Pataniscas Satânicas

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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Grexit - Everybody loves the underdog

Nas palavras do sábio capitão Haddock a caminho da lua: ''dizem que o álcool é um veneno que mata lentamente, o que é bom, porque não tenho muita pressa''.

Crescer é aprender do que gostamos, alguém me disse. Eu gosto de economia e política. Portanto aguentem-se.

A Grécia permanece à beira do precipício, enquanto os bancos estão fechados, a economia continua em recessão profunda, apesar do surplus primário de 1,5 biliões de euros de janeiro-maio do ano de 2015, cortesia das mais profundas medidas de austeridade que o mundo ocidental já colocou em prática.

No entanto, apesar do país estar à beira do primeiro orçamento equilibrado em décadas, à custa do nível de vida da população, não há acordo à vista com as entidades a quem deve dinheiro. A questão é que a dívida do país é de cerca de 300 biliões de euros, o que ainda são uns trocos.

Esta dívida foi alimentada por generosos empréstimos. With some strings attached....



O facto é que ''while money talks, and bullshit walks'', recentemente, população votou num governo que aparentemente não está muito ligado a interesses instalados, e quer genuinamente melhorar a situação a longo prazo para a população como um todo. Líricos de esquerda. Querem começar a pagar uma dívida impagável, pelo que pedem uma borla temporária. Reestruturação. Haircut. O que seja.

Economicamente, faz sentido, mas o problema é a política. Se a Alemanha começar a dar borlas aos líricos de esquerda da Grécia, e as coisas lá começarem a melhorar, que raio de mensagem é que isso manda a portugal, irlanda, espanha, itália?

''Vocês, carneiros, foram enrabados sem vaselina, porque tinha que ser, mas os gregos votaram em malta teimosa, por isso vamos perdoar-lhes uma parte do que devem (outra vez), para ver se ainda vemos algum?''

Não pode ser. Preferimos ver mais umas dezenas de milhar de gregos a afogarem-se no mediterrâneo, do que correr o risco de ver milhões de portugueses, irlandeses, italianos e espanhóis começarem a ganir sob a forma de votos de protesto em partidos que queiram melhores condições de vida para as populações que representam.

É uma questão de contenção. De gestão de danos. Políticos. Por isso é que as propostas da Europa e do FMI não fazem qualquer sentido prático.


Pelo que me é dado a entender (percebo pouco destas coisas), o governo grego tem gerido a sua derrota inevitável com mestria de chefe de estado veterano. Atrasar as negociações. Exigir melhores condições. Empatar. Ceder. Ceder outra vez. Obrigar os credores a desmascarem as suas verdadeiras intenções.

Deram a entender desespero, e quando a Europa sentiu fraqueza, enviou um ultimato. Confrontados com um armistício de propostas inaceitáveis e humilhantes, convocaram um referendo. Genial. Na prática, disseram: ''Isso é inaceitável, se querem que o governo da Grécia ponha essas medidas em prática, tem que ser com autorização da população''. Colocaram a sra Merkel em contacto directo com a população grega! De certeza que eles têm razões para a adorar de várias maneiras diferentes

E agora temos que aturar idiotas a dizerem que a pergunta do referendo é confusa. jesus....

Toda a gente já percebeu que o que interessa é o significado emocional narrativo do referendo para cada grego. Emocional. Nada mais que isso. Para a Europa (Alemanha), o referendo tem uma narrativa parecida com isto:



Para o governo grego, o referendo parece-se mais com isto:



Não sei o que vai acontecer. Mas o medo tem maneiras de suplantar todas as emoções humanas, que não sejam a fome, pelo que o meu dinheiro está numa derrota do governo grego, e numa vitória do sim a mais austeridade.

Mas congratulo-os pela luta que deram. Vão perder, mas jogaram com tomates, e quem quer que venha a seguir ganha com isso. Ganha uma melhor posição negocial. Além de que fica demonstrado que a Europa se está cagando para a democracia, para as populações e para as suas escolhas de governo.

Isso tende a chatear as pessoas, e a mudar as expectativas.

5 comentários:

  1. https://www.indiegogo.com/greek-bailout-fund.html

    mandei para lá uns euros. Se um otário inglês que faz sapatos, consegue resolver na internet 1% da prestação que os gregos falharam esta semana, quão difícil pode ser chegar a um acordo?

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    1. Fuck it, também mandei para lá uns cobres!
      Ζήστε Ελληνικά

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    2. continuo a sonhar com um dia em que a internet tenha mais poder que o governo!

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    3. A Internet já tem mais poder que vários governos, só que esse poder tem dificuldade em concentrar-se numa só coisa.
      Habitualmente a internet foca-se em gatos e pornografia.
      O que, discutivelmente, é mais importante do que a governação.

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  2. Ainda bem que apareceste aqui a explicar as coisas, que eu já andava razoavelmente confuso com o significado desta coisa toda.

    A única coisa que tinha percebido é que este voto dos gregos não ia alterar grande coisa porque se alterasse alguma coisa importante, não lhes tinham dado a hipótese de votar.

    Mas pronto, agora percebo um bocadinho melhor.

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