Vamos falar sobre isso!
Narrativa - O Bem contra o Mal (Black and White Morality)
O conflito do Bem contra o Mal é o tema principal da maioria das formas populares de fantasia.
A saga (merecedora desse nome) do Star Wars já domina a imaginação de legiões de fãs desde 1977, e por vários motivos diferentes.
É verdade que os efeitos especiais eram acima da média para a altura, foi um dos primeiros filmes de ficção científica a atingir notoriedade entre os críticos, e o George Lucas basicamente inventou o conceito de merchandising com os filmes.
Mas apesar disso tudo eu acho que a narrativa do filme é um dos principais factores que levou ao sucesso do filme.
Isto porque apesar das viagens interestelares, naves espaciais, robots falantes, os alienígenas, e os lasers, a narrativa do Star Wars é essencialmente uma história de fantasia clássica.
A literatura clássica está cheia de exemplos de Fantasia, mas o mais óbvio de todos é o Senhor dos Anéis, escrito pelo J.R.R. Tolkien, publicado em 1954, que usa abundantemente todos os tropes de fantasia.
Portanto vamos pegar nos tropes que definem a Fantasia e ver se o Star Wars encaixa (vamos analisar só os Episódios IV, V e VI).
Narrativa - O Bem contra o Mal (Black and White Morality)
O conflito do Bem contra o Mal é o tema principal da maioria das formas populares de fantasia.
É difícil que isto seja mais explícito: há os Jedi que são bons contra os Sith que são maus.
Temos também o Império contra os Rebeldes, num conflito que não é nada subtil, e ajuda que a maior parte dos vilões sejam Obviamente Maus.
Em muitas obras de Fantasia, sobretudo no estilo Sword and Sorcery, o Mal não é contrariado pelos inequivocamente bons, mas sim pelos moralmente incertos. Este trope está presente no Star Wars com a personagem do Han Solo, que é um rogue está do lado dos bons, mas teve de ser conquistado porque no início andava a disparar primeiro.
O Herói (The Hero)
Personagens heróicas são centrais às histórias de Fantasia, sobretudo em High Fantasy e Sword and Sorcery. Estas personagens são tipicamente mais capazes do que o humano comum, tanto fisicamente, moralmente, ou ambos.
O Luke Skywalker é o arquétipo do herói.
Ele é literalmente o Poster Boy da página do Tv Tropes do Herói,
Na Fantasia, o Herói ou outros protagonistas podem ser, apesar de o desconhecerem, de Sangue Real.
O Luke durante imenso tempo não sabe que pertence a uma família particularmente forte na Força, e que o seu Pai era um poderoso Jedi.
Com a sua irmã, Leia, há uma subversão do trope, na medida em que a Leia já é uma princesa ao início, mas ainda assim desconhece que afinal pertence à dinastia dos Jedi.
Tipicamente, na Fantasia, o Herói tem de crescer para assumir o papel que lhe é destinado. Este crescimento pode tomar a forma de maturação, que leva a personagem desde a sua infância ou adolescência até um estado de maior maturidade.
Luke Skywalker, destinado a ser um poderoso Jedi por causa do seu Pai, tem de fazer uma viagem de maturação, aprendendo e treinando os seus poderes na Força, até se tornar num verdadeiro Cavaleiro Jedi, para cumprir o seu papel e trazer equilíbrio de volta à Força
O Senhor das Trevas (Evil overlord)
Do lado das forças do mal está quase sempre o Senhor das Trevas.
A Demanda (The Quest)
A viagem em busca de um objectivo (descrita no Monomito), é o motor narrativo de muita da literatura clássica, e está proeminentemente representado na literatura de Fantasia.
O Herói (The Hero)
O Luke Skywalker é o arquétipo do herói.
Ele é literalmente o Poster Boy da página do Tv Tropes do Herói,
Na Fantasia, o Herói ou outros protagonistas podem ser, apesar de o desconhecerem, de Sangue Real.
O Luke durante imenso tempo não sabe que pertence a uma família particularmente forte na Força, e que o seu Pai era um poderoso Jedi.
Com a sua irmã, Leia, há uma subversão do trope, na medida em que a Leia já é uma princesa ao início, mas ainda assim desconhece que afinal pertence à dinastia dos Jedi.
