Tenho sempre muito mais dificuldade em escrever acerca de coisas de que gosto muito, do que em escrever coisas de que gosto menos. Isto acontece porque tenho sempre tanta coisa a dizer acerca do que gosto, que se torna difícil escolher o que dizer.
Mas com a aproximação a passos largos do Avengers: Age of Ultron, senti que finalmente tinha de meter mãos à obra e escrever a minha análise definitiva ao Guardians of the Galaxy.
O Guardians of the Galaxy (GotG) foi o meu filme preferido de 2014 (não o melhor, mas o meu preferido), e representa até agora o melhor que a Marvel consegue fazer, usando todas as melhores ferramentas que tem ao seu dispôr.
Em primeiro lugar há algo a ser dito acerca de como a Marvel decidiu ir buscar personagens obscuras (mesmo dentro do universo da banda desenhada) de que ninguém tinha ouvido falar, referentes a storylines pouco populares.
Foi um risco, e haveria todo um artigo sobre porque é que a Marvel decidiu correr esse risco.
Essencialmente a Marvel tem um grande plano de diversificação do seu universo cinemático para além dos super-heróis clássicos que conta com o GotG para abrir as portas para o seu universo Cósmico, e que vai passar pela Espionagem (Agents of Shield) Retro (Agent Carter) e Horror (Doctor Strange).
É uma enorme responsabilidade para um filme.
Quando ainda estávamos em 2008 e o primeiro Iron Man estava a estrear não havia tanto em jogo. O Marvel Cinematic Universe não estava tão cheio, não havia tanta personagens, tantos plotlines, nem tanto dinheiro apostado nesta franchise.
Mas com a aproximação a passos largos do Avengers: Age of Ultron, senti que finalmente tinha de meter mãos à obra e escrever a minha análise definitiva ao Guardians of the Galaxy.
O Guardians of the Galaxy (GotG) foi o meu filme preferido de 2014 (não o melhor, mas o meu preferido), e representa até agora o melhor que a Marvel consegue fazer, usando todas as melhores ferramentas que tem ao seu dispôr.
Em primeiro lugar há algo a ser dito acerca de como a Marvel decidiu ir buscar personagens obscuras (mesmo dentro do universo da banda desenhada) de que ninguém tinha ouvido falar, referentes a storylines pouco populares.
Foi um risco, e haveria todo um artigo sobre porque é que a Marvel decidiu correr esse risco.
Essencialmente a Marvel tem um grande plano de diversificação do seu universo cinemático para além dos super-heróis clássicos que conta com o GotG para abrir as portas para o seu universo Cósmico, e que vai passar pela Espionagem (Agents of Shield) Retro (Agent Carter) e Horror (Doctor Strange).
É uma enorme responsabilidade para um filme.
Quando ainda estávamos em 2008 e o primeiro Iron Man estava a estrear não havia tanto em jogo. O Marvel Cinematic Universe não estava tão cheio, não havia tanta personagens, tantos plotlines, nem tanto dinheiro apostado nesta franchise.
O GotG propõe-se então a introduzir um universo completamente novo a um público saturado, que já tem dificuldade em manter-se a par de todos os nomes de heróis, vilões, mundos e plotlines, e fazê-lo com personagens de que ninguém ouviu falar.
O GotG carrega em cima de si a responsabilidade de iniciar a plotline que vai terminar com o Avengers: Infinity War em 2018.
O GotG carrega em cima de si a responsabilidade de iniciar a plotline que vai terminar com o Avengers: Infinity War em 2018.
É um ponto de partida difícil. Tem tudo para falhar.
Um dos aspectos mais importantes que determinou o sucesso do filme foi a escolha do realizador James Gunn. Com esta escolha, o presidente dos Estúdios Marvel, Kevin Feige, prova mais uma vez o seu génio a escolher talentos improváveis para liderar os projectos do MCU.
James Gunn, um aprendiz de Lloyd Kaufman e da Troma Pictures, começou por realizar filmes gore, passou para os filmes indie, mas sempre dentro do género dos super-heróis. Super é uma desconstrução do género dos super-heróis, e demonstra o quão bem James Gunn compreende o género.
A criatividade, humor e estética invulgar de Gunn seriam fundamentais para a génese de GotG.
Agora, porque é que GotG é tão bom?
