Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Avengers: Age of Ultron - A Crítica

Acabei de ver o Avengers: Age of Ultron, e ainda não me recompus.
Para todos os que estavam com medo, podem estar descansados, o filme é espectacular!!!

O Avengers: Age of Ultron é o culminar da Phase II da Marvel e o segundo filme realizado e escrito pelo Joss Whedon (que, nunca se esqueçam, começou a sua carreira a escrever a Buffy: Caçadora de Vampiros).

Este é provavelmente o maior filme Marvel até agora. O mais ambicioso, com maior dimensão, e isso sente-se.
O filme começa em grande, e depois só se vai tornando maior e maior e maior. O filme cresce continuamente, e só não se desmorona sob o seu próprio peso devido à escrita extremamente inteligente do Joss Whedon.

Vou agora tentar escrever uma crítica sem dar demasiados spoilers. Perdoem-me as pessoas que viveram debaixo de uma pedra durante o último ano (!!!) se eu deixar escapar alguma coisa.



Em primeiro lugar, as sequências de acção são fantásticas. A sério são mesmo boas.
Têm imensa energia, estão bem coreografadas e são genuinamente interessantes. Sem contar com a sequência final, a luta entre o Iron Man e o Hulk (vá não se queixem de spoilers, se viram o trailer sabiam que ia acontecer) é particularmente divertida e entusiasmante.

Talvez uma das poucas críticas que se possam fazer ao filme resida exactamente nas suas sequências de acção. São demasiado intensas. A maneira como estão filmadas por vezes torna-as difíceis de seguir, tornando-se confusas.
Nesse aspecto acho que o primeiro Avengers estava mais bem feito, no sentido em que as cenas de acção tinham mais espaço, tinham mais ar para respirar e por isso tornavam-se mais fáceis de admirar e apreciar.



A história é clássica mas boa. Não há aqui reviravoltas surpreendentes e a narrativa segue carris e preceitos que estamos fartos de conhecer. Não há nada de inovador ou desafiante na narrativa, mas esse nunca foi o objectivo dos filmes da Marvel. Os filmes da Marvel usam histórias sólidas e directas como fundação para mostrarem os heróis, e neste filme é exactamente isso que acontece.

A história progride de forma lógica e inexorável (previsível?) para o seu fim passando por todos os picos e vales normais e esperados da narrativa e não há eventos forçados, as coisas que acontecem fazem sentido.
O conflito é muito interessante, criando esse ímpeto que obriga a história a estar sempre a avançar. Senti-me muito na pele das personagens, sempre a lutar contra o relógio, sempre um passo atrás do problema, sempre a resolver as coisas quase no último momento.
Apesar dessa sensação de urgência, o filme nunca se torna cansativo, e é essa uma das forças do Whedon. Dentro de todo o filme, em variadíssimos momentos, há situações de escape onde essa tensão acumulada pode escapar um bocadinho para não ficarmos cansados com o filme.
Acreditem em mim que num filme onde acontece TANTA coisa, isso é algo extremamente difícil de conseguir.


As personagens são outro forte do filme.
Obviamente que temos as mesmas personagens centrais do costume (o Capitão América, o Homem de Ferro, o Thor, o Hulk, a Viúva Negra e o Hawkeye), que já estamos fartos de conhecer dos seus outros filmes individuais. Há personagens novas mas não posso falar delas porque spoilers.
Mas apesar disso com este filme fiquei a sentir que passei a conhecer estas personagens muito melhor do que antes. De forma paradoxal com o que disse antes, este filme tem momentos de calma e tranquilidade onde as personagens são exploradas sem pressa, e as suas inter-relações são aprofundadas de uma forma que ainda não tinha sido feita antes.
Os diálogos são muito cómicos, mesmo em momentos onde não o esperaríamos, e isso mais uma vez contribui para o ritmo da história, tornando-a mais fácil de apreciar, sem estarmos constantemente a ser assaltados por mais e mais acção. Mais uma coisa que podemos atribuir ao Whedon.



O Ultron.
O Ultron é tão bom! Definitivamente um dos melhores vilões do MCU até agora e, na minha opinião, só fica atrás do Loki (que, não por acaso, é o vilão principal do primeiro Avengers).
Como personagem tem uma génese extremamente interessante, tem motivações fortes e que fazem sentido, até tem um conflito interno (mais ou menos), e é muito divertido vê-lo a dar luta aos Avengers.
O James Spader faz uma interpretação brilhante da personagem. A voz é a ideal para a personagem e a interpretação vocal não podia ser melhor. É mesmo um dos pontos fortes do filme.
A animação da personagem também é brilhante, sendo que foi usada tecnologia de motion capture para captar a interpretação do James Spader. É impressionante a quantidade de expressão facial que acontece naquele robot.


Visualmente o filme é fantástico. O CGI é muito bom, e os cenários e localizações são visualmente interessantes e agradáveis ao olho. É um filme com uma paleta de cores mais limitada do que o primeiro Avengers, e por vezes quase que parece que existe demasiado contraste, mas isso são picuinhices de quem adorou o festival de cores que foi o Guardiões da Galáxia.

