Pataniscas Satânicas

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domingo, 10 de janeiro de 2016

Avengers: Age of Ultron - a Análise Final

Uma defesa desnecessária do Age of Ultron? Quantas coisas é que um filme tem de fazer bem para as pessoas não se importarem demasiado com as suas falhas? Outra vez a falar de coisas da Marvel?

Vamos falar sobre isso.


A minha fixação por tudo o que é Marvel Cinematic Universe já se tem vindo a mostrar evidente neste blog há algum tempo, e hoje vou só alimentar isso ainda mais.

Quando em Abril do ano passado ano fui ver o Avengers: Age of Ultron, e escrevi a crítica do filme, fiquei logo na altura a sentir que me faltava dizer imenso acerca do filme.

Entretanto já devo ter visto o filme umas 6 vezes pelo menos, e já tenho mais coisas a dizer acerca dele (se bem que me parece que ainda vou escrever mais acerca dele no futuro).

Outra coisa que me surpreendeu durante este tempo é que houve pessoas que NÃO GOSTARAM DO FILME TANTO QUANTO EU!!!
Não percebo como estas pessoas têm o descaramento de apresentar argumentos bem fundamentados a apontar erros numa coisa que eu gostei TANTO! How dare they?!

Há várias coisas que as pessoas da internet costumam apontar ao Age of Ultron, e no geral encaixam nas seguintes categorias:

- O Vilão não era ameaçador o suficiente
- O tom leve e o humor excessivo diminuía a gravidade do que estava em jogo
- Vários sub-enredos pareciam supérfluos e afectavam o ritmo do filme - como a visão do Thor, e o romance Black Widow/Hulk
- Se o filme é tão bom assim porque é que os fãs estão sempre a sair do seu caminho para defender o filme?

A minha resposta a estes é que os primeiros dois são razoavelmente subjectivos, o terceiro é talvez o mais razoável e não sei do que é que estão a falar em relação ao quarto.

Em vez de demonstrar como pessoas que discordam comigo estão enganadas, vou em vez disso chamar a atenção para todas as coisas que eu acho que o filme consegue fazer bem.


É um excelente filme de banda-desenhada

Primeiro que tudo, o Age of Ultron pretende ser um filme de banda-desenhada, com super-heróis e super-vilões.
Assume-se como um filme de entretenimento, e o seu objectivo é dar-nos 2 horas de divertimento com acção over-the-top, personagens coloridas, one-liners e o mundo a ser salvo mais uma vez.

O Age of Ultron não é o Jessica Jones, que pretende ser a adaptação Noir do hard-boiled pulp-fiction das histórias de detectives. O filme desde o primeiro momento que a única coisa que nos pretende dar é o equivalente a (como dizem os tipos dos Honest Movie Trailers) a despejar a nossa caixa de brinquedos e brincar com eles todos ao mesmo tempo.

Uma das únicas coisas que eu tenho pena, é de não termos tido a visão original do Joss Whedon para este filme, que seria uma história íntima de desconstrução das personagens.
Mas o filme não é isso porque tentou e falhou, mas porque foi tomada uma decisão de ir numa direcção diferente.

E o que o filme promete, o filme dá. É extremamente divertido, entusiasmante, com sequências de acção exageradas e satisfatórias, digasnde uma banda-desenhada.

A própria sequência de abertura do filme é a coisa mais banda-desenhada que podíamos querer, com cada uma das personagens a ter o seu glamour-shot antes de se juntarem todas para um plano conjunto que parece saído de um painel de uma página.


O Enredo

Este filme, à partida, nasce com um estigma que é difícil de ultrapassar: é filho do meio.

Vem depois do The Avengers (2012), que foi um dos maiores sucessos da Marvel, e vem antes do The Avengers: Infinity Wars (2018) que vai ser o culminar de 10 anos de filmes.

