Grigori Rasputin era um strannik, um viajante religioso, analfabeto, que deambulava de vila em vila a pregar num dialecto siberiano quase incompreensível.
Era membro dos Khlysts, um secto obscuro da Igreja Ortodoxa Russa, que acreditava que para se obter o total perdão divino era preciso primeiro pecar totalmente.
O seu olhar era intenso, a sua voz inesquecível, e a sua perspicácia psicológica e interpretações da bíblia deslumbravam e cativavam os que o ouviam.
Nos primeiros anos do Séc. 20, San Petersburg era uma cidade convulsionada por faltas de energia, greves nacionais de transportes, revoluções, massacres, e guerras.
O Tsar Nicholas II, Imperador Russo, é obrigado a ceder parte do seu poder à Duma Imperial, uma espécie de Assembleia Legislativa.
Ao mesmo tempo a Classe Aristocrata estava a desligar-se da Igreja Ortodoxa e a procurar outras formas de espiritualidade e fé, incluindo o misticismo e o ocultismo.
Rasputin chega à cidade em 1903 e rapidamente se torna popular nos círculos aristocráticos. Era inicialmente encarado como uma curiosidade, com o seu sotaque cerrado e falta de maneiras polidas, mas começa a ganhar seguidores religiosos e apoiantes cada vez mais poderosos.
A sua presença em San Petersburg é convulsiva. Rasputin era conhecido por estar constantemente bêbedo, bebendo 12 garrafas de vinho antes do almoço.
Os jornais frequentemente tinham notícias sobre o escândalo mais recente causado por Rasputin.
É famoso o incidente no qual, bêbedo num restaurante, terá baixado as calças e abanado o pénis contra as outras pessoas do restaurante.
Pénis esse que era tão grande que está guardado num museu. (tem a CERTEZA que quer carregar nesse link?)
Corriam rumores que, de acordo com as suas crenças religiosas baseadas na necessidade de pecar para depois obter o perdão, Rasputin organizava frequentemente orgias com as mulheres da nobreza que pertenciam ao seu culto.
Rasputin torna-se tão popular, ascende tanto na hierarquia social russa, que em 1 de Novembro de 1905 é apresentado ao Tsar Nicholas II, Imperador e Autocrata de Todas as Rússias, e à sua esposa, a Tsaritsa Alexandra Feodorovna, nascida na Alemanha.
É preciso fazer notar que, contrariamente à ideia que se tem dos casamentos reais, e das famílias reais da altura, Nicholas e Alexandra estavam verdadeiramente apaixonados um pelo outro, como o demonstram as centenas de cartas que trocaram entre si, e eram verdadeiramente devotos aos seus filhos, investindo pessoalmente na sua educação e bem-estar.
Esta família real guardava um segredo.
O pequeno Alexei Nikolaevich, o único filho do casal, o mais novo, e o futuro Imperador Russo, sofria de Hemofilia.
A Hemofilia é uma doença que impede a capacidade natural do corpo de coagular feridas e parar hemorragias. Antes de 1960, quando tratamentos eficazes começaram a ser descobertos, a esperança média de vida dos que sofriam de Hemofilia era de apenas 11 anos.
Alexei sofria de uma variante mais rara da doença, que era também mais severa.
Tinha frequentemente inchaços extremamente dolorosos e debilitantes nos joelhos, cotovelos, virilhas, etc, que correspondiam a hemorragias dentro dos tecidos, que demoravam imenso tempo a passar.
Qualquer pancada, qualquer brincadeira, qualquer nariz a sangrar ou nódoa negra podia matar o herdeiro da coroa.
Alexei era uma criança sequestrada na sua casa, doente, sempre à beira da morte. A sua mãe, Alexandra, vivia obcecada com a sua saúde e protecção. A vida da família girava em torno da saúde da criança.