Em primeiro lugar, as personagens, de que já falei uma outra vez, encaixam-se perfeitamente na Five-Man Band, o que significa que são imediatamente compreensíveis, o que compensa o facto de serem desconhecidas. Ou seja a novidade e invulgaridade refrescante das personagens está encapsulada em ferramentas de escrita muito familiares e compreensíveis.
Um dos aspectos mais importantes que determinou o sucesso do filme foi a escolha do realizador James Gunn. Com esta escolha, o presidente dos Estúdios Marvel, Kevin Feige, prova mais uma vez o seu génio a escolher talentos improváveis para liderar os projectos do MCU.
James Gunn, um aprendiz de Lloyd Kaufman e da Troma Pictures, começou por realizar filmes gore, passou para os filmes indie, mas sempre dentro do género dos super-heróis. Super é uma desconstrução do género dos super-heróis, e demonstra o quão bem James Gunn compreende o género.
A criatividade, humor e estética invulgar de Gunn seriam fundamentais para a génese de GotG.
Agora, porque é que GotG é tão bom?
Em primeiro lugar, as personagens, de que já falei uma outra vez, encaixam-se perfeitamente na Five-Man Band, o que significa que são imediatamente compreensíveis, o que compensa o facto de serem desconhecidas. Ou seja a novidade e invulgaridade refrescante das personagens está encapsulada em ferramentas de escrita muito familiares e compreensíveis.
A personagem do Peter Quill, aka Star Lord, é carismática, muito divertida e foge ao estereótipo do super-herói moral e bonzinho. Como explicarei mais à frente, a personagem do Star Lord é uma mistura de Han Solo e Indiana Jones.
É também significativamente mais velha do que a maioria dos heróis púberes de outros filmes de aventuras que por aí andam (Hunger Games, Divergent, Twilight, etc), apelando a um público mais velho, que é o que cresceu com as referências do filme.
A escolha de Chris Pratt é perfeita, e consegue trazer uma tolice natural à personagem que a torna extremamente relacionável. Pratt faz a personagem com uma perna às costas, sendo essencialmente o Burt Macklin in SPAAACE.
As outras personagens centrais são excelentes, cada uma com as suas idiossincrasias engraçadas, e extremamente memoráveis.
O Rocket Raccon é a subversão do Plucky Comic Relief Empathy Pet típico da Disney, transformando-se em vez disso no Snarky Non-Human Sidekick com More Dakka, e funciona TÃO bem! É impossível não o adorar.
O Groot é o Groot, e só o facto de se ter tornado uma das personagens mais adoradas do filme devia dizer tudo o que é preciso acerca de como o filme consegue vender o seu mundo e personagens tão bem.
O Drax é talvez a personagem mais simples do grupo, mas nem isso impede que seja muito interessante. Consegue vender muito bem não só a ideia do Big Guy mas ainda misturá-la com Blunt Metaphors Trauma.
Uma das poucas coisas negativas que tenho a dizer acerca do filme tem a ver com a personagem da Gamora. É uma personagem extremamente fixe, uma Assassina Badass, de quem eu quereria saber muito mais. E é isso que o filme não nos dá. Mais informação e construção desta personagem, que poderia facilmente ser uma das melhores.
Poder-se-ia fazer o argumento de que o filme já tem imensa coisa e que não havia espaço, mas ainda assim é uma pena.
A dinâmica entre estas personagens é extremamente divertida e interessante, com alguns diálogos extremamente naturais e divertidos. O tipo de humor quase parvo é invulgar para este tipo de filmes, que habitualmente se levam muito a sério.
Já tenho visto interpretações muito engraçadas sobre o grupo de personagens que o compara a um grupo de personagens de RPG a tentarem resolver problemas, e de facto os diálogos e interacções que surgem têm esse tipo de energia e humor.
O Rocket Raccon é a subversão do Plucky Comic Relief Empathy Pet típico da Disney, transformando-se em vez disso no Snarky Non-Human Sidekick com More Dakka, e funciona TÃO bem! É impossível não o adorar.
O Groot é o Groot, e só o facto de se ter tornado uma das personagens mais adoradas do filme devia dizer tudo o que é preciso acerca de como o filme consegue vender o seu mundo e personagens tão bem.
O Drax é talvez a personagem mais simples do grupo, mas nem isso impede que seja muito interessante. Consegue vender muito bem não só a ideia do Big Guy mas ainda misturá-la com Blunt Metaphors Trauma.
