Eu gosto de ler. Sempre gostei de ler, mas como tudo na
vida este gosto alterou-se com os anos. Se no inicio li histórias adequadas
para a idade, na faculdade tornei-me uma snob relativamente à leitura. Eu não
lia qualquer coisa. Eu lia histórias com qualidade comprovadamente superior. Eu
lia autores existencialistas e críticos sociais e era uma deprimida… Yup.
Quando lês demasiado Dostoyevsky nasce
um desespero em relação ao mundo, uma apatia continuada e uma incapacidade inexplicável
de perceber que existe uma possibilidade de mudança. Ou simplesmente a minha
depressão maravilhosa adorava banhar-se nas histórias de personagens com finais
miseráveis.
Após
estes anos gloriosos de leituras profundas que moldaram a minha personalidade
de maneira incontornável, a verdade é que a depressão passou. E não, não deixei
de gostar de ler clássicos ou livros de qualidade, mas passei a apreciar (e a
culpar-me muito por isso) ler livros com finais felizes, romances que me façam
sorrir. Descobri todo um mundo de romances contemporâneos, históricos,
fantasia, steampunk, paranormal e distopia. Tornei-me numa leitora
relativamente aleatória. Sim, continuo a seguir a lista dos “1001 livros a ler
antes de morrer”, mas sou muito mais comedida. E como sou fan do Goodreads
descobri um género extraordinário: New Adult.
Resumidamente,
este género é o somatório de todos os clichés do Young Adult (típica personagens
principais decalcadas do “Twilight”, insta-love, triângulos amorosos, dinâmica amor-ódio,
declaração amorosa dramática, rapaz possessivo e anulação da personagem
feminina em prol do “amor”), mas com descrições de cenas sexuais desde os
primeiros capítulos da história. As descrições sexuais fariam corar as
escritoras do “Harlequim e Bianca” que via a minha mãe ler nas velhas praias de
Quarteira. Assim tão pormenorizadas, com tudo para todos os gostos. É só uma
questão de procurar. Deixem-me apenas avisar, comparativamente com o que é
descrito nos livros não há homem que se compare. A quantidade e qualidade sexual
descrita mata qualquer desejo pelo vosso parceiro atual… Just saying…
E
nem é componente sexual exagerada sem nexo que me faz realmente confusão nestes
livros. O que me preocupa e não me faz sentido é ter lido partes de livros em
que as violações são justificadas pelas autoras. Em que a violência verbal e física
é demonstrada como sendo uma prova de carinho e amor. E isto arrepia-me.
Desculpem, provavelmente estou a ser moralista, mas ler um livro em que o raciocínio
da personagem feminina após ser violada é “Ele utilizou o meu corpo sem a minha
permissão, mas é tão bonito e musculado”, dá-me náuseas. Ler um livro em que
tudo aquilo que ainda hoje se luta em termos de igualdade de géneros é jogado
para o lixo e a realidade é distorcida e apresentada a jovens como sendo algo
aceitável e até mesmo um objetivo a alcançar diz que não avançámos muito como
seres humanos.
E
porque é que me interesso? Bom, primeiro, porque estudos têm demonstrado um
aumento da violência entre casais jovens. Segundo porque eu trabalho também com
jovens e noto uma aceitação das vicissitudes da vida como se fosse algo a
aspirar. Terceiro, porque sou um ser humano do sexo feminino que tem um imenso
orgulho do trabalho que tantas mulheres tiveram para que eu hoje pudesse ter os
direitos que tenho. Quarto, porque violações e violência simplesmente não são
aceitáveis… Quinto, porque o Ricardo e o Gui estavam fartos de me chatear a dizer que não contribuía em nada para este blog, e assim calo-os por mais um ano. :P
Acho que este texto é um excelente exemplo das coisas boas que podem surgir quando as mulheres são pressionadas pelos homens a fazerem coisas que não lhes apetece fazer!
ResponderEliminaré de facto uma excelente demonstração do que elas podem fazer quando pressionadas! considero este texto como o ponto de partida de uma espiral de feedback positivo/gentle nagging, para que, a dada altura próxima no tempo, apareça outro texto!
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