Tipicamente o filme do meio numa trilogia é o que está na pior posição, porque não só tem de dar continuidade ao anterior, o que lhe impõe exigências narrativas muito específicas, como não pode já dar uma resolução ao conflito iniciado ao mesmo tempo que estabelece as bases para o fim da trilogia.
Ao mesmo tempo, tem de ter uma história só sua com princípio meio e fim, encapsulada dentro destas limitações narrativas.

Apesar de não ser um The Empire Strikes Back (para sempre o poster child de filmes do meio que são os melhores da trilogia), a verdade é que o Age of Ultron consegue fazer aquilo a que se propõe.



Temos uma história baseada no mito clássico do Pigmaleão, do criador ser ultrapassado pela sua criação. Tony Stark, na sua ambição e húbris, cria uma Inteligência Artificial, o Ultron, para defender o planeta e conseguir a paz no mundo.
Claro que segundos depois de nascer o Ultron decide que a melhor maneira de fazer isso é destruir a humanidade, à la SkyNet. A acção desenvolve-se de lógica, com cada acto a determinar o seguinte, mantendo o ritmo a andar para a frente.
Depois de várias complicações cheias de acção e one-liners Whedonescos, o Ultron está pronto para transformar uma cidade num asteróide e rebentar com o planeta, mas claro que no fim os heróis conseguem impedir a catástrofe.
Há muito mais para dizer acerca do Ultron, mas preciso de um artigo inteiro para dizer acerca dele.

É exagerado, é teatral. Há imensa gente que queria que o Ultron fosse uma máquina de matar implacável, fria e eficiente, mas o facto de não o ser só o torna mais interessante como vilão.
Os paralelos entre Ultron e Tony Stark dizem muito acerca de ambas as personagens e ajudam a aprofundá-las e caracterizá-las melhor, e tornam o Ultron um vilão com quem eu estabeleço uma relação emocional mais significativa. Isso não aconteceria se ele fosse o Exterminador.

Como disse o Daniel Rosa no Big Show Bit que fizemos esta quinta-feira, o Age Of Ultron serve também de reflexo do Avengers (2012).
Enquanto que no The Avengers temos cada um dos heróis a encontrar-se a si mesmo (o Capitão América a definir-se como líder, o Tony Stark como herói que se auto-sacrifica, o Banner a abraçar o Hulk) no Age of Ultron há o processo inverso, e cada uma das personagens é reduzida à sua condição inicial (o Capitão América é só um soldado, o Tony Stark é um cientista louco megalomaníaco, o Banner é mesmo um monstro, etc).

O Desenvolvimento de Personagens

Apesar de haverem Inteligências Artificiais homicidas a causarem problemas, este filme cosnegue ser um dos que mais desenvolve as suas personagens.

Como já disse anteriormente, é neste filme que o Tony Stark ultrapassa o limiar subtil que o põe no trajecto para se transformar num vilão. A sua arrogância e a culpa que sente por acreditar que as suas acções vão levar à morte dos amigos, levam-no a construir um murderbot, acto pelo qual ele não chega de facto a desculpar-se, e que acredito que o vai levar a tornar-se numa personagem cada vez mais vilanesca nos próximos filmes.


Como já disse, vemos também o Steve Rogers a questionar-se e a duvidar de si mesmo, quando numa sequência de sonho que para todas as outras personagens mostra os seus piores medos, ele se vê a si mesmo num salão de dança onde se celebra o fim da guerra.
Ele reage a isso tornando-se ainda mais exigente na sua luta para ser altruísta, corajoso e salvar toda a gente, mas a partir desse momento todas as suas acções estão contaminadas por essa ideia "Será que o Capitão América quer de facto terminar o conflito"



Há imensa gente que critica o sub-enredo do romance entre o Bruce Banner e a Natasha Romanoff, mas eu gostei, acho que faz sentido.
Esse enredo mostra-nos uma Black Widow que finalmente começa a revelar-se mais humana, que quer fugir das complicações e conflitos que definiram a sua vida, e isso torna-a muito mais relacionável e humana.
O Bruce Banner, por seu lado vê não só o Hulk destruir uma cidade e matar não se sabe quantos inocentes, mas mais do que isso, percebe que o Hulk vai para sempre impedi-lo de viver uma vida normal.
A relação entre os dois desenvolve-os como personagens muito melhor do que qualquer outra sequência de acção o poderia fazer.