Uma das poucas coisas negativas que tenho a dizer acerca do filme tem a ver com a personagem da Gamora. É uma personagem extremamente fixe, uma Assassina Badass, de quem eu quereria saber muito mais. E é isso que o filme não nos dá. Mais informação e construção desta personagem, que poderia facilmente ser uma das melhores.
Poder-se-ia fazer o argumento de que o filme já tem imensa coisa e que não havia espaço, mas ainda assim é uma pena.
A dinâmica entre estas personagens é extremamente divertida e interessante, com alguns diálogos extremamente naturais e divertidos. O tipo de humor quase parvo é invulgar para este tipo de filmes, que habitualmente se levam muito a sério.
Já tenho visto interpretações muito engraçadas sobre o grupo de personagens que o compara a um grupo de personagens de RPG a tentarem resolver problemas, e de facto os diálogos e interacções que surgem têm esse tipo de energia e humor.
Outra crítica que tenho ouvido e que acho que é sobre-valorizada é a superficialidade aparente do vilão, o Ronan.
Eu comparo o Ronan ao Mandarin, o vilão do Iron Man 3. Ambos são terroristas sanguinários, com a intenção de destruírem uma super potência que consideram culpada de crimes contra uma população indefesa e injustiçada.
Até são ambos dados a Badass Boasts e tudo.
No Iron Man 3 isso é suficiente durante cerca de 2/3 do filme, altura em que o vilão é subvertido. No GotG não existe essa subversão, e o vilão é levado a sério durante o resto do filme.
Isso torna necessariamente o vilão mais unidimensional, mas não há nada de necessariamente errado nisso. É só mais uma ferramenta de escrita que faz sentido num mundo já tão rico e preenchido.
O conflito do filme é simples e directo, e as acções das personagens são razoavelmente racionais, pondo-as em rota de colisão inevitável com os interesses do vilão.
A história do filme não é a mais complexa ou profunda ou sequer original, mas está construída de modo a ser rápida, cheia de ritmo e com espaço para as personagens esticarem as pernas e para haver worldbuilding de sobra.
Aliás, já com tanta coisa a acontecer uma história demasiado complexa tornaria o filme sobrecarregado e incompreensível.
Aliás, já com tanta coisa a acontecer uma história demasiado complexa tornaria o filme sobrecarregado e incompreensível.
Porque o foco deste filme não poderia ser nunca a história, ou os conflitos.
Como introdução a todo um universo Cósmico extremamente rico e extenso, com mais filmes para vir, este filme teria necessariamente de se focar na apresentação das personagens e do mundo. Se tentasse fazer tudo ao mesmo tempo, falharia a todos os níveis.
Ou seja, estas aparentes faltas do filme não são erros, mas sim decisões propositadas de um realizador experiente que sabe como construir um filme!
E é essencialmente essa mestria de James Gunn que pega num filme que teria imenso contra si, e tudo para falhar, e o torna tão bom. O que faz o GotG tão bom é a aliança perfeita entre conteúdo arriscado, invulgar e desafiante carregado por ferramentas narrativas extremamente eficientes e que garantem divertimento.
O filme abre de forma inesperadamente dramática (sobretudo para um filme de super-heróis) com o muito jovem Peter Quill numa sala de espera do hospital, indo visitar a mãe que está a morrer de cancro. Toda a cena, a decoração do hospital, as roupas, a luz, a música (I'm not in Love, 10cc) , colocam-nos claramente no fim dos anos 70, inicio dos anos 80.
Descobrimos que o jovem Peter se meteu numa briga na escola porque os outros miúdos estavam a maltratar um sapinho!
Empatia Instantânea! É impossível não adorarmos o miúdo e querer dar-lhe um abraço, dizer-lhe que vai correr tudo bem. E a perda pessoal é algo por que todos nós já passámos, sobretudo durante a nossa idade mais jovem, portanto esta é uma empatia carregada de auto-identificação. Gostamos desta personagem e identificamo-nos com ela!
A mãe morre, o miúdo não sabe lidar com isso e foge para a rua e, num momento de dor emocional e confusão, é raptado por alienígenas que parecem saídos do Encontros Imediatos do 3º Grau!