O filme sofre um pouco do síndrome do filme-do-meio. É claramente um filme de transição, que serve de ponte entre o início e o fim da story-line, e é difícil de o interpretar sem ser no contexto de todos os outros filmes do MCU que já saíram e ainda estão para sair.
É um pouco como o As Duas Torres do Senhor dos Anéis. O filme pega em pontas deixadas por filmes anteriores e deixa pontas soltas para filmes que venham a seguir.

O filme não é menos bom por causa disso. A produção podia simplesmente ter aproveitado a legião de fâs que já ganharam até agora, ter feito um filme preguiçoso e depois recuperar com tudo o que já têm preparado, mas não foi isso que aconteceu.
O filme está extremamente bem conseguido, é muito divertido e de certeza que vai deixar qualquer fã mais do que satisfeito.

Portanto vão ver o filme, é mesmo muito bom, e depois de já toda a gente o ter visto e já não me poderem acusar de fazer spoilers, então posso escrever uma análise!


Ps: o zinger (aquela cena que aparece depois dos créditos) é AWESOME!!!!!!!
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terça-feira, 21 de abril de 2015

Alone in the dark

37 tiros e uma explosão depois, ele estava a correr, sem se lembrar de ter dado ordem às pernas para se mexerem.

Engolia o ar frio às golfadas enquanto saltava por cima das ruínas metálicas da fábrica velha, ainda sem consciência que a explosão lhe tinha substituído os tímpanos por campainhas. Entrou num corredor escuro e continuou até uma pancada incrível na cabeça o deixar deitado de costas, a contorcer-se em pânico, agarrado à cabeça com as mãos ensopadas em sangue.

O pânico transformou-se em confusão, porque um tiro na cabeça não leva a muito pânico, ou sequer confusão. Quando conseguiu, olhou em todas as direções por entre os dedos.
A dor excruciante na têmpora direita só apareceu quando viu a conduta de ar pendente, suja de sangue. Depois de se levantar, entrou na primeira sala que que se ofereceu. Tinha corrido sem olhar para trás, e escondeu-se ofegante, sem saber onde.

Quanto tempo tinha passado? 2 minutos? Meia hora? Teria sido suficiente?
Claro que não. Ele próprio já tinha perseguido e morto vários desgraçados que tinham tentado fugir. Não se lembrava de algum ter escapado. ‘’Eles vêm aí…’’

Tinha imaginado o que sentiria se isto acontecesse, em fantasias tiradas de filmes de samurais. Gritos de guerra e cargas cegas, desesperadas, com o fogo na barriga da cavalaria britânica na batalha da balaclava.

‘’Half a league, half a league,
Half a league onward…’’

Estranho não sentir a raiva gloriosa dos últimos minutos de quem viveu com a honra ou a morte como únicas certezas. O fogo na barriga que sentia era a azia de quem não tinha comido hoje, que o fazia arrotar ácido de maneira não muito gloriosa. Vomitou o mais silenciosamente que conseguiu, até que uma irregularidade no silvo contínuo que tinha nos ouvidos desde a explosão que muito provavelmente tinha morto o irmão dele, retesou-lhe os músculos. Qualquer coisa a sussurrar nas sombras… O vento?

Estava frio. Outra vez. As memórias que ele tinha de estar quente e confortável estavam esbatidas. Mantinha a vaga ideia que algures, um dia, o mundo tinha sido um lugar seguro. Agora, sozinho no escuro, alerta, abraçado às pernas dormentes, encostado a uma viga gelada de aço cinzento, escutava. Apesar das náuseas e suores frios, a opressão do silêncio na sala ajudava um pouco a estancar o pânico.

‘’Eles vêm aí…. ‘’

O bater do coração precipitado, fez com que começasse a beber o ar em golos pequenos e irregulares.
‘’Calma… calma, calma….’’ Murmurou para si próprio, numa voz rouca pela garganta arranhada pelos vómitos. Não podia deixar o medo afogá-lo. Não agora.
Tinha treinado durante anos. Tinha morto pelo menos 3 deles no último quarto de hora…. Porque é que as mãos dele insistiam em tremer? Porque é que tinha aço nas mandíbulas?

Havia calor a espalhar-se pelo colo dele, que pingou numa poça pequena.

O desfecho provável dos próximos minutos deixavam-no aterrado, ao mesmo tempo que o último cartucho de munições na semiautomática tornava-o consciente da faca de mato no tornozelo.
’’Porque é que estão a demorar tanto tempo?’’… ‘’Será que passou assim tanto tempo?’’

Tornou a mostrar um olho cauteloso à paisagem. As sombras ondulavam por cima de um cadáver encostado à ombreira de outra porta que dava acesso aos fornos da fábrica. O sangue que lhe tinha brotado abundante do orifício supraciliar, estava agora reduzido a um fio rosado que nascia de um coágulo preto. ‘’Que sítio estúpido para morrer…’’

Finalmente ouviu qualquer coisa. Nada de especial, mas o suficiente. Eles estavam na sala, provavelmente atrás da primeira fornalha.
2… não 3, pelos passos. Ouviu uma troca de palavras sussurradas.
Pareciam assustados... Um deles recomendava extremo cuidado ao outro.
Será que tinham ouvido falar da reputação dele?

