (maravihosamente interpretado pelo Robert Downy Jr.) é extrovertido e espalhafatoso. Enquanto que o Batman veste-se de negro o Iron Man é vermelho e dourado.


O filme do Iron Man tem tanto sucesso que isso permite aos Estúdios Marvel iniciarem a sua longa e até agora extremamente bem sucedida epopeia de filmes, todos ligados por uma narrativa subjacente.
A Fase 1 começa em 2008 com o Iron Man e termina em 2012 com o primeiro The Avengers (2012).

Por estranho que pareça, e para mim foi uma surpresa, os Estúdios Marvel produziram mais um filme do Punisher (Punisher: Warzone (2008)), que só foi lançado na América e na Inglaterra, e que foi destruído pela crítica.


A DC ainda tenta diversificar os seus heróis durante os anos de 2010 para a frente, mas com sucesso muito variável. O Watchmen (2009) teve muito boas críticas, mas sucesso mediano nas bilheterias, o Jonah Hex (2010) é arrasado pelas críticas e um flop comercial, bem como o Green Lantern (2011).


A 20th Century Fox volta a pegar no Wolverine, e faz a desgraça que foi o X-Men Origins: Wolverine (2009), e depois lança o The Wolverine (2013) que é só ligeiramente melhor.
O grande sucesso da 20th Century Fox é definitivamente o reboot do X-men, com o X-Men: First Class (2011) e o X-Men Days of Future Past (2014), ambos muito bons, muito evocativos e com excelentes itnerpretações.




Muito recentemente tentam fazer outro reboot aos Fantastic Four (2015), e ficamos todos a pensar como é que é possível falhar tantas vezes com os Fantastic Four.


A Sony faz também um reboot ao Spider-Man, em dois filmes que apesar de terem sucesso nas bilheteiras tiveram críticas mistas, The Amazing Spider-Man (2012) e The Amazing Spider-Man 2 (2014). Eu pessoalmente gostei muito mais destes dois do que dos primeiros do Tobey Maguire, mas conheço muitas pessoas que acham o oposto.


A DC termina durante esta fase a trilogia de Batmans do Christopher Nolan, com o The Dark Knight Rises (2012), e que volta a ser um sucesso. Nolan já anunciou que não vai fazer mais filmes do Batman, o que significa que a WB/DC tem de  arranjar outro actor para fazer de Batman, e já arranjou o Ben Affleck.

Lança em 2013 o Man of Steel (2013), o seu mais recente reboot do Super-Homen, que acabou por não ter tanto sucesso como se esperava, sendo criticado ser monocromático, por ter um ritmo lento e no fim demasiada destruição gratuita, com pouca profundidade de personagens.


Entre 2013 e 2015 os Estúdios Marvel lançam a Fase 2 do Marvel Cinematic Universe, que começa com o Iron Man 3 (2013) e acaba com o Antman (2015).


Resultados desta corrida?

A DC/WB domina o mercado do cinema durante quase 60 anos, desde os anos 40 até ao fim dos anos 90.
A partir dos anos 2000 a Marvel começa a recuperar, e nunca mais pára.
No fim há 26 filmes baseados em heróis da DC, e 40 filmes baseados em filmes da Marvel. 
No entanto, se formos a ver por estúdios, então a Warner Brothers (DC) produziu 18 filmes e os Estúdios Marvel só produziram 13.

Em termos de Lucros, e apesar de só ter começado a fazer filmes durante os últimos 15 anos, os super-heróis da Marvel já geraram cerca de 18 biliões de dólares enquanto que a DC gerou apenas 5.

Esta competição está longe de estar acabada, como demonstra o facto de que em 2016 tanto a Marvel como a DC lançam quase ao mesmo tempo filmes em que põem os seus principais heróis a competirem um com o outro.


Se quiserem ler mais sobre estes assuntos, deixo-vos aqui a lista de links que usei para fazer a minha pesquisa:

História da Marvel
História dos Estúdios Marvel
Lista de Filmes baseados em Heróis da Marvel

História da DC
Lista de Filmes baseados em Heróis da DC

Lista resumo de todos os filmes mencionados

Por fim, e mais uma vez, quero agradecer ao Cubo Geek e à organização do Manga and Comic Event por me terem dado esta oportunidade.

Continuem a ver filmes e a divertirem-se!
Read More »