Tipicamente, na Fantasia, o Herói tem de crescer para assumir o papel que lhe é destinado. Este crescimento pode tomar a forma de maturação, que leva a personagem desde a sua infância ou adolescência até um estado de maior maturidade.
Luke Skywalker, destinado a ser um poderoso Jedi por causa do seu Pai, tem de fazer uma viagem de maturação, aprendendo e treinando os seus poderes na Força, até se tornar num verdadeiro Cavaleiro Jedi, para cumprir o seu papel e trazer equilíbrio de volta à Força
O Senhor das Trevas (Evil overlord)
Do lado das forças do mal está quase sempre o Senhor das Trevas.
Para além de possuir vastas habilidades mágicas, o Senhor das Trevas frequentemente controla grandes exércitos e pode ser representado com qualidades diabólicas. O Senhor das Trevas é habitualmente mostrado como sendo a derradeira personificação do Mal, como acontece com o Sauron, do Senhor dos Anéis.
A figura do Imperador Palpatine é o paradigma do Senhor das Trevas. É o derradeiro Big Bad de Star Wars, extremamente poderoso no lado negro da Força, maléfico e manipulador, Imperador do Império Galáctico, comandando forças militares capazes de esmagar qualquer voz discordante.
O seu aprendiz, Darth Vader, também encaixa quase perfeitamente na descrição do Senhor das Trevas, mas a sua relação com o Herói, a sua redenção final, e as suas intenções que até podem não ser tão maléficas quanto isso, põem-no mais no papel de Anti-Vilão Trágico.
A Demanda (The Quest)
A viagem em busca de um objectivo (descrita no Monomito), é o motor narrativo de muita da literatura clássica, e está proeminentemente representado na literatura de Fantasia.
A Demanda do Herói começa quase invariavelmente com o Herói a viver num mundo normal, e a ser chamado para partir em aventura. O Herói frequentemente está relutante em partir, mas é ajudado por um mentor místico.
No Star Wars o Luke Skywalker inicialmente sente que não pode partir em busca de aventura porque tem de ajudar com a colheita, mas Obi-Wan Kenobi, o Mestre Jedi vai ajudá-lo.
O Herói tem então de passar por várias complicações e dificuldades, sozinho ou com a assistência de outras personagens. Eventualmente chega ao fim da sua Demanda, na crise central da sua aventura, onde tem de ultrapassar "a prova", onde vence o principal obstáculo ou inimigo, e sofre uma apoteose, ganhando a sua recompensa e finalizando o seu crescimento.
O Objectivo da Demanda de Luke é muito obviamente o fim do Império Galáctico, para o qual ele tem de lutar em várias batalhas, sozinho ou acompanhado por Han Solo ou Leia, e finalmente confronta Darth Vader e o Imperador, vencendo-os, acabando com o Império e finalmente transformando-se num Mestre Cavaleiro Jedi.
Menos obviamente, podemos interpretar o Objectivo final da Demanda de Luke como sendo encontrar o seu Pai, resgatando-o do Lado negro da Força.
Magia (Functional Magic)
Em Fantasia, a Magia frequentemente tem uma presença preponderante, sendo muito mais decisiva na resolução de conflitos, do que outras ferramentas mais mundanas. Outra característica comum é que a habilidade de usar a magia é não só inata como também é rara.
A Força é a Magia em Star Wars.
A Força é a Magia em Star Wars.
A Força é definida como um campo de energia criado por todos os seres vivos, que rodeia e permeia os seres vivos e que mantém a galáxia coesa.
Nem todas as pessoas são sensíveis à Força, e só alguns nascem com essa habilidade.
Pela adesão a um conjunto de práticas e crenças espirituais e religiosas, aqueles que são sensíveis à força podem usá-la para realizarem feitos sobre-humanos, como a telecinese, telepatia, levitação, hipnose, empatia, reflexos e velocidade aumentados, e até precognição.
Outro aspecto típico na Magia em Fantasia é o Objecto Mágico, que proporciona ou aumenta as habilidades mágicas de quem o usa. Os mais comuns são os anéis e as espadas.
O Sabre de Luz é a arma preferida pelos Jedi. Tem um estatuto mítico mesmo dentro do universo de Star Wars, é capaz de cortar a maior parte dos materiais sem qualquer resistência, e é tão perigosa que só alguém com os reflexos aumentados pela Força seria capaz de a usar sem suster ferimentos graves.