Talvez o desespero dele tenha sido prematuro. Um princípio de coragem parecia querer levantá-lo, disparam, matá-los, fugir para casa. Um cartucho era mais que suficiente, porra.

Para casa....

O efeito surpresa estava do seu lado. ‘’Os filhos da puta nem vão perceber…’’

‘’Forward, the light brigade!
Was there a man dismay’d?
Theirs not to make reply,
Their’s not to reason why,
Their’s but to do and die…’’

‘’FIlhos da putaaa….’’ Quando se levantou, o sangue ainda lhe pingava da testa, cheirava a vómito, tinha as pernas dormentes e a começar a ficar geladas do mijo… mas a mão…. A mão dele sempre foi rápida como um relâmpago.

Alguma coisa arrancou-lhe o ar dos pulmões, antes de ouvir a Mark 2 Lancer Assault Rifle trovejar em todo o esplendor do seu calibre 0.5. Pelo que sentiu, podia ter sido uma locomotiva.

 ‘’Into the valley of death,
Rode the sixhundred…’’

Deitado de costas viu que no tecto estava a moldura de uma conduta de ar, com uma escada que levava à superfície, ao alcance de um pequeno salto. Duas estrelas mortiças cintilavam lá em cima, cada vez mais desfocadas…
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As estrelas desfocadas foram obliteradas pela zona pélvica do primeiro locust que mal se aproximou começou imediatamente a baixar-se e a levantar-se por cima da cabeça dele, a despropósito e várias vezes, antes de se ler no ecrã: ‘’N00b!!! N00balhão!’’

‘’Carlos, a comida está na mesa! Vai ficar fria!’’
‘’Cala-te, já vou! Fizeste-me perder, mãe! Já disse que já vou!’’

‘’Deixa-te de parvoíces e despacha-te.’’
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domingo, 19 de abril de 2015

Kung Fury!

Se os anos '80 tivessem um sonho molhado, seria isto:


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sábado, 18 de abril de 2015

Second love - Para botar chifre, né?

Os sites que promovem o adultério proliferam.

Para eles:

''Muitos homens que se encontram num relacionamento pensam que depois de um certo tempo, o relacionamento pode mudar e tornar-se bastante previsível e monótono. Para que a monotonia não destrua o seu relacionamento, um flirt ou a atenção extra de outra pessoa, pode mudar toda a sua perceção no seu próprio relacionamento.''

Claro! se um homem tem problemas no seu relacionamento, pode resolver tudo, dormindo com outra mulher. Aliás, o homem tem que dormir com outra mulher, para salvar o seu relacionamento!
Obviamente! Da mesma maneira que a pimenta preta polvilhada numa ferida aberta ajuda à cicatrização.

Para elas:

''Quer receber a atenção que merece, sendo tratada da maneira que gostaria, por homens que realmente estão interessados em si? Então experimente este fruto proibido, neste site especial de Encontros.''

Obviamente! Largue esse mono que tem em casa! Esse gajo não lhe dá a atenção que merece. A Internet está neste momento cheia de homens a escreverem poemas para a conquistar! Todos os homens na internet não se conseguem conter de embevecimento com a beleza pura da sua alma. 

Mas eu acho que vale a pena perguntar: como é que eu sei que a mulher que estou a engatar lá no site, é mesmo casada? Estes sites custam dinheiro para uma pessoa se inscrever! Se vou gastar dinheiro, quero ter garantias! Sei lá se a mulher que encontro é uma solteira, a fingir que é casada, para enganar o sistema? 

Não estou para perder tempo com mulheres solteiras!

Exijo que a foto da senhora em questão seja acompanhada por uma foto do respectivo marido. De preferência zangado, a abanar o punho, e com um daqueles chapéus dos Vikings.

Mas não chega! Junto à lista dos turn ons, quero fotos do casamento! Sei lá se ela tem namorado, mas não é casada, e vive em pecado! Não quero cometer infidelidades com uma senhora de moral frouxa!
Quero também gravações de chamadas telefónicas dela com o marido, a dizer-lhe que tem que trabalhar até tarde, hoje não lhe apetece porque tem uma dor de cabeça, a inventar desculpas de merda para faltar à peça de teatro da filha. 
Quero uma gravação do marido a dizer em confidência a um amigo que nota que a mulher está a ficar distante, e que começa a suspeitar de alguma coisa e quero ver fotos das prendas caras que ela dá aos filhos para compensar passar tantos fins de semana fora de casa em ''conferências''.

Finalmente, não é obrigatório, mas ficava mais descansado se visse uns vídeos dos filhos dela a queixarem-se a um psicólogo que têm um ambiente familiar de merda, que os pais estão sempre a discutir, e que suspeitam que o pai ultimamente se mete nos copos muito mais do que devia.