Pierre Gilliard, o tutor das crianças escreveu "Alexei era o centro de uma família unida, o foco de todas as suas esperanças e afectos. As suas irmãs adoravam-no. Era a alegria e orgulho dos seus pais. Quando estava saudável, o palácio transformava-se. Tudo e todos pareciam cheios de luz do Sol"
Alexandra carregava um segredo ainda maior: tinha sido ela a passar a doença ao seu filho.
Alexandra era neta da Raínha Victoria, Raínha do Reino Unido, Grã Bretanha e Irlanda. A Rainha Victoria teve 9 filhos que se casaram com outras famílias nobres do continente Europeu, o que lhe valeu a alcunha de a "Avó da Europa".
A Rainha Victoria era portadora do gene recessivo ligado ao X causador da Hemofilia. Isso significa que as mulheres da sua família eram portadoras assintomáticas da doença, mas os homens tinham a hipótese de sofrer da doença.
Raínha Victoria |
A Tsaritsa Alexandra era portadora do gene, e carregava a culpa de ter sido a origem da doença que podia matar o filho que amava. Para o povo russo seria intolerável que a Tsaritsa, alemã de nascença, tivesse passado ao Herdeiro da Coroa Imperial a "Doença Inglesa".
Obcecada por proteger o filho, Alexandra recorreu aos médicos russos. Os seus tratamentos falhavam, dado que na altura a doença não tinha tratamento conhecido. Virou-se depois para a religião, aprendendo todos os rituais Ortodoxos e passando horas na capela privada da família, a rezar pela salvação do filho.
Nada funcionava.
Alexandra com o filho, Alexei |
Rasputin, por essa altura, tinha ganho a fama de ser um Santo, por ter o poder de curar pela fé.
Em Março de 1907, depois de dois meses nos quais Alexandra tinha tido de chamar os médicos quarenta e duas vezes, Rasputin é convocado ao palácio real.
Rasputin passa várias horas a rezar por Alexei, apesar de todas as previsões dos médicos de que o rapaz iria morrer.
No dia seguinte, milagrosamente, o Tsarevitch Alexei demonstra melhorias significativas.
Desta forma, Rasputin passa a fazer parte da família.
Sempre que Alexei se magoava e tinha uma das suas crises, o que era frequente, Rasputin era chamado ao palácio real. Fechava-se com a criança, rezava durante longas horas, e o rapaz ficava melhor. Sem dores.
Pelo seu carisma e influência, Rasputin torna-se confidente pessoal da Tsaritsa Alexandra, aconselhando-a tanto em assuntos místicos do oculto, como de governação política.
Esta intimidade foi criticada tanto pela Igreja, que denunciava Rasputin como uma fraude e um herege, e pela classe política que temia a sua influência política.
Mesmo depois de o Director da Polícia Nacional ter informado Alexandra que Rasputin, bêbedo, se gabava de que o Tsar o deixava "cobrir" a sua mulher sempre que ele quisesse, Alexandra defendeu-o dizendo "Os Santos são sempre caluniados. Eles odeiam-no porque nós o amamos."
Nicholas não era alheio a isto, mas mesmo ele tinha dificuldade em afastar durante muito tempo o homem que aparentemente salvava a vida do seu filho.
Descubra o segredo do poder de Rasputin, e as consequências da sua influência no Império Russo na Parte II de O Monge Louco.
Esta história é espectacular! Casamentos a roçar o incestuoso que levam a doenças genéticas incompreendidas na altura, curadas por um maluco que vem da sibéria bêbado, e que agride pessoas com o seu pénis.
ResponderEliminarO princípio do século vinte foi onde tudo aconteceu!
Pode ser que aconteçam coisas no princípio do século 21!
Ainda vamos a tempo! Ainda não fez 100 anos que o Rasputin morreu!
ResponderEliminarNo outro dia encontrei uma coisa espectacular!
http://today-in-wwi.tumblr.com/
É uma página que vai dizendo o que é que estava a acontecer exactamente há 100 anos, dia a dia, durante toda a extensão da 1ª Grande Guerra!