Há muitas coisas a dizer acerca do Universo Cinemático Marvel (MCU), e eu sei porque já disse imensas, e hoje vou falar acerca do Capitão América.
Porque a América vê-se a si mesma como como protectora dos povos oprimidos que querem libertar-se dos seus opressores, como os próprios americanos fizeram contra os seus opressores britânicos.
Esta ideia de lutar pela liberdade está na base da mitologia cultural americana.
No entanto aquilo que a América acredita, e aquilo que faz são coisas diferentes, e por vezes difíceis de encaixar nessa mitologia. Os interesses económicos da maior nação capitalista do mundo às vezes não se coadunam com estes ideais puros quase inatingíveis que os americanos acreditam para si mesmos.
Daí nasce o Capitão América.
O Capitão América é aparece pela primeira vez em 1941, criado por Joe Simon e Jack Kirby para a Timely Comics (que viria a mudar de nome para Marvel Comics), e é criado como ferramenta de propaganda.
Numa altura em que a América estava com pouco dinheiro e pouca vontade de se ver envolvida numa guerra muito longe das suas fronteiras, era preciso inventar Heróis que galvanizassem o povo a comprar Abonos de Guerra para financiar dita guerra.
O Capitão América, na sua primeira capa, aparece a esmurrar o Hitler.
No MCU, Steve Rogers é um jovem franzino mas infinitamente bem intencionado, que apesar das suas limitações físicas só quer fazer a sua parte na luta contra o mal, na qual acredita com um idealismo quase ingénuo.
Mais uma vez, representa o underdog com quem nos identificamos.
Graças ao applied phlebotinum, inventado por um sósia do Einstein que também é ambiguamente judeu, sob a forma de um Super-Soro e da aplicação de Vita-Rays (que têm um nome deliciosamente anos 40) Steve Rogers ganha um upgrade e transforma-se no epítomo da forma física e da durabilidade.
O próprio Steve Rogers sente-se desiludido com esta viragem de eventos, porque o que ele queria em primeiro lugar era ir lutar para a guerra fazer a sua parte, e agora está a dançar com as Captainettes.
A desilusão do protagonista por ver o seu objectivo falhar reflecte a desilusão que sentimos enquanto espectador por não ver a história ir para onde queríamos.
A estrutura narrativa faz com que o espectador sinta desilusão no preciso momento em que, dentro da narrativa, o herói também está a sentir desilusão.
É assim que se cria relacionabilidade com o protagonista e se põem os espectadores investidos na sua história.
Portanto o herói que nasceu como propaganda para vender Abonos de Guerra é mostrado no filme a ser usado para vender Abonos de Guerra. Talk about meta.
Quando eu vi o Captain America: First Avenger (2011) a cena de ele a vender Abonos de Guerra já me era familiar por causa de outro filme que na altura ainda estava fresco na minha memória: Flags of our Fathers (2006).
Nesse filme, os soldados fotografados a erguer a bandeira americana na ilha de Iwo Jima são enviados de volta para o continente de maneira a poderem participar nas campanhas de propaganda para comprar Abonos de Guerra.
Portanto esta ideia do Espírito Americano, que acredita em fazer o bem pelo bem, que acredita na luta pela liberdade, vê-se comprado e usado para produzir um produto de marketing vendável e explorável.
Ambas estas narrativas (a do First Avenger e a do Flags of our Fathers) exemplificam isso com o aproveitameno de soldados notáveis que são retirados de onde poderiam fazer mais para serem explorados pelo sistema capitalista.
Ambas as histórias exploram esta temática do herói caído e dos ideais corrompidos, e essa luta por manter os ideais e os heróis protegidos da influência nefasta do comercialismo parece reflectir muito bem a dificuldade que os próprios americanos têm em fazer coexistir uma mitologia nacional de liberdade com uma política nacional capitalista e comercial.
É como se os americanos tivessem medo que os seus heróis, e por conseguinte eles próprios, estivessem em risco de serem corrompidos por políticas menos honestas, e estes filmes e narrativas funcionassem como cautionary-tales.
Entretanto, o Capitão América não consegue que ninguém o leve a sério enquanto usa spandex, portanto tem de ir provar o seu valor atacando sozinho uma base fortificada dos vilões e salvando um número exagerado de pessoas.
Num pedacinho de escrita inteligente, o protagonista que tinha sido transformado numa figura ridícula de banda-desenhada prova que é de facto competente com um acto heróico, transformando o cunho de super-herói de uma coisa tola para uma coisa espectacular, e passa a ser respeitado pelos seus pares soldados.
Talvez seja isto que a América imagina de si mesma, que precisa de mais actos heróicos, altruístas, para que o mundo finalmente perceba que eles são de facto heróis e não são movidos por intenções comerciais capitalistas.
A ingenuidade dessa ideia é largamente explorada no filme seguinte Captain America: Winter Soldier (2014), no qual o Capitão América é uma figura ainda mais desiludida com o que o seu governo representa e que de facto começa a agir por iniciativa própria, sendo procurado como um criminoso.
Esta narrativa obviamente não surge por acaso e está de acordo com a diminuição de confiança que os jovens americanos têm pelo seu governo.
De qualquer forma, é sempre em tempos de crise e de guerra que precisamos dos nossos heróis, e o Capitão América aparece ciclicamente cada vez que há um conflito.
Nasceu durante a segunda guerra mundial, e voltou a aparecer quando o conflito no médio oriente começou a afectar a América.