Medievalismo (Medieval European Fantasy)
Muitas obras de fantasia históricas, desde "The Well at the World's End" de William Morris no século 19, até ao Lord of The Rings, estabelecem as suas histórias em mundos claramente inspirados em fontes medievais.
Apesar de no Star Wars o ambiente ser claramente um de Ficção Científica, há todo um léxico que nos reporta para esse ambiente Medieval Europeu.
Para começar temos toda Ordem dos Cavaleiros Jedi, extremamente reminiscente dos Cavaleiros errantes medievais, frequentemente religiosos e que deambulavam pelo mundo a corrigir injustiças e a libertar os oprimidos, guiados por um código de honra rigoroso.
Há Imperadores, Lordes e Princesas por todo o lado, e toda a história é extremamente reminiscente da Lenda Arturiana.
Tanto Luke Skywalker como o Rei Artur são orfãos que se tornam heróis, ambos têm um mentor muito mais velho que os treina (Obi Wan, Merlin), Darth Vader, pai de Luke Skywalker, tem o seu equivalente no Uther Pendragon, pai de Artur. Até mesmo o triângulo amoroso que se forma entre Luke, Leia e Han Solo é reminiscente do triângulo amoroso entre Artur, Guinevere e Lancelot.
Nem todas as pessoas são sensíveis à Força, e só alguns nascem com essa habilidade.
Pela adesão a um conjunto de práticas e crenças espirituais e religiosas, aqueles que são sensíveis à força podem usá-la para realizarem feitos sobre-humanos, como a telecinese, telepatia, levitação, hipnose, empatia, reflexos e velocidade aumentados, e até precognição.
Outro aspecto típico na Magia em Fantasia é o Objecto Mágico, que proporciona ou aumenta as habilidades mágicas de quem o usa. Os mais comuns são os anéis e as espadas.
An elegant weapon, for a more civilized age |
Medievalismo (Medieval European Fantasy)
Muitas obras de fantasia históricas, desde "The Well at the World's End" de William Morris no século 19, até ao Lord of The Rings, estabelecem as suas histórias em mundos claramente inspirados em fontes medievais.
Apesar de no Star Wars o ambiente ser claramente um de Ficção Científica, há todo um léxico que nos reporta para esse ambiente Medieval Europeu.
Para começar temos toda Ordem dos Cavaleiros Jedi, extremamente reminiscente dos Cavaleiros errantes medievais, frequentemente religiosos e que deambulavam pelo mundo a corrigir injustiças e a libertar os oprimidos, guiados por um código de honra rigoroso.
Há Imperadores, Lordes e Princesas por todo o lado, e toda a história é extremamente reminiscente da Lenda Arturiana.
Tanto Luke Skywalker como o Rei Artur são orfãos que se tornam heróis, ambos têm um mentor muito mais velho que os treina (Obi Wan, Merlin), Darth Vader, pai de Luke Skywalker, tem o seu equivalente no Uther Pendragon, pai de Artur. Até mesmo o triângulo amoroso que se forma entre Luke, Leia e Han Solo é reminiscente do triângulo amoroso entre Artur, Guinevere e Lancelot.
Raças (Loads and Loads of Races)
Um tema recorrente na literatura de fantasia é a existência de várias espécies de criaturas fantásticas, que podem ou não ser conscientes. Habitualmente quando são conscientes, são chamadas de Raças, e não Espécies.
Tolkien estabeleceu firmemente o padrão dos Elfos, Anões, Orcos, Hobbits e Ents, e depois o Dungeons and Dragons expandiu grandemente essa lista.
No Star Wars, temos espécies alienígenas.
Muitas, muitas espécies diferentes de alienígenas.
Desde o Chewbacca até ao Jabba the Hutt, o universo de Star Wars está populado por uma quantidade enorme de espécies alienígenas para todos os gostos, habitualmente com uma disposição orientação moral perfeitamente revelada pelo seu aspecto físico.
Conclusão
Portanto Star Wars é Ficção Científica ou Fantasia?
Apesar de ser uma discussão que vai inflamar os geeks até ao fim dos tempos, a única resposta possível é que não importa na realidade.