Congratulo os génios que inventaram esta ferramenta para salvar relações da monotonia, e conseguir que as pessoas recebam a atenção que merecem da parte de desconhecidos abnegados.

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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Guardians of the Galaxy - a Análise Definitiva

Tenho sempre muito mais dificuldade em escrever acerca de coisas de que gosto muito, do que em escrever coisas de que gosto menos. Isto acontece porque tenho sempre tanta coisa a dizer acerca do que gosto, que se torna difícil escolher o que dizer.

Mas com a aproximação a passos largos do Avengers: Age of Ultron, senti que finalmente tinha de meter mãos à obra e escrever a minha análise definitiva ao Guardians of the Galaxy.



O Guardians of the Galaxy (GotG) foi o meu filme preferido de 2014 (não o melhor, mas o meu preferido), e representa até agora o melhor que a Marvel consegue fazer, usando todas as melhores ferramentas que tem ao seu dispôr.

Em primeiro lugar há algo a ser dito acerca de como a Marvel decidiu ir buscar personagens obscuras (mesmo dentro do universo da banda desenhada) de que ninguém tinha ouvido falar, referentes a storylines pouco populares.
Foi um risco, e haveria todo um artigo sobre porque é que a Marvel decidiu correr esse risco.

Essencialmente a Marvel tem um grande plano de diversificação do seu universo cinemático para além dos super-heróis clássicos que conta com o GotG para abrir as portas para o seu universo Cósmico, e que vai passar pela Espionagem (Agents of Shield) Retro (Agent Carter) e Horror (Doctor Strange).


É uma enorme responsabilidade para um filme.
Quando ainda estávamos em 2008 e o primeiro Iron Man estava a estrear não havia tanto em jogo. O Marvel Cinematic Universe não estava tão cheio, não havia tanta personagens, tantos plotlines, nem tanto dinheiro apostado nesta franchise. 

O GotG propõe-se então a introduzir um universo completamente novo a um público saturado, que já tem dificuldade em manter-se a par de todos os nomes de heróis, vilões, mundos e plotlines, e fazê-lo com personagens de que ninguém ouviu falar.
O GotG carrega em cima de si a responsabilidade de iniciar a plotline que vai terminar com o Avengers: Infinity War em 2018.

É um ponto de partida difícil. Tem tudo para falhar.

Um dos aspectos mais importantes que determinou o sucesso do filme foi a escolha do realizador James Gunn. Com esta escolha, o presidente dos Estúdios Marvel, Kevin Feige, prova mais uma vez o seu génio a escolher talentos improváveis para liderar os projectos do MCU.



James Gunn, um aprendiz de Lloyd Kaufman e da Troma Pictures, começou por realizar filmes gore, passou para os filmes indie, mas sempre dentro do género dos super-heróis. Super é uma desconstrução do género dos super-heróis, e demonstra o quão bem James Gunn compreende o género.
A criatividade, humor e estética invulgar de Gunn seriam fundamentais para a génese de GotG.

Agora, porque é que GotG é tão bom?

Em primeiro lugar, as personagens, de que já falei uma outra vez, encaixam-se perfeitamente na Five-Man Band, o que significa que são imediatamente compreensíveis, o que compensa o facto de serem desconhecidas. Ou seja a novidade e invulgaridade refrescante das personagens está encapsulada em ferramentas de escrita muito familiares e compreensíveis. 


A personagem do Peter Quill, aka Star Lord, é carismática, muito divertida e foge ao estereótipo do super-herói moral e bonzinho. Como explicarei mais à frente, a personagem do Star Lord é uma mistura de Han Solo e Indiana Jones. 
É também significativamente mais velha do que a maioria dos heróis púberes de outros filmes de aventuras que por aí andam (Hunger Games, Divergent, Twilight, etc), apelando a um público mais velho, que é o que cresceu com as referências do filme. 
A escolha de Chris Pratt é perfeita, e consegue trazer uma tolice natural à personagem que a torna extremamente relacionável. Pratt faz a personagem com uma perna às costas, sendo essencialmente o Burt Macklin in SPAAACE.


As outras personagens centrais são excelentes, cada uma com as suas idiossincrasias engraçadas, e extremamente memoráveis.

O Rocket Raccon é a subversão do Plucky Comic Relief Empathy Pet típico da Disney, transformando-se em vez disso no Snarky Non-Human Sidekick com More Dakka, e funciona TÃO bem! É impossível não o adorar.


O Groot é o Groot, e só o facto de se ter tornado uma das personagens mais adoradas do filme devia dizer tudo o que é preciso acerca de como o filme consegue vender o seu mundo e personagens tão bem.

O Drax é talvez a personagem mais simples do grupo, mas nem isso impede que seja muito interessante. Consegue vender muito bem não só a ideia do Big Guy mas ainda misturá-la com Blunt Metaphors Trauma.