Sim, até mesmo no Vietnam, mas por essa altura havia muitas drogas...
E mesmo a tempo porque imediatamente depois da experiência resultar começam a explodir coisas e o agora badass Steve Rogers tem de perseguir vilões aos tiros rua abaixo.
É bastante fixe
É bastante fixe
E como espectador, a ver o filme, pensamos "SIM! A partir de agora é só ver este tipo com quem eu me identificava há 5 minutos a ser tão badass quanto pode ser, a bater nos maus e a fazer explodir coisas!"
Mas não.
Depois de terem transformado o melhor homem que conseguiram encontrar num super-soldado ultra-competente em vez de o mandarem para a guerra lutar contra nazis, vestem-no em spandex, transformam-no num Super-Herói de banda desenhada (!) e põem-no a fazer propaganda!
Mas não.
Depois de terem transformado o melhor homem que conseguiram encontrar num super-soldado ultra-competente em vez de o mandarem para a guerra lutar contra nazis, vestem-no em spandex, transformam-no num Super-Herói de banda desenhada (!) e põem-no a fazer propaganda!
O próprio Steve Rogers sente-se desiludido com esta viragem de eventos, porque o que ele queria em primeiro lugar era ir lutar para a guerra fazer a sua parte, e agora está a dançar com as Captainettes.
A desilusão do protagonista por ver o seu objectivo falhar reflecte a desilusão que sentimos enquanto espectador por não ver a história ir para onde queríamos.
A estrutura narrativa faz com que o espectador sinta desilusão no preciso momento em que, dentro da narrativa, o herói também está a sentir desilusão.
É assim que se cria relacionabilidade com o protagonista e se põem os espectadores investidos na sua história.
Portanto o herói que nasceu como propaganda para vender Abonos de Guerra é mostrado no filme a ser usado para vender Abonos de Guerra. Talk about meta.
Quando eu vi o Captain America: First Avenger (2011) a cena de ele a vender Abonos de Guerra já me era familiar por causa de outro filme que na altura ainda estava fresco na minha memória: Flags of our Fathers (2006).
Nesse filme, os soldados fotografados a erguer a bandeira americana na ilha de Iwo Jima são enviados de volta para o continente de maneira a poderem participar nas campanhas de propaganda para comprar Abonos de Guerra.
Portanto esta ideia do Espírito Americano, que acredita em fazer o bem pelo bem, que acredita na luta pela liberdade, vê-se comprado e usado para produzir um produto de marketing vendável e explorável.
Ambas estas narrativas (a do First Avenger e a do Flags of our Fathers) exemplificam isso com o aproveitameno de soldados notáveis que são retirados de onde poderiam fazer mais para serem explorados pelo sistema capitalista.
Ambas as histórias exploram esta temática do herói caído e dos ideais corrompidos, e essa luta por manter os ideais e os heróis protegidos da influência nefasta do comercialismo parece reflectir muito bem a dificuldade que os próprios americanos têm em fazer coexistir uma mitologia nacional de liberdade com uma política nacional capitalista e comercial.
É como se os americanos tivessem medo que os seus heróis, e por conseguinte eles próprios, estivessem em risco de serem corrompidos por políticas menos honestas, e estes filmes e narrativas funcionassem como cautionary-tales.
Entretanto, o Capitão América não consegue que ninguém o leve a sério enquanto usa spandex, portanto tem de ir provar o seu valor atacando sozinho uma base fortificada dos vilões e salvando um número exagerado de pessoas.
Num pedacinho de escrita inteligente, o protagonista que tinha sido transformado numa figura ridícula de banda-desenhada prova que é de facto competente com um acto heróico, transformando o cunho de super-herói de uma coisa tola para uma coisa espectacular, e passa a ser respeitado pelos seus pares soldados.
Talvez seja isto que a América imagina de si mesma, que precisa de mais actos heróicos, altruístas, para que o mundo finalmente perceba que eles são de facto heróis e não são movidos por intenções comerciais capitalistas.
A ingenuidade dessa ideia é largamente explorada no filme seguinte Captain America: Winter Soldier (2014), no qual o Capitão América é uma figura ainda mais desiludida com o que o seu governo representa e que de facto começa a agir por iniciativa própria, sendo procurado como um criminoso.
Esta narrativa obviamente não surge por acaso e está de acordo com a diminuição de confiança que os jovens americanos têm pelo seu governo.
De qualquer forma, é sempre em tempos de crise e de guerra que precisamos dos nossos heróis, e o Capitão América aparece ciclicamente cada vez que há um conflito.
Nasceu durante a segunda guerra mundial, e voltou a aparecer quando o conflito no médio oriente começou a afectar a América.
Sim, até mesmo no Vietnam, mas por essa altura havia muitas drogas...
gostei do applied phlebotinum
ResponderEliminarTambém gosto muito do Applied Phlebotinum, é um trope muito frequente e resolve uma data de problemas inconvenientes
EliminarTambém gosto muito do Applied Phlebotinum, é um trope muito frequente e resolve uma data de problemas inconvenientes
EliminarÉ interessante pensar que um dos heróis mais populares que existiam na altura era o Super Homem. Quando começa a guerra, surge um Super Soldado.
ResponderEliminarÉ interessante pensar que um dos heróis mais populares que existiam na altura era o Super Homem. Quando começa a guerra, surge um Super Soldado.
ResponderEliminarÉ interessante pensar que um dos heróis mais populares que existiam na altura era o Super Homem. Quando começa a guerra, surge um Super Soldado.
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