Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Collected ramblings of a madman

''Isto é algo que as pessoas precisam de saber. Alucinar não é ver gafanhotos gigantes a passearem de mão dada com elefantes cor de rosa. É muito mais pessoal. É perceber que o teu nariz é a coisa mais estranha da tua cara. É interpretar alguma coisa que esteve à tua frente a vida toda, hoje está totalmente diferente. Ver que os teus dedos são curtos demais em relação à memória que tens deles, que a explicação e os porquê se esvai entre eles. Alguma coisa que sentes. Não é necessariamente alguma coisa que vês.

Dizes que alucinar é uma percepção sem objecto, que me refiro distorções de percepção/pensamento. Digo-te que essa divisão é artificial, as experiências sensoriais são integrais com a percepção. Porque têm apenas um observador.

The shadows flicker a lot more than usual, for a sun that has been shining all day. A luz à qual observas as tuas emoções também é diferente. Mais viva e carregada. 'Sentes' as tuas emoções como se elas não te pertencessem. Porque sentir alegria/elação/euforia, altera a maneira como te vês a ti próprio e o mundo que te rodeia. Se alguma coisa te tirar do centro dessa relação, consegues aperceber-te das mudanças subtis que as emoções operam na tua percepção de estímulos.
All the dials and levers working. Sentes-te como se tivesses sido alexitímico a vida toda. E também que apenas começaste a entender isto. Por isso não percas demasiado tempo com a luz. É apenas a luz da mesa de cabeceira, numa noite estranha, em que acordaste desgrenhado, fora de ti.
Levanta-te e anda. Anda ver o nascer do sol. Os raios laranjas a rasgas e a colorir as nuvens, os cirros coloridos de tons violáceos.

Dizes que falo de cortinas de fumo, de crenças sobrevalorizadas. Nada palpável. Mas não estou a fingir que sei do que estou a falar. Tento descrever impressões subjectivas. Só quero chamar à atenção que a periferia das tuas percepções encaixa de maneira cada vez mais aberrante na realidade. Um termo cuja substância se dilui numa poça, de onde nasce um arco íris. Se fechares os olhos, as cores aparecem.
E isto é só o princípio.''

''Consigo perceber o pânico de alguém que vê a sua cara pela primeira vez ao espelho, como se pelos olhos de outra pessoa. Produz um sentimento análogo a ouvir a minha voz numa gravação. Mas mais bizarro. Tenho que fazer a barba... Nós somos feios em comparação com a ideia que temos de nós próprios, metida atrás dos nossos olhos.''

''Quebra de continuidade. Ao longe o outono faz as árvores restolharem. O vento desenha caminhos por entre os arbustos e as ervas rasteiras, os gatos brincam uns com os outros num recanto. Subitamente percebes que tens dificuldade em evocar palavras. Linguagem.  Não é que as palavras não venham, se encurraladas, é só que se tornaram desnecessárias. As emoções são suficientes para interpretar o mundo à tua volta, com toda a complexidade e reactividade que a linguagem permite.
Não penso, mas sinto. Será que existi naquele momento? Será que interessa?''

1 comentário:

  1. Picture yourself in a boat on a river
    With tangerine trees and marmalade skies
    Somebody calls you, you answer quite slowly
    A girl with kaleidoscope eyes

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