Uma das poucas coisas negativas que tenho a dizer acerca do filme tem a ver com a personagem da Gamora. É uma personagem extremamente fixe, uma Assassina Badass, de quem eu quereria saber muito mais. E é isso que o filme não nos dá. Mais informação e construção desta personagem, que poderia facilmente ser uma das melhores.
Poder-se-ia fazer o argumento de que o filme já tem imensa coisa e que não havia espaço, mas ainda assim é uma pena.


A dinâmica entre estas personagens é extremamente divertida e interessante, com alguns diálogos extremamente naturais e divertidos. O tipo de humor quase parvo é invulgar para este tipo de filmes, que habitualmente se levam muito a sério.
Já tenho visto interpretações muito engraçadas sobre o grupo de personagens que o compara a um grupo de personagens de RPG a tentarem resolver problemas, e de facto os diálogos e interacções que surgem têm esse tipo de energia e humor.



Outra crítica que tenho ouvido e que acho que é sobre-valorizada é a superficialidade aparente do vilão, o Ronan.
Eu comparo o Ronan ao Mandarin, o vilão do Iron Man 3. Ambos são terroristas sanguinários, com a intenção de destruírem uma super potência que consideram culpada de crimes contra uma população indefesa e injustiçada.
Até são ambos dados a Badass Boasts e tudo.
No Iron Man 3 isso é suficiente durante cerca de 2/3 do filme, altura em que o vilão é subvertido. No GotG não existe essa subversão, e o vilão é levado a sério durante o resto do filme.
Isso torna necessariamente o vilão mais unidimensional, mas não há nada de necessariamente errado nisso. É só mais uma ferramenta de escrita que faz sentido num mundo já tão rico e preenchido. 



O conflito do filme é simples e directo, e as acções das personagens são razoavelmente racionais, pondo-as em rota de colisão inevitável com os interesses do vilão. 
A história do filme não é a mais complexa ou profunda ou sequer original, mas está construída de modo a ser rápida, cheia de ritmo e com espaço para as personagens esticarem as pernas e para haver worldbuilding de sobra. 
Aliás, já com tanta coisa a acontecer uma história demasiado complexa tornaria o filme sobrecarregado e incompreensível.

Porque o foco deste filme não poderia ser nunca a história, ou os conflitos. 
Como introdução a todo um universo Cósmico extremamente rico e extenso, com mais filmes para vir, este filme teria necessariamente de se focar na apresentação das personagens e do mundo. Se tentasse fazer tudo ao mesmo tempo, falharia a todos os níveis.
Ou seja, estas aparentes faltas do filme não são erros, mas sim decisões propositadas de um realizador experiente que sabe como construir um filme!


E é essencialmente essa mestria de James Gunn que pega num filme que teria imenso contra si, e tudo para falhar, e o torna tão bom. O que faz o GotG tão bom é a aliança perfeita entre conteúdo arriscado, invulgar e desafiante carregado por ferramentas narrativas extremamente eficientes e que garantem divertimento.


Deixem-me exemplificar o que quero dizer explicando a genialidade da abertura do filme.



O filme abre de forma inesperadamente dramática (sobretudo para um filme de super-heróis) com o muito jovem Peter Quill numa sala de espera do hospital, indo visitar a mãe que está a morrer de cancro. Toda a cena, a decoração do hospital, as roupas, a luz, a música (I'm not in Love, 10cc) , colocam-nos claramente no fim dos anos 70, inicio dos anos 80.
Descobrimos que o jovem Peter se meteu numa briga na escola porque os outros miúdos estavam a maltratar um sapinho! 
Empatia Instantânea! É impossível não adorarmos o miúdo e querer dar-lhe um abraço, dizer-lhe que vai correr tudo bem. E a perda pessoal é algo por que todos nós já passámos, sobretudo durante a nossa idade mais jovem, portanto esta é uma empatia carregada de auto-identificação. Gostamos desta personagem e identificamo-nos com ela!

A mãe morre, o miúdo não sabe lidar com isso e foge para a rua e, num momento de dor emocional e confusão, é raptado por alienígenas que parecem saídos do Encontros Imediatos do 3º Grau!




Saltamos de uma cena que é simultâneamente familiar mas dolorosa, para uma que é desconhecida, mas excitante, que é o espaço!
Vemos um planeta abandonado, uma nave espacial a aterrrar e uma personagem com um Badass Longcoat e uma Máscara com olhos brilhantes que parece extremamente fixe!
A personagem está a explorar um planeta abandonado, a usar gadgets tecnológicos para procurar ruínas de uma civilização que bizarramente parece extremamente avançada. A música é ominosa e cheia de suspense.



Portanto não só a personagem é extremamente fixe, tem uma nave espacial, gadgets, e agora transformou-se no Indiana Jones? À procura de ruínas no espaço?
Que se lixe tudo o resto, eu quero SER esta pessoa.
Esta é a personagem pela qual o filme quer que eu esteja a torcer! Está construída para ser o herói que eu quero a admirar.

