O Gravity é um filme excelente. Não me vou alongar muito a explicar porquê, mas para além dos efeitos especiais excelentes e das óptimas interpretações, a narrativa está extremamente bem construída.
Já falei com pessoas que não gostaram do filme porque dizem que não se passa nada durante o filme. Isto é rigorosamente verdade, mas se não conseguem ver para além disso e perceber de que maneira o filme é excelente, então têm de começar a alargar o leque de coisas a que prestam atenção num filme, porque este filme merece ser apreciado.
A história começa com a Sandra Bullock no espaço, a reparar um satélite, quando os russos fazem explodir um dos seus próprios satélites e os destroços vão chocar contra a nave espacial da Sandra Bullock.
A partir desse momento todos os problemas que surgem são ramificações lógicas desse problema inicial, que a Sandra Bullock tem de ir resolvendo um atrás do outro para sobreviver.
A genialidade do filme está na maneira como a tensão é criada e mantida durante tanto tempo, em tantas cenas.
Uma armadilha que frequentemente ameaça este tipo de filmes é a tentação de criar demasiados problemas.
Alguns problemas são bons porque vão criando picos de tensão que depois podem ser resolvidos.
Demasiados problemas, uns atrás dos outros, podem tornar-se ridículos.
O exemplo disto que eu me lembro sempre é o Dancer in the Dark (2000).
Acontece tanta desgraça atrás de desgraça à Björk que para mim o filme acaba por se tornar ridículo.
(SPOILERS)
Trabalha numa fábrica, está a ficar cega, é despedida, acusada de estar a roubar, tiram-lhe o filho, descobre que o filho também vai ficar cego, ninguém a ajuda no tribunal, e no fim é enforcada.
A determinada altura já lhe aconteceu tanta coisa que só consigo começar a imaginar que lhe vão começar a cair bigornas na cabeça, porque tudo o resto que podia acontecer já aconteceu.
Para mim o Gravity anda por vezes perigosamente perto desta armadilha, sem nunca no entanto cair nela.
SPOILERS
Mesmo no fim, depois de ela ter conseguido passar por duas naves espaciais sempre com problemas, depois de conseguir entrar na atmosfera da terra, e se despenhar num lago, a sua cápsula afunda-se e ela começa a afogar-se porque o fato a puxa para baixo.
Depois vai a nadar à superfície e quase que começa a ficar presa nas cordas do pára-quedas.
Depois ainda tem de nadar até à margem antes de estar fora de perigo.
Foi nesta altura que eu comecei a imaginar que ia aparecer um crocodilo para a morder.
Isso felizmente não acontece, mas foi o que me fez pensar que se perdeu uma oportunidade fantástica.
Imaginem:
A Sandra Bullock está deitada na areia da praia, quando subitamente olha para cima e vê um Tiranossauro a aproximar-se dela.
E o filme acaba aí!
Isso seria tão ridículo como espectacular, e seria uma deixa fantástica para a sequela.
Sequela essa que eu imagino que seria assim.
A Sandra Bullock tem de sobreviver num mundo onde aparentemente há dinossauros de todas as espécies.
Inicialmente tem imensas dificuldades mas depois de se tornar feral, consegue começar a comunicar com dinossauros e torna-se amiga deles, descobrindo que são criaturas amigáveis e dóceis.
Depois a determinada altura aparecem soldados em veículos que lhe matam o tiranossauro preferido e raptam-na, levando-a para uma cidade ultra-futurista.
Lá a Sandra Bullock descobre que é prisioneira de um regime fascista Orwelliano, que lhe faz uma lavagem cerebral e treina-a para ser uma super-assassina.
Enviam-na para matar os líderes da resistência, mas é capturada. Prisioneira da resistência a Sandra Bullock apaixona-se pelo corajoso, porém distante, líder da resistência, e deixa de estar lavada cerebralmente, juntando-se alegremente à Resistência.
A Resistência organiza um ataque ao Regime Fascista, apenas para descobrir que todos os seus soldados são na realidade robots controlados por uma Inteligência Artificial maléfica.
Depois de usar dinossauros para lutar contra os robots e ganhar, a Sandra Bullock descobre que afinal tinha sido a Inteligência Artificial maléfica que tinha criado o portal interdimensional através do qual a Sandra Bullock caiu para vir parar a este mundo.
Depois de se despedir chorosamente do Líder da Resistência a Sandra Bullock atravessa o portal para regressar ao seu mundo.
Depois de uma sequência psicadélica de luzes a Sandra Bullock emerge no Oeste Americano, onde encontra o Marty McFly, com o Bill e o Ted no banco de trás.
Fim
:) eu via esse filme! Mas só se lhe caissem bigornas na cabeça!
ResponderEliminarOu pianos. E depois caía de desfiladeiros.
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