Temos finalmente o Hawkeye que queríamos e merecíamos desde o início.
Várias vezes na internet vemos pessoas a queixarem-se de que o Clint Barton, como um tipo que usa arco e flechas, está a fazer pouco num grupo onde há deuses, mas neste filme isso está respondido.
A personagem do Hawkeye é desenvolvida não como um tipo altamente eficiente e capaz de destruir prédios, mas como um pai.
Temos todo um sub-enredo com uma temática da família e relações pais-filhos à volta do Hawkeye, e da figura paternal dele não só em relação à sua própria família, à equipa, mas também em relação aos gémeos.



Os gémeos, a Scarlet Witch e o Quicksilver funcionam como adolescentes rebeliosos, perdidos, que andam com más companhias (murderbots), e o Hawkeye percebe-os desde o início.
Ele é o único que não se deixa levar pelos jogos mentais deles, o único cuja atitude perante eles é mais de irritação, frustração e exasperação do que propriamente tratá-los como inimigos. É protector acerca da Scarlet Witch, aconselhando-a e guiando-a, e irrita-se com o Quicksilver como se ele fosse um puto mimado (que é).
É o Hawkeye que de alguma forma redime estas duas personagens, e lhes permite tornarem-se heróis.

Depois há o Vision, mas para ele eu preciso de um artigo inteiro.

Set-Up para outros filmes.

Portanto, para além de ser um filme divertido, com bom ritmo e cenas de acção entusiasmantes; para além de ser um filme do meio e mesmo assim ter um bom enredo épico, auto limitado, que consegue ao mesmo tempo desconstruir as suas personagens; para além de desenvolver as personagens, tornando-as mais profundas, mais humanas e pessoais; este filme consegue também:

Preparar o Thor: Ragnarok (2017) durante a sequência de sonho de Thor, no qual ele vê todos os seus amigos no mundo dos mortos Asgardiano.



Preparar o Civil War (2016) ao mostrar que os Avengers quando são deixados à solta tendem a destruir cidades inteiras sem que aparentemente alguém os  responsabilize disso ou lhes peça satisfações, e mostrando como o Tony Stark e o Steve Rogers estão a desenvolver visões do mundo cada vez mais mutuamente exclusivas.



Preparar o Black Panther (2018), ao introduzir não só a importância do elemento do Vibranium, como também o país de origem dele, Wakanda, e um dos principais vilões do Black Panther, o Ulisses Klaue.



Preparar o Infinity War (2018), estabelecendo pela primeira vez que as Inifnity Gems estão a surgir por todo o lado, e com aquele stinger fabuloso no final onde vemos o Thanos a prenunciar que vai dar porrada a toda a gente.


Em conclusão

É inegável que o filme tem algumas falhas, mas essas falhas empalidecem face ao número impressionante de coisas que o filme consegue fazer bem.
Como espectador eu prefiro muito mais ir à procura das coisas boas que me entusiasmam acerca dos filmes do que ir à procura dos pormenores que falham.

Dito isso, aqui vai o Honest Trailers do Age of Ultron, que é hilariante.


2 comentários:

  1. diria, talvez, que o vilão não era ameaçador o suficiente... e que o romance e as cenas familiares dão, talvez um bocado de aspecto de telenovela ao filme. :P Gosto definitivamente mais das cenas em que explodem coisas... ou que têm piada!
    Acho que o tom leve e o humor excessivo são das melhores qualidades do filme!

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    1. Eh pá, eu ia dar-te uma resposta muito engraçada, mas depois ficou tão engraçada que decidi transformá-la num post!

      Respondo-te domingo!

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