A personagem agora entra no que parecem ser as ruínas de um templo abandonado. Neste momento o espectador está assoberbado de tantas coisas novas e estranhas e difíceis de integrar.



O que é que acontece?.
A máscara abre-se e vemos a cara da personagem, e instintivamente percebemos que é o jovem Peter Quill!
Portanto a personagem com quem eu inicialmente senti tanta empatia, e com quem me identificava tanto, afinal transformou-se nesta personagem que é uma amálgama de todas as coisas fixes que eu consigo imaginar e que eu quero ser? Isto é ouro! O meu investimento por esta personagem aumentou exponencialmente!



E o que é que acontece a seguir?
A personagem puxa de um Walkman, põe a tocar Come and Get your Love e começa a dançar.


O Walkman e a música puxam o mundo bizarro de ficção científica para um lugar reconhecível e familiar e a personagem distantemente fixe voltou a tornar-se próxima e relacionável e infinitamente mais adorável. 
Toda a fantasia e desconhecimento subitamente transformaram-se numa coisa casual, que o protagonista (com quem nos identificamos) simplesmente trata com a maior das casualidades e do divertimento.
A música dos anos '70 e '80 é transversal a todo o filme e ajuda sistematicamente a manter o filme firmemente familiar e reconhecível, mesmo quando as coisas são mais fantásticas.

Até o facto de ele ao dançar dar pontapés aos ratos estranhos, agarrar num deles e usá-lo como microfone, torna os efeitos de CGI muito mais físicos e realistas, ajudando a integrar toda a estranheza do mundo.

Sobretudo, esta abertura estabelece todo o tom do filme e cria as expectativas e ambiente emocional que melhor levam a que o resto do filme seja fácil de apreciar.

A partir desse momento, com esta abertura, com o trabalho de preparação do tom e do ambiente, o filme consegue fazer tudo o que quiser!

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sábado, 11 de abril de 2015

Sometimes, really weird stuff goes through my mind...

You know what you can do if you want to kill your sex life? GET MARRIED! Ahaha. 
I’m married, and I can tell you one thing: …it’s actually not that bad!

I’ve been married for 3 wonderful years and I get laid every day! Every damn day. Consistently. Blowjobs on a weekly basis!! Occasional even anal! No kidding!

I’ve manage this by following 4 simple rules, which I will now share with you. Because that’s the kind of guy I am. Nice guy, who wants to improve the world. Improve other relationships. Perfect other people’s lovelifes. So, listen carefully:

1. Love and respect your wife. That’s the best advice I can dispense today. Respect the hell out of your woman.

2. Of course, being young and handsome helps. Always has. Always will. Wink!

3. But the most important rule is, never, never, NEVER, forget to lock the cage in the basement where you keep your wife. Because if you do, she might try to escape, and go to the police station with absurd notions.  And you don’t want that. You do not want that. Don’t get me wrong, that shit will get you into the evening news, which is alright and all, but the neighbors, and especially the police might get a bit hostile. You might have to change town, name and job, and all of that avoidable by not forgetting the third and most important rule: ALWAYS lock the basement door.

After that, you can implement a loving, but firm ‘’food for sex’’ policy. And that will get you some results in the long run! It might take a bit of time, but lest you forget the longer you wait, the skinnier she’ll get. And as society tells us, skinny girls are the hottest kind! So, it might be worth the wait!

4. Also, important, but not essential, keep it fresh in the bedroom. Guys, you fail here more often than you think. Don’t always do the same old thing where you beat her to a bloody pulp, then tie her hands behind her back, and force yourself into her against a wall… You have done that a million times! You need to use your creativity… buy her a fancy new cloth to stifle her screaming during your lovemaking, stab her again a couple times during sex, so she’ll remember the day you met, and if you really want to spice things up, put her in the trunk of your car and make a romantic getaway! Just book a cottage in the country, and keep her tied at all times, or she might try and… getaway…

If she does try to getaway, put her in the trunk of your car, and push the car off a cliff. She needs to learn to respect you. As I said in the first rule, RESPECT is of paramount importance to every relationship, and it goes both ways, ladys!

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As is obvious, this is a joke. If you're offended in any way, as an apology, may I suggest that you go fuck yourself?

That might help.
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quinta-feira, 9 de abril de 2015

Aim for the moon

People are often afflicted by the sight of the poor in troubled neighborhoods. And they offer advice to their young, who go to substandard schools, with little to no hope of social progression. They say: ‘’aim for the moon, and even if you miss, you might land among the stars’’.

I always say: ‘’don’t aim for the moon, aim for the head. Aiming for the moon is stupid. You will lose your turf war wasting ammunition like that.’’ But what do I know…
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terça-feira, 7 de abril de 2015

Tatuagens e gonorreia existencial

Hoje quero falar sobre Tatuagens.
Para mim, as tatuagens são um parente mal amado das artes de expressão gráfica. E digo mal amado, porque às vezes apanha-se hepatite C.
Que apesar de tudo, é uma doença bué radical.
Um tipo de arte meio ilegal, as tatuagens são os grafitis da pintura corporal. São como os grafitis, porque a miudagem faz essas coisas para ‘’expressar a individualidade’’, ou seja, para chatear o paizinho.

