Pataniscas Satânicas

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domingo, 20 de dezembro de 2015

O Poder do Monomito - mais Star Wars!

Luke Skywalker e Jesus Cristo são a mesma personagem? Já notou que as aventuras são todas muito parecidas? Ainda não nos cansámos de falar de Star Wars?

Vamos falar sobre isso!


Um dia, quando Jesus Cristo rezava, os céus abriram-se, e o Espírito Santo, sob a forma de uma pomba, informa-o de que ele é o filho de Deus, iniciando assim o seu ministério terreno.
Um dia, quando Luke Skywalker reparava um pequeno dróide, encontra acidentalmente uma mensagem de uma princesa pedindo ajuda para derrotar o maléfico Império.

Jesus Cristo recebe a ajuda de João Baptista, e de outros discípulos na sua tentativa de espalhar a mensagem de Deus
Luke Skywalker recebe a ajuda de Obi-Wan Kenobi, e de outros companheiros, na sua demanda contra o Império.

Jesus Cristo passa por várias dificuldades e ultrapassa vários obstáculos, sendo inclusivamente tentado pelo Diabo no deserto
Luke Skywalker passa por várias dificuldades e ultrapassa vários obtáculos, sendo inclusivamente tentado pelo Lado Negro da Força numa gruta em Dagobah.

Finalmente, no momento mais crítico, Jesus Cristo é traído e crucificado, e no seu momento mais difícil, tudo aquilo em que acredita é posto à prova, e a sua fé é testada.
Finalmente, no momento mais crítico, Luke Skywalker é capturado e trazido frente ao Imperador, e no seu momento mais difícil, tudo aquilo em que acredita é posto à prova, e tem de lutar contra o seu Pai.

Vencida a sua prova mais dura, Jesus Cristo atinge o seu potencial máximo, e ascende à sua divindade plena, atingindo a imortalidade.
Vencida a sua prova mais dura, Luke Skywalker ating o seu potencial máximo, transformando-se finalmente num Cavaleiro Jedi.


Naturalmente que o Luke Skywalker não é o Jesus Cristo, mas os paralelismos nas suas histórias são demasiados para serem apenas uma coincidência.

O que é que explica então que a história de Jesus Cristo seja tão semelhante à de Luke Skywalker, apesar de estarem separadas por milénios?

Em 1949, Joseph Campbell publica o seu livro "The Hero with a Thousand Faces" no qual formaliza a sua teoria do Monomito.

De acordo com Campbell, (quase) todas as histórias têm por base uma estrutura comum, um conjunto de estadios pelos quais todos os heróis passam nas suas aventuras. Ou seja, um mito único, a partir do qual todas as histórias e narrativas derivam.

A teoria de Campbell já foi reformulada várias vezes, e a versão mais actual e mais consensual é a que contém 12 passos, e foi compilada em 1985 por Christopher Vogler, um executivo de Hollywood.

Os 12 passos são (resumidamente):

1 - O Mundo Comum - o Herói é apresentado no seu ambiente natural, habitualmente com algum tipo de desconforto, ambiguidade ou insatisfação acerca desse ambiente.
2 - O Chamamento à Aventura - alguma coisa altera a situação do Herói, seja um estímulo externo ou um conflito interno, com a qual o herói tem de lidar.
3 - Recusa do Chamamento - o Herói sente medo ou incerteza e tenta evitar a Aventura, mesmo que temporariamente.
4 - Encontro com o Mentor - o Herói encontra uma personagem viajada, experiente, que o treina ou lhe dá ferramentas ou conselhos que o ajudam na sua Aventura.
5 - Atravessar do Limiar - o Herói fica comprometido com o seu abandono do Mundo Comum, e entra num novo Mundo Especial ou condição com regras e valores desconhecidos.
6 - Testes, Aliados e Inimigos - o Herói é testado e define alianças ou inimizades no Mundo Especial.
7 - Aproximação - o Herói e os seus Aliados preparam-se para o principal desafio no Mundo Especial.
8 - A Prova - o Herói atinge o centro do Mundo Especial e confronta a morte ou enfrenta o seu maior medo. Desse momento com a morte vem uma nova vida.
9 - A Recompensa - o Herói toma possessão de um Tesouro ganho por enfrentar a morte. Pode haver celebração, mas há também o risco de perder o Tesouro de novo.
10 - O Caminho de Regresso - o Herói é compelido a terminar a Aventura, abandonando o Mundo Especial, e habitualmente uma perseguição mostra a urgência de trazer o Tesouro de volta ao Mundo Comum.
11 - A Ressurreição - no clímax, o Herói é severamente testado mais uma vez no limiar do Regresso. É purificado por outro sacrifício, outro momento de morte e renascimento, mas agora num nível mais completo. Pelas acções do Herói, as ambiguidades ou conflitos do início são finalmente resolvidas.
12 - Regresso com o Elixir - O Herói agora transformado pela sua viagem, usa o Elixir para mudar o Mundo Comum.