Star Wars conseguiu estabelecer o formato da Space Opera exactamente porque construiu um mundo de Ficção Científica com uma estrutura e regras vindas da Fantasia clássica, e isso tornou o género altamente reconhecível e apelativo para um público muito maior.
O que me interessa imenso agora, com o Star Wars: The Force Awakens, é ver se alguns destes elementos de fantasia se transportam para o novo filme.
Tenho especialmente curiosidade em ver de que maneira a estrutura narrativa deste novo Star Wars vai encaixar no Monomito (a Aventura clássica do Herói).
A minha previsão é a seguinte:
O Finn vai ser o Leader e a Rey vai ser o Lancer, o Han Solo vai ser o Mentor (que morre no fim deste primeiro filme), e o Luke Skywalker vai ser o Evil Overlord.
Vou ver o Force Awakens depois de amanhã, portanto podem esperar qualquer coisa de mim na sexta provavelmente (porque tenho outras coisas para escrever entretanto, e este filme merece ser digerido com calma).
Um tema recorrente na literatura de fantasia é a existência de várias espécies de criaturas fantásticas, que podem ou não ser conscientes. Habitualmente quando são conscientes, são chamadas de Raças, e não Espécies.
Tolkien estabeleceu firmemente o padrão dos Elfos, Anões, Orcos, Hobbits e Ents, e depois o Dungeons and Dragons expandiu grandemente essa lista.
No Star Wars, temos espécies alienígenas.
Muitas, muitas espécies diferentes de alienígenas.
Desde o Chewbacca até ao Jabba the Hutt, o universo de Star Wars está populado por uma quantidade enorme de espécies alienígenas para todos os gostos, habitualmente com uma disposição orientação moral perfeitamente revelada pelo seu aspecto físico.
Conclusão
Portanto Star Wars é Ficção Científica ou Fantasia?
Apesar de ser uma discussão que vai inflamar os geeks até ao fim dos tempos, a única resposta possível é que não importa na realidade.
Star Wars conseguiu estabelecer o formato da Space Opera exactamente porque construiu um mundo de Ficção Científica com uma estrutura e regras vindas da Fantasia clássica, e isso tornou o género altamente reconhecível e apelativo para um público muito maior.
O que me interessa imenso agora, com o Star Wars: The Force Awakens, é ver se alguns destes elementos de fantasia se transportam para o novo filme.
Tenho especialmente curiosidade em ver de que maneira a estrutura narrativa deste novo Star Wars vai encaixar no Monomito (a Aventura clássica do Herói).
A minha previsão é a seguinte:
O Finn vai ser o Leader e a Rey vai ser o Lancer, o Han Solo vai ser o Mentor (que morre no fim deste primeiro filme), e o Luke Skywalker vai ser o Evil Overlord.
Vou ver o Force Awakens depois de amanhã, portanto podem esperar qualquer coisa de mim na sexta provavelmente (porque tenho outras coisas para escrever entretanto, e este filme merece ser digerido com calma).
PS: Podem encontrar uma análise muito engraçada e detalhada do Star Wars de acordo com o Monomito aqui.
Era interessante se o Luke fosse o antagonista! Um fio condutor mais cíclico do que linear. isso torna o filme assim tão mais interessante.
ResponderEliminarTambém, a comparação entre o star wars e o universo arturiano. wow!
O que mais me surpreendeu é que eu ando com a ideia dos Jedi Knights na cabeça desde que me lembro, e nunca tinha feito realmente a correspondência com a personagem medieval do Cavaleiro Errante em armadura da literatura clássica!
EliminarJá não sei que diga...
ResponderEliminarO filme é de fantasia científica e épico
ResponderEliminarO filme é de fantasia científica e épico
ResponderEliminarÉ ficção científica. Em seu bom texto você acabou confundindo muito "gênero" com "enredo"... recomendo a leitura desse artigo sobre o assunto, que esclarece essa confusão e demonstra de forma embasada e fundamentada os motivos de Star Wars ser sci-fi, inclusive demonstrando - com fontes - seus argumentos, que justificam os principais sites de cinema do planeta enquadrarem SW como sci-fi, mesmo com elementos de fantasia, mesmo sendo um sci-fi soft. http://maxiverso.com.br/blog/2016/01/26/star-wars-e-ficcao-cientifica-sim/
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