E há mesmo tatuagens que parecem grafitis ilegais. Um gajo apanha uma bebedeira, adormece, e quando acorda pintaram-lhe a fachada do prédio com 7 letras do alfabeto aramaico, e tem uma tatuagem nas costas de uma caveira em chamas, com uma cobra a sair do olho. E o moço, que até gostava de música pop, agora tem o destino traçado.

É assim que nascem os metaleiros. Ninguém é metaleiro por vontade própria. Por isso é que quando eles bebem ficam zangados e começam a fazer cornos e a abanar a cabeça. É para mais ninguém os apanhar distraídos e tatuar-lhes outra coisa qualquer, tipo uma fada, ou um hello kitty.
Nunca se esqueçam crianças - o álcool destrói vidas.

Também me fazia muita confusão, aquela tatuagem no cotovelo, da estrela. Já vi ‘’gajos fixes’’ com uma estrela em cada cotovelo. Depois explicaram-me que era para ‘’o gajo fixe’’ fazer pisca, quando queria virar à esquerda… ou à direita… Quando o gajo fixe abranda subitamente, liga os quatro piscas…. Que é para os ‘’gajos fixes’’ que vêm atrás saberem que é para abrandar…. E também… poderem ligar os quatro piscas.

A próxima vez que forem na rua, e virem vá lá, 7 ou 8 energúmenos do jogging a abrandarem enquanto fazem assim…já sabem que é tudo ‘’gajos fixes’’…… da estrela no cotovelo…. Assim do fitness, do body, do óculo escuro e tipo, da cena…

Mas esses não me fazem tanta confusão como aquelas pessoas que tatuam… a… a mãe… no peito. Epá…. Eu aconselho vivamente toda a gente, a não tatuar a mãe no peito.
Porque um dia, quando cortejares uma menina para dormir contigo, ela vai ter dúvidas. Sobre se quer estar assim tão íntima contigo, com a tua mãe a olhar para ela.
Eu nem imagino como é que isto acontece… Um adolescente quer fazer uma tatuagem, e a mãe não o deixa. Ou melhor, deixa com uma condição: ‘’A mãezinha deixa o menino fazer uma tatuagem, se o menino tatuar a mãezinha no peitinho.’’

Relações familiares práticas. É o que eu vejo em pessoas que tatuam a mãezinha no peitinho. Isso e complexos de édipo muito bem resolvidos.
O que é aborrecido é quando o menino mostra a tatuagem aos outros meninos, que em vez de ficarem impressionados, dão-lhe o número da psicóloga da escola.

Tatuar a mãe no peito é a único argumento ao qual se deve responder: ‘’prefiro pôr um piercing no meu pénis’’. Há inclusive grupos restritos de pessoas que chegam a afirmar: ‘’Epá, eu prefiro um piercing no prepúcio, dois brincos, um em cada testículo unidos por um fio de prata, uma pregadeira em cada nádega, e um broche no…

Colete… que é para pelo menos parecer distinto. Um ornamento na lapela e um colete bonito, jeitoso, com gosto. Como os generais prussianos! Para pelo menos desviar um pouco da atenção da joalharia toda que tenho nos genitais. Assim para me dar ao respeito! 

Eu faço isso.

Mas não me obrigues a tatuar a mãezinha no peitinho.’’
Mas isto são pontos de vista mais radicais, e gostos são gostos, e têm que ser respeitados.
No entanto pessoas que tatuem qualquer familiar, em qualquer parte do corpo, fazem-me confusão. Será que estas pessoas que fazem tatuagens de parentes, quando estão com amigos que tiram uma foto da carteira para mostrar o novo bébé deles, será que que estas pessoas pensam: ‘’Epaaaa…. Uma foto na carteira!!!! Como é que não me lembrei disto!? Porra! Estúpido! Claro!''

Outra coisa que me faz confusão, é aquele jovem que eu encontro no autocarro às 03 da manhã, que tem um dragão tatuado na cara… barbeado de maneira a parecer que o dragão está a cuspir a barba dele… em labaredas  aaa… pilosas… acho que ele devia pôr o dragão a dizer qq coisa como: ‘’desisti de procurar emprego’’, ou ‘’o meu fígado come hepatite C ao pequeno-almoço!’’

Então meti conversa com ele, e o moço lá me contou a vida dele, antes de me roubar a carteira. Tinha vindo de lisboa, onde estava a enganar a namorada com outra mulher. Mas não se sentia nada bem, e estava cheio de comichões…

E eu disse-lhe logo: ‘’isso é a tua consciência com remorsos’’

E ele volta: ’’a sério? E isso da consciência com remorsos é grave? É que ontem comecei a deitar pús pelo pénis. O que é que me vai acontecer a seguir?’’

