No outro dia levantei os olhos do computador (gasp!) e voltei a olhar para dois posteres que tenho presos na minha parede.
A cultura tende a desenvolver-se das coisas mais simples para as mais complexas. Vemos uma sofisticação nas ferramentas narrativas ao longo do tempo.
Com o cinema isso é razoavelmente fácil de detectar, sobretudo no início da história do cinema quando essas ferramentas eram detectáveis de forma distinta em cada filme novo que aparecia.
Como por exemplo com o The Great Train Robbery (1903), que é um dos primeiros filmes a usar a técnica do cross-cutting, usada para mostrar acção que ocorre simultâneamente mas em locais diferentes.
A cultura tende a desenvolver-se das coisas mais simples para as mais complexas. Vemos uma sofisticação nas ferramentas narrativas ao longo do tempo.
Com o cinema isso é razoavelmente fácil de detectar, sobretudo no início da história do cinema quando essas ferramentas eram detectáveis de forma distinta em cada filme novo que aparecia.
Como por exemplo com o The Great Train Robbery (1903), que é um dos primeiros filmes a usar a técnica do cross-cutting, usada para mostrar acção que ocorre simultâneamente mas em locais diferentes.
As histórias mais antigas tendem a usar uma moralidade preto-e-branca, mais simples, do bem contra o mal, com personagens razoavelmente unidimensionais, sem grandes ambiguidades morais.
São histórias nas quais é muito fácil perceber quem são os bons e quem são os maus.
Não estou a dizer de todo que este tipo de moralidade leva a más narrativas. Nem pensar nisso. Mas são narrativas que, do ponto de vista moral, são bastante simplistas.
Por exemplo o Star Wars: A New Hope (1977).
É a luta clássica do bem contra o mal.
Temos o Darth Vader, a personificação do mal, vestido de negro, gigantescto a ameaçar dominar todo o espaço do poster e quase a absorver por completo o protagonista em primeiro plano.
O protagonista, o Luke Skywalker, em primeiro plano, vestido de branco imaculado, jovem e bem intencionado, uma figura quase messiânica, com uma espada em forma de cruz, desafia contra todas as probabilidades a ameaça do mal.
É o Herói Protagonista clássico, limpinho e incensurável.
É o Herói Protagonista clássico, limpinho e incensurável.
Existem outros tipos de moralidades que representam todas as possíveis variações possíveis dentro do espectro do branco-e-preto e que são adequadamente chamadas de moralidade cinza-e-cinzento, moralidade preto-e-cinzenta, e moralidade branco-e-cinzenta.
Depois, numa tentativa de demonstrar modelos morais completamente diferentes, alienígenas, quase irreconhecíveis, estabeleceu-se a ideia da moralidade azul-e-laranja.
Este tipo de moralidade tem por objectivo deixar o espectador inseguro, sem saber por onde se orientar, com a sensação de que nada faz sentido.
Como melhor exemplo disto temos o filme Blade Runner (1982).
Como melhor exemplo disto temos o filme Blade Runner (1982).
No Blade Runner há humanos frios e assassinos em oposição a réplicas emocionais. Acabamos por nos identificar e torcer pelo vilão, e o herói no fim da história já fez várias coisas que o levam definitivamente para longe do caminho do bem.
Não há heróis ou vilões, todas as personagens são anti-heróis moralmente ambíguos, e não há um compasso moral que nos facilite a vida ou nos facilite a compreensão da história.
Sobretudo as personagens dos replicants, na sua busca por crescimento emocional num mundo que os escraviza e brutaliza, desenvolvem guias morais que parecem alienígenas e tem reacções emocionais bizarras.
Sobretudo as personagens dos replicants, na sua busca por crescimento emocional num mundo que os escraviza e brutaliza, desenvolvem guias morais que parecem alienígenas e tem reacções emocionais bizarras.
Não por acaso a personagem do Rick Deckard está iluminada tanto por azul e por laranja, sendo que é o anti-herói, muito mais desapaixonado do que os Replicants, a cometer actos de violência difíceis de defender. Não é uma personagem com a qual nos identifiquemos com facilidade, é moralmente questionável.
Eu sempre quis ser o Luke Skywalker, ser um herói, lutar por uma causa.
À medida que cresço vejo-me a tomar decisões questionáveis, já não consigo, honestamente, ver-me como um herói.
Começo a compreender o Deckard, a identificar-me com os seus conflitos morais.
Não por acaso, o Star Wars teve o sucesso que teve em parte porque nos apresenta uma narrativa clássica, uma moralidade fácil de interpretar, heróis por quem é fácil torcer e vilões facilmente identificáveis.
O Blade Runner, com a sua narrativa complicada, moralidade ambígua, personagens difíceis de caracterizar, foi inicialmente um flop comercial.
So it goes.
Eu sempre quis ser o Luke Skywalker, ser um herói, lutar por uma causa.
À medida que cresço vejo-me a tomar decisões questionáveis, já não consigo, honestamente, ver-me como um herói.
Começo a compreender o Deckard, a identificar-me com os seus conflitos morais.
Não por acaso, o Star Wars teve o sucesso que teve em parte porque nos apresenta uma narrativa clássica, uma moralidade fácil de interpretar, heróis por quem é fácil torcer e vilões facilmente identificáveis.
O Blade Runner, com a sua narrativa complicada, moralidade ambígua, personagens difíceis de caracterizar, foi inicialmente um flop comercial.
So it goes.
Folgo em saber que a ficção científica guarda espaço para a moralidade potencialmente alienígena, laranja/azul, ou de maneira mais divertida, bacon/necktie. Imagino uma dualidade triunfo dos porcos no churrasco/executivo sem rosto do magritte, que não sabe se há de comer a maça e atirar-te o caroço à cara, ou só ficar com o teu dinheiro todo.
ResponderEliminarProfundos os dilemas morais do futuro...
Os dilemas morais do futuro vão prender-se sobre se as inteligências artificiais devem ter o direito de casar-se com mesas de café feitas de madeira sem glúten
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