Vemos um planeta abandonado, uma nave espacial a aterrrar e uma personagem com um Badass Longcoat e uma Máscara com olhos brilhantes que parece extremamente fixe!
A personagem está a explorar um planeta abandonado, a usar gadgets tecnológicos para procurar ruínas de uma civilização que bizarramente parece extremamente avançada. A música é ominosa e cheia de suspense.
Portanto não só a personagem é extremamente fixe, tem uma nave espacial, gadgets, e agora transformou-se no Indiana Jones? À procura de ruínas no espaço?
Que se lixe tudo o resto, eu quero SER esta pessoa.
Esta é a personagem pela qual o filme quer que eu esteja a torcer! Está construída para ser o herói que eu quero a admirar.
A personagem agora entra no que parecem ser as ruínas de um templo abandonado. Neste momento o espectador está assoberbado de tantas coisas novas e estranhas e difíceis de integrar.
O que é que acontece?.
A máscara abre-se e vemos a cara da personagem, e instintivamente percebemos que é o jovem Peter Quill!
Portanto a personagem com quem eu inicialmente senti tanta empatia, e com quem me identificava tanto, afinal transformou-se nesta personagem que é uma amálgama de todas as coisas fixes que eu consigo imaginar e que eu quero ser? Isto é ouro! O meu investimento por esta personagem aumentou exponencialmente!
E o que é que acontece a seguir?
A personagem puxa de um Walkman, põe a tocar Come and Get your Love e começa a dançar.
O Walkman e a música puxam o mundo bizarro de ficção científica para um lugar reconhecível e familiar e a personagem distantemente fixe voltou a tornar-se próxima e relacionável e infinitamente mais adorável.
Toda a fantasia e desconhecimento subitamente transformaram-se numa coisa casual, que o protagonista (com quem nos identificamos) simplesmente trata com a maior das casualidades e do divertimento.
A música dos anos '70 e '80 é transversal a todo o filme e ajuda sistematicamente a manter o filme firmemente familiar e reconhecível, mesmo quando as coisas são mais fantásticas.
Portanto não só a personagem é extremamente fixe, tem uma nave espacial, gadgets, e agora transformou-se no Indiana Jones? À procura de ruínas no espaço?
Que se lixe tudo o resto, eu quero SER esta pessoa.
Esta é a personagem pela qual o filme quer que eu esteja a torcer! Está construída para ser o herói que eu quero a admirar.
A personagem agora entra no que parecem ser as ruínas de um templo abandonado. Neste momento o espectador está assoberbado de tantas coisas novas e estranhas e difíceis de integrar.
O que é que acontece?.
A máscara abre-se e vemos a cara da personagem, e instintivamente percebemos que é o jovem Peter Quill!
Portanto a personagem com quem eu inicialmente senti tanta empatia, e com quem me identificava tanto, afinal transformou-se nesta personagem que é uma amálgama de todas as coisas fixes que eu consigo imaginar e que eu quero ser? Isto é ouro! O meu investimento por esta personagem aumentou exponencialmente!
E o que é que acontece a seguir?
A personagem puxa de um Walkman, põe a tocar Come and Get your Love e começa a dançar.
Toda a fantasia e desconhecimento subitamente transformaram-se numa coisa casual, que o protagonista (com quem nos identificamos) simplesmente trata com a maior das casualidades e do divertimento.
A música dos anos '70 e '80 é transversal a todo o filme e ajuda sistematicamente a manter o filme firmemente familiar e reconhecível, mesmo quando as coisas são mais fantásticas.
Até o facto de ele ao dançar dar pontapés aos ratos estranhos, agarrar num deles e usá-lo como microfone, torna os efeitos de CGI muito mais físicos e realistas, ajudando a integrar toda a estranheza do mundo.
Sobretudo, esta abertura estabelece todo o tom do filme e cria as expectativas e ambiente emocional que melhor levam a que o resto do filme seja fácil de apreciar.
A partir desse momento, com esta abertura, com o trabalho de preparação do tom e do ambiente, o filme consegue fazer tudo o que quiser!
Sobretudo, esta abertura estabelece todo o tom do filme e cria as expectativas e ambiente emocional que melhor levam a que o resto do filme seja fácil de apreciar.
A partir desse momento, com esta abertura, com o trabalho de preparação do tom e do ambiente, o filme consegue fazer tudo o que quiser!
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