A estrutura narrativa do Monomito está presente de forma fiel em muitas das narrativas espirituais do mundo, no xamanismo, rituais de iniciação, e nas mitologias das principais religiões, incluindo as histórias de Gautama Buddha, Moisés ou Jesus Cristo.

Não significa que todos os passos tenham obrigatoriamente de estar presentes em todas as narrativas, ou que as narrativas tenham de ser construídas com base nesta estrutura, mas a inclusão destes passos numa narrativa quase que garante uma aventura satisfatória e divertida.

De tal maneira que, se começarmos a procurar este padrão, vêmo-lo por todo o lado!

Está presente na Odisseia de Ulisses, no Neo a descobrir que é o Escolhido e a lutar contra a Matrix, no Harry Potter a descobrir que é um feiticeiro, no Frodo Baggins e a sua demanda por destruir o Anel, e tantos, tantos outros.


Porque é que o Monomito é tão transversal a todas as culturas e uma ferramenta narrativa tão poderosa?

Essencialmente porque reflecte um fenómeno universal a todos os seres humanos, que é a maturação.

A nossa infância é reflectida pelo Mundo Comum, onde estabelecemos a nossa identidade, mas com a qual inevitavelmente nos sentimos insatisfeitos.

A adolescência é uma coisa assustadora, mas pela qual inevitavelmente todos passamos, são descobertas amizades e inimizades, e onde ocorre a luta para nos tornamos adultos, lidando com a autoridade dos adultos, a aceitação de responsabilidades, a exploração da sexualidade e encontramos um lugar no mundo.

Finalmente assentamos na idade adulta, com a construção de uma família e a tornando-nos pais nós mesmos.

O Monomito é extremamente apelativo à consciência humana porque inevitavelmente revemo-nos no percurso formativo do Herói.

É um caso de galinha e ovo, no qual o Monomito se torna tão prevalente por reflectir o crescimento por que todos passamos, e depois gostamos imenso do Monomito porque nos revemos nele.

Portanto o que é que acontece no Star Wars: The Force Awakens?


>>>>>>>>>>>>>> CUIDADO: HERE BE SPOILERS <<<<<<<<<<<<<<<<<<<


O Mundo Comum
Temos a Rey a viver em Jakku, insatisfeita com a sua situação, a sobreviver à custa da sua esperteza e habilidade, num ambiente hostil e agressivo.
É claramente demonstrado que apesar de Rey sonhar com sair de Jakku, está à espera de alguma coisa que a prende ao planeta.



O Chamamento à Aventura
Rey é abordada pelo BB-.8 e pelo Finn que lhe pedem ajuda para se esconderem da First Order.
BB-8 transporta consigo um mapa para a localização do mítico Luke Skywalker, desaparecido há décadas. Esse mapa deve ser devolvido à Resistência com toda a urgência.
Antes que possa aceitar o Chamamento à Aventura, a First Order ataca-os e Rey e Finn conseguem fazer o Millenium Falcon voar, e fogem de Jakku.



A Recusa do Chamamento
Após conseguirem escapar de Jakku e da First Order, Finn apela a Rey que fujam para fora do sistema, para escaparem à First Order.
Rey revela-se relutante em partir, dizendo que tem de ficar em Jakku à espera de algo ou alguém.

O Encontro com o Mentor
Felizmente surge Han Solo, que os ajuda a escaparem a mais algumas situações difíceis, e começa a guiá-los e a aconselhá-los.
Han Solo desenvolve uma relação particularmente próxima com Rey, que revela um conhecimento e aptidão para as reparações do Millenium Falcon, semelhante ao de Solo.
É particularmente ver Han Solo no papel de Mentor, que é a personagem sábia e experiente, quando antes Han Solo era o Rogue, impulsivo e irresponsável.
É Han Solo que leva Rey a Maz Kanata, que também a tenta guiar para o caminho da Força.



Atravessar do Limiar
Rey é capturada por Kylo Ren, e tenta ler a sua mente recorrendo à Força. À custa do contacto forçado com a Força, os poderes de Rey despertam e começa a experimentar com a Força.
O desenvolvimento dos seus poderes culmina na sua batalha de sabres de luz contra Kylo Ren. Rey, contra todas as expectativas, e recorrendo aos seus poderes nascentes na Força, consegue derrotar Kylo Ren, e é esse acto que representa o Limiar.


A partir desse momento, Rey aceita o seu destino, e compromete-se com a sua viagem de aventura. Mete-se numa nave e vai ao encontro de Luke Skywalker, para começar o seu treino e Testes na Força.

Estou extremamente curioso para saber como vão ser os próximos passos da Viagem do Herói de Rey, nos próximos episódios da Saga Star Wars

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