E eu pensei pois: É esse o problema de partilhar um pénis com a consciência. É como pedir à vossa avó que vos ajude a decorar a sala de estar tem que ser tudo muito elegante e cavalheiresco, além de que vai andar a chatear-nos para plastificar os sofás e os comandos da televisão e da playstation. Por causa dos ácaros, ou da SIDA, ou lá o que é.
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segunda-feira, 6 de abril de 2015

Humanos e Macacos

Costumamos falar de macacos.



Falamos da Ópera dos Macacos, dos impulsos dos macacos, dos comportamentos dos macacos no geral, e sempre a referirmo-nos a nós mesmos. Aos Humanos.
Porque somos cínicos e gostamos de mandar as coisas abaixo e uma maneira eficaz de fazer isso é reduzirmo-nos ao nosso estatuto de macacos carecas.

Na realidade é uma imprecisão, mas permite-nos clarificar uma ou outra coisa engraçada.

Há aquela famosa imagem que costuma ser mostrada para exemplificar a evolução que é a das sucessivas formas entre os macacos e os humanos actuais:


Não gosto desta imagem.
É essencialmente errada, e transmite uma ideia errada de como funciona a evolução.

A evolução não é um processo pelo qual os organismos se tornam progressivamente mais complexos ou sofisticados. Ou seja, a evolução não é um crescendo de complexidade ou superioridade biológica. 
É errado dizer que um organismo é mais ou menos evoluído do que o outro. Mais ou menos evoluído é um conceito que não faz sentido.

A evolução faz com que cada organismo se torne progressivamente mais adaptado ao seu meio ambiente actual. Só isso.
Por vezes isto significa que há complexificação, por vezes implica simplificação.
Também significa que as espécies não se transformam umas nas outras. Mais especificamente, significa que os macacos não se transformaram em humanos, como a imagem acima sugere.


A evolução, ou seja a adaptação diferencial ao meio ambiente, implica que uma espécie ancestral, em meios diferentes, vai diferenciar-se em duas espécies novas cada uma delas mais capaz de sobreviver ao seu meio ambiente.

Por exemplo, uma espécie de ursos pretos migra para um lugar cheio de neve e para outro lugar cheio de árvores. Ao longo do tempo vão surgir duas novas espécies, uma de ursos brancos (adaptados à neve) e outra de ursos castanhos (adaptados à floresta). A espécie de ursos pretos ancestral provavelmente extingue-se.

Da mesma forma, os nossos antepassados primatas foram-se diferenciando em várias espécies que se adaptaram às condições impostas pelos seus meios ambientes.
Ou seja, os Humanos não evoluíram dos Macacos. Os Humanos e os Macacos evoluíram ambos de um ancestral comum que se diferenciou em muitas espécies diferentes, algumas das quais se extinguiram e algumas das quais sobreviveram.


Ou seja, existe a noção generalizada (propagada por aquela imagem lá em cima de que eu não gosto) de que os Humanos são mais evoluídos. Isto é errado. 
Os Humanos não são nem mais nem menos evoluídos do que qualquer outro primata que exista actualmente. São todos evoluídos em igual medida porque todos conseguiram adaptar-se e sobreviver no seu meio ambiente.
Por essa mesma lógica não somos nem mais nem menos evoluídos do que as bactérias, mas isso é toda uma outra discussão niilista.

Portanto quando dizemos que os humanos são macacos, não é uma piada. Não estamos a reduzir os humanos a nada. Somos de facto, tecnicamente, macacos.

Ou somos?


Existem 446 espécies de primatas, entre Lemures, Tarsiers, Macacos do Velho Mundo, Macacos do Novo Mundo, Gibões e finalmente os Hominídeos.


Ora os Hominídeos.
Há 7 espécies de Hominídeos, duas de Orangutangos, duas de Gorilas, duas de Chimpanzés e uma de Humanos.


Os Hominídeos não são macacos. Os macacos são macacos, e os Hominídeos não são macacos.

Os Hominídeos são... nós.


Os Humanos não são macacos, são Hominídeos. Mas de igual forma também os Chimpanzés os Gorilas e os Orangutangos não são macacos.

Ou seja, os Chimpanzés, os Gorilas e os Orangutangos são geneticamente mais semelhantes a nós do que à maioria dos outros macacos. Constituímos todos uma única família de espécies muito semelhantes entre nós. Os chimpanzés são mais humanos do que são macacos.


Não é tecnicamente correcto reduzir os Humanos ao epíteto de Macaco. 
Mais correcto do que isso é elevar os Chimpanzés ao epíteto de Humanos.
(E não se ponham com moralismos de que é um insulto aos chimpanzés serem chamados de humanos, porque os chimpanzés são mais semelhantes a nós do que gostaríamos de admitir).

Gostamos de achar que somos muito evoluídos. Até somos, não é isso que está em causa.
O que nos esquecemos é que existem por aí outros animais que estão exactamente no mesmo patamar evolutivo que nós, e a quem falta muito muito pouco para serem iguais a nós.

Daqui a alguns anos ou décadas vamo-nos envergonhar profundamente da barbárie com que tratámos estes seres que são, essencialmente, humanos.


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