Pataniscas Satânicas

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segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Papão vem do Norte - Parte II

Como é que um Bárbaro se transforma num Padre? Descubram agora, na Parte II de O Papão vem do Norte!

Na Parte I expliquei que a prevalência na nossa cultura do trope Grim Up North, com a sua correlação entre o Mal e o Norte Gelado, tem a sua origem na nossa cultura Românica através da qual herdámos o seu medo dos Bárbaros que vinham do norte.

Mas este Papão dos Romanos, o bárbaro selvagem e violento que vem do norte para comer as crianças romanas que não comem a sopa toda, não corresponde bem ao nosso Papão actual que é culpador, austero, severo, que prega o auto-sacrifício e a penitência e limita os prazeres.

Como é que o Papão se transmuta de uma imagem para a outra, sem no entanto nunca deixar de vir do Norte Gelado?

Para o compreendermos temos de começar pela Igreja Católico-Romana.


O cristianismo torna-se a única religião oficial do Império Romano no ano 380 e é uma das principais ferramentas na sua política expansionista e conquistadora. 
Espalham a fé cristã por toda a Europa e quando Roma cai a Igreja Católica é a única coisa que resta para manter acesa a luz piloto da civilização.

Não é uma tarefa fácil se se é uma religião pacifista de "oferecer a outra face" sem exércitos profissionais. 
A melhor ferramenta que tinham era o monopólio da Palavra de Deus. Portanto, em vez de combater directamente os Bárbaros do Norte, a Igreja dá continuidade ao que os Romanos tinham iniciado antes, e continua a converter e a civilizar as tribos.
É mais fácil ensiná-las a terem medo do Papão e depois dizer que se é o representante do Papão na Terra, e os únicos capazes de transmitir a vontade do Papão.


Não podemos esquecer nunca a mentalidade da população desta altura: era um povo completamente ignorante, maioritariamente analfabeto (mesmo a nobreza), incrivelmente supersticioso e profundamente religioso.
Não havia distinção nenhuma entre pensamento mágico e pensamento lógico, e a preocupação com o futuro da alma era uma coisa muito importante na vida diária.

Portanto quando a Igreja Católica dizia ao povo que se não se privassem dos prazeres terrenos, se não trabalhassem muito, se não fossem obedientes, as suas almas iam ser atormentadas para o resto da eternidade, eles acreditavam, pegavam na enchada e iam cavar.


O que acontece quando se tem uma mão de obra do tamanho de um continente, obediente e a trabalhar de graça é que se enriquece muito.

Com as quantidades exageradas de dinheiro vêm os excessos, a opulência e a corrupção.

A Igreja Católica tornou-se notória nessa altura pela sua riqueza e deboche, que podem ser encapsulados na figura do Papa Alexandre VI, chamado Rodrigo Bórgia, acusado de excesso de gastos, venda de cargos da Igreja (simonia), lascívia, e nepotismo.

Papa Alexandre VI
A Santa Igreja Católica Romana podia dar-se a estes luxos, riquezas e corrupções, porque o Sul da Europa, como já dissemos na Parte I, era muito fértil e havia sempre muita comida.
Mesmo que num ano houvesse excesso de gastos ou as reservas de comida fossem desviadas para alimentar um exército qualquer, ou um governador corrupto decidisse ficar com elas, havia sempre umas pontinhas que restavam que davam para que a população não morresse à fome.
No ano a seguir voltavam a plantar e recuperavam as reservas todas outra vez.

Mais valia reunir os pobres todos e cagar-lhes em cima
No Norte da Europa, onde havia muito frio e gelo e havia menos luz e menos calor, a terra era menos fértil, e os invernos extremamente rigorosos. Não havia margem de erro possível.
Se numa aldeia houvesse corrupção e a comida fosse açambarcada ou desviada, morria tanta gente que no ano seguinte não havia gente suficiente para voltar a plantar, e morria a aldeia inteira.

Não havia espaço para a corrupção. Tinha de ser tudo contado e igualmente distribuído por todos, se queriam ter hipótese de sobreviver.
É razoável pensar que teriam ficado chocados e indignados com os gastos exagerados dos países do Sul.

Por curioso que possa parecer, o que os chocava mais até era a venda de Indulgências.


Porque aparentemente se passarem séculos a ensinar ao povo que se sofrerem e forem obedientes e subservientes o suficiente podem livrar-se do pecado original e ganhar o paraíso e a vida eterna mas depois permitirem aos ricos e nobres que comprem a sua entrada no paraíso apesar de todos os excessos e pecados que cometeram, isso chateia as pessoas.

Existiam até padres especializados na venda de Indulgência, chamados quaestores que tentavam obter a maior quantidade de dinheiro possível por cada Indulgência vendida, a troco da salvação eterna. Este dinheiro acabava por ir parar às mãos da Igreja ou do Rei local, e era usado para a construção de Catedrais ou para financiar Crusadas.

Martinho Lutero
Essas desigualdades criaram tensões que foram crescendo e crescendo até que um padre alemão chamado Martinho Lutero se chateia e um dia, em 1517, prega na porta da igreja um documento a criticar a Santa Igreja Católica Romana e o Papado.

Esse documento criticava sobretudo a venda de Indulgências, políticas doutrinais acerca do purgatório, juízo particular e a autoridade do Papa. Promovia uma noção de igualdade entre os homens, promovia a educação e refutava a ideia de que algumas pessoas nasciam já com direitos divinos a serem ricas.

Outra coisa extremamente importante que Martinho Lutero fez foi traduzir a Bíblia do latim para o alemão vernacular, o que permitiu à população leiga ler pela primeira vez a Palavra de Deus.
A importância disto não pode ser minimizada, mas eu precisava de todo um outro artigo para o explicar.



Basicamente, o povo começou a ler a bíblia e a interpretar à sua maneira as histórias que lá vinham.
Em particular, aperceberam-se da figura de Jesus Cristo como um pobre que defende os pobres, e abraçaram a ideia de que não havia nenhuma lei divina que os obrigasse a serem pobres a vida toda.

(Curiosamente, na narrativa bíblica da história de Jesus Cristo passada em Jerusalem, os invasores maus-da-fita vêm de Roma, a Norte).

Estas ideias espalharam-se viralmente pelos pobres e camponeses da Europa, que decidiram fazer alguma coisa acerca do assunto.
Escusado será dizer que a Igreja Católica não gostou nada disso.

O que é os camponeses europeus fizeram, e o que é que a Igreja fez acerca disso?
Descubram na Parte III de O Papão vem do Norte.

3 comentários:

  1. Acho que o martinho lutero meteu-se pelas traduções e só confundiu a malta. ''jesus era pobre por isso vocês querem 10% da minha colheita?''

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  2. "Jesus Cristo era o líder de um Sindicato"

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    1. Ele não queria era trabalhar!!!! só queria era greves e pães e peixes de borla